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from Ideias de Chirico

Texto alternativo: um homem de roupa da moda dos anos 1960 manuseando sentado no chão um computador de mesa assentado em um cenário rural

Imagem: Jeff Ball (via are.na). Este sou eu escrevendo esta ideia de Chirico.

Aquela publicação que lanço quando quero escrever sobre o que tenho lido, discutido e pensado sem precisar de algum fio condutor. Provavelmente a última do ano. Até o próximo, estarei pensando em

Um vindouro manifesto

Isso porque penso seriamente em abrir um novo blogue chamado Offpunk, onde eu manteria um diário de bordo mostrando formas de resistir à digitalização, de viver sem a alta tecnologia e abrir caminhos para uma vida desconectada, independente das Big Tech; ou, como nas palavras de Eduardo Fernandes da newsletter Texto sobre Tela (veja a ponte no na seção Linkroll), buscando “a obsolescência como uma estratégia de liberdade”.

Tomo esse nome de empréstimo de um navegador feito para, acima de tudo, funcionar offline, que foi desenhado pelo escritor e desenvolvedor belga @ploum@mamot.fr.

• Offpunk, an offline-first command-line browser.

Mas penso em antes desenvolver um postura e uma estética em cima desse conceito. Penso em organizar referências culturais, apontar exemplos e caminhos nessa direção. O que nele se diferenciaria do “minimalismo digital” é que estaria relacionado a coisas como: voltar-se ao “low tech”, ao comunitário, ao analógico, ao não elétrico, à permacomputação; manter um estilo de vida de anticonsumo; e utilizar a internet de forma mais intencional, seguindo o ritmo da Slow Web. Para tanto, acho que vale pensar também em dispositivos configurados para esse propósito. Nesse sentido um texto do Ploum que traduzi chamado “Um computador feito para durar 50 anos” vai nessa direção.

• “O computador feito para durar 50 anos”, de Ploum (Ideias de Chirico).

Os argumentos são os de sempre: ter uma vida mais balanceada, mais presente, menos vigiada e com os dados menos explorados, sem se abster totalmente, no entanto, dos serviços digitais. Porém, ao contrário da postura neoliberal e individualista de buscar um “detox digital” em prol da produtividade, gostaria de dar um teor político a essa postura, defendendo o acesso à cidadania e ao lazer sem o intermédio do digital, e o direito à privacidade, a uma infância e uma velhice desdigitalizadas e a uma vida lenta.

Estou retirando muitas ideias dos textos que leio do Ploum, do Low-Tech Magazine (também de origem belga inclusive), bem como de um livro chamado “Digital Detox: a política da desconexão” (da escritora norueguesa Trine Syvertsen) ― que, se não me engano, ainda não foi traduzido para português (leio-o em inglês).

Acho que no começo do ano que vem faço ao menos um pequeno ”manifesto offpunk”, que pretendo traduzir em inglês e em francês. Escrevo isso mentalmente até lá. Aliás, o Ploum mesmo já se propôs a me ajudar na escrita.

Ainda sobre tecnopunkicidades...

Incrível como o simples fato de eu não acessar o Instagram faz algumas pessoas pensarem que sou um eremita, que vivo nas cavernas.

O produtor gráfico do meu livro falou mais cedo:

Não se você sabe, já que não usa mais o Instagram, mas aqueles casos de feminicídio estão sendo bastante discutidos...

(Eu li e ouvi sobre os casos pelo rádio, pela televisão e por podcasts ― com algum atraso talvez, mas soube no meu tempo).

Espera só para ouvir o que vão falar quando eu apagar meu perfil da plataforma... O que está me segurando lá é o que me faz refletir.

Ouvindo sobre o Pessoa

Não tenho falado muito de literatura neste blogue, mas me peguei muito preso neste episódio do podcast 451 FM, da revista 451:

451 MHz: # 174 Fernando Pessoa: todos os sonhos do mundo — 90 anos da morte do poeta.

Não sou muito de Fernando Pessoa, curto mais o que ele influenciou. Posso não gostar de Pessoa, mas gosto de quem gosta de Pessoa. Então por tabela gosto de Pessoa.

Mas o que se diz a respeito do autor nesse episódio fez-me ficar ainda mais interessado pela sua única obra que me interessa, “Livro do Desassossego”.

O livro são várias anotações do diário de Bernardo Soares, um pseudônimo pessoano, um “simples ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa”. Trata-se de uma “narrativa sem narração” ― alguns diriam uma prosa poética, outros um romance moderno. Na primeira vez em que o folheei (há dez anos), me agradou o caráter fragmentário e imagético do livro. Nas aulas de literatura portuguesa do curso de Letras, nosso professor sugeriu que lêssemos não linearmente, pulando à página do nosso gosto.

Mas voltando ao episódio da 451 em si, recomendo a escuta mesmo àqueles que já conhecem o autor português. Acho que há uma infinidade de coisas sobre as quais não sabemos tão facilmente e que o áudio-programa destrincha bem. Infelizmente, até por conta da ocasião do aniversário de morte do poeta, não tocaram no seu discurso racista.

Fast web

Estou prestes a enviar um meme por e-meio. Este é o atual estado digital.

Já disseram que parei no tempo. Só estou cansado de fast web.

Desejos para 2026

  1. usar mais dinheiro vivo, pois detesto depender de eletricidade e de internet para pagar minhas coisas em balcões;

  2. arrumar um “trabalho de verdade” (com alguma formalidade e constância);

  3. estar cronicamente offline;

  4. encerrar a imersão no francês (ano que vem completará dois anos que estou nesse idioma);

  5. e começar a estudar alemão.

(“Desejos”, porque quem tem meta é empresa).

O desconhecido na língua estrangeira

Por que é menos desesperador ver uma palavra desconhecida na língua materna do que ver uma palavra desconhecida em língua estrangeira?

Estava aqui dando uma lida no meu agregador de RSS e fui clicando nas notícias. Aquelas em inglês eu batia o olho e na primeira palavra estranha eu desistia e ia para a próxima notícia. Aquelas em português, mesmo que eu não soubesse o que significava o termo, seguia na leitura.

Já tenho uma boa jornada com inglês, e sei que com paciência eu saco o significado das palavras na hora. Um dicionário médio também serve. Ainda assim, tenho muita resistência a ler nessa língua. Não sou capaz de dizer agora se o mesmo acontece em outras línguas que aprendi.

Será que isso acontece só comigo? Duvido.

Questão de didática (sobre outros punks)

Pergunto-me por que os punks dos anos 2000 não chamavam o “sistema” simplesmente de “capitalismo”. Isso seria bem mais didático.

Linkroll

Seção em que faço uma curadoria de pontes que encontro pela internet.

Ouvi falar que o Pinterest tem enchido a si mesmo de lixo de IA. Tenho-lhe um substituto: are.na.

A plataforma é autodescrita como um lugar de “playlists, só que de ideias” ou “um palácio de memórias da internet”. Em poucas palavras, é um recanto de curadoria, seja de música, de sítios web, de imagens ou de vídeos ― algumas listas têm tudo isso junto e misturado.

Outra vantagem do Are.na é o seu repositório. Algumas listas datam de 2014. Ah, e não precisa de conta para navegar e nem tem loginwall como o Pinterest.

Esqueci de publicar essa ponte no último linkroll: um sítio lindíssimo mostrando com o efeito granulado (dithering) funciona. O efeito granulado, para quem não conhece, é uma forma de tornar uma imagem mais leve, pixelizando-a totalmente no degradê entre duas cores (em geral, preto e branco).

Dithering, part 1 (Visualrambling).

Tornei-me um fã desse efeito desde que comecei a acompanhar as publicações do Low-Tech Magazine, citado lá em cima, ilustradas com imagens em dithering. Cheguei a tentar publicar somente fotos com essa estética aqui nas Ideias, mas dá um baita trabalho editá-las e deixá-las em um servidor estável.

A sedutora, esquisita e colossal beleza da indústria: desde fábricas de bonecas sexuais nos EUA, centros de pesquisa nuclear, fazendas de maconha na Dinamarca e fábricas de sapatos na Indonésia.

The Unintended Beauty of Big Industry in the 21st Century – in Photographs (Flashbak).

Um sítio que divulga notebooks costumizados com adesivos e os organiza por temas:

Stickertop.

Essas artes são bem antigas (de meados da década de 2010), mas acho que ainda vale a divulgação: pôsteres imaginando propagandas de plataformas de entretenimento e redes sociais como se fossem tecnologias dos anos 1950. Gosto desse estilo retrofuturista e de como plataformas como Youtube e Facebook ainda eram vistas com uma certa simpatia...

Vintage social media ads as retro campaign (Brand Constructors).

Crescer entediado com os celulares está matando o poder transformador do tédio (ihu.unisinos.br).

Texto de newsletter pensando sobre resistência digital a partir da sutil guerra entre tecnologias no filme “Uma batalha atrás da outra” (2025), no qual “aparelhos analógicos aparecem como uma estratégia pra fugir da vigilância digital”.

Geriatria da tecnologia (Texto sobre tela ― Substack).

Considero “Uma batalha atrás da outra”, aliás, como um filme exemplar do que chamo de #offpunk.

Vídeo: “Sesame Street – Computer E/e”.

Citações

O smartphone é hoje um lugar de trabalho digital e um confessionário digital. Todo dispositivo, toda técnica de dominação gera artigos cultuados que são utilizados à subjugação. É assim que a dominação se consolida. O smartphone é o artigo de culto da dominação digital. Como aparelho de subjugação age como um rosário e suas contas; é assim que mantemos o celular constantemente nas mãos. O like é o amém digital. Continuamos nos confessando. Por decisão própria, nos desnudamos. Mas não pedimos perdão, e sim que prestem atenção em nós.

― Byung-Chul Han, filósofo teuto-coreano.

Não há condições de ensinar para uma mosca que mel é melhor do que bosta”

― meu psicoterapeuta.

Se uma árvore cai em um bosque e não há ninguém para a ouvir, ela faz ruído?

― Koan, um exercício mental budista.

Pedidos

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#notas


 
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from john

Algumas notas sobre a anulação da votação que salvou o mandato da Carla Zambelli.

Li a notícia há pouco e ainda não cheguei a ler o inteiro teor da decisão, mas pelos fundamentos divulgados, dá pra notar o seguinte:

A constituição define quais são as situações que podem levar a cassação do mandato parlamentar. Elas estão previstas no art. 55:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior; II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar; III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição; VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

Nos termos do Art. 55, §3º, CF, em algumas dessas situações, a mesa diretora da Câmara ou do Senado tem o dever constitucional de declarar a perda do mandato. São elas:

  • excesso de faltas;
  • perda ou suspensão dos direitos políticos e
  • por decreto da Justiça Eleitoral, nos casos previstos pela CF.

Em outras, previstas no art. 55, §2º , a Câmara ou o Senado tem o direito de decidir, por maioria absoluta, sobre a perda do mandato. São elas:

  • Infringir as proibições do art. 54, CF;
  • Quebra de decoro parlamentar e
  • Condenação criminal em sentença transitada em julgado.

A questão fundamental é se a Câmara dos Deputados tinha discricionariedade para decidir se tirava o mandato de Zambelli ou não, ou, alternativamente, se esse seria um ato vinculado, ou seja, a mesa da Câmara teria a obrigação de realizar o ato.

Aparentemente, uma questão simples. Bastaria ver se o caso da Zambelli se enquadra nas hipóteses do §2º ou 3º do art. 55. Mas tem uma complicação. De acordo com a Constituição, a condenação criminal transitada em julgado importa na suspensão dos direitos políticos, enquanto durar a pena:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

Ou seja, por ter sido condenada em sentença transitada em julgado, Zambelli está com seus direitos políticos suspensos.

Assim se cria uma aparente antinomia no texto constitucional que prevê dois procedimentos mutuamente excludentes para o caso de perda de mandato por condenação criminal.

Então cabe à Câmara decidir em votação, já que é um caso de condenação criminal, ou cabe à mesa diretora da Câmara declarar a perda em um ato vinculado, tendo em vista a perda dos direitos políticos?

Alexandre de Moraes decidiu pela última opção e por isso anulou a votação que salvou o mandato da Zambelli. Nisso ele seguiu a jurisprudência do STF que tem esse entendimento desde, pelo menos a época do mensalão.

 
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from john

Meu kindle é um modelo mais antigo, um Kindle Paperwhite de 7ª geração, de 2015. Já há muitos anos deixo ele em modo avião, então eu sabia que ele não era atualizado há bastante tempo. Daí que resolvi desbloqueá-lo, inspirado por esse vídeo:

O desbloqueio (jailbreak) é um processo que consiste em remover as restrições de software de um dispositivo eletrônico feitas pelo fabricante. No meu caso, permitir que o kindle rode software além do leitor oficial da Amazon.

Mas pra quê isso?

Tem algumas razões: Em primeiro lugar, a flexibilidade de formatos. Por padrão, o kindle só lê os arquivos .MOBI ou .AZW proprietários da Amazon. Usar outros formatos como .epub, .pdf ou .cbz dependia da boa vontade da amazon ou de usar um conversor como o do Calibre. Sem o bloqueio da Amazon, o KOReader mostra todos os formatos mais comuns de arquivos com tranquilidade. Ler um epub se resume agora a arrastar e soltar o arquivo na pasta do kindle.

Outra questão foi o lado da customização. O KOReader oferece muito mais controle sobre a exibição do ebook, com muito mais fontes e opções de diagramação. Além de não ter ads e me deixar usar a imagem que eu quiser como screensaver.

Por último, mas talvez até mais importante, é a questão de que o kindle é meu e eu acho zoado que a Amazon decida como eu posso usá-lo. Acho zoado que ela controle o tipo de arquivos que o meu kindle pode abrir, acho zoado que ela possa mudar o que ela quiser nos livros que eu comprei. Acho zoado que ela possa meter a mão na minha biblioteca. Enfim, é uma questão de ter controle sobre os aparelhos que eu uso.

Como foi o processo

Conforme o vídeo sugere, segui as orientações desta wiki, mantida pela comunidade: https://kindlemodding.org

Um dos pré-requisitos para o jailbrek (desbloqueio) é que a memória do kindle esteja quase cheia, com entre 20-90MB de espaço lívre no máximo, para evitar que o kindle atualize durante o processo. Então baixei o Kindle Disk Filler Utility, mas não deu pra continuar o processo no dia porque o kindle tava sem bateria kkkk

No dia seguinte acabei não conseguindo usar o KDFU porque, por alguma razão, minha permissão pra rodar o script foi negada. Até fuçei um pouquinho, mas não estava a fim de arrumar isso no momento. Então resolvi fazer o jailbreak assim mesmo. Presumi que sendo um hardware velho, sem suporte oficial, ele não atualizaria automaticamente. E deu certo. Configurei o acesso à rede aqui de casa (nunca tinha conectado o kindle aqui) e em seguida reativei o modo avião. Seguindo as instruções da página, reiniciei o aparelho.

Baixei o WinterBreak pelo link da wiki. O processo todo é bem banal, só que tem algumas idas e vindas. Além do WinterBreak, é preciso instalar o Hotfix, que permite que o desbloqueio seja mantido depois de atualizar. Depois, instalar o KUAL (Kindle Unified Application Launcher) e o MRPI (MobileRead Package Installer) para rodar aplicativos não-oficiais. Por último, instalei o KOReader, um visualizador de documentos para dispositivos E Ink. Parece muita coisa, mas foi bem tranquilo. A forma de instalar as coisas no kindle é bem simples, basta copiar os arquivos direto na pasta do kindle no pc. Foi só seguir o tutorial aqui que a mágica aconteceu.

Processo pronto, tudo estava funcionando perfeitamente, só tinha uma última coisa que eu queria fazer – colocar um screensaver maneiro. Com o KOReader é bem fácil, basta preparar a imagem pra tela de e-ink, converter para o formato epub e salvar na pasta do KOReader no Kindle. Esse link explica direitinho e ainda tem uma ferramenta pra dimensionar sua imagem no tamanho certo pro seu dispositivo.

Resultado

Depois de um processo que, descontadas as interrupções, deve ser durado uns 20 minutos, eis o meu kindle desbloqueado:

jailbroke-kindle

Minha primeira impressão é de que a interface do kindle ficou mais parecida com a de um computador, bem focado em navegação por pastas e arquivos. Eu acho bem ok, mas algumas pessoas podem estranhar a falta daquele design de aplicativo da Amazon. Todos os livros que eu já tinha continuam disponíveis (mas as capas dos .mobi não estão aparecendo. uma coisa aí pra resolver) e os .epub que eu coloquei pra testar funcionaram direitinho.

No fim das contas foi bem fácil e acho que valeu a pena. Se você só lê livros comprados na amazon ou pelo kindle unlimited, talvez seja melhor deixar o kindle como está. Mas se você quer mais liberdade de escolha nos formatos dos seus ebooks, menos propaganda ou se opõe filosoficamente aos jardins murados da big techs, recomendo libertar seu aparelho!

 
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from Ideias de Chirico

Diz-se que alguém é “curto e grosso” quando é direto ao ponto, sem rodeios, às vezes ― e este o sentido principal ― grosseiramente objetivo. Percebo que esse traço não é benquisto no Brasil, ao menos em sociedade. Passei a o notar no período em que ensinei português para estrangeiros. Ao contrário do brasileiro médio, a pessoa do Congo, do Quênia ou da Colômbia não tem muitos dedos para dizer um “não” ou “não gostei”.

O “curto e grosso” não é bem aceito no Brasil. Em sociedade. Em literatura, acho particularmente a forma ideal de se passar uma informação ou macroinformação a alguém que nunca ouviu falar a respeito de determinada matéria. Salvo alguns belos calhamaços como “The Cantos”, de Pound, os livros que mais me marcaram ou que mais me ensinaram, não tinham mais do que 150 páginas. Nesta publicação quero falar um pouco delas.

Os livros “curtos e grossos”, para além de serem breves, também são aqueles que, por alguma razão fizeram-me reler ao menos uma vez na vida; aqueles que, em avulsos momentos de dispersão, me visitam sem fazer alarde ou epifanias; obras que ficaram não só na memória, mas na memória muscular. Sua leitura flui tão bem que eu o poderia ler em uma tarde, malgrado o fato de conterem em si um alto grau de informação.

“O que é comunicação poética” (1987), de Décio Pignatari

A primeira obra que me vem à mente quando penso nessas características é esse antológico livro do poeta, ensaísta, tradutor e paulista Décio Pignatari. Na primeira leitura que fiz, há dez anos, me encantou em especial a forma com a qual o autor fazia o uso da palavra para explicar os processos da própria arte da palavra ― coisa rara em prosa em língua portuguesa é um texto introdutório bem escrito!

Com esse livrinho, Pignatari pretende fornecer os recursos para possibilitar o mínimo de competência poética ao leitor, e de certa forma dessacralizar a poesia, tornando-a uma arte como qualquer outra (citando Pound logo no início, o autor diz que a poesia estaria mais próxima das artes plásticas do que da literatura); e que, como arte, necessita mais de técnica do que de inspiração.

Também foi através de “O que é comunicação poética que peguei o gosto por semiótica, a ciência que busca entender os processos das linguagens. O autor comenta versos ou construções poéticas não pelo campo do discurso ou do simbólico (verbal), mas pelo campo da sintaxe formal e da estrutura (não verbal). Cheguei a o ler três ou quatro vezes, e em todas elas tenho lampejos sobre a linguagem poética e aprendo um pouco mais sobre escrever, tanto poesia, quanto prosa, visto que Pignatari não escreve ― ele joga bola com as palavras.

“Saber ver arquitetura” (1948), de Bruno Zevi

Nos primeiros dias em que cursei arquitetura, em um longínquo ano de 2016, uma pergunta circundava todas as aulas: o que é arquitetura?

Confunde-se arquitetura com engenharia e até mesmo com design (diz um meme que “Arquitetura é design de edifícios”). Isso porque as três áreas, em maior ou menor grau, trabalham com estruturas.

No entanto, foi com a leitura de um livrinho introdutório sobre a matéria que a minha dúvida foi sanada.

Duas coisas saltaram-me aos olhos nessa leitura: o texto muito bem escrito de um autor que não tem a escrita como principal meio de expressão, e o modo com o qual o autor relaciona todas as linguagens e áreas. Para o arquiteto italiano Bruno Zevi, o desenvolvimento da Teoria da Relatividade e também da linguagem cubista na pintura foram imprescindíveis para o desenvolvimento de uma linguagem e de uma teoria da arquitetura modernas como conhecemos.

A razão dessas influências? Através dessas duas macroideias, os teóricos de arquitetura perceberam a importância do fator tempo para a linguagem arquitetônica ― de tal modo que Zevi defende que um edifício só pode ser entendido à distância através de um registro em vídeo, não tanto por fotografia ou planta baixa...

Outro exemplo da dialética e interdisciplinaridade na arquitetura: o arquiteto Aldo Rossi aponta que a teoria linguística de Ferdinand de Saussure (que Jung vai adotar em sua teoria de psicanálise) foi determinante em seus projetos, já que trabalham com modelos e estereótipos coletivos.

Ler sobre arquitetura mostra-nos que as coisas não estão assim setorizadas com as gostaríamos, mas sim em eterno diálogo e triálogo com outras artes, linguagens, tecnologias e ciências.

Saí do curso de arquitetura em 2019 para ingressar na graduação de Letras, porém as lições que Zevi deixou sobre interdisciplinaridade fizeram-me estar sempre alerta nas aulas do Centro de Humanidades quando alguém quer delimitar e setorizar conhecimentos. A importância desses estudos é tanto que, mesmo depois de sair do curso, segui lendo sobre arquitetura, sobretudo arquitetura contemporânea, área na qual não pude me aprofundar durante essa graduação.

Na era da eletricidade, tudo está interconectado. O todo afeta as partes e, sobretudo, as partes afetam o todo. Arquitetura ensinou-me a rejeitar uma postura especialista, de gênio individual, para adotar uma postura polímata, de membro de uma equipe.

“Em louvor das sombras” (1933), de Junichiro Tanizaki

A primeira vez em que ouvi uma menção ao ensaio de Tanizaki foi numa conversa entre amigos. Na casa de um deles, que era mantenedor de um sebo virtual, em seu quarto lotado de livros e artigos curiosos, estava “Em louvor das sombras”. Saltou-me aos olhos a fina espessura do livro que se contrastava com a bela capa azul, ilustrada com uma iluminura tradicional japonesa ao centro. Após ler o seu resumo de contracapa, tornou-se uma leitura pendente.

Como não o encontrava disponível em lugar algum (aquele exemplar do sebo virtual estava vendido, ou sendo lido naquele momento), decidi buscar por uma cópia sua na internet. Encontrei uma tradução em português... de Portugal. A linguagem rebuscada do português europeu em nada conversava com o estilo enxuto e direto do ensaísta japonês. Lembro claramente de leituras suas feitas na cama, nas quais eu acabava dormindo ― por mais interessante que fosse o texto.

Há mais ou menos dois anos, porém, em uma leva de livros doados para o Centro Acadêmico de Letras da minha faculdade, lá estava o danado outra vez, mas em versão anglófona: “In praise of shadows”, na primeiríssima edição dos Estados Unidos, pela Leete's Island Books, de 1977. Como eu tinha por mim que a língua inglesa e a japonesa de certa forma aproximavam-se quanto à sintaxe simplificada e à natureza ideogramática, de justaposição de vocábulos, achei que seria uma boa opção. Decidi dar mais uma chance ao livro.

E disso resultou uma das leituras mais fluidas e influentes da minha vida.

“Em louvor das sombras” parte de iniciais reclamações de Tanizaki sobre como as tecnologias elétricas como o abajur, a lâmpada, o ventilador e a grelha elétrica, importadas todas do Ocidente, estavam impactando negativamente sua cultura tradicional, sobretudo a sua arquitetura. No entanto, posteriormente Tanizaki desenha uma cartografia de como as sombras e as penumbras estão presentes na moda, na música, no comportamento e até mesmo na culinária japonesas; contrastando-as com a busca incessante pela luz dentro da cultura ocidental.

Tanizaki não se restringe somente à estética, e fala sobre as implicações de não haver uma ciência local e sobre como as invenções modernas não são desenhadas considerando os mais velhos (isso ainda no primeiro quarto do século XX!)

A edição estadunidense está prefaciada pela professor Charles Moore, da Escola de Arquitetura UCLA, o que pode dar a entender que o livro interessa apenas a quem está envolvido com design ou arquitetura. Ceio que, entretanto, seja um bom livro àqueles que se interessem pela cultura japonesa tradicional de um modo geral, bem como pelo efeito das novas tecnologias em povos que não estão circunscritos no seu desenvolvimento e produção.

Essa obra é mais um lembrete de que as tecnologias, mais do que importar discursos, abalam culturas inteiras...

“Os loureiros estão cortados” (1887), de Edouard Dujardin

Todos os livros sobre os quais falei até agora são aqueles que me instruíram sobre alguma coisa. Porém “Os loureiros estão cortados”, novela de Edouard Dujardin, foi um daqueles que mais me entreteram.

Como diz o escritor francês em uma carta a seus pais: “[O livro] é simplesmente o relato de seis horas da vida de um jovem apaixonado por uma demoiselle ― seis horas durante as quais nada, nenhuma aventura acontece, e, na maior parte do tempo, o personagem está sozinho”. É isso. Um passeio de fim de tarde e começo de noite de uma Paris vitoriana. C'est tout.

No entanto, todo o encanto dos “Loureiros” está em sua linguagem...

O texto todo é composto quase sempre em primeira pessoa, ou em “POV”, como defini “Se em uma noite de inverno um viajante”, de Italo Calvino, em uma das notas costuradas. Encantam em Dujardin a escrita impressionista, colorida e em movimento constante, sem elipses, logo, de “planos sequências”. É como assumir a posição de protagonista do livro.

James Joyce, romancista que escreveu o colossal “Ulisses”, recomendou “Os loureiros” a um amigo, a fim de que esse reconhecesse a inspiração do autor irlandês para o monólogo ininterrupto de Molly Bloom, de cerca de 150 páginas.

Certa vez o li em uma única tarde, durante uma viagem de duas horas na Serra Grande. Gosto de como as cenas são construídas e de como o uso da linguagem é posto como protagonista do livro, sempre a emular o “fluxo de consciência” (conceito esse, inclusive, para o qual essa novela foi determinante).

Se eu fosse escrever uma narrativa, seria algo como “Os loureiros estão cortados”. É um desses livros leves, mas extraordinariamente originais, que se leem quando tudo vai mal.

#cultura


 
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from felipe siles

Não use aplicativos para gerir tarefas Não use diários, nem bullet journal No máximo escreva as tarefas no whatsapp num grupo consigo mesmo Ou melhor Não escreva em lugar nenhum, apenas guarde na sua cabeça e deixe a informação naturalmente se dissolver no seu cérebro

Não faça registros escritos, apenas fotográficos, com o celular Não faça planilhas, não leia e-mails Use todo seu tempo livre rodando a feed do seu Instagram ou TikTok Não use Mastodon, Fediverse Não use software livres e de código aberto Dependa do Google para todas as coisas que você conseguir Passe todo seu tempo acordado com a cara enfiada no celular

Não faça planos Não seja pontual Não seja eficiente Não cumpra acordos, nem combinados

Seja distraído Esqueça todas as coisas Não preste atenção em nada e nem em ningém Apenas em você mesmo Porque você é superior a todas as outras pessoas

Não ande de transporte público, nem de bicicleta Compre um carro e se mate de trabalhar para pagar as parcelas, manutenção, impostos, seguro Xingue quem não anda de carro Ameace atropelar esse infeliz Não dê carona para ninguém

Não cozinhe Coma apenas ultraprocessados Tome Coca Zero Peça comida apenas pelo iFood Depois você vê como consegue (ou não) pagar o cartão de crédito Tenha a geladeira sempre vazia Não compre utensílios de cozinha

Faça academia Tire muita selfie Poste essas selfies com um verso bíblico Não faça outras atividades físicas que não a academia

Viaje apenas para fazer turismo Estabeleça a relação com os locais apenas de consumo Não descanse até visitar todos os pontos turísticos da cidade Você voltará esgotado para o trabalho Mas terá o que importa de verdade Muitas fotos no feed do seu Instagram

Não durma Vare a madrugada assitindo séries na Netflix Só veja filmes e séries que estão no hype Maratone o máximo de séries que conseguir Fique longe dos livros Durma no local correto

O único local que deve ser frequentado além da sua casa e seu trabalho É a igreja Fique longe do candomblé, umbanda e religiões que não são cristãs Quando sair para se divertir Beba o máximo possível para não ter que lidar sóbrio com as outras pessoas

Defina seu espectro político pelas redes sociais Fique longe de correntes marginais, como o anarquismo ou o socialismo Faça militância pelas redes sociais Seu letramento político é construido por memes Fique longe das ruas

SE VOCÊ DESCUMPRIR ESSAS REGRAS SERÁ SEVERAMENTE PUNIDO VOCÊ ESTARÁ INFRINGINDO O ESPÍRITO DO SEU TEMPO AS PESSOAS VÃO PERCEBER A SUA EFICIÊNCIA A SUA PONTUALIDADE E VÃO TE ENCHER DE TRABALHO DE DEMANDAS DE TAREFAS ATÉ TE ESGOTAR NO MAIS PROFUNDO BURNOUT TE ANIQUILAR NA MARGINALIDADE SIMBÓLICA DO CANSAÇO AS PESSOAS VÃO TE ADOECER ATÉ VOCÊ SE ENCAIXAR NO ESQUEMA DELAS OU ATÉ MORRER TENTANDO SAIR DESSE LABIRINTO LEMBRA DO AGENTE SMITH DE MATRIX QUALQUER MOVIMENTO FORA DA MATRIX SERÁ SEVERAMENTE PUNIDO E O RESPONSÁVEL ELIMINADO

 
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from Ideias de Chirico

Imagem ao fim do dia de vários edifícios europeus de estilo moderno com suas luzes amareladas acesas. Ao horizonte, no céu, vemos vermelhos e azuis

Imagem do centro comercial de Utrecht. Fotografia de @jeroenheijmans@mastodon.social

Publicações avulsas de outros lugares, pontes (“links”) e algumas citações que coletei nos últimos dias. A partir de agora, preferirei o termo “lampejo” em lugar de “insight”.

O analógico enquanto vanguarda

Engraçado que instrumentos mecânicos como máquina de escrever e bicicleta eram tidos como meios de atraso ou indícios de pobreza. Agora que se vê os males do carro e da digitalização compulsória da vida, aqueles mesmos instrumentos são vistos como emancipatórios e até revolucionários.

Uma noite no centro de Nova York

Meu pesadelo é eu protagonizar um remake não oficial de “After Hours” (1985), ou seja, entrar em uma espiral secular de azar e más decisões madrugada adentro no centro da cidade em uma quarta-feira qualquer.

No filme de Scorsese, acompanhamos a jornada de desconstrução de Paul Hackett, um “iupe” clássico do natimorto sonho americano, com sua vidinha de profissional liberal solteiro com T.T.T. (teto-televisão-travesseiro).

Sua viagem inicia quando, ansioso por ter uma aventurinha, aceita ir ao centro de Nova York por convite de uma desconhecida que conheceu em um café na mesma noite e que lhe fornecera pesos de papel, feitos por sua rumeite artista. Eram 23h quando Paul tomava o táxi para o “loft” da dita-cuja.

Essa semana lhe assisti pela terceira ou quarta vez, a primeira quando ainda era ~bebê, em uma sessão pós-noturna dessas do Corujão da Globo, logo após ter acordado na cama dos meus pais. Sempre que assisto ao “Após Horas” gargalho aprendendo a rir com o azar e a ver uma certa graça nas coincidências.

O personagem principal de 'Onde está Wally' utilizando um smartphone, cuja tela afirma que 'O Google gostaria de permissão para usar sua localização'

Cartum de McPherson.

A casa como espaço do antidigital

Li uma matéria sobre as preferências de compradores por “casas burras”, onde haja espaços desconectados. Um cantinho da leitura, uma varanda de detox digital, espaço de meditação etc.

Bateu-me aqui um lampejo e eu queria mesmo era uma casa 100% analógica, onde o digital de fato não entrasse. Não sei como faria isso, mas é um exercício a se fazer. Só posso associar o digital ao trabalho. E a casa para mim não deveria ser associada a outro trabalho que não fosse o doméstico... De certa forma, estar em linha dentro de casa é cultivar uma jornada, não só dupla, mas síncrona.

Sobre Lô

Na última segunda-feira, voltando do trabalho ao fim do dia, eu ia pôr música para tocar nos fones. Mas, como não estava moodado, acabei decidindo ouvir rádio.

Na rádio Band comentaram por cima que o Lô Borges, do Clube da Esquina, morrera mais cedo. Sempre carrego o seu “álbum do tênis” no telefone, para ouvir quando tenho um tempo livre.

Muito doido que logo o Lô Borges, que tinha um aspecto mais jovem, foi o primeiro do Clube da Esquina a falecer... É cada vez mais triste ver essa gente grande morrer aos poucos e não ter quem ficar no lugar.

Passamos por um estado insolúvel daquilo que o @mathek@tilde.zone chama de “orfandade cultural”.

Aportuguesamento

No meu íntimo chamo Air Frier de “frita-a-ar”.

O tuíte do perfil @CSMFHT que diz: 'Um novo navio de Teseu acabou de chegar, mas agora ele tem pensamento consciente'. 'Thomas não gostou do seu tempo na Oficina. 'É bom sentir-se consertado novamente,' disse ele depois, 'mas eles tiraram tantas das minhas peças velhas e colocaram peças novas, que eu não tenho certeza se sou realmente eu ou outro motor.'' O 'navio de Teseu' é uma referência ao paradoxo filosófico que questiona a identidade de um objeto quando todas as suas partes são substituídas. Nesse caso, o meme usa Thomas, o Trem, para ilustrar esse conceito.

Tuíte do @CSMFHT. “Um novo navio de Teseu acabou de chegar, mas agora ele tem pensamento consciente”. Na imagem: “Thomas não gostou do seu tempo na Oficina. 'É bom sentir-se consertado novamente,' disse ele depois, 'mas eles tiraram tantas das minhas peças velhas e colocaram peças novas, que eu não tenho certeza se sou realmente eu ou outro motor.”

De volta ao Mastodon

Por motivos de instabilidade nos servidores, no fim do mês passado migrei da minha antiga comunidade fediversal, harpia.red, para a mastodon.social.

O desenvolvimento do Mastodon tem que urgentemente colocar respostas em contexto, como era habitual no antigo Twitter (não sei como está hoje), onde, se se via um tuíte-resposta, acima vinha o tuíte respondido.

Isso não acontece no Masto. É tudo ocultado. Certa vez respondi a um tute que parecia responder a uma publi minha de um assunto X. Escrevi 500 caracteres bem opinioso sobre assunto X. Quando publico, vejo na verdade que a publi falava de assunto B. Por quê? Porque eu não tinha visto o tute respondido.

Não é falta de atenção, caro leitor. Quer dizer, também. Mas é sobretudo falta de um bom desenho de interface. Esse é o maior motivo pelo qual gente como eu não dura muito tempo nessa plataforma. Além de confusa, a interface não fornece mais de uma experiência que não a linear, de fluxo contínuo “timeline”. Os desenvolvedores do Mastodon têm a faca e o queijo na mão para se tornarem a plataforma mais respeitada do Fediverso.

Cadê os lunáticos quando a gente precisa deles?

Bem que um panicozinho moral em torno da “inteligência artificial” cairia bem agora, hein?

Linkroll

A Wall Street Journal fez um vídeo explicativo sobre como os fones com cancelamento de ruído funcionam. Dada a complexidade do processo, imagino o quanto isso gaste a bateria do equipamento...

How Noise-Canceling Headphones Create Silence in Microseconds (The Wall Street Journal ― Youtube) [EN].

O IBGE fez um sítio web bem legal para divulgar os resultados do Censo de 2022 sobre os nomes utilizados no Brasil. É possível pesquisar por nomes e sobrenomes. A partir de busca por palavras, aparecem resultados como número de pessoas com o nome, idade média de pessoas que têm esse registro, gráfico longitudinal de adoção do nome e signo do horóscopo (?) e o signo chinês (?) mais comuns de pessoas que possuem o nome buscado. Raros são esses sítios que o governo faz que são divertidos ao mesmo tempo que fazem um bom serviço público...

Nomes do Brasil (Censo 2022, IBGE) [PTBR].

A revista Nature perguntou a pesquisadores que usam inteligência artificial sobre como a propensão da ferramenta a agradar as pessoas afeta o seu trabalho ― e o que eles estão fazendo para mitigá-la.

AI chatbots are sycophants — researchers say it’s harming science (Nature) [EN]

Árvores refletidas em uma poça d'água

Fotografia de @sarablap@neopaquita.es

Citações

E tem coisa mais low profile que só ter conta no fediverso? É mais low profile que não ter rede social nenhuma

― @hugu@masto.donte.com.br

Não usem drogas. Já repararam que todo o ex-usuário de drogas se converte em um crente? É isso que vocês querem para a vida de vocês? Serem crentes!? As drogas são a porta de entrada para a Igreja Universal do Reino de Deus

― @noahloren@kooapp.org

A amizade é o sal da vida.

― Jorge Amado.

Batendo duas mãos uma na outra temos um som. Qual é o som de uma única mão?

― Koan, um exercício mental budista.

Pedidos

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#notas


 
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from Ideias de Chirico

Ressalva: No último dia 28 aconteceu a cerimônia de entrega dos certificados do curso de português para estrangeiros do Núcleo de Línguas da minha universidade. Como relato nesta publicação, ministrei aulas de português como língua estrangeira (PLE) desde fevereiro deste ano por meio do Programa Estudantes-Convênio (PEC-PLE), cujo objetivo é preparar estudantes de outros países para a prova Celpe-Bras. Como sou concludente do curso de Letras, infelizmente já não poderei seguir com as aulas no ano que vem.

Como tinha muito o que falar naquele momento, decidi escrever um texto sobre a minha relação especial com o ensino de PLE, com a língua portuguesa em si, e algumas considerações sobre o Brasil enquanto país de acolhimento. Antes mesmo de começar o pronunciamento, falei um pouco sobre o impacto dessas aulas em minha formação, como me encontrei bem nesse ramo educacional e também chamei a atenção para a falta de formação para o ensino de português para estrangeiros nas universidades brasileiras.

Bati esse texto à máquina de escrever na tarde anterior ao evento, mas, apesar da pressa e do improviso, penso que consegui condensar bem a minha postura sobre o meu idioma materno e sobre meu país.

Transcrevo-o aqui tanto porque alguns alunos os quais eu gostaria de que estivessem lá não puderam comparecer, quanto porque penso que esta fala possa interessar a mais pessoas. Nesta transcrição fiz algumas correções, mas procurei manter também algumas adaptações que fiz no momento da fala.

Aqui o texto:

Discurso para concludentes do PEC-PLE 2025

Pronunciado em 28 de outubro às 16h30 no Núcleo de Línguas da Universidade Estadual do Ceará, campus Itaperi

Boa tarde a todos.

Bom, aqui estamos. Finalmente posso falar em português com todos vocês! É com esta língua que penso todos os dias, com que amo, aquela com que expresso meus medos e meus sonhos da forma mais precisa possível; e é esta língua que herdo a vocês!

Esta minha fala é o atestado de meu trabalho com Alef e Tobias nos últimos oito meses. Em fevereiro, eu não podia falar uma frase sequer, sem que, para ser entendido, precisasse modular minha fala, explicar termos, fazer breves traduções; hoje posso utilizar minha língua da forma mais sofisticada possível, que sei que todos vocês irão me compreender! E mais: serão capazes de dar uma resposta à altura.

Sei que alguns de vocês vieram ao Brasil aprender português sobretudo para a realização de uma prova de proficiência linguística. Felicito-lhes pela coragem. Não sei se eu mesmo o faria. No entanto, gostaria de que o interesse de vocês ultrapassasse o nível instrumental deste idioma. Esta é a língua dos meus pais e dos meus melhores amigos; ensiná-la a vocês foi mais do que um trabalho: foi parte de uma missão. Entendam-na como um presente que lhes dou.

“Minha língua é minha pátria”, diz uma canção de Caetano Veloso que estudamos em sala de aula. A partir do momento em que vocês aprenderam esta língua com que falo, não estão pura e simplesmente habilitados a iniciar estudos universitários no Brasil; vocês ingressaram na comunidade lusófona, que se espalha pelos quatro cantos do mundo, até mesmo em países que não têm o português como idioma oficial.

Se você fala a língua com que falo ou a aprende, você é meu compatriota; se você me entende, você me é um irmão. Digo isto não somente por mim: é assim que os brasileiros interpretamos a nossa língua. Quando um brasileiro vê um estrangeiro a aprender a sua língua, para ele significa mais uma pessoa do mundo desconhecido com que pode se comunicar, é mais uma antena com que pode transmitir sua mensagem para o mundo.

Atualmente tenho domínio de quatro línguas estrangeiras; e com toda a minha franqueza, tenho de admitir que o português segue como minha favorita. Não porque eu tenha alguma afeição somente, mas porque com esta língua é possível fazer tudo: é possível cantar desde o punk rock mais rasgado de um Garotos Podres até o mais sensível chorinho de Cartola; pode-se fazer a literatura mais dura de um João Cabral de Melo Neto ou de um Graciliano Ramos, mas pode-se fazer a literatura mais barroca de um Guimarães Rosa ou de Cecília Meireles. A língua portuguesa pode tudo. Pode poetizar, pode cinemar, pode musicar. E também pode (e deve) se internacionalizar. E nisto nós professores e vocês estudantes pudemos contribuir.

E tão diverso quanto esta língua são os países que a falam. Somos atualmente 265 milhões de pessoas lusófonas, espalhadas nas Américas, na África, na Europa e, em algum grau, na Ásia e na Oceania. Mas talvez não haja outro país que mais fez desta língua sua bandeira do que o Brasil.

Sei que alguns de vocês podem pensar, e pensam certo, que a implementação da língua portuguesa é resultado de um processo de colonização e de regimes autoritários subsequentes. Até meados do século XIX, esta não era sequer o idioma mais falado em território brasileiro. Nas primeiras décadas do século XX, logo após uma série de genocídios [de povos] indígenas causados pelo império lusobrasileiro, a ditadura Vargas proibiu que qualquer outra língua que não o português fosse falada e até mesmo ensinada pelos brasileiros, malgrado a constante onda de imigração de japoneses, italianos e alemães em nosso país, iniciada no século anterior.

Ao fim de tudo, o português acabou sendo a única língua falada oficialmente nos mais de oito milhões de quilômetros quadrados do Brasil. Com suas variações, com seus dialetos, mas falada. E em seu bojo guardou a influência de todos os povos que por ela percorreram: árabes, africanos, ameríndios, europeus.

O brasileiro é hoje majoritariamente monolíngue, mas faz desta língua a sua ferramenta de trabalho e o seu brinquedo.

Quando suas jornadas neste país acabarem, espero que ao menos alguns de vocês fiquem. Mas se não ficarem, que levem o Brasil aonde forem.

Entendam no entanto que não existe um Brasil. Existem Brasis. Tão diverso quanto sua língua, é este país difícil de ser definido. O comediante francês Paul Cabannes certa vez disse que no Brasil nada é pouco; no Brasil tudo é muito: se alguém dança, ela dança muito; se namora, namora muito; se estuda, estuda muito. E neste país de intensidades espero que vocês também sejam, aprendam, amem e festejem muito.

E quero dizer que, independentemente de quais sejam seus planos neste país, com a maior franqueza do mundo: vai dar certo. Cedo ou tarde, vocês conseguirão realizar tudo o que quiserem no Brasil. Ele pode ter um monte de problemas, mas tudo o que se sonha no Brasil, se realiza. Como diria o poeta Décio Pignatari: “No Brasil, só não resulta o que você não faz”.

E a partir deste programa, estou certo de que estou mais perto de realizar o meu sonho que é tornar o português uma linguagem internacional e o Brasil um país internacional. Por isso, agradeço a cada um de vocês que participou deste pequeno passo na nossa História.

Enantchê nuê, Cotonou!

Natonde mingue, Brazzaville! Natonde mingue, Kinshassa!

Obrigadu, Dili!

Assantsi, Nairóbi!

Gracias, gente de Cienfuegos, Bogotá y San José!

Um grande abraço desde a Serra Grande, a terra onde nasci. Good luck, bonne chance, vos deseo suerte.

Obrigado pela atenção!

Post-scriptum: todo o poder ao Sul global!

#cultura


 
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from john

Pense comigo nessa sinopse por um segundo:

Temos um povo que vive numa ilha, os “Eldianos”. Eles são descendentes de um império antigo que caiu em desgraça, donos de uma linhagem “mítica” com um passado glorioso. Esse povo se vê completamente ameaçado pelo resto do mundo, pelo continente, que tem mais gente e guarda um ressentimento profundo pela opressão que sofreu nas mãos desses antigos mestres.

A única “opção” que lhes resta é se submeter, aceitar pacificamente seu destino e desaparecer numa espécie de autodestruição demográfica.

SÓ QUE... um grupo de jovens militares não aceita isso. Eles decidem que a melhor defesa é o ataque. E eles partem para cima primeiro, num espetáculo de destruição total, para dar ao povo da ilha uma chance de derrotar seus inimigos e, quem sabe, restaurar a antiga glória do império.

Se essa descrição soou familiar, talvez até um pouco... desconfortável, é porque ela deveria. Para mim, a coisa é bem evidente: Attack on Titan é, na sua essência, propaganda fascista.

Vamos ponto a ponto:

A “ameaça” externa é 100% real. O mundo realmente quer destruir Eldia. A ameaça é iminente, total e genocida. Esse é um tropo clássico da retórica fascista: “somos nós contra o mundo, eles querem nos aniquilar”. A grande diferença é que, na vida real, essa ameaça é quase sempre inventada ou grosseiramente exagerada para justificar o autoritarismo. Em AoT, a ameaça é real, o que justifica a paranoia e as medidas extremas que vêm a seguir.

O genocídio como solução “viável”. O “Rugido da Terra”. O plano de Eren não é só uma loucura, ele é apresentado como uma opção estratégica. E pior: uma que funciona. O genocídio coloca Eldia não apenas em segurança, mas no caminho para se tornar a potência hegemônica mundial, provavelmente sob um novo regime fascista e militarista. A obra normaliza o ato mais extremo de todos como uma “escolha difícil”.

Quem é o verdadeiro protagonista? Pense nos personagens “anti-fascistas” da série, a galera da Aliança (Armin, Mikasa, Levi, Jean, Connie, etc.) que tenta desesperadamente impedir o genocídio. Eles são retratados como ingênuos, idealistas e, no fim, são meros coadjuvantes na grande jogada. O verdadeiro protagonista, o motor da história, o cara cujas motivações entendemos... é o Eren. O cara que dá o golpe e comete o genocídio.

Eren, o Messias Fascista (e sua redenção). O Eren não é só um vilão. Ele é construído como um messias trágico. Ele “faz o que precisa ser feito” pelo seu povo, sacrificando a própria alma. E mesmo depois do ato mais monstruoso que se pode imaginar, a história gasta um tempo enorme para humanizar suas motivações e “redimi-lo” aos olhos dos amigos (e do público). Ele acaba como um herói incompreendido, não como o maior genocida da história.

Mas o que realmente me faz torcer o nariz e acende todos os alertas é o contexto.

Aquele parágrafo inicial que eu escrevi não é só sobre Attack on Titan. É um retrato bem fiel do imaginário da extrema-direita japonesa.

O Japão, como país, tem uma dificuldade enorme de lidar com seu passado fascista e imperialista da Segunda Guerra Mundial. O ensino de história por lá é, para ser gentil, negligente com os crimes de guerra e as atrocidades cometidas pelo Império. E hoje, existe um movimento crescente de uma extrema-direita nacionalista que adoraria “recuperar” esse passado militarista, que vê o Japão como uma vítima e que sonha com a restauração de sua “antiga glória”.

Nesse cenário, uma história como Attack on Titan — sobre um povo “injustiçado” que mora numa ilha e precisa de um exército forte e de um líder disposto a tudo para se proteger do mundo ressentido e restaurar sua glória — ressoa com ideias que são, no mínimo, muito, muito perigosas.

Enfim, não estou aqui para dizer que você é fascista por gostar de Attack on Titan. A arte é complexa, a animação é espetacular, os personagens são cativantes e a trama é viciante. Eu mesmo acompanhei por anos.

Mas, para mim, é impossível fechar os olhos para a mensagem política que está gritando na nossa cara. A gente pode (e deve) curtir uma obra, mas sem nunca, jamais, desligar o senso crítico.

 
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from Ideias de Chirico

Caricatura de um homem calvo, de olhar severo com o nariz pretuberante e uma parte do rosto apagado

Imagem: caricatura de Paulo Mendes Campos.

Uma lista de coisas deleitáveis, escrita durante uma leitura de lista de coisas deleitáveis, uma crônica de 1962 de Paulo Mendes Campos:

Sombra de árvore em parede ao fim do dia; escrever em máquina de escrever; escrever em teclado mecânico; tirar os sapatos ao fim do dia e tocar os pés no assoalho frio; acertar nota difícil em violino; ouvir sotaque de estrangeiro aprendendo português; acordar cedo sem alarme; comprar queijo coalho barato; ouvir jazz em um bom fone de ouvido; ver álbum de fotos de família de gente desconhecida; a palavra eavesdrop; a voz de Ezra Pound quando estava velho; sol nascente; sol poente; criança pequena ouvindo atentamente alguém falar; cúmbia; ver alguém dançar cúmbia; espanhol argentino; inglês britânico, sobretudo o Cockney; português timorense; francês africano, sobretudo o beninense; perceber a simplicidade de uma coisa aparentemente complexa, como por exemplo, conseguir meditar pensando em nuvens e ondas do mar; beijar mulher engraçada depois de ela fazer rir; ouvir alguma história sobre Oswald de Andrade; ouvir alguma história sobre Erik Satie; visitar um completo desconhecido por convite de um amigo e comer e beber de graça; fita cassete; começar a aprender uma língua nova; vaia cearense; acertar uma expressão em francês depois de muitas tentativas; fazer becape de arquivos; olhar horas “redondas” em relógio mecânico de pulso; falar em espanhol com nativos; a primeira hora de uma paixão; usar chapéu grande debaixo de sol forte; conhecer uma nova palavra que passa a nomear algo que já conhecíamos ― como por exemplo, “serendipidade”; mulheres de cabelo joãozinho; receber elogio de crianças; a série de colagens “Jazz” de Henri Matisse; beijar depois de beber cerveja gelada; ouvir Décio Pignatari falando; ver como gente detestável ficou feia depois dos 20 anos; Johann Sebastian Bach; texto com parágrafos curtos; a feiura de recém-nascidos; qualquer coisa sobre o Japão; reconhecer figuras em caracteres chineses; dicionários que tem transcrição fonética das palavras; ouvir da rua o toque de pedido de viagem Uber; ler João Cabral de Melo Neto e imaginar cenas de construção; ouvir João Cabral de Melo Neto cacoetar com “Compreende?”; filmes tão bons que continuam na nossa cabeça, por meses; experimentar bicicleta alheia; ler jornal de papel em um domingo tranquilo; céuzinho azulzinho ― sobretudo no mês de agosto, às 14h ―; calças de alfaiataria; calças que têm bolsos bem largos e fundos; ser surpreendido com massagem nas costas, enquanto se está no computador; tocar alfaia em grupo; mijar de madrugada no escuro, sentado; lambretas; quando uma criança cai e, em vez de chorar, ela começa a rir; som de aviso do vigia noturno de motocicleta; a atuação de Kôji Yakusho em “Dias Perfeitos”; dia demorado em casa; abajur; luz de abajur; telefones pequenos; o primeiro disco de Arthur Verocai; gatos gordinhos; televisão de tubo; quando acham que você é mais jovem do que de fato é; usar acento grave indicador de crase da forma correta; o modo como os cubanos levantam os ombros enquanto argumentam sobre um assunto delicado; andar de skate depois de anos sem ter subido em um; perceber a comunicação não verbal dos músicos em serviço; dispositivos com tela “de papel”; lembrar que é sexta-feira, e não quinta-feira; lembrar que é sábado, e não domingo; automóveis coloridos e miudinhos; notar que os músculos estão crescendo; dormir fácil; jogar xadrez com um colega de trabalho no intervalo; banho de cachoeira da Serra da Ibiapaba; banho de rio do sítio Ingazeiras; o primeiro banho do dia; a cidade de Fortaleza durante a hora dourada; Serra da Ibiapaba debaixo de neblina; ler debaixo de sombra de árvore; acordar cedo descansado e lépido; conseguir sentar em modo seiza; dicionários de bolso da Collins Gem; fazer listas.

#cotidiano


 
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from daltux

Desenho cartunístico de um pinguim azul que segura um escovão e uma toalha, como se acabasse de tomar banho.GNU Linux-libre é, atualmente, o núcleo oficial do sistema operacional GNU. É quase o mesmo que Linux, o grande kernel que costuma ser usado não apenas com o GNU como com diversos outros. Contudo, Linux-libre é o resultado de um processo de detecção e limpeza de partes privativas a cada lançamento do Linux, visando garantir, diferentemente deste, que seja 100% software livre.

Leia mais sobre esse projeto tão fundamental para a liberdade de software em sua página oficial (em inglês) ou em artigo da Wikipédia.

Freesh

O projeto GNU Linux-libre, mantido por FSFLA com apoio da FSF, possui um repositório chamado Freesh, compatível com apt. Ele contém pacotes em formato deb do kernel prontos para instalação em PureOS, Trisquel ou tantas outras distribuições de GNU derivadas de Debian, mesmo aquelas que normalmente são acompanhadas do Linux comum — o famoso kernel que não é considerado software livre por conter módulos com conteúdo binário desacompanhado de código-fonte ou ofuscado e que, portanto, priva a comunidade de uma ou mais das suas liberdades essenciais.

Similarmente, há também um repositório compatível com dnf chamado RPM Freedom.

O repositório Freesh, ao mesmo tempo em que possibilita libertar uma máquina do software privativo trazido pelo Linux comum, ainda pode causar o efeito colateral de deixá-la mais renovada, pois apresenta os lançamentos mais recentes do kernel, que poderiam demorar muito a chegar a ela. Após defini-lo em arquivo no diretório /etc/apt/sources.list.d, basta atualizar os dados dos repositórios e instalar o metapacote linux-libre para ter a últimíssima versão do kernel ou, se desejar algo testado por mais tempo, linux-libre-lts.

Espelhos

Os repositórios raiz do projeto GNU Linux-libre são mantidos pela FSFLA em estrutura cedida pela FSF, em Boston, com alguns espelhos voluntariamente mantidos pelo mundo. Considerando a data de escrita deste texto, há poucos dias, eram três, em Austrália, Equador e Turquia. Assim, surgiu a ideia de criar um espelho do Freesh no servidor de daltux.net como forma de contribuir com o projeto. Ele já foi adicionado à lista de espelhos lida pelo gerenciador de pacotes a cada atualização, se tiverem sido seguidas as instruções de instalação padrão da página do Freesh. Nesse caso, não é preciso fazer mais nada para aproveitá-lo. Também é possível definir diretamente https://daltux.net/freesh/ como origem, se desejar recorrer apenas a esse espelho — algo menos recomendável.

O novo espelho está situado na Alemanha. Permanece importante a criação de mais espelhos, em especial no Brasil, como em outros locais. Quem tiver alguma infraestrutura e interesse de realizar isso, que não é nada complicado, pode entrar em contato se precisar de mais detalhes. Basicamente, será a execução periódica de Shell script para atualizar com rsync um diretório a ser servido por HTTP(s).

Exemplo

Eis um exemplo de execução de atualização+limpeza de pacotes que demonstra a utilização de mais de um espelho automaticamente pelo apt ao baixar o linux-libre versão 6.17.2:

$ sudo sh -c 'apt update && apt upgrade --verbose-versions && apt autopurge && apt clean && echo && df -h / && echo && uptime'

[...]
Get:6 http://linux-libre.fsfla.org/pub/linux-libre/freesh/mirrors.txt Mirrorlist [171 B]
[...]
1 package can be upgraded. Run 'apt list --upgradable' to see it.
[...]
Upgrading:
   linux-libre (6.17.1 => 6.17.2)

Installing dependencies:
   linux-image-6.17.2-gnu (6.17.2-gnu-1.0)

Summary:
  Upgrading: 1, Installing: 1, Removing: 0, Not Upgrading: 0
  Download size: 103 MB
  Space needed: 576 MB / [...] available
  └─ in /boot:  84.5 MB / [...] available

Continue? [Y/n]
Get:1 http://linux-libre.fsfla.org/pub/linux-libre/freesh/mirrors.txt Mirrorlist [171 B]
Get:3 https://daltux.net/freesh freesh/main amd64 linux-libre amd64 6.17.2 [780 B]
Get:2 https://mirror.cedia.org.ec/linux-libre/freesh freesh/main amd64 linux-image-6.17.2-gnu amd64 6.17.2-gnu-1.0 [103 MB]
Fetched 103 MB in 20s (5154 kB/s)
[...]
Setting up linux-libre (6.17.2) ...
[...]

Dica adicional: nala

Algo sobre o gerenciador de pacotes apt em geral: quando o mesmo pacote/versão está disponível em mais de uma origem configurada, ele já usa origens aleatórias para baixar cada pacote e pode passar a outra origem caso alguma apresente erro. Se desejar, mais do que isso, tentar usar paralelamente mais de um espelho definido para baixar o mesmo pacote, o programa nala consegue realizar isso. Vale a pena? Depende: cumulando essas condições com gargalos no lado do servidor, pode haver benefício. Senão, continue usando apt normalmente.

A dica mais importante é evitar repositórios que contenham software não livre.

#GNU #LinuxLibre #Linux #Debian #apt #SoftwareLivre

 
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from john

Um sintoma da dificuldade da esquerda em determinar a pauta do debate público é nossa incapacidade de engajar no debate sobre conceitos políticos fundamentais de forma não-reativa. Não conseguimos afirmar nossa compreensão e nossas propostas sobre temas políticos relevantes porque o impulso reativo de antagonizar a direita acaba se tornando o conteúdo da nossa posição política. Se eles são contra, eu sou a favor. Se eles são a favor, eu sou contra. Sem nuances possíveis.

Um exemplo é o combate à corrupção e ao patrimonialismo na política brasileira. Essa foi uma bandeira histórica dos grupos que formaram as instituições político-partidárias da esquerda nacional. Era uma plataforma quase exclusiva de petistas e trabalhistas nos anos 90. Porém, quando o PT se tornou o gestor da máquina estatal, estruturada historicamente em torno da corrupção e do patrimonialismo, a direita instrumentalizou o discurso de moralidade na administração pública. E a resposta da esquerda, ao invés de qualificar a discussão sobre problemas estruturais da governança estatal brasileira, foi de desqualificar e reduzir a importância do combate à corrupção. O que é ainda mais surpreendente considerando os enormes avanços na institucionalização do controle interno e externo sobre as contas públicas durante os governos do PT. A narrativa e a ação pra mostrar existiam, mas na prática a bandeira da luta contra a corrupção foi cedida para a direita.

Não entenda aqui uma defesa do centrismo ou de uma suposta moderação nas posições políticas. Pelo contrário, quebrar esse ciclo de reatividade, que rebaixa a esquerda ao pensamento binário da direita, demanda uma afirmação radical dos valores que definem e diferenciam a esquerda política.

A recente vitória discursiva da esquerda com a bandeira da defesa da soberania nacional é um ótimo exemplo disso. Foi possível auferir ganhos políticos e possivelmente eleitorais avançando uma leitura propriamente de esquerda do que significa nacionalismo, ou patriotismo. Para isso, foi preciso deslocar o centro dos conceitos do vazio performático que é a estética bolsonarista para a concretude de posicionamentos acerca da soberania geoeconômica nacional e a resistência a tentativas estrangeiras de interferência nos assuntos internos.

O problema é que fomos praticamente empurrados à força para essa posição pelos erros táticos da direita. A questão da reatividade persiste, apesar da importantíssima vitória nessa batalha pelo significado dos conceitos. Mas os aprendizados dessa campanha podem ser aplicados em outras áreas, para avançar sobre consensos sociais até agora dominados pela direita. Um exemplo que me vem à mente é a pressão por uma reforma tributária que tenha por princípio a justiça tributária, não apenas defendendo o aumento de impostos para os ricos, mas o alívio da carga tributária sobre os pobres.

Isso seria adequar o discurso às demandas e necessidades concretas da classe trabalhadora sem abandonar valores fundamentais. Um nó que a esquerda ainda precisa desfazer em outros temas também, como empreendedorismo, segurança pública, conservadorismo religioso, etc. E é importante fazer isso tomando a condução do debate, sem ir à reboque da direita, porque não dá pra confiar que eles vão sempre entregar a disputa conceitual de bandeja, como dessa vez.

 
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from felipe siles

Nem todo mundo sabe, falo sobre tantos assuntos diversos aqui neste blogue, mas sou músico profissional, é minha atividade profissional principal. Toco acordeon, piano, leciono diversas disciplinas em um conservatório de música. Como criei este blogue para falar livremente de diversos assuntos, acabo fugindo um pouco da minha especialidade, sobre a qual costumo produzir academicamente. Mas me deu vontade de falar sobre esse tema de uma maneira mais leve e emocionada, orientado mais pelos afetos do que pelas regras da ABNT.

Ao longo da vida eu sempre tive, na perspectiva do profissional da música, um certo incômodo que de uns anos para cá eu consegui organizar e colocar nome. Gosto muito da ideia que aparece nos Contos de Terramar da Úrsula K. Le Guin: saber o nome das coisas ou das pessoas te dá poder sobre elas. Entrei em contato, durante o meu mestrado em Etnomusicologia, em uma disciplina da Antropologia, com o etnomusicólogo Thomás Turino, que divide as funções da música, principalmente entre música apresentacional e participativa. Embora a fronteira entre as duas possa ser uma nuvem cinzenta em vários casos e existam muitas críticas sérias e bem embasadas contra essa classificação, gosto de pensar, baixando a guarda da problematização, que existe música para ser ouvida, apreciada, e música para participar com o corpo, com palmas, cantando, dançando ou até tocando instrumentos musicais e interferindo na performance.

Sempre me achei diferentão de praticamente todos os meus amigos músicos e me sinto um peixe fora d'água em quase todas as disciplinas, congressos e espaços acadêmicos, a não ser por aqueles perfeitamente alinhados à minha temática de pesquisa, que é a música negra. E sempre foi nas disciplinas de Antropologia que pra mim as coisas faziam sentido, me sentia abraçado, confortável, entre pessoas que pareciam comigo, mesmo quando eram muito diferentes.

Acho que nem todo mundo sabe como pensa e se comporta um músico profissional médio (principalmente os letrados na partitura), e acredito que as pessoas ficariam chocadas se soubessem. Lógico que existem diversos perfis, essa é uma profissão muito diversa, mas eu percebo que muitos músicos são extremamente vaidosos, e gostam de exibir a sua técnica, e também gostam de ouvir outros músicos que são vaidosos. Dentro da lógica neoliberal, são consumidores, dos streamings e redes antissociais de seus músicos referência e principalmente de adquirir inúmeros equipamentos e instrumentos caros, sempre com a desculpa que é ferramenta de trabalho, que é pela fruição estética, mas sabemos que no fundo é pela vaidade mesmo (e/ou também pela reserva de mercado, já que o equipamento melhor hipoteticamente aumenta a chance de ter gigs).

Me esforço bastante para não ser uma pessoa moralista, porque acho que o moralismo é uma armadilha que as pessoas de esquerda e progressistas caíram nos últimos tempos, e é um buraco bem difícil de sair. Não tenho nada contra a vaidade, para ser sincero, acho que a vaidade faz parte da vida e da arte. Nem todo artista é vaidoso, mas acredito que a vaidade sempre está ali em algum nível, de alguma forma. Se você faz algo para alguém te ouvir ou te ler, acho que algum nível de vaidade há ali, e sendo esse nível saudável e não fazendo mal para ninguém, não vejo problema nenhum nisso. O problema é que existem vaidades que são danosas para a própria pessoa e seu entorno, longe de mim cagar regra, mas já cagando um pouco, tá cheio de músico rebolando pra pagar sua fatura do banco roxo porque parcelou aquela caixa de som de 30 mil reais. Eu sempre me contentei com instrumentos e equipamentos que suprem as minhas demandas profissionais, nesse ponto também sou bem diferentão.

Mas o que eu queria falar mesmo é sobre a música participativa do Thomas Turino, embora essa digressão foi importante para dar mais contexto a vocês. Sempre me incomodou o palco que hierarquiza, a ideia de ídolo e fãs, e a relação do ouvinte pela música que passa quase que só pelo consumo, embora isso seja meio complexo de afirmar desse jeito. Pra mim foi bem libertador descobrir que existem DJs e bandas punk que se recusam a tocar em palcos, que tocam no mesmo nível do público, isso é fantástico e mudou muito os meus parâmetros do que é qualidade musical, se é que existe alguma.

No senso comum do músico médio (pelo menos do músico letrado na teoria musical), a qualidade musical é medida (ou pelo menos tentada) pela complexidade e sofisticação da elaboração dos próprios elementos musicais, não só a letra, como pensa o grande público. A melodia tem que ser boa, a harmonia com acordes interessantes e surpreendentes, o ritmo dançante e envolvente, tudo isso faz parte do que é chamado de qualidade musical. Muita gente acha que alta cultura tem a ver apenas com escolhas estéticas da classe dominante, e essas pessoas não estão totalmente erradas. É que esse quadro é mais complexo, e muitas vezes essa chamada alta cultura de fato produz sofisticação estética, difícil de ser medida e mesurada pelo músico, talvez impossível pelo público comum.

Essas ideias com que entrei em contato foram transformando o que eu entendia por qualidade musical. E mais ou menos nessa época, quando eu fazia mestrado, em 2018, tinha acabado de gravar o disco Paulibucano do sambista Toinho Melodia. Só para explicar como que um pianista e sanfoneiro foi parar num grupo de samba, do qual orgulhosamente integro até hoje, 20 de agosto de 2025. Sempre fui bastante envolvido com o choro e, justamente, gostava do gênero por sua qualidade de música participativa, sempre achei fascinante a ideia de uma roda de choro onde um músico pode chegar no meio, sacar o seu bandolim ou flauta ou clarinete ou instrumento que for, e puxar um choro do seu repertório, interferindo na performance, emprestando a ela uma fluidez e imprevisibilidade muito interessantes. Mas eu descobri que no samba isso é elevado a milésima potência. Sou grato ao choro, por ter sido meu caminho para chegar no samba, mas hoje eu digo que o gênero musical que eu mais ouço, toco e sou apaixonado é o samba!

Toinho Melodia, que infelizmente já subiu, pra mim foi um grande mestre intelectual. Descobri que o samba não é só música, é a própria vida. O Toinho compunha sambas o tempo inteiro, no ônibus, no metrô, nas ruas de São Paulo, na hora do nosso café, intervalos dos ensaios. Nossas rodas de samba sempre foram rodeadas de histórias deliciosas e divertidas sobre as quais quero escrever neste blogue em algum momento. Se tem muito músico que gosta de acorde, de melodia, de nota, eu gosto de lembrar, relembrar, contar e recontar essas deliciosas histórias que o samba me proporcionou. E não é que o samba seja simples, o samba possui sim essa complexidade e alta elaboração estética. E mais ainda, o bônus que é esse fator da integração social.

E eu fui, aos poucos, sem correria e só na malemolência (como diz outro samba do nosso mestre) sacando que qualidade musical é isso também. O Toinho Melodia não gostava de falar sobre isso, mas chegou a ter um momento ruim na vida, virou até morador de rua. Quando foi reconhecido por Toniquinho Batuqueiro, um sambista que era uma de suas referências, sua vida começou a virar, venceu o câncer, conheceu uma rapaziada que abraçou sua obra, gravou seu primeiro disco autoral, viajou em turnê para sua terra natal, Recife, continuou fazendo o que sempre amou até o final da vida que é compor e cantar, e participar de rodas de samba, até onde foi possível. Ou seja, foi o samba que manteve digno e humano o Toinho, mesmo nos piores momentos. Me diz, se isso não é qualidade musical, muito mais que um acorde enfeitado com tensões e dissonâncias.

Mas enfim, nem todo músico pensa dessa forma, observo que a maioria pensa diferente. Não julgo, nem condeno, acho que tive um pouco de sorte também, de ter uma vivência maravilhosa como essa. Fico pensando naquela clássica frase de mãe: você não é todo mundo, se todo mundo se jogar de um precipício, você se joga também? Talvez esse texto tenha um pouco de soberba, empáfia, superioridade moral e vaidade, afinal só se diferencia do outros pra dar destaque a si mesmo. Mas, na verdade, ser tão diferente tem um aspecto que é meio triste em alguns momentos, que é a solidão e a incompreensão, sentimentos que me acompanham em diversos momentos: às vezes na minha rotina dando aula no conservatório (embora a maioria dos colegas já começou a entender a minha brisa, precisa paciência da minha parte também), nos congressos, disciplinas, concursos, etc. Não dá pra esperar que todo mundo entenda rápido a brisa de um pianista e sanfoneiro que gosta mesmo é de tocar samba.

Para não terminar para baixo, vou fazer um contraponto, eu sinto que tenho conseguido transmitir cada vez melhor essa minha visão da música, e isso tem a ver com dominar as palavras, voltando na Úrsula K. Le Guin, minha autora preferida de ficção, tem a ver com estudar, e me comunicar melhor, tem a ver com o doutorado, mas tem a ver também com Exu. É um movimento lento, pequeno, mas eu sinto que tem rolado, e diante dessas perspectivas diferentonas eu sinto, modéstia a parte, que acabei virando referência e descobrindo novas referências em alguns outros “solitários” ou peixes fora da água, como eu. E são essas ligações que me mantém motivado, alegre, criativo, otimista, vivo, como o samba manteve Toinho Melodia em seus piores momentos.

Gostaria muito de, antes de terminar esse texto, agradecer aos meus companheiros de Conjunto Picafumo e agregados, por serem meus parceiros nessa jornada: Rodolfo Gomes, André Santos, Matheus Oliveira, Verônica Borges, Laura Santos, Angela Coltri, Paulinho Timor, Merilyn Esposi, Kathleen Hoepers, Alfredo Castro e tantos outros. Gostaria de agradecer também os companheiros de outras rodas de samba, com quem tanto aprendi: Selito, Rafael Galante, Lobo, Ricardo Perito, Maurício Pazz, Lucas Brogiolo, Alysson Bruno, Rodolfo Stocco, Renato Pereira, Deni Domenico, Railídia, Paulo Godoy, Koka Pereira, Hélio Guadalupe, Roberta Oliveira, Leo La Selva, e tantos outros com quem fatalmente cometi a injustiça de esquecer de citar. É rememorar as histórias que vivi com vocês, e reouvir o nosso querido Paulibucano que vai me dando forças nos momentos de solidão. Obrigado, amo vocês!

Vou encerrar o texto citando a letra de “Vida de sambista” (Kiko Toledo, Ney Nunes e Toinho Melodia), que integra nosso álbum Paulibucano:

Não adiantou abdicar do samba o samba morava em seu coração ganhou dos seus o dom de sambar e do soberano a inspiração

Pra compor, pra sambar Na sutileza dos versos sonhar (2x)

A vida do sambista é o ano inteiro Vai além da ilusão de fevereiro No morro no asfalto, favela, planalto Jamais se intimida, não foge da briga

Sambista não manda recado E faz de qualquer desacato uma rima O tempo é um santo remédio que ensina (2x)

 
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from felipe siles

Cheguei no texto The Analog Life: 50 Ways to Unplug and Feel Human Again pelo fórum Órbita do Manual do Usuário e, reforçada a ressalva feita pelo Rodrigo Ghedin sobre o título meio apelativo, achei os hábitos que ele propõe bem interessantes, sendo que vários deles eu já pratico. Por curiosidade, no âmbito da minha vida pessoal, vão os meus comentários a respeito de cada hábito proposto por Tanner Garrity, autor do texto original:

Rituais diários tradicionais

  1. Ler antes de ir para a cama: já tive esse hábito, acabei perdendo, substituindo a leitura por um projetor com tv stick no meu quarto. Ler o texto me fez repensar isso, e pretendo nos próximos dias resgatar o antigo hábito, que era muito mais saudável;

  2. Faça o jantar em família sagrado: isso para mim no momento está fora de cogitação, o autor não considera que muitas pessoas moram sozinhas ou têm famílias desestruturadas e desfuncionais. Mas, em minha defesa, eu faço todas as refeições na mesa, na sala de jantar, sem televisão;

  3. Beba seu café em paz: já faço, a propósito, alguém falou em café aí?

  4. Leia o jornal: quem me acompanha no Mastodon pode ter trombado com a minha postagem dizendo que minha primeira aquisição assim que passar em um concurso público e adentrar definitivamente (?) a classe média será a assinatura da Revista Piauí. Por ora, vou consumindo notícias digitais mesmo, por podcast e RSS;

  5. Escrever a mão uma lista de tarefas todas as manhãs: eu utilizo o método Bullet Journal, até já escrevi sobre ele aqui neste blogue, então mantenho sim anotações diárias, nem sempre de manhã, mas acho que dá pra marcar um ponto aqui;

  6. Faça caminhadas pós-almoço: eu já sou uma pessoa sem carro, que anda bastante, sinceramente não sei se há necessidade desse hábito pra mim, porque já sou uma pessoa que anda organicamente pelo menos uns 30 minutos todos os dias. Inclusive, caminhar para mim é uma espécie de meditação em movimento, de longe meu exercício físico preferido;

  7. Converse com amigos e familiares ao telefone: melhor do que isso, tenho feito um esforço para encontrá-los pessoalmente;

  8. Assista filmes: outro hábito que eu mantive firme por muito tempo e que deu uma degringolada nos últimos tempos, vou procurar retomar. Também já escrevi neste blogue sobre o quanto eu dou preferências por assistir filmes a séries e os motivos;

  9. Use seu livro de receitas: tenho apenas um único livro, de receitas vegetarianas fáceis. Preciso fazer isso mesmo, e de repente adquirir pelo menos mais uns dois livros, boa dica;

  10. Assista ao pôr do sol: minha rotina atual não me permite fazer disso um hábito, mas fica no radar;

Os adeus mais difíceis

  1. Excluir suas contas: rapaz, se esse é o primeiro da lista difícil, pra mim tá fácil, vivo sem ter conta nesse lixo chamado Instagram desde dezembro de 2022, até já escrevi sobre isso aqui;

  2. Bloqueeie sites que desperdiçam seu tempo: atualmente não acho que seja necessário, pelo menos para mim;

  3. Faça seu telefone super chato: já tentei deixar meu telefone em preto e branco algumas vezes, mas por alguma razão, sempre volto ao normal, posso de repente tentar novamente;

  4. Tranque seus aplicativos: não possuo no celular aplicativos que me distraem, uma coisa que posso fazer é voltar a limitar o tempo do aplicativo Lichess no tablet, acho que é um dos poucos que me distraem muito tempo atualmente;

  5. Livre-se dos emails nos finais de semana: sábado para mim não é possível, já que trabalho nesse dia, mas já tenho feito isso aos domingos, pelo menos, inclusive não vejo nem whatsapp nesse dia, para desespero dos meus amigos e familiares;

Dispositivos com função única

  1. Vitrola: já tenho, ponto para mim, só falta usar um pouco mais;

  2. Câmera fotográfica: tenho também e uso, ponto;

  3. Rádio de bolso: já pensei várias vezes em comprar, vou voltar a considerar;

  4. Tablet de papel: talvez mais pra frente, meio caro, acho que vou continuar com meu tablet normal mesmo, por razões financeiras;

  5. Temporizador de cozinha: tenho dois, ponto para mim;

  6. Despertador: tenho também, ponto;

  7. E-reader: tenho, ponto;

  8. Relógio de pulso: amo, tenho uma coleção, ponto;

  9. Console de jogos: tenho um Xbox One, e um PC gamer retrô para jogar emuladores, que eu mesmo instalei o sistema operacional e customizei, ponto;

  10. Burrofone: tenho um, mas não consegui incorporar na minha rotina, já que utilizo muitos aplicativos para me locomover de transporte público. Acabei comprando um burrofone, mas virou meu “celular do ladrão” que uso no carnaval e em outros eventos grandes. Infelizmente para nós brasileiros a oferta de burrofones é muito limitada, já que se trata de um produto extremamente nichado;

Trilhas de papel

  1. Calendário: além de ter, o meu é simplesmente lindo demais, do portal jornalístico O joio e o trigo, que comprei para ter esse lindo e funcional item na minha casa, além de apoiar financeiramente o jornalismo independente;

  2. Diário: conforme já citei, mantenho sim um diário, uso o método Bullet Journal;

  3. Envie cartas a mão: BRABO, essa vai ficar no meu radar também;

  4. Enquadre suas fotos preferidas: tenho vontade de fazer uma coisa ainda mais legal, que é presentear amigos e familiares com fotografias impressas e enquadradas, quero botar esse plano pra funcionar em breve;

  5. Coletar lembranças: olha, o autor até faz a ressalva que isso é meio anti-Marie Kondo, e nesse caso eu estou fechado com a autora japonesa, sou dessas pessoas que junta muita coisa, preciso na verdade é dar uma simplificada, ter menos coisas e mais controle sobre elas;

Reconexão social

  1. Organize um jogo de cartas semanal: a minha resposta para quase todos os tópicos aqui vai ser parecida, tenho já um contexto profissional e pessoal onde convivo com muitas pessoas, acho que essas dicas são válidas para pessoas mais solitárias, mas para mim torna-se o oposto, já tenho uma vida social agitada, preciso de mais momentos comigo mesmo;

  2. Junte-se a um clube: clube de leitura é algo que está no meu radar faz tempo, em algum momento vai rolar;

  3. Permaneça nos locais, após os eventos: difícil na conjuntura atual, mas já fiz muito isso quando tinha mais tempo livre, realmente rende bons frutos;

  4. Ir em eventos ao vivo: cai de novo na questão da minha vida muito corrida, mas sinto falta de ir em mais peças de teatro e espetáculos de dança;

  5. Ser anfitrião de jantares: também é um plano antigo que em algum momento vou concretizar, adoro cozinhar e receber pessoas em casa, ainda vou me organizar pra isso;

  6. Aceitar mais convites: na atual rotina corrida é um pouco difícil, mas eu já tinha lido livros sobre como conquistar a pessoa amada (kkkk me julguem), que falavam da importância de estar disponível para socializar. Entra no radar também;

  7. Jogar em equipes esportivas: tenho vontade de disputar torneios de xadrez, fica no radar;

  8. Seja voluntário uma vez ao mês: excelente ideia, entra no radar;

  9. Convide pessoas para suas tarefas: boa ideia, tem umas paredes aqui em casa precisando de uma tinta (rs);

Viaje como se estivesse em 2003

  1. Deixe partes da sua viagem sem planejamento: sempre faço isso, importantíssimo, ponto pra mim;

  2. Fale com moradores locais: eu sou uma pessoa anti-turismo, ainda quero escrever sobre isso no blogue, mas a minha relação em praticamente todas as minha viagens é criar laços e ligações não-comerciais no local, então mais um ponto pra mim;

  3. Compre um guia de viagem: me parece muito turístico e contraria os itens anteriores;

  4. Enviar cartões postais: idem;

  5. Explore seu quintal: já faço bastante, e ando a cidade toda a pé, ponto para mim;

Sem rastreamento

  1. Dormir sem um aplicativo medindo a qualidade do seu sono: usei esses aplicativos quando eram novidade, mas abandonei rapidamente, quando percebi que o padrão do meu sono era quase sempre igual;

  2. Pare de registrar seus treinos: que treinos? kkkkkk

  3. Deixe passar batido: para mim é difícil perder episódio de podcast, até porque eu acompanho poucos, e gosto de não perder nenhum episódio deles. Já senti essa ansiedade que o autor menciona quando seguia muitos podcasts, então a redução pra mim funcionou bem, logo nessa eu vou ficar devendo;

  4. Faça coisas sem registrar: já faço, o tempo todo, meu rolo de câmera do celular vive às moscas, ponto para mim;

  5. Desativar seus relatórios de tempo de tela: já fiz também, foram importantes durante um tempo, mas se tornaram irrelevantes, como o próprio uso do celular.

Conclusão

Gostei da brincadeira, eu acho que esse tipo de lista precisa ser encarada com alguma leveza para também não gerar mais ansiedade ao nos deparar com coisas interessantes que estamos perdendo e, contraditariamente, gerar uma espécie de FOMO, que é o que o mundo digital provoca em nós. Mas acredito que se a lista do Tanner Garrity servir para um pouco de reflexão e auto-cuidado, já ajuda bastante.

 
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from daltux

Para quem se pergunta se é preciso reinstalar Linux a cada nova versão lançada, a resposta, francamente, é sim! E isso é muito mais frequente do que o establishment faz com que você acredite. Ainda que resumida, o que segue é uma explicação técnica, mas vá diretamente ao fim se preferir.

A cada nova versão disponibilizada nos repositórios configurados em sua máquina, você tem alguma alternativa para atualizar o Linux a não ser por sua instalação? Negativo. Seu gerenciador de pacotes instala o novo Linux e normalmente desinstala os anteriores, exceto um que ficará de salvaguarda. Quando reiniciar a máquina, portanto, um Linux novo será executado. Em Debian e derivados, isso é definido pelo metapacote linux-image-amd64, o mais comum, cuja descrição é:

Linux for 64-bit PCs (meta-package)

No momento desta redação, sua dependência concreta é o pacote linux-image-6.12.38+deb13-amd64 (= 6.12.38-1). Quando for lançada uma versão posterior de Linux no repositório, por alteração da dependência do meta-pacote citado, um novo pacote concreto do Linux será sugerido pelo gerenciador de pacotes. A não ser continuar com o Linux antigo (ou remendá-lo durante a execução em alguns casos excepcionais), não há outra operação que pode ser feita sobre isso: você vai instalar o Linux novo.

Sim: como visto, Linux é um entre centenas de componentes necessários para operar sua máquina da forma projetada, em um conjunto reunido por distribuidores do que costuma ser o GNU, com o kernel Linux.

Um fenômeno que ocorre há tempos é denominado sinédoque, um tipo específico de metonímia. Isso causa estranhamento por quem defende que, em vez do nome de parte, as pessoas poderiam lembrar de chamar o todo pelo seu nome próprio: GNU. Para, mesmo assim, mencionar o kernel: GNU/Linux.

Captura de tela de terminal Xfce com saídas de comandos uname-a, lsb_release -a, apt policy e apt show sobre pacotes linux-image-amd64

#Linux #GNU #GNUlinux #Debian #Debian13 #Trixie

 
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from daltux

Pelo Mastodon, Alda Vigdís suplica para que as pessoas parem de traduzir código postal para inglês como “Zip Code”, termo específico dos EUA, enquanto o mais adequado mundialmente seria “postal code”. A sensação que Alda sofre deve ser similar à de ativistas do software livre ao verem tanta menção a “Linux” ignorando o GNU em contextos nos quais este poderia ou deveria ser citado.

Quando alguém, senão por desconhecimento, chama tudo de “Linux” e ainda desdenha ativistas do software livre que solicitam o mesmo espaço para o GNU, acaba desacreditando décadas de luta pelas liberdades tecnológicas de todas as pessoas, algo muito mais holístico do que “open source” (código aberto), assim como GNU é mais abrangente do que Linux.

Sim, ativistas insistem não somente em corrigir termos, mas em promover software livre em cada oportunidade de afastar as pessoas do software privativo, instrumento de poder injusto. Na era da informação, tudo está conectado: desde TRApps de academia até as políticas públicas. Quando aceitamos a história reescrita e dominada pelo mercado para vender “código aberto” como mero modo de produção, afastando-se dos ideais da liberdade de software, normalizamos um mundo onde somos meros consumidores passivos.

Cada escolha é um ato político: garantir que a tecnologia sirva às pessoas, não o contrário. Se apagarmos nossa história, perderemos a capacidade de exigir ferramentas que respeitem nossa autonomia. O abismo não é inevitável — mas construímos pontes com ações concretas, não com silêncio. Solidariedade a Alda.

💙 #SoftwareLivre #TecnologiaÉPolítica #tecnopolítica #GNU #GNUlinux #FreeSoftware

 
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from daltux

GNU Health: liberdade de software na Saúde

Logotipo do GNU (desenho da cabeça de um gnu) - GNU Health - GNU Official PackageA Comunidade do Software Livre — que defende as liberdades digitais para todas as pessoas — é constantemente atacada, até quando tenta divulgar seus princípios e se diferenciar de quem não se importa com eles. Mesmo assim, o movimento permanece no trabalho de quatro décadas pelo ideal de um mundo sem opressão tecnológica: conheça a organização “GNU Solidário” que, além de lutar por dignidade e liberdade dos animais — humanos ou não — mantém o conjunto de sistemas de informação de saúde GNU Health, componente do sistema operacional GNU que visa propiciar a gestão hospitalar e clínica, com foco especial em instituições de saúde pública e medicina social, sem a privação de suas liberdades essenciais de software. GNU Health já está em uso por hospitais, governos e organismos multilaterais na América Latina e pelo globo, incluindo a Universidade das Nações Unidas.

Assim como o Movimento do Software Livre no qual está contido, GNU Health é ativismo social com fundo tecnológico.

Para saber mais sobre os temas citados, confira as hiperligações acima e ainda as seguintes sugestões:

#Saúde #Health #SoftwareLivre #GNU

 
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