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from Resenha Cibernética

O próprio e o impróprio

Seguindo os passos de Engels em A Origem da Família, eu diria que a luta de classes mais primordial é entre proprietários (que definem o que é próprio) x desapropriados (que são impróprios). Desapropriados daquilo que é comum a todos. Próprio/Impróprio é a distinção fundamental de todo meio (medium). Engels escreveu que esta distinção marca o início do patriarcado. O matriarcado seria então uma sociedade em que tudo é próprio, tudo é comum.

 
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Tags: #Pessoal

Stay On The Path. Photo by Mark Duffel on Unsplash

“Tô pensando em chegar aí na quinta e sair daí no domingo. O que você acha? Me avisa se for muito tempo pra você”

Era véspera de um feriado prolongado e uma amiga estava planejando passar alguns dias na minha casa, em São Paulo. Eu havia acabado de dedicar um esforço descomunal pra lançar o novo site da DandaraLab com um prazo apertado e estava com demandas atrasadas, inclusive a negociação de duas novas parcerias da DiversifiX. A única coisa que eu conseguia pensar sobre o feriado é que seria a minha chance de me adiantar com os projetos que estavam sob minha responsabilidade.

“Tá tranquilo. Vai ser fantástico. Você é a única que ainda não veio me ver em sp!”

Eu não tinha tempo a perder e mesmo assim parei por 4 dias para dedicar tempo e atenção a ela. Foi um feriado maravilhoso que nos deixou ótimas memórias. Essa poderia ter sido uma decisão demorada e fonte de medo de fazer a escolha errada, mas felizmente eu relembrei um dos meus princípios e nele fundamentei a minha decisão:

Eu estabeleço e cuido de relacionamentos pessoais como uma das minhas maiores prioridades. Eu sempre tenho tempo para família ou para um amigo de verdade. Minha lista de tarefas e calendário refletem o quanto eu valorizo as pessoas na minha vida.

O que são princípios?

Princípios são normas de conduta, geralmente impostas por terceiros, para cumprir exigências morais ou legais. Devido ao caráter forçado, muita gente tem memórias ruins ao falar de princípios, mas existe um grande valor em reconhecer e utilizar uma lista pessoal de princípios.

Estando consciente disso ou não, todas as pessoas possuem certos valores e seguem determinados princípios derivados deles. Todos possuem uma bússola interna dizendo não apenas aquilo que é certo ou errado, mas também indicando aquilo que vai gerar mais satisfação de vida.

Inspirada no post General Operational Principles do Taylor Pearson e no livro Work the System do Sam Carpenter eu resolvi também dedicar tempo para identificar e documentar o que eu acredito e valorizo.

Os Princípios Gerais de Operação são basicamente uma síntese daquilo que a nossa bússola moral tenta nos dizer, registrados de forma explícita para facilitar a tomada de decisões.

Sempre que não houver uma forma clara de resolver alguma coisa, sempre que uma decisão precisar ser tomada, os Princípios Gerais de Operação são uma sólida referência guiando minhas ações para me gerar maior satisfação e menos arrependimentos.

“Estes são meus princípios. Se você não gosta deles, tenho outros!” – GROUCHO MARX

O documento de princípios precisa ser rígido, porém mutável. Para que os princípios sirvam como guia de conduta, eles precisam ser estáveis independente das circunstâncias. Porém também devem ser algo vivo, que se adapta para acompanhar as mudanças de nossa bússola moral ao longo do tempo. Alguns valores permanecem conosco por toda a vida, mas outros tem sua importância modificada conforme atravessamos diferentes fases da vida.

Eu produzi meu primeiro documento de Princípios Gerais de Operação em Outubro de 2018. Ocasionalmente eu dedico um tempo para rele-lo, mantendo todos eles frescos na cabeça, e para revisar cada um dos itens que eu mantenho nesta lista. Alguns princípios surgiram depois, conforme eu percebi que certas coisas importantes para mim não estavam ainda contempladas. Outros princípios foram reescritos para passar uma mensagem que fosse mais verdadeira para mim. A essência do documento porém continua a mesma e eu acho que, conforme o tempo passa, tenho cada vez mais clareza daquilo que eu valorizo e de como deve ser minha atitude para aproveitar cada vez mais a vida.

Sem mais demoras, apresento a minha lista na forma como ela está em Julho de 2024:

(meus) Princípios Gerais de Operação

Como eu recebo aquilo que o mundo me traz

  • Coragem: Eu não fujo de confrontos ou de oportunidades por causa do medo. Eu atuo fora da minha zona de conforto.
  • Aprendizado: Eu acredito que todo evento pode contribuir para o meu crescimento. É meu dever encontrar o valor e o aprendizado mesmo nas situações ruins.
  • Firmeza: Flexibilidade tem medida certa. A rigidez é a nossa estrutura permanente para enfrentar o inesperado.

Como eu invisto minha energia

  • Atenção: Eu direciono meu foco para aquilo que é mais importante para mim em cada momento. Eu não permito que outros tópicos roubem minha atenção.
  • Equilíbrio: Eu valorizo viver de forma plena e integrada e por isso eu busco obter satisfação em todas as áreas que são valiosas pra mim.
  • Intenção: Eu conscientemente aloco a minha energia de forma construtiva para que ela não assuma espontaneamente formas destrutivas.
  • Qualidade: Todas as coisas grandes e valiosas exigem esforço e comprometimento. Em todas elas eu estou disposta a me esforçar, fazer mais do que é esperado e persistir. Inspiração: [The Dip]

Como eu lido comigo e com outras pessoas

  • Autenticidade: Eu acredito que vulnerabilidade e sinceridade são os caminhos para conexões genuínas e bons relacionamentos.
  • Intuição: Eu invisto em minha auto percepção. Eu presto atenção e respeito aquilo que meu corpo e meus instintos tentam me dizer.
  • Desenvolvimento: Eu fortaleço contradições e o debate para promover o amadurecimento meu e alheio.
  • Diversidade: Eu valorizo e respeito a diversidade. Eu apresento minha forma de ser e pensar como um único exemplo dentre as múltiplas possibilidades e não como a única opção possível. Inspiração: [Pedagogia do oprimido]
  • Comunidade: Eu estabeleço e cuido de relacionamentos pessoais como uma das minhas maiores prioridades. Eu sempre tenho tempo para família ou para um amigo de verdade. Minha lista de tarefas e calendário refletem o quanto eu valorizo as pessoas na minha vida.

Como eu atuo no mundo

  • Legado: Quando tomo decisões, considero os efeitos de ordens superiores e não somente os efeitos mais diretos; eu sigo a perspectiva do sistema no longo prazo.
  • Propósito: Tudo que eu faço serve a uma visão maior que eu tenho para mim e para o mundo. Eu fabrico a realidade que eu quero que exista.
  • Colaboração: Eu acredito que obtemos melhores resultados quando existe colaboração profunda e solidária entre pessoas. Inspiração: [Linus Torvalds]
  • Repetição: Eu sou o que faço repetidamente. Cada ação não é um evento isolado, mas um reforço para os neurônios que moldam meu comportamento e personalidade. Inspiração: [The Bowling Game Kata]
  • Condicionamento: Eu me lanço consistentemente em desafios para me manter sempre apta para aproveitar oportunidades e superar contratempos. Inspiração: [Antifragile]
  • Sustentabilidade: Eu reconheço a importância de estar descansada para tomar boas decisões e produzir trabalho de qualidade. Se eu estou cansada, eu trato de descansar para atacar novamente o problema quando estiver recuperada.

Hierarquia de Valores

Esta seção é um experimento, inspirado pela Teoria da Desintegração Positiva de Dąbrowski. Dediquei um tempo para ponderar qual a hierarquia que os princípios mencionados tem para mim. O resultado atual segue abaixo:

  1. Autenticidade
  2. Coragem
  3. Atenção
  4. Intuição
  5. Desenvolvimento
  6. Aprendizado
  7. Legado
  8. Propósito
  9. Equilíbrio
  10. Firmeza
  11. Intenção
  12. Qualidade
  13. Colaboração
  14. Diversidade
  15. Repetição
  16. Comunidade
  17. Condicionamento
  18. Sustentabilidade
 
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O compartilhamento deste texto é permitido segundo a licença CC BY-ND 4.0.

Tags: #Neurodivergência #Pessoal #Militância

Introdução

Este artigo tem por objetivo relatar minha experiência em tentar, e fracassar, em me organizar politicamente.

Não pretendo construir uma crítica pública a nenhuma organização específica, nem desmobilizar ninguém que lute em nenhuma organização. Também evitarei uma crítica pública porque quero desestimular que o contrário, uma crítica pública contra mim, seja proferida. Embora não haja equivalência pessoa vs organização, observo que na luta política a justeza não é óbvia e é incerto a quem caberá decidir. Por fim desconfio que esse problema não seja um caso particular meu com esta organização, mas talvez seja o problema de mais pessoas, e também de inúmeras organizações.

Neste texto irei, portanto, me referir à organização que participei pelo nome fictício de “Força Esperança” ou “FE”, tendo como inspiração unicamente o sentimento que me organizar politicamente me trouxe inicialmente, inexistindo qualquer relação com organizações de nome similar atuais, extintas ou futuras.

Bagagem

Reconheço a minha inexperiência em militância: Não fui parte de grêmio estudantil, não assumi anteriormente alinhamento com este ou aquele partido, ou sequer com linhas apartidárias. Não participei de manifestações, ou de greves, e tampouco as condenei. Fui, em outras palavras, apenas lutando pelo meu, sendo guiada pela ideologia dominante, e acreditando ter minhas próprias ideias originais.

Sou uma pessoa enquadrada em uma condição chamada de dupla excepcionalidade: possuo uma capacidade intelectual muito acima da média, mas também possuo algo reconhecido como um déficit, que é, especificamente no meu caso, estar dentro do espectro autista. Fui diagnosticada, como muitos recentemente, na idade adulta, mas isso não invalida a nossa necessidade de suporte, dado que as dificuldades estão presentes desde a infância e perduram pela vida toda.

Sei quão inacessível é obter um diagnóstico assertivo para a maioria das pessoas. Eu demorei tanto para começar a falar que pediatras sugeriram para minha mãe que eu tivesse deficiência auditiva. A audiometria normal, porém, não explicava a minha dificuldade em prestar atenção no que as pessoas falavam comigo e responder coerentemente. Fazer fonoterapia e psicoterapia desde criança por dificuldades de falar e de fazer amigos não foi evidência o suficiente. Demorar para comer e ir ao banheiro sozinha também não. Isso tudo, ao mesmo tempo que eu por conta própria entendi como funcionava a corrente elétrica e passei a fazer reparos em circuitos elétricos com menos de 10 anos. Aos 12 anos, comecei a escrever programas de computador por diversão. Ninguém estranhou também quando eu fiquei de recuperação em matemática no mesmo semestre que fui medalhista na olimpíada brasileira de matemática das escolas públicas. Eu sei em quanto tempo o meu diagnóstico foi atrasado por profissionais que simplesmente riram de mim quando eu falei que suspeitava de ter a, então conhecida como, Síndrome de Asperger.

Como se isso não fosse suficiente, estou há alguns anos tratando um quadro de natureza mista ansiosa e depressiva que recentemente se agravou, me levando a obter afastamento pela previdência social e ter o reconhecimento do nexo causal com o trabalho. Tendo já se passado 1 ano do início do afastamento, ainda estou incapaz de desempenhar a função que eu costumava fazer e aceitei que no futuro resta-me mudar de profissão estando em um momento de precarização intensa do mercado de trabalho e ainda adoecida. Um triste desfecho para uma pessoa que tinha “tudo para dar certo”: bolsista do CNPQ já no ensino médio, engenheira formada em uma renomada universidade pública, crescida em um lar que não conheceu o que é passar fome, ou não ter onde morar, ou morte e doença familiar.

Felizmente a revolta me radicalizou. Foi também neste período de adoecimento que tomei consciência que a causa de todos esses males que me afligem, e que afligem ainda mais outras pessoas, é a ordem social vigente, e que esta é irreformável, devendo ser superada. Acreditando nisto, e rejeitando contribuir com a perpetuação da miséria no mundo, surge a dúvida: o que fazer?

“A organização é a arma dos oprimidos” me disseram. Logo, o que devo fazer é organizar-me, mas como fazer isso sendo, bem, você sabe, autista?

Deficiência

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão, as pessoas com deficiência são aquelas com impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Ainda, com a vigência da Lei 12.764 de 2012, conhecida como Lei Berenice Piana, pessoas com transtorno do espectro autista passaram a ser consideradas pessoa com deficiência para todos os efeitos legais.

Qualquer pessoa enxerga rapidamente a inteligência muito acima da média, mas dificilmente vão enxergar a deficiência do autismo, afinal é uma deficiência invisível. A inteligência permite eventualmente mascarar as dificuldades, contudo os prejuízos permanecem. Não interagimos de forma adequada, não nos adaptamos às normas sociais, não sustentamos um emprego formal, não conseguimos manter nossas amizades ao longo do tempo. A inteligência não justifica essas barreiras persistentes ao longo do tempo. Os transtornos mentais também não justificam, ao passo que, mesmo quando medicados e controlados, não conseguimos nos encaixar. Quando somos duplamente excepcionais, o sofrimento se intensifica diante da incompreensão das pessoas e das expectativas frustradas. As pessoas reconhecem o nosso potencial, mas encontram inúmeras justificativas para o nosso fracasso. Apontam o dedo pra gente e nos julgam preguiçosos, mal educados, arrogantes, individualistas, impacientes, impulsivos, grosseiros, entre outras coisas. A falha em realizar nosso potencial é justificada pela moral.

De todos os déficits que o transtorno traz, o que mais me machuca, e que eu tanto lutei para solucionar, é o prejuízo nos relacionamentos. Tanto eu estudei sobre relacionamentos, comportamento, psicologia... Tantas horas de psicoterapia eu fiz desde criança... E ainda assim, meus relacionamentos são frágeis, efêmeros, artificiais. Não consigo permanecer em uma mesma comunidade, qualquer que ela seja, por muito tempo: Na vida escolar, fiz algumas trocas de colégio na infância e, na adolescência e juventude, desenvolvi um comportamento absente, me aproveitando da autonomia crescente; na vida profissional, permaneci por pouco tempo em cada emprego, sempre necessitando pedir demissão por questões que tornavam o ambiente pra mim insuportável; na vida local, estou morando em minha 4ª cidade, e indo para a 14ª residência. Desde criança a dificuldade em manter relações me incomodou, e nem todos os anos de psicoterapia resolveram essa dor e a minha limitação. As mudanças constantes parecem ser um comportamento aprendido para me fazer fugir de situações ruins e jamais desistir de encontrar situações melhores.

Veremos que esta história não é diferente. Minha tentativa corajosa de me organizar politicamente, e com isso contribuir com a superação da ordem social que mantêm o mundo em miséria, foi mais um brusco rompimento, que apesar de esperado dado o meu histórico, ainda é desagradável e deprimente.

Responsabilidade

Sou atravessada simultaneamente por inúmeras questões. Isso é tudo incompetência minha? Teriam todo o estudo e anos de terapia falhado em me moldar em uma pessoa competente para estar integrada na comunidade? Não pode ser só minha culpa. Há tantas outras pessoas passando por situações tão ou mais graves. Há que haver também a culpa da sociedade em fazer do fracasso a regra para tantos milhões de indivíduos.

Não estou em um bom momento para avaliar nada. Me sinto inútil e incompetente, isso para não falar nos pensamentos intrusivos e autodestrutivos. A empresa oficializou a primeira advertência disciplinar para eu ajustar minha conduta e voltar a produzir. Eu não aguento sequer ouvir falar sobre coisas relacionadas ao trabalho. Como esperam que eu volte a me dedicar e entregar alguma coisa? O INSS diz que eu estou apta para trabalhar; o médico do trabalho diz que estou apta para trabalhar. Enquanto isso, a sujeira se acumula nas paredes do box, da louça sanitária e da pia do banheiro, tomando formas e cores. Quando foi a última vez que limpei a casa? Essa é uma questão de classe, não é mesmo? Isso é por que sou parte da classe trabalhadora oprimida? Se isto é verdade, por que não posso me organizar politicamente?

Em todas as apresentações na Força Esperança eu fiz questão de dizer “eu sou autista”. Disseram-me que eu não pareço. Como eu deveria ser para parecer autista? Querem que eu morda as pessoas? Isso sem dúvida ajudaria a aliviar certas frustrações. Três pessoas na FE me disseram que acham que elas próprias são autistas também. Não gosto de julgar o autodiagnóstico de ninguém, nem para validar nem para desacreditar. Mas eu acho problemático responder para autistas coisas como “você não parece” e “acho que eu também sou”. Ora, se você acha que é autista, vá atrás de um diagnóstico, diga quais são os seus prejuízos e necessidades de suporte. Mas, por favor, não use isso como justificativa para ignorar as necessidades alheias.

Há, para pessoas autistas um prejuízo significativo e permanente na qualidade de suas relações sociais. Sem o suporte adequado, sem adaptações individualizadas para cada necessidade, sua plena participação na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas ficará obstruída. Como falar “organize-se” para pessoas que por toda a vida enfrentaram dificuldades para se inserir e se manter em grupos sociais? Que às vezes não tem autonomia para executar tarefas básicas do dia a dia?

Não estou mais organizada. A causa, entendo eu, é o meu estado de saúde somado ao funcionamento inadequado da célula organizativa da FE. Funcionando a célula como deveria funcionar, talvez eu ainda estivesse organizada. Quem sabe?

Centralismo

Segundo os princípios do centralismo democrático, é plena a liberdade de crítica, desde que respeitados os espaços adequados para que a unidade de ação não seja prejudicada. Cabe a cada indivíduo, parte da base da organização, fazer a problematização e levantar as demandas conforme são observadas, a partir de seu lugar de trabalho, com suas experiências e conhecimentos. Essa problematização, necessita de um lugar apropriado, preferencialmente dentro da própria organização.

Para muitas organizações, a FE inclusive, o mais próximo destes espaços é o núcleo de base: Um espaço reservado para os membros da organização debaterem e construirem consenso sobre inúmeras pautas. Era de ser esperar que a democracia dentro da organização começasse no núcleo, onde os assuntos poderiam ser amplamente debatidos, até que se houvesse um consenso para a formulação de uma demanda para ser compartilhada com instâncias superiores. A direção central da organização então, após apreciar a demanda, haveria de fazer chegar ao conhecimento de todos a nova posição unificada da organização. Certo?

É meu julgamento vigente de que o centralismo democrático não foi praticado verdadeiramente pela organização, apesar dela assumir este como um princípio norteador. A hipocrisia para mim é uma questão muito dolorida, da qual eu não consigo compactuar. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não fosse tão boa em observar padrões e identificar inconsistências. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não me importasse com fissuras na prática que a afastam do ideal pregado. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não me importasse tanto. Mas eu me importo demais. E isso não é algo que pode ser mudado pois faz parte de quem eu sou. A superexcitabilidade é uma questão real e física, do cérebro, e não algo mental que pode ser solucionado com psicoterapia e melhor gestão dos pensamentos.

Dentro de um organização democrática a quem cabe a responsabilidade de indicar o espaço adequado para o amplo debate e garantir que este espaço exista? A quem cabe o papel de gestão de pessoas, acolhendo as necessidades individuais de cada membro, tanto materiais quanto emocionais? Mesmo que esta pessoa por ventura não tenha os meios de auxiliar, a quem cabe a responsabilidade de encaminhar o membro para outro lugar onde este auxilio possa ser concedido? Não se pode cobrar estas coisas de uma recém associada militante. Creio que a organização falhou comigo, pois negligenciou estes deveres.

Creio que seja meu direito, em uma organização democrática, poder desenvolver a questão até que a comunidade compreenda a pauta e o assunto seja esgotado, mas eu não tive um lugar para ser ouvida. Não fez sentido o motivo que deram para a falta de espaço que observei. Isso, em uma organização que prega o centralismo democrático é muito sério. Eu não sabia, e ainda não sei, quais são as ferramentas apropriadas para a construção desta proposta. O que é uma plenária e quando se deve convocar uma? Como é feita essa construção coletiva?

Associação

Perdoem a minha fraca memória episódica. Trarei os eventos passados nos últimos 2 meses de maneira um tanto distorcida. Além da memória já começar a falhar, e eu estar intencionalmente ocultando a real organização onde tais eventos ocorreram, há também a distorção subjetiva inerente a todo ser humano, que sempre observa os eventos do mundo a partir de seu próprio ponto de vista limitado.

No momento de meu ingresso na Força Esperança, me foi exigido que eu lesse e concordasse com o programa de atuação da FE. Este era um critério eliminatório para a minha associação. Estudei com calma o programa, e sendo uma pessoa com bagagem em tecnologia da informação, com 2 diplomas e atuação profissional em múltiplas organizações, tanto públicas quanto privadas, naturalmente a causa do controle das comunicações e da informação me chamou atenção.

Havia uma previsão expressa no programa relativo à importância da gestão popular das comunicações, mas este item não falava nada sobre a Internet. Com efeito, as únicas tecnologias de comunicação mencionadas no programa eram aquelas já existentes na década de 1930. Nada era dito sobre o controle algorítmico do comportamento humano, nem sobre o estado de vigilância constante ao qual são submetidos todos os cidadãos do mundo. Nada se dizia quanto à dependência tecnológica de produtos e serviços de monopólios estrangeiros, controlados por agentes hostis à atuação da Força Esperança.

Não pude deixar de pontuar essas omissões na ocasião de minha associação. Ao que recebi uma resposta de que aquele conteúdo programático consistia de uma pauta mínima de reivindicações, não excluindo outras demandas. Diante do argumento logicamente coerente, aceitei os termos do programa e formalizei a minha filiação.

Jornal

Por todo o meu tempo de militância, muito esforço foi investido na divulgação do jornal próprio da organização. O trabalho jornalístico é visto como essencial para a mobilização popular, e o esforço de construção de um jornal não apenas consolida as estruturas organizativas operacionais, como também disponibiliza uma tribuna, de alcance nacional, para que todos os cidadãos possam denunciar as pautas mais relevantes para sua realidade. Desde a minha efetiva inserção nas fileiras da FE eu defendi a importância do jornal e acreditei em suas palavras, tomando como tarefa o dever de realizar a leitura e me inteirar de todos os aspectos da vida cotidiana. Sempre acreditei quando me diziam: “Este é um jornal popular! É a população quem o constrói coletivamente e qualquer pessoa pode escrever para o jornal.” Tanto acreditei nestas palavras que as repeti confiantemente nas ruas quando eu própria me voluntariava para promover a divulgação do jornal.

O baque começou, creio eu, quando eu participei de um congresso anual sobre tecnologia e política. Após ouvir relatos de inúmeros palestrantes sobre o uso da tecnologia da informação para intensificar o genocídio em Gaza, o controle repressivo feito por governos latino-americanos por meio das mídias sociais e inúmeras outras questões práticas, eu resolvi que faria uma matéria sobre o evento e o que eu aprendi nele. Escrevi minha matéria e entrei em contato com o jornal para saber o que eu precisava fazer para ter o texto publicado. Me passaram orientações simples como quantidade de palavras e formatação. Após fazer os ajustes devidos eu enviei a minha matéria e recebi o retorno dizendo que meu texto havia sido enviado para a revisão.

Esperei o quanto pude. Mas, após ver 2 edições seguidas do jornal serem publicadas sem a minha matéria, comecei a me preocupar. O que houve com o meu texto? Eu havia dito algo errado? Havia algum problema no que eu escrevi? Eu precisava de um feedback. O assunto que eu trazia era de extrema relevância pra mim, e, acredito eu, essencial de ser conhecido por todos para avançar o trabalho da Força Esperança.

Comecei a pressionar a coordenação de meu núcleo, que ficou de “ver o que tinha acontecido” com a minha matéria. Até o presente momento, não recebi uma única justificativa do porque a minha matéria foi censurada. Não tenho outra palavra para descrever isso, dado que a justificativa dada de “eles estão atolados com a demanda” é coincidência demasiada e não reflete as evidências de publicação do jornal, que permaneceu realizando suas publicações regularmente no período. Pode ter sido, ao invés de censura, mera negligência, mas o efeito prático é o mesmo: Minha voz foi silenciada sem justificativa. Não creio que a linha política fosse tão divergente assim, afinal o texto passou por revisão do meu núcleo, que me elogiou.

Hiperfoco

Nesse período, eu fui fisgada pelo hiperfoco. A preocupação excessiva com a assertividade da matéria e a ausência de interesse do núcleo em debater a questão me sinalizou que necessitávamos de textos que fizessem a sensibilização da questão, mesmo para um público leigo no tema. Me lancei a pesquisar mais sobre o assunto, e conforme eu pesquisava, mais coisas eu escrevia. Quanto mais eu me aprofundava, mais certeza eu construia da importância do que precisava ser debatido. Ao mesmo tempo, o processo de hiperfoco começava a me desgastar e me fazer deixar de lado outras demandas pessoais para que eu pudesse avançar neste tema que ganhava a cada vez mais relevância para mim.

Em certo momento, chamei a coordenação do meu núcleo para uma conversa. Pedi ajuda para manter a calma e desenvolver o tema. Falei que a minha cabeça parecia que iria explodir. Ela me orientou a não investir esforços em fazer uma sensibilização, mas sim construir uma proposta completa, para que o assunto fosse debatido em instâncias superiores, sem a minha participação. Eu, naquele momento ainda ignorante do processo que se desenrolava, não vi a armadilha que me foi lançada. Eu já estava em hiperfoco, extremamente preocupada com medo de ter dito algo de errado, sem ter feedback de nada, e recebi então uma tarefa muito maior e importante, muito mais séria, que era construir uma proposta para ser levada para os de cima debaterem em segredo.

Creio que a minha coordenação deveria ter proposto de escrever isso coletivamente dentro do núcleo, e não me dado essa responsabilidade sozinha. Caso o núcleo não tivesse a capacidade de construir essa proposta, o que de fato acredito que não tivesse, ela deveria ter me encaminhado para outro espaço onde eu pudesse, junto de outros membros fazer essa construção. Não sendo o núcleo este espaço apropriado para a construção coletiva desta proposta, haveria a organização de apontar outro lugar, mais apropriado, para esta construção. Jamais um coletivo deveria imbuir a um único indivíduo, ainda mais uma pessoa PcD e com saúde debilitada por um acidente de trabalho, toda a responsabilidade e o peso de construção dessa proposta.

Mas, como eu disse, eu cai na armadilha. Sobre as problematizações que eu fiz dentro do núcleo, recebi respostas que não convenciam logicamente e me indicavam uma clara relutância em tratar da questão. Não poderíamos fazer nada diferente do que foi determinado como linha central da organização, mas eu também não tinha com quem debater sem ouvir argumentos repetitivos e fracos.

Isolamento

O núcleo, onde deveriam estar meus companheiros de luta mais próximos, deixou nas minhas costas todo o trabalho de pesquisa e formulação da proposta. Eu me senti cada vez mais sozinha e isolada, sem ninguém que valorizasse algo que pra mim era tão relevante e urgente, sem ninguém para debater e construir algo junto comigo.

Nesse período eu havia sido eleita a representante da tarefa de finanças dentro do nosso núcleo, então havia recebido determinados níveis de acesso dentro da organização. Ao obter esse acesso, veio o choque: a organização estava usufruindo de serviços gratuitos, fornecidos por nossos inimigos para coleta massiva de informações, para armazenar e processar dados pessoais e sensíveis dos membros da organização. Aquilo me desesperou. É nesta organização que eu estou confiando? Essa gente vai nos levar pro abismo desse jeito. Estamos correndo um grave risco! Algo precisa ser feito!

Comuniquei para a minha coordenação que eu não seria cúmplice deste movimento absolutamente errado, e que criaria problemas para os membros. A resolução foi eleger uma nova representante da atividade de finanças e me consolar com mais das respostas fracas e ilógicas.

Então eu, desgastada após semanas de luta e no meio de uma fase ansiosa, fiz algo sabidamente errado. Tendo ainda os acessos especiais concedidos à representante de finanças, ingressei sorrateiramente na reunião estadual de finanças. Lá eu permaneci inicialmente em silêncio, mas acabei revelando a minha presença quando um membro falou sobre como o núcleo dele estava também adotando essas ferramentas gratuitas para melhorar o trabalho dentro do núcleo e de como isso era seguro. Eu não poderia ficar calada. Aquilo não era nada seguro. Era justamente o oposto disso! Aquilo era algo terrível para a organização e jamais deveria ser fomentado como “boa prática”.

Posso estar errada, e espero que eu esteja, mas nada posso fazer contra meu instinto de sobrevivência que me grita “Esta galera não sabe o que tá fazendo. Guerra se faz com informação e logística. Deixar as ferramentas de organização interna na mão do oponente é perder a luta antes mesmo de começar”. Não esqueçamos que revoluções são contra a lei. Há como uma organização verdadeiramente revolucionária avançar cedendo para as forças de repressão estatal informações sensíveis sobre sua organização interna, ao mesmo tempo que cria dependência operacional em ferramentas sob controle do adversário? Não pude conversar com ninguém que me convencesse logicamente que todos esses absurdos, e inúmeros outros que omiti, não nos causariam problemas.

Se o tom catastrófico parece exagerado, é porque você não sabe o que é ter uma rigidez cognitiva. Ser autista é viver com esse tipo de resposta emocional a todo o momento, mesmo para coisas que as outras pessoas considerem sem importância. Certas coisas, em especial aquelas sobre as quais eu acumulei bastante conhecimento, me são tão preciosas que eu sou incapaz de tolerar detalhes fora do lugar.

Repúdio

Nessa reunião eu recebi a mesma resposta que eu já havia ouvido da minha coordenação. Naquele momento eu entendi: esta não é uma posição ignorante do meu núcleo. É uma posição ignorante da direção central da organização! Somente uma pessoa ignorante no tema poderia se deixar convencer sobre o tema com um argumento tão fraco e ilógico. Então, a posição ignorante é a linha central da organização FE, justamente daqueles que deveriam ser os mais hábeis, entendidos e comprometidos membros da classe. Isso me deixou profundamente decepcionada e desconfiada da direção central da organização.

Fui previsivelmente advertida por não seguir os preceitos organizativos, entre outras coisas. Eu falei que eu não me arrependia de ter feito aquilo porque, se não tivesse agido errado, eu não teria tido a chance de ser ouvida sobre os problemas que eu estava enfrentando com o isolamento e a falta de suporte. Falei que era meu desejo me afastar da organização, porque eu precisava me desligar de todo esse assunto. A minha coordenação insistiu pra que eu não me afastasse demais, sugerindo uma adaptação para que eu continuasse participando regularmente. Eu inicialmente aceitei, mas logo vi que eu tinha ficado demasiadamente ferida por toda essa situação, além de descrente na capacidade de construir uma organização sólida e competente.

Eu já estava doente quando ingressei na FE. Sempre comuniquei em reuniões que eu estava em recuperação e que por isso eu não poderia participar de tantas atividades. Acreditei que o melhor lugar para me curar seria entre companheiros de luta, mas eu estava errada. A luta entre a linha de direita e a linha de esquerda estará presente em todas as organizações e é preciso estar minimamente saudável para realizar esta disputa. A organização que luta pelo fim das opressões, reproduz as mesmas violências e exclusões que o sistema contra o qual ela luta.

Por muito tempo pedi para a minha coordenação me colocar em contato com outras pessoas com deficiência para trocarmos experiências, mas tive acesso a tão somente duas pessoas, e somente com uma pude conversar. É fato que uma agremiação de pessoas qualquer não tem a priori obrigação de acolher nossas dificuldades comportamentais e de relacionamento. Porém, quando falamos de uma organização orientada pelo materialismo prático, que preza pela libertação real e não em pensamentos, é necessário se comprometer a ir além dos ideais de inclusão e acessibilidade, atacando e transformando de forma concreta no mundo as barreiras que previnem a participação plena das pessoas na sociedade. A negligência em acolher estas demandas de forma efetiva é um erro gravíssimo para uma organização que se propõe a ser anti status quo.

O sentimento geral é de estar sendo levada para o abismo por uma liderança que permanece inacessível. Por autopreservação não tenho outra escolha a não ser me desligar. Não por uma divergência de tática, que poderia ser posteriormente corrigida, mas por rejeitar a obediência acrítica exigida por uma liderança encastelada que pune a divergência ao invés de compreendê-la.

Conclusão

Comuniquei à minha coordenação que não acreditava mais na organização e que pretendia me desassociar. Sem questionamentos, minha decisão foi aceita.

Desconfio que um movimento de massas, verdadeira escola de novos revolucionários, para cumprir seu papel formativo, necessitará abandonar o modelo de educação bancária e respeitar o conhecimento prévio de cada um, bem como suas dificuldades e potencialidades. Uma organização que não se proponha a reconhecer a diversidade e acolhê-la, ao invés de uniformizá-la, continuará ensejando acusações de autoritarismo e burocratismo, ainda que os críticos não sejam eles próprios modelos melhores.

Tenho a esperança de eventualmente voltar a me organizar, ainda que eu não saiba como e nem quando. Não somente para ter alguma chance de luta contra o sistema que nos oprime, como também para prosseguir com a minha formação, de forma tanto teórico quanto prática. No momento, contudo, investirei minha energia de forma egoísta: tratando da minha saúde e da minha subsistência. Assim eu terei mais o que oferecer quando eu me deparar com um movimento de vanguarda à altura do desafio. Até lá, só espero não servir de obstáculo àqueles que possuem a linha correta.

 
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from Resenha Cibernética

Relacionalidade

Quando se adota a perspectiva da relacionalidade abandona-se a ideia de coisas que existem independentemente. Em outros termos, mais filosóficos: a ideia de essência intrínseca. Toda essência é extrínseca.

Ou seja, não há uma relação que se estabelece entre duas coisas (objetos) que existissem previamente à relação. O que existe é uma relação que se desdobra em (pelo menos) dois polos (se há mais de dois polos, trata-se de uma hiperrelação). Se esses dois polos se diferenciam, a relação é uma diferença (relação diferencial).

Por isso, deve-se também abandonar a ideia de materialidade. Na Teoria da Relatividade, por exemplo, energia e matéria são intercambiáveis.

Uma relação, assim, não é exatamente uma “coisa”. Uma relação é algo que se diferencia de uma ausência de relação. Ou seja, que se diferencia do vazio. Uma relação é assim uma diferença entre ela mesma e o vazio. Toda relação tem essa “mesmidade”, o que quer dizer que ela se autorreferencia.

Portanto, uma mudança de paradigma da relacionalidade é a questão do vazio. O vazio significa basicamente que não há essência intrínseca. O primeiro a conceituá-lo desta forma, foi o indiano budista Nagarjuna, com o termo sunyata. Sunyata é o vazio, mas o ocidente conceitua este conceito como “nada”. Porém, o vazio budista não é nada, mas simplesmente indica que tudo que é, cria-se em termos de dependência, ou interdependência. O conceito de relação indica essa interdependência. Por exemplo, a terra e a lua não existem por si só, mas numa relação de interdependência. Uma sociedade não é um agregado de “egos”, mas um conjunto de relações entre “ego” e “alter”. Uma sociedade é um conjunto de relações sociais, ou de alteridade, não um conjunto de egos. Ego e alter são os polos de uma relação social.

Se uma relação se diferencia em polos, isso quer dizer que cada um deles é uma “porta de entrada” à relação, isto é, uma abordagem. Uma relação pode ser abordada através de seus polos. É como se a relação tivesse que ser entendida com duas perspectivas diferentes. Se uma relação tem os polos A e B, AB é diferente de BA. Ou seja, a relação tem orientação.

Chamamos essa diferenciação orientada (ou orientável) de mediação. A relação possui um “meio” que é justamente o que conduz de A a B. Por isso, a escola que o indiano Nagarjuna defendia chamava-se Madhyamaka, ou Escola do Caminho do Meio. No entanto, a diferença de percurso que se fazia de A para B e de volta à A, não encontrava o mesmo A (o mesmo polo) do início. Isso significa que o tempo se infiltrou na relação.

Para o paradigma da relacionalidade, o conceito de meio (medium) substitui o de matéria. Toda relação tem meio. A relacionalidade é uma medialidade

 
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from Felipe Siles

O Mozilla Thunderbird é uma excelente ferramenta para gerir emails. Ele é gratuito, tem código aberto e está disponível para instalação em diversos sistemas operacionais. Além da função óbvia de gerenciar emails, ele possui outras funções bem interessantes, como calendário, chat e acompanhar feeds RSS. E as extensões, a maioria desenvolvida pela comunidade, acrescentam ainda mais funções e possibilidades interessantes ao software. Seguem minhas extensões preferidas no momento:

Confirm-Address: já aconteceu com você de enviar um email e só depois lembrar que esqueceu de acrescentar uma CC (cópia carbono) ou anexo? Ou já esbarrou sem querer no botão 'enviar' e mandou um email que não estava totalmente pronto ainda? Essa extensão é bem simples, ela pede uma confirmação antes de enviar qualquer email. Eu acho bem útil, para dar aquela revisada se está tudo certo para o envio, antes de fazê-lo de forma definitiva e sem volta;

Provider for CalDAV and CardDAV + TbSync: ajuda a sincronizar calendários CalDAV com servidores como o Nextcloud, por exemplo;

Remover mensagens duplicadas: quem usa o Thunderbird, sabe que ele possui o incoveniente de duplicar algumas notificações de novos emails, essa extensão corrige o problema;

Quick Acess: esse conjunto de extensões pode transformar o Thunderbird num super gestor de mensagens, já que agrega botões que abrem páginas para ler emails a princípio não compatíveis com o Thunderbird (como Tuta e Proton), além de botões para acessar mensageiros como Whatsapp, Telegram e Discord. São 18 extensões do mesmo criador, que criam botões para diversos serviços da web.

 
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from Felipe Siles

Acredite, muita gente ainda ouve rádio, muita gente mesmo. E, para quem gosta da mídia, é possível que já tenha se deparado com a situação de visitar alguns sites de webrádios, aí se incomodar com a arquitetura do site, os anúncios, a parafernalha, sendo que você só queria ouvir rádio. Ou simplesmente não consegue desenvolver o hábito de visitar um site para ouvir uma rádio. Você vai na Play Store (ou Apple Store) e procura algum aplicativo de web rádios, mas o aplicativo não tem a rádio que você quer ouvir, principalmente se ela é mais alternativa. Não sei quanta gente já passou pelo mesmo problema, mas eu sempre desconfiei que havia uma forma de seguir rádios parecida com seguir RSS de notícias ou podcasts. E tem sim!

Uma webradio é mais ou menos uma playlist que fica rodando em um site na internet (na verdade, é um pouco mais complexo que isso rs, mas só pra ficar mais prático o entendimento). Se você consegue o link dessa “playlist”, pimba! Basta rodá-la em um programa ou aplicativo de sua preferência que tenha essa função. Então vamos primeiro aprender como encontramos o link para ouvir a webradio. Após algumas interações pelo Mastodon, Elmo Neto trouxe um passo-a-passo bem interessante para isso. Nas palavras dele:

  • Abra a página da rádio;
  • Abra as ferramentas de desenvolvedor do navegador (pode usar o atalho ctrl+shift+i) e clique na aba “Rede”;
  • Limpe todas as requisições clicando na lixeira;
  • Clique em Play e espere a requisição pra transmissão;
  • Copie a URL e cole no seu player preferido (como o VLC).

Agora segue a lista dos meus programas e aplicativos preferidos para rodar as URLs das webrádios:

Por último, seguem algumas sugestões de rádios (com seus devidos links) que eu gosto e acompanho:

Rádio Aconchego https://orelha.radiolivre.org/aconchego

Rádio USP https://flow.emm.usp.br:8008/radiousp-rp-128.mp3

Rádio Yandê https://cloud.cdnseguro.com:2611/stream

Rádio Unicamp https://radio.sec.unicamp.br/aovivo

Rádio ABET https://s19.maxcast.com.br:8415/live?id=1192757142750

Rádio Antena Zero https://www.radios.com.br/play/playlist/27099/listen-radio.m3u

Rádio Comunitária Cantareira https://5a2b083e9f360.streamlock.net/sc_canta/sc_canta.stream/playlist.m3u8

Rádio Noroeste (Campinas-SP) http://svrstream3.svreua.com:8322/stream?1718737404193

Universidade FM (UFMA) https://s26.maxcast.com.br:8280/live?id=1718833388070

Educadora FM (Bahia) https://www.radios.com.br/play/playlist/12911/listen-radio.m3u

Rádio Universitária (UFPE) https://www.radios.com.br/play/playlist/14984/listen-radio.m3u

Rádio Cultura Cigana Brasil https://streaming.studioshopping.com.br/listen/radio_cultura_cigana_brasil/radio

Rádio Chiveo https://comodin.uy/listen/chiveo/128.mp3?refresh=1728309944820

Rádio Pipi Cucu https://comodin.uy/listen/pipi_cucu/128.mp3?refresh=1728310043403

Gostaria também de agradecer e dedicar esse texto ao Saci da Rádio Aconchego que foi a pessoa que resgatou em mim o amor pelo rádio, obrigado meu amigo!!!

 
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from Felipe Siles

Fala pessoal! Na data que escrevo (14 de junho de 2024) estou com 34 horas de tela de celular nos últimos 31 dias, mas se considerar apenas os últimos 11 dias, tenho 11 horas, ou seja, nos últimos 11 dias dá pra dizer que tenho média cravada de 1 hora por dia de tela de celular. Pode parecer bobagem, mas morando em um país onde as pessoas passam EM MÉDIA (significa que tem gente que passa mais) 9 horas por dia no celular ou em outros eletrônicos, acho que o feito é bem considerável, não só pelo aspecto da saúde mental e bem estar, mas acaba gerando um certo deslocamento cultural (que resolvi bancar), já que não estou com o nariz enfiado no celular o tempo inteiro, como a maioria das pessoas ao meu redor.

Vou colocar de maneira prática e objetiva algumas estratégias combinadas que adotei para alcançar essa média, caso interesse alguém:

  • Não tenho perfil nas redes sociais comerciais famosas (Instagram, Facebook, Xwitter e TikTok);
  • Tenho perfis em algumas rede sociais do Fediverso (Mastodon e Lemmy), mas só as acesso via computador, no celular não tenho aplicativos dessas redes;
  • Deletei aplicativos que me faziam ficar perdendo um tempo no celular, como aplicativos de esportes (como o Sofascore) e jogos (como o Lichess);
  • Para evitar ficar navegando por sites na internet, uso o Firefox Focus como único navegador no celular. Ele não salva senhas, nem histórico, funciona sempre como se fosse uma aba anônima, o que ao meu ver limita bastante o uso prolongado;
  • Deletei muitos aplicativos do meu celular, deixei aquilo que considero muito essencial (dentro do meu uso, óbvio), como aplicativos de mapas, transporte, bancos, e afins;
  • Tenho apenas três mensageiros no meu celular: whatsapp, telegram e o SMS. E só os mantenho instalados porque tem muita gente que me liga usando esses aplicativos. A checagem e respostas das mensagens eu faço uma ou duas vezes por dia no computador mesmo, utilizando clientes web (utilizo o Ferdium, que agrega todos esses mensageiros num ambiente só);
  • Utilizo o aplicativo Screen Time (da F-Droid) para monitorar meu tempo de tela, e criei essa meta de 1 hora por dia;
  • Pelo menos uma dia na semana eu tento ficar o maior tempo possível offline, sem nem encostar no celular, costumam ser aos domingos (quando não tenho trabalho/freela nesse dia);
  • Comecei a levar o meu e-reader (popularmente conhecido como Kindle) pra todo lugar que eu vou, e quando bate aquele tédio ao esperar um ônibus ou um atendimento no banco, eu leio um livro ao invés de mexer no celular;
  • Aqui tem uma pequena roubadinha: o maior tempo de uso do meu celular é ouvindo coisas: webrádios, rádio FM, podcasts, música, etc, ou seja, não contam como tempo de tela. Inclusive eu queria muito ter um aparelho só pra isso, que não fosse celular. Vi que já lançaram uma espécie de walkman Android, mas por enquanto é meio caro para o meu bolso;
  • Participações em videochamadas: COMPUTADOR SEMPRE! Além de tempo de tela no celular, ainda come uma bateria da porra;
  • Desligo TODAS as notificações do celular;
  • Prática diária do Bullet Journal tem me deixado um pouco mais analógico, pelo menos pra gerenciamento das tarefas;
  • Mantenho hobbies que não dependem de tela, como passear com cachorro, visitar banca de jornal e montar cubo mágico;
  • Uso relógio de pulso para não precisar recorrer ao celular para ver as horas.

A parte que eu mais amo de priorizar fazer as coisas no computador, é que é muito fácil delimitar um fim para sua relação com a internet e a tecnologia no dia. Basta desligar o aparelho. Diferente do celular, que já nem temos mais coragem de desligar (eu programei um desligamento automático do espertofone diário, na hora de dormir, religando na hora de acordar).

ATUALIZAÇÃO (11 de agosto de 2024) Consegui baixar o tempo de tela atualmente para uma média de 30 minutos por dia

 
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from Lento, pero escrevo

Parentalidades em pedaços, LGBTs e capitalismo

Apesar de ampliar a abrangência da licença maternidade, o STF restirngiu a licença-maternidade a apenas uma das mães em casais lésbicos. Um dos argumentos? Austeridade sobre a previdência.

Colagem de família picotada com partes do corpo de varias fotos diferentes formando o corpo das pessoas em questão. Da esquerda pra direita, há uma filha, uma mãe, um pai e um filho

Colagem feita por Gee v Voucher para a primeira edição da Zine International Anthem (1977) da banda de anarcopunk inglesa, Crass. Uma família feita em pedaços

No dia 13 de Março de 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que mães não gestantes tem direito à licença maternidade. Uma vitória grande para todas as LGBTs vivendo suas parentalidades em pedaços, que pode ter repercussão mesmo para casais de dois homens, garantindo alguma licença para famílias que não tem nenhuma.

Mas as LGBTs mais velhas tem razão quando não reivindicavam o reconhecimento como uma família nuclear monogâmica. Isso põe tetos reais nas nossas vidas: na mesma decisão, restringiram a licença maternidade a só uma das mães. A outra tem direito à licença paternidade, míseros 5 dias.

As duas consequências disso: de um lado, o Estado tratará uma das mães como um homem e a forçará a se distanciar de sua cria. De outro, lauda novamente que homens não devem cuidar de suas crias.

É a versão institucional de “quem é o homem ou a mulher da relação” em LGBTs.

A resposta deveria ser simples. É quem se identifica. E independente do gênero e do arranjo familiar, cuidar de uma criança recém nascida exige MUITO trabalho. Nada mais justo que quem cuide, seja em duas pessoas, três ou uma família inteira tenha licença remunerada digna pra isso.

Mas qual foi um dos argumentos para impedir que duas mulheres em união homoafetiva tivessem direito à licença maternidade? A austeridade: segundo argumento da Procuradoria Geral da República, acatado por boa parte dos Ministros, isso sobrecarregaria a previdência social. Mais especificamente “Não criar despesas de previdência social sem previsão de receitas”. O que é engraçado quando consideramos que o mesmo tribunal não considera que referendar e endurecer a criminalização da maconha, debatida também nas últimas semanas, aumenta gastos do Estado – afinal, vigiar e punir custa muito caro.

Isso nos dá pista dos termos da disputa pela legislação de licença paternidade que precisará ocorrer até agosto de 2025, prazo limite estabelecido pelo STF para que o Congresso decida sobre essa omissão. O que nos faz considerar a hipótese de que mesmo entre conservadores, no mímimo não há disposição para se opor a ela, pois sinaliza para o apoio a algum modelo de família tradicional e, em uma esfera pública cada vez mais atenta aos direitos e vozes das mulheres, dificilmente se oporão a ela de forma aberta. Será sempre uma morosidade e oposição de forma envergonhada ou entre iguais: “quais garantias haverão ao homem provedor?”, “Homem não amamenta, talvez não precise de 180 dias como a mulher” e , por fim, “isso irá sobrecarregar a previdência social”. Essa é a deixa perfeita para a seletividade patriarcal e capitalista funcionarem: o judiciário e o restante do Estado brasileiro pode até garantir o reconhecimento formal de famílias não heterossexuais. Mas garantir condições materiais pra isso?Jamais. O homem (pai) deve dividir igualmente o trabalho do cuidado igualmente de seus filhos. Mas garantir condições materiais pra isso? Talvez não, talvez uma licença mais curra seja melhor gerar superávit primário para o pagamento de juros.

Todavia, os conservadores e capitalistas não são todo poderosos, videntes, bastiões da estratégia. Eles erram e falham, não atoa, mexer com aposentadoria e direitos previdenciários, dos quais as licenças fazem parte, é altamente antipopular. Um sinal disso é que, segundo pesquisa do Data Folha publicada em 02 de Abril de 2024, a ampliação da licença maternidade e paternidade tem, respectivamente, apoio de 83% e 76% dos brasileiros. Até mesmo entre o empresariado entrevistado, onde há o menor apoio, 68% se disseram favoráveis.

E provavelmente manterá intocado o consenso tabu da nossa seguridade social: de que só tem direito quem trabalha no mercado de trabalho formal. No caso julgado pelo STF, a outra mãe, que gestou, é uma trabalhadora informal e que não teve direiro a licença em função disto. A consequência disso também é racial, visto que pais e mães não brancos terão menos acesso ao período essencial de licença, por que estão em maiores taxas de informalidade.

Tabela retirada do Sistema SIDRA do IBGE com dados da PNAD Contínua trimestral em 2023. Nela estão os dados da taxa de informalidade no mercado de trabalho segundo a raça Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) contínua de 2023 do IBGE

Novamente, a disputa conservadora será acanhada contra a ideia de uma licença paternidade. Provavelmente, tentarão restringir de forma velada ao máximo possível por meio da austeridade – com o menor tempo e restrito aos trabalhadores formais – e de forma aberta a quem não for família, na visão deles – casais LGBTs. Se mesmo Ministros de um tribunal que foi colocado como progressista, em relação ao último governo de extrema-direita, utilizaram esse argumento de equilíbrio fiscal, o que impede dos conservadores o fazerem?

Assim, VALE MUITO a pena brigarmos coletivamente pela aprovação do Estatuto da Parentalidade (PL 1974/2021), projeto de lei dos deputados Sâmia Bonfim (PSOL) e Glauber Braga (PSOL), que defende que duas pessoas responsáveis pelos cuidados tenham direito a 180 dias de licença remunerada.

Ainda que foque em apenas duas pessoas e em trabalhadores formais, mas é uma proposta excelente e a mais radical de Licença Parental igualitária hoje e que bate nessas amarrações entre patriarcado, racismo, sexualidade e capitalismo. Infelizmente, nos falta organização parental para lutar pelo cuidado. Nessa perspectiva de tudo o que foi dito, a decisão judicial em torno dessas duas mães sobre o direito a licença mais longas não diz respeito apenas às LGBTs, mas interessa e impacta todos aqueles(as) que exercem o trabalho do cuidado ou dele dependem.

 
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from daltux

Solicitação enviada à equipe responsável pela VPN privativa de liberdade de uma universidade pública brasileira, por dificuldade de uso com cliente livre.

Desde ao menos esta manhã, ao tentar abrir conexão à VPN, como de praxe há tantos anos, utilizando vpnc, tanto do DebianSid” (mais recente possível dessa família) quanto do Ubuntu (Pro) 18.04, não há sucesso, tanto pelo usual NetworkManager com suporte a essa VPN instalado pelo pacote network-manager-vpnc-gnome, quanto tentando executar o vpnc diretamente, observando-se o seguinte registro:

vpnc: configuration response rejected:  (ISAKMP_N_ATTRIBUTES_NOT_SUPPORTED)(13)

Seguem informações do programa vpnc no Debian “sid”:

vpnc version 0.5.3+git20220927-1
Copyright (C) 2002-2006 Geoffrey Keating, Maurice Massar, others
vpnc comes with NO WARRANTY, to the extent permitted by law.
You may redistribute copies of vpnc under the terms of the GNU General
Public License.  For more information about these matters, see the files
named COPYING.
Built with certificate support.

Supported DH-Groups: nopfs dh1 dh2 dh5 dh14 dh15 dh16 dh17 dh18
Supported Hash-Methods: md5 sha1
Supported Encryptions: null des 3des aes128 aes192 aes256
Supported Auth-Methods: psk psk+xauth hybrid(rsa)

Já com o plugin OpenConnect do NetworkManager (pacote network-manager-openconnect-gnome), cujo suporte a GlobalProtect está disponível nas versões mais recentes (não na do Ubuntu 18.04), felizmente a conexão é bem-sucedida. No Debian sid, o pacote openconnect está na versão 9.12-1, enquanto no Ubuntu 18.04 disponibiliza-se 7.08-3. Segundo seu changelog, o suporte a PANGP iniciou na versão 8.0.0 do OpenConnect. Detalhes sobre o PANGP no OpenConnect também estão disponíveis.

Assim, o presente chamado é para dar notícia de que algo parece ter mudado na VPN, ontem ou hoje, que lamentavalmente não foi anunciado, tornando-a subitamente incompatível com o vpnc, e, portanto, solicitar que, sendo possível, considerem reabilitar o suporte ao mesmo, tendo em vista que é o cliente mais amplamente disponível e estável, em matéria de software livre, não privativo de liberdade, injusto e duvidoso por definição, questão que o poder público não deve esquecer, sobretudo no setor educacional. OpenConnect é, felizmente, uma opção razoável, embora menos estável, porém está disponível apenas às máquinas mais atualizadas. Por sua vez, vpnc foi utilizado com sucesso desde que a VPN foi disponibilizada pela universidade, até ontem. Caso tenha havido uma alteração dolosa e/ou seja impossível que ele volte a funcionar, protestamos diante da falta de consciência geral sobre o tema, cada vez mais grave, e que não houve anúncio, prévio ou posterior, sem permitir qualquer período de adaptação a esse tipo de alteração, direito normalmente concedido somente a usuários em regime de software privativo de liberdade.

#SoftwareLivre #VPN #InfoSec #ServiçoPúblico #universidade

 
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from Resenha Cibernética

Bits, Dits, Sits

Bits: entropia informacional (incerteza) de Shannon medida quantitativamente por códigos sintáticos.

Dits: informação semântica (distintiva). Medida por signos em grandezas quantitativa e qualitativa. Constituídas por linguagens.

Sits: informação situacional ou referencial. Medida de sentido em grandezas apenas qualitativas (virtuais). Composta por sistemas de sentido (sociais).

 
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from Resenha Cibernética

IA e a explosão de conteúdo

Na era das mídias de difusão, havia poucos produtores de conteúdo e muitos receptores.

Com as redes sociais, todo receptor se tornou também um emissor. Houve então uma explosão na produção de conteúdo. Mas não houve um aumento na recepção. Ela continuou de tamanho comparativamente semelhante.

O resultado foi um aumento na oferta de conteúdo sem o mesmo aumento de demanda (atenção). Isso causou uma redução no valor da produção de conteúdo.

Aí entraram os algoritmos. Estes provocam uma redução na oferta, selecionando o “conteúdo relevante” para a recepção. A razão disso foi para elevar o preço do conteúdo. Usuários passaram a pagar para “turbinar” seu conteúdo.

Ao mesmo tempo, entrou conteúdo “redundante”, isto é, conteúdo de marketing. É esse conteúdo que efetivamente interessava às redes sociais.

Basicamente com as IA generativas aumenta ainda mais a oferta de conteúdo. Mas a demanda de recepção permanece basicamente inalterada.

Isso indica uma tendência à “superprodução” de conteúdo e a redução de seu valor global. Segundo a teoria do valor trabalho, o preço do conteúdo informativo tende a zero.

Veremos então um acirramento do uso de algoritmos para reduzir o alcance do conteúdo. Algoritmos servirão como uma represa para impedir o escoamento do conteúdo.

Veremos até que ponto o “transbordo” da geração de conteúdo irá efetivamente mudar as condições de produção do “intelecto coletivo”.

 
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from Lento, pero escrevo

O DIA QUE A CIDADE PAROU (por causa de uma fila)

Essa crônicazinha foi escrita em 22 de Agosto de 2018 após a fila do busão para a Universidade de Brasília, a linha 0.110, dar a volta na rodoviária todinha por conta de falta veículos e de obras inacabáves na rodoviária do Plano Piloto. Fazia não muito tempo, o passe estudantil de geral tinha sido bloqueado

2030, futuro próximo da distopia estudantil. Um policial observa um grupo de estudantes enfileiradas(os), fecham o Eixo Monumental e o Eixão Sul, avenidas enormes e de alta velocidade. Puto, ele saca o spray de laser, ergue o cassetete que dá choque, aciona seus colegas de motos voadoras pela telepatia e pergunta ao estudante mais perto:

“Ei caralho, vai estudar! Sai dessa rua, muleque. Por que você tá aí?”

“Perdão, senhor. Quero estudar, mas estou apenas esperando a fila do 0.110, como todo mundo aqui no eixo monumental.”

“E por que porra tem um monte de estudante enfileirados fechando Eixão Sul, seu mentiroso?”

“Aquela é a fila do DFTRANS, senhor. As pessoas estão apenas tentando resolver o problema do seu passe estudantil.”

Frustrado e sem poder fazer nada para diminuir as filas, o policial desistiu da sua lombra institucional. O DFTRANS continuou paranoico atrás de “fraudes no passe livre”. A quantidade de ônibus do 0.110 continuava a mesma, independente da UnB ter se tornado uma cidade a parte com 200.000 estudantes, que flutuava no céu com a força da pedância e o sonho de alguns acadêmicos em viverem mais perto do mundo da lua empresarial.

As filas cresceram e já podiam ser vistas pelo satélite lançado diretamente da base de lançamento aeroespacial Alcântara Business, vendida para uma multinacional dos Estados Unidos. A fila já fazia os contornos do DF, chegando perto do entorno. “O quadradinho do lobby” se transformou no quadradinho da fila estudantil.

Assim, finalmente, o DF parou. “O poder se sabotou”, gritou a fila com alívio, alegria e cansaço.

O futuro da fila está próximo.

Arte feita sobre o Mapa do DF, em tons roxeados, chapiscados como ruído de televisão

 
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from john

é daqueles filmes que tem cara de filme indie. aquela carinha de festival sundance, sabe? ele tem uma trilha sonora bem gostosa de ouvir e tem aquela moça com jeito de gente normal (Melanie Lynskey). recentemente ela aparece como uma antagonista em The Last of Us e só funciona pq ela tem essa cara de gente normal. aqui é a mesma coisa, a história doida tem mais impacto pq a protagonista parece tanto uma pessoa comum. o filme conta a história de uma moça chamada Ruth, que trabalha em uma clínica de tratamentos paliativos e que fica cada vez mais cansada da falta de consideração e gentileza do mundo. é uma motivação meio piegas, mas a revolta de Ruth com a insensibilidade e falta de empatia dos outros acaba colocando ela em situações bizarras que vão escalando cada vez mais. a participação do elijah wood como o vizinho muito doido que acompanha Ruth em suas confusões também ajuda a comédia a acertar bem no tom. no geral, achei que o conceito do filme ficou meio qualquer coisa, mas em um nível mais superficial de história é uma narrativa bem divertida e que entretém. excelente pra um sábado a tarde despretensioso.

#filmes

 
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from john

animaçãozinha que eu vi na netflix. ao contrário de outras obras para adultos, que apelam ao público alvo pela explicitude da violência ou das cenas sexuais, em Carol e o fim do mundo o apelo está na profunda melancolia de um cotidiano marcado pela certeza do fim. no desenho, o mundo vai acabar, todos vão morrer e as pessoas, tanto individualmente quanto em sociedade, precisam inventar formas de lidar com a iminência do fim.

é uma história muito bonita, que lida com temas pesados de uma forma bem delicada. as questões profundas que são levantas sobre vida, morte e realização pessoal são tratadas de forma cuidadosa, mas leve. É o tipo de série que você vê melancólico, mas sorrindo.

#animação #netflix

 
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from Lento, pero escrevo

6 meses de vida e a urgência da Licença Parental

Você sabe quantas horas por dia se gasta para amamentar um bebê? E arrotar, cochilar, dormir? Um pouco das razões de ser absurdo uma licença paternidade de 5 dias

Coruja buraqueira em seu ninho feito por genteCoruja buraqueira na pracinha. Na época da foto, brava e gritando com as pessoas por que tinha dado cria recentemente

Semana passada nossa filha fez 6 meses de vida. E sem a licença parentalidade de 6 meses que conquistamos no Programa de Pós-Graduação de Ciência Política da UnB, teria sido absurdamente mais exaustivo para nós, para minha companheira, para nossa família e para nossa filha. Esse é o período recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que a alimentação do bebê seja exclusivamente de leite materno. Além do contato pele a pele, que estimula e acalma a criança, o aleitamento garante mais saúde pois passa os anticorpos – até mesmo de vacinas – e é um alimento supernutritivo para a criança.

Mas sabe quantas horas por dia se gasta com um bebê para que isso seja possível? E todas as outras necessidades, quanto tempo duram? Odeio essa exposição, mas vou contar um relato pessoal por que muitas pessoas que não convivem ou conviveram com bebês e crianças, em especial homens como eu, não tem a mínima ideia do quão trabalhoso é manter um recém nascido vivo.

NAS PRIMEIRAS SEMANAS DE VIDA:

O bebê ainda está aprendendo a mamar, por isso passa muito tempo mamando. Várias vezes, foram 40 minutos para nossa filha estar satisfeita. Depois disso, ela ainda não sabe arrotar ou mesmo tossir para se desengasgar. Então são mais 20 minutos para que a criança arrote, no ombro ou na vertical com nosso apoio. Por dia são, em média 10 a 12 mamadas. Se apenas a mulher ou a pessoa que amamenta também for a responsável por colocar a criança para arrotar, são 12 horas por dia apenas mamando.

NOS PRIMEIROS TRÊS MESES:

Depois melhora um pouco, piora um pouco. Sendo otimista, são em torno de 7 a 10 mamadas por dia e elas duram 20 minutos, mais os 20 minutos arrotando. Só aqui, quando tudo vai bem são mais 4 horas e meia do seu dia . Mas além disso, a criança precisa cochilar durante o dia para dormir bem a noite, evitando uma noite estressante em que precisemos acordar de uma em uma hora e em que tranquilize apenas mamando. E descansar é essencial para a pessoa que amamenta conseguir produzir leite. A criança precisa cochilar em torno de 3 a 5 horas POR DIA e algumas só cochilam mamando ou no colo depois de balançar por em média 20 minutos. São pelo menos mais 3 horas. São quase sete horas ao todo que o bebê pode acabar passando só no braço.

ENTRE OS 3 E 6 MESES

As mamadas melhoram, são mais rápidas. Mas a partir dos três meses a criança passa a perceber tudo ao seu redor. Então os cochilos dela são mais difíceis, por que ela distrai com tudo. E novamente, para produzir leite a pessoa que amamenta precisa também conseguir descansar. Se o bebê não cochila? Bom, a noite ele provavelmente não dorme direito, logo quem amamenta também não dorme e pode ter mais dificuldade ainda para amamentar. O bebê passa intervalos de tempo maiores sem mamar. A cada duas ou três horas durante 10 a 20 minutos. Só isso, já dá em torno de 2h30min por dia apenas no peito. E, como dito, cochilar também é essencial: nessa idade precisam de 3 a 5 horas de cochilos diurnos. São pelo menos cinco horas por dia com a criança no colo. Casa de João de Barro em um poste. Um ninho de um pássaro mais tranquilo, mas que perdeu a tranquilidade no diabo do poste

O dia tem 24 horas?

Narro tudo isso a partir de uma dedicação bem objetiva, que é a quantidade de horas. Foram 180 dias em que a nossa filha precisava entre 5 horas de colo por dia, nos melhores momentos, a 12 horas por dia, nos momentos mais difíceis .

Nessa conta não considerei outras tantas horas que a mãe ou pessoa que amamenta pode precisar passar ordenhando leite para ter um estoque de leite, caso precise ter qualquer outra obrigação normal de uma pessoa adulta que lhe impeça de estar longe da filha por algumas poucas horas. Não considerei que a mãe ou pessoa que amamenta precisa se alimentar bem, beber uma quantidade enorme de água, urinar, defecar, tomar banho e viver em um lugar minimamente organizado e limpo para passar por esse momento caótico que é o puerpério.

Aliás, não considerei uma coisa básica do trabalho de cuidar de um bebê pequeno: tem toda a parte subjetiva de como está nossa cabeça, o zelo, os medos, o morrer de amores, as oscilações de humor, as pressões e o julgamento constante de tudo ao seu redor. São muitas outras horas do seu dia que você passará tentando entender quem é você no meio de tudo isso – e se você é um pai que cuida igual, também passará por isso.

Aqui em casa somos muito fechados com Silvia Federici. Mas desde que soubemos da gravidez, o tanto que a gente já chorou de exaustão é o mesmo tanto que a gente ama nossa filha. Viver na contradição tem dessas coisas

A licença parental radical ou licença de cuidado

Como o dia tem apenas 24 horas por dia, obviamente é completamente insustentável amamentar e cuidar sozinha. Eu honestamente não sei como trabalhadoras informais sem direito à licença-maternidade, mães solo e sem rede de apoio dão conta. Provavelmente não dão, mas o sofrimento nesse período da vida é tão naturalizado e normalizado que ninguém se importa. Mesmo que se opte por dar fórmula por falta de tempo, exaustão ou isolamento, há todas as outras coisas que precisam ser feitas.

Hoje em dia a licença paternidade não existe, a não ser que você considere que em 5 dias você pode cuidar plenamente do seu bebê que acabou de vir ao mundo, acompanhar seu desenvolvimento, ser pai e aliviar sua companheira que amamenta.

Mesmo algumas instituições do Estado já reconhecem a necessidade de criar um licença real, como sinalizou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) obrigando que em até 18 meses o congresso estenda e decida sobre a licença paternidade. Até alguns capitalistas e seus gestores progressistas já reconheceram essa urgência e aderiram à Coalizão Licença Paternidade (COPAI). Nesse sentido também é que vai o Projeto de Lei 1974/2021 das deputadas Sâmia Bonfim e Glauber Braga, que criam a licença parentalidade remunerada por 180 dias para duas pessoas responsáveis pela criança.

Mesmo que a Licença seja estendida, devíamos ir até além. Por que é a coisa mais comum do mundo que quando nasce um bebê, as avós e as tias se desdobrem para cuidar também. Ou seja, dois adultos sozinhos não são suficientes para cuidar de um bebê de uma forma digna e não exaustiva. Todas as pessoas que se desdobram pra tocar o trabalho de cuidar de um bebê em suas famílias estendidas, não tradicionais, LGBTs e que fogem à família monogâmica nuclear – papai, mamãe, criança e cachorro – deveriam ter direito a 180 dias de licença remunerada – sejam elas empregadas formalmente ou não.

Esse é um passo essencial para que as mulheres não precisem se sobrecarregar com 12 horas ou mais do seu dia para o trabalho de cuidar. E nós, homens, temos feito muito pouco nessa briga coletiva para cuidar que deveria nos mobilizar tanto quanto todas as outras lutas coletivas. Que a briga por uma licença parentalidade digna seja um primeiro passo para isso.

Vários cavalos-marinho, grávidos próximo a um coralAo contrário do que dizem os capitalistas e os conservadores, que “macho” já é biologicamente predisposto a não cuidar, na natureza o cavalo-marinho “macho” “engravida”. Como será que os conservadores vão reagir quando souberem que homens podem amamentar?

 
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from daltux

Reedição de publicação de 2006 em blog/site pessoal mantido de 1998 a 2012.

“Num futuro muito próximo”, no imenso sertão da Austrália, há uma espécie de patrulha rodoviária para tentar controlar gangues motorizadas que pilham as estradas. Dessa pequena corporação, faz parte o jovem protagonista Max Rockatansky (Mel Gibson), tido como o mais eficiente de seus integrantes.

Knight Rider (adaptado como o “Cavaleiro da Estrada”), um dos principais integrantes de uma gangue de motociclistas, fica entorpecido (“pedrado, pipado e doidão”), mata um policial e rouba uma das melhores e raras viaturas, modelo Pursuit Special V8:

— É um tarado das motos. Ficou doidão de repente, há umas horas! Conseguiu fugir, matou e roubou um dos especiais [...].

— Qual é o carro dele?

— Isso é que dói… é um dos nossos V8. Um dos especiais a metano, que anda pra cacete!

Um carro tipo cupê totalmente preto, modelo Ford XB Falcon personalizado, com chamativas molduras dos farois diranteiros, retangulares em cor cinza, e o enorme capô com abertura por onde saem partes mecânicas, um supercharger blower.A estória se inicia quando Knight Rider começa a ser perseguido pela patrulha e dá muito trabalho à corporação, tirando de ação dois carros e uma motocicleta. Max vai então ao seu encalço, com a viatura Interceptor. O efeito da droga do bandido começa a passar e ele chora ao perceber que sua fuga não terminaria bem. E acaba se acidentando e morrendo. Isso atiça a fúria do líder da gangue, Toecutter, que leva sua corja atrás de Max para vingança.

O filme é muito bom. Não convém contar o restante. Assista.

É curioso notar que, por muito tempo, “Mad Max” foi o filme que teve a maior taxa de lucro em comparação com seu custo da história. Isso durou até o sucesso de “A bruxa de Blair” (2000). Seu custo de produção foi de apenas 350 mil dólares (estimativa), contudo gerou uma receita de mais de 100 milhões de dólares. Seriam 28500%.

Ainda segundo a Wikipedia, George Miller, diretor e roteirista, é médico e trabalhou na ala de emergência de um hospital, onde teria presenciado muitos ferimentos e mortes de pessoas cujas histórias o inspiraram. Contudo, Miller achou que o público não acreditaria que esse tipo de roteiro ocorresse na atualidade. Daí teria vindo a idéia de fazer com que a aventura se passasse no futuro.

Em “Mad Max 2” (1981), há um prólogo adicionando que teria havido uma guerra nuclear mundial motivada pela falta de recursos energéticos. Depois disso, teria havido uma tentativa de se preservar o Estado, quando se passam os acontecimentos do primeiro filme. Na sequência, porém, não há mais resquícios de governo: paz e justiça deram lugar à sobrevivência a qualquer custo. Max, outrora policial rodoviário e depois justiceiro, tornara-se apenas um nômade das estradas.

Quando se assume que deveria haver uma harmonia na trilogia, o que intriga é algo que atinge o âmago ficcional da primeira produção, baseada em perseguições de automóveis em rodovias: em uma terra de ninguém, praticamente em ausência de Estado, como seria possível a manutenção de tão perfeitos pavimentos como vistos no primeiro filme, sem um buraquinho sequer? Pode-se imaginar um motivo para que os produtores tenham se esquecido desse detalhe e para que a audiência e a crítica sequer tenham notado: em nações mais desenvolvidas, talvez seja impensável que haja buracos em asfalto.

#MadMax #cinema #resenha #blog

 
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