Ayom

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from vereda

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Tags: #Militância #Pessoal

Os últimos meses foram turbulentos. Nessa turbulência, desenvolvi a habilidade de me automutilar e formulei planos de tirar minha própria vida. Mudanças irresponsáveis na prescrição medicamentosa feitas por um médico que mentia ser psiquiatra coincidiram com a interrupção da melhora que eu relatei na última publicação. Deveria ser óbvio, mas eu precisei passar por muito sofrimento até me ensinarem que especialistas médicos habilitados devem apresentar, além do CRM, também um RQE referente a sua especialização. Consultando pelo portal do CFM, descobri que os médicos que me acompanharam nos últimos 4 anos não tinham RQE e portanto não poderiam ter se declarado psiquiatras.

O lado bom dessa experiência, além de eu ainda estar aqui para escrever esse texto, é que a crença de que eu estava irreparavelmente quebrada foi substituída pela crença de que eu estava apenas sendo sabotada por médicos imperitos. E isso bastou para reviver uma forte pulsão de vida em mim. Se o problema estava na inadequação do tratamento, havia esperança. A mente superdotada engajou com o problema, assumindo para si a responsabilidade de prescrever um tratamento assertivo.

Por esta experiência, nesse momento confio mais em mim do que em qualquer profissional médico. E a auto confiança gera ação, que gera resultados, que melhora a tão surrada autoestima. Faz algumas semanas que estou bem, sem ideações, sem autolesão, sem planejamento, apenas com pensamentos ordinários que tenho conseguido responder de forma rápida e autônoma. Sei que é pouco tempo e que estou longe de estar curada. Ainda estou sensível e disfuncional, mas a diferença é facilmente notada por pessoas próximas, e por mim própria.

As ações autodestrutivas que eu cometi não foram de todo ruins. O processo de isolamento e introspecção, altamente catabólico, permitiu que eu expurgasse elementos obsoletos da minha vida. Assim, meu olhar se desconectou de quem eu fui, do que fiz e do que desejava para observar as possibilidades que pairam no horizonte.

Preciso reaprender a sonhar e, para isso, o primeiro obstáculo que se impõe é conhecer o que é verdadeiramente possível, afinal sonhos sem materialidade não inspiram ação. Voltei a estudar e a cuidar de mim, e estou intrinsecamente motivada. Tenho agora um plano dentro de minhas capacidades.

Adeus

Por questões de segurança, estou eliminando meus rastros digitais. Não abandonarei a tecnologia, afinal creio que devemos obter o máximo possível do que estiver disponível, inclusive aproveitando-nos de ferramentas e infraestrutura hostis. Não há motivo para pânico, mas tampouco é sensato ignorar a intensa vigilância e controle fortalecendo-se ano após ano e aprisionando-nos cada vez mais. O meio digital não é seguro, especialmente para grupos minorizados.

Mais do que reduzir a quantidade de informações sobre mim que são coletadas, quero principalmente reduzir a influência da máquina ideológica sobre mim e prevenir que minhas opiniões formadas por estudo insuficiente tenham lugar no debate público. Portanto não espere por meu retorno neste blog ou em qualquer outra plataforma de mídia social. Caso alguém reivindique esta identidade em qualquer lugar da Internet daqui pra frente, assuma ser um homônimo, fraude ou coação.

Em tempo, gostaria de retificar algumas posições que tomei anteriormente, à luz do meu vigente entendimento. Não retiro as críticas feitas à FE, pois tenho hoje ainda mais certeza de que agi corretamente em me desfiliar de uma organização eleitoreira, mas é necessário aqui um tanto de autocrítica para que meus textos anteriores não sejam influenciadores de reflexões incorretas.

Inclusão

Meu maior erro provavelmente foi tropeçar na ideologia liberal e acreditar que direitos legislados eram garantidos. Entendo hoje que, mesmo em organizações progressistas, sempre haverão as posições mais atrasadas que devem ser combatidas de forma permanente. A classe é o principal motor do fazer político, mas nenhuma organização pode fechar os olhos para as necessidades concretas de elementos específicos, principalmente aquelas que se propõem a lutar pelo fim da desigualdade social e de toda opressão.

Meu erro prático na Força Esperança foi não saber reconhecer quais as minhas demandas particulares e esperar que me ajudassem apenas baseado em uma identidade. Ausente essa autopercepção, estive inapta para solicitar adaptações e fiquei a mercê do que a sociedade capacitista estava disposta a oferecer sem luta: nada. Eu deveria também ter sido mais acolhedora comigo mesma, com minhas próprias limitações, inclusive as temporárias, e não cedido à pressão do ritmo e modo de trabalho dentro da organização. Isso teria evitado crises e atos impulsivos inapropriados, mas o erro às vezes é o custo do aprendizado.

Parte do meu isolamento atual é justamente um esforço para me desenvolver protegida dos estímulos, longe da reatividade da Internet e da máscara social que eu construí tentando me adequar a identidades e papéis que não me serviam.

Big Tech

A raiz da minha discordância é hoje o ponto que menos sinto capacidade de opinar. Aceitei que eu preciso de muito estudo ainda para poder desenvolver de forma robusta uma argumentação sobre o impacto causado pelo avanços das tecnologias da informação/comunicação nas táticas revolucionárias do século XXI.

Posso não ter a competência para defender minha visão, mas tenho a profunda convicção que a atuação truculenta e violenta dos serviços de inteligência e de polícia possui sinergia com o aparato de mídia burguesa e a assimilação inesgotável de “dados” à respeito de nossa vida privada e pública. E que todo esse conjunto opera para esmagar até as menores aspirações progressistas.

Posso estar errada, mas posso estar no caminho certo também, e para debater isso eu preciso estudar mais para merecer a atenção de pessoas capazes de mais do que rotular sem argumentar, esquivando-se de um debate que poderia consolidar a linha correta.

Felizmente existem muitas pessoas inteligentes no mundo, e se existir algo para ser descoberto, eventualmente alguém irá descobrir, se é que já não foi descoberto. Pode demorar anos ou séculos, mas o proletariado fiel à doutrina das condições de sua própria libertação vencerá, libertando assim toda a humanidade. A idade média durou mil anos, mas mesmo com todo o poder que a igreja católica romana acumulou para si, a ordem social mudou. Sou otimista em acreditar que a mudança da era atual para a próxima levará bem menos que mil anos, e que já estamos em seus anos finais.

Hoje entendo a questão do desenvolvimento e soberania nacionais como tarefas secundárias. A prioridade é apoiar as massas camponesas em sua luta organizada contra o agronegócio, dando fim às atrasadas relações semifeudais e realizando a Revolução Agrária, bandeira unificadora de todas as classes exploradas no Brasil.

Classe

Declarei anteriormente fazer parte da classe trabalhadora. Hoje entendo que essa nomenclatura dilui a nível teórico as diferenças de classe. Afinal, mesmo os bilionários declaram “trabalhar” dezenas de horas por semana e tem-se tornado lugar comum dizer que os empreendedores, ou pequenos proprietários, são os que mais trabalham dentro de um negócio.

O mais correto seria reconhecer que eu, e minha família, apesar de assalariados e desprovidos de meios de produção, somos ainda assim pequenos-burgueses. O distanciamento das condições do proletariado corrompe nossa visão de mundo e nos torna vacilantes. Não é nossa renda, mas a forma como participamos na produção, que permite afeiçoarmo-nos à ideologia burguesa.

Palavras finais

Eu não sou uma intelectual. Eu sou apenas uma pessoa criativa, com facilidade para aprender e que articula bem as ideias. É por minha inclinação para ser polímata e não por arrogância que eu extrapolo minha formação acadêmica e mergulho hoje nas humanidades.

Por minha condição de minoria social, é de meu genuíno interesse superar o quanto antes a sociedade atual e suas opressões; é por meu estado de organismo vivo, de vital necessidade reverter as mudanças climáticas e impedir o desenrolar de uma nova guerra mundial nuclear interimperialista; porém, enquanto pequeno-burguesa, sou sedutoramente tentada pelo oportunismo que coloca as débeis vitórias da social-democracia e as vantagens pessoais imediatas, como melhores condições de trabalho e renda, acima dos interesses permanentes e de longo prazo da classe proletária.

A certeza permanece de que o proletariado tem como única arma a organização na sua luta pelo poder, mas eu não sou uma proletária ainda. Apesar da inevitável decadência da pequena-burguesia, essa é a posição que eu me encontro e da qual me recuso a abandonar voluntariamente, ao menos até que a revolução democrática avance.

Sendo pequeno-burguesa, é mais fácil conquistar migalhas para si e uns poucos do que pão para todos. Porém, se os frutos positivos desse esforço são apropriados de maneira privada, ou por um pequeno grupo, nada mais justo também que os frutos negativos sejam suportados pelos mesmos que nos períodos positivos se beneficiaram, afinal são os riscos do empreendimento previstos na ideologia burguesa. Não há nada que se possa exigir do povo quando viramos-lhe as costas. A partir daqui seria desonesto me lamuriar pela crescente degradação ambiental, social e econômica em minha vida. Isto pois, diante da oportunidade de me proletarizar e servir ao povo lutando de forma científica contra o capitalismo, eu optei pela via liberal burguesa, julgando ser mais provável e capaz de ainda conquistar uma vida melhor para mim agindo de forma individualista e corporativista, assim como fazem, conscientemente ou não, tantos outros elementos da esquerda liberal e da direita civil.

Admito que essa suposta escolha pouco tem de livre, pois opera sobre a ignorância parcial das leis da natureza e exibe a dominação de sentimentos oscilantes de medo e potência sobre a razão. Como tal, é uma posição mutável que depende do conhecimento possuído a respeito das necessidades do mundo material e do estado de agudização da crise capitalista.

Por essa vacilação, verifico que a pequena e média burguesia não podem ser revolucionários legítimos, mas tão somente companheiros situacionais enquanto estiverem a lutar contra o latifúndio e o imperialismo de forma prática e não apenas em palavras e desejos. Compete ao proletariado e semi-proletariado, aliando-se à classe campesina em sua luta pela terra, guiados pelo socialismo científico e unidos em uma Frente Única dos trabalhadores, dirigir a Revolução de Nova Democracia como processo ininterrupto para o socialismo. Afinal, estes sim, nada tem a perder a não ser os seus grilhões.

Referências

 
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from daltux

Publico a cópia de um e-mail que enviei como resposta a algo que, graças à Web Social federada, tem me deixado encafifado em outros contextos. Talvez possa vir a ser útil como inspiração ou cópia em situações similares. Foi reação a uma mensagem recebida pela lista geral de servidores do órgão para o qual trabalho, com apenas uma imagem contendo texto:

Caros(as) colegas da Comissão de Ética da [universidade],

Desde logo, muito obrigado pelo texto inspirador.

Escrevo esta mensagem na esperança de gerar reflexão a respeito de qual seria a necessidade de converter um texto para imagem antes de transmiti-lo, tanto do ponto de vista da eficiência computacional quanto da acessibilidade universal.

Quantos caracteres teria o texto de uma lauda? Talvez, cerca de dois mil? Supondo essa quantidade, o arquivo em questão, no formato JPEG, resultado de compressão com perdas, com cerca de 800kB, ocupa, em tese, quatrocentas vezes mais que o texto original, potencialmente em cada caixa destinatária de correio eletrônico e outros locais. Ao ser aberta e carregada na memória do computador cliente, na realidade essa imagem possui cerca de 20MB de dados, dez mil vezes mais do que o texto. Antes mesmo disso, para gerar a imagem e comprimi-la, houve um considerável processamento, leia-se energia/água, que não seria necessário caso o texto tivesse sido diretamente transmitido, assim como também há para abri-la em cada destino.

A principal questão aqui, todavia, da forma como está, é a dificuldade ou impossibilidade de acesso ao conteúdo por quem não puder ver a imagem, por qualquer razão. Um texto puro tem condições de ser lido de diversas maneiras em dispositivos bem mais simples e, também, por intermédio de mecanismos de “texto para voz” (TTS). Não sou especialista em acessibilidade e nem necessito seu uso no momento, felizmente, além de também estar diante de um equipamento capaz de exibir imagens. Mesmo assim, solidário às necessidades de outras pessoas, tenho aderido à ideia de contribuirmos com a universalização do acesso ao conhecimento com algo tão simples como isto: transmitir texto e descrever imagens.

Caso entendam a matéria relevante, além de adotarem a ideia, fica ainda como sugestão de pauta para alguma publicação futura.

At.te,

#acessibilidadade #ética #universidade #email

 
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from felipe siles

Após a última derrota acachapante da seleção brasileira masculina de futebol para a Argentina, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa, ocorrida em 25 de março de 2025, fui pesquisar em portais conhecidos para ler opiniões sobre o ocorrido. Porém, o texto que me chamou a atenção foi publicado no mesmo dia da partida às 11h33 da manhã, ou seja, é anterior ao certame. A publicação tem autoria da jornalista Milly Lacombe e é entitulado Declarações de jogadores da seleção indicam por que Neymar virou um culto. Lacombe demonstra, de forma brilhante, como Neymar se tornou um mito, que representa algo de um passado mítico do futebol brasileiro que desejamos resgatar, mas ao mesmo tempo em que, em termos materiais, ele não é um jogador de futebol de elite, na prática, há pelo menos sete anos. Para reforçar a questão do mito, Lacombe exalta também o quanto transformamos artificialmente esse jogador num camisa 10, sendo que em sua melhor versão (entre 2015 e 2017), Neymar era um ponta esquerdo, agudo, driblador, ou seja, um camisa 11. Essa crença cega — por parte de jogadores, comissão técnica, e até parte da torcida e imprensa — em um mito, um culto, um herói que, sozinho, vai resgatar a mágica do futebol brasileira e nos trazer o hexa, me chamou a atenção para um descompasso entre o meio do futebol masculino (e seus muitos agentes) e a realidade concreta e material. Mas observando outros fatos, percebi que se trata de uma recorrência e não de um caso isolado.

Em minha opinião pessoal, Neymar é uma pessoa que usou o futebol para atingir seu objetivo verdadeiro, o de se tornar uma celebridade. No Brasil, um país com desigualdade social terminal e sérios problemas estruturais, é de se imaginar que as camadas populares desejem a mobilidade social. Sempre foi assim, inclusive. Para os mais pobres, historicamente, a música e o esporte foram caminhos mais pavimentados para isso, então é normal que, nesse contexto, jovens de origem popular se identifiquem com estrelas do esporte e da música, e sonhem com esse estrelato, para que tenham acesso ao que foi negado a eles: uma vida de conforto material. Isso inclusive é legítimo. Porém, o fenômeno da instagramação da vida distorce esse sonho legítimo, prometendo fama e fortuna para qualquer suposto reles mortal que conseguir seguidores, engajamento e joinhas. Um prato cheio para a juventude que sonha com uma vida melhor, que vê no Neymar como alguém que alcançou esse sucesso. É bom lembrar que o brasileiro passa, em média, 56% do seu tempo acordado em frente à telas de smartphones e computadores, e os aplicativos onde passa maior parte de seu tempo são todos da chamada big tech, sendo o Instagram o grande campeão, consumindo 35% desse tempo online. Trocando em miúdos, o brasileiro passa, em média, mais tempo em um mundo fictício moldado pela publicidade e pelo oligopólio do que lidando com a realidade concreta e material.

Essa instagramação da vida aprofunda um deslocamento com a realidade material, que culmina em fenômenos interligados: fake news, negacionismo climático e científico, mitomania recorrente de políticos e chefes de estado, entre outras coisas. Quando olhamos para a realidade social da maioria dos jogadores, é fácil notar (até pela cor de suas peles e pela textura de seus cabelos) que a maioria esmagadora veio das classes populares, mais suscetíveis a esses fenômenos, tendo o Instagram como uma das poucas formas acessíveis de lazer e entretenimento (já que a polícia brasileira mata jovens negros em bailes funk, melhor ficar vivo vendo Reels mesmo). Olhando por essa forma, fica factível compreender porque o fenômeno da extrema direita no Brasil tem grande lastro popular, e isso afeta esses jogadores, mesmo os que atuam na Europa. É relativamente comum ver jogadores brasileiros de futebol masculino se manifestando politicamente do lado da extrema direita. Um dos mais conhecidos nesse sentido é o ex-volante com passagem marcante pelo Palmeiras, Felipe Melo. Felipe Melo, um simbolo dessa bravataria viril, naturalmente aplaudiu as declarações de “porrada nos argentinos” dadas pelo atacante da seleção Raphinha no podcast do ex-atacante e ídolo da seleção Romário. O resultado, vexatório para Raphinha e para o futebol brasileiro, veio na forma de porrada simbólica no futebol praticado pelos argentinos na partida.

Engajamento, likes e número de seguidores, nas regras atuais do futebol, não alteram o placar de uma partida, atualmente são os gols que fazem isso. Mas ao invés de se concentrar em realizar um trabalho pé no chão para que os gols aconteçam, toda a cadeia do futebol brasileira dobra a aposta na bravata. Tite, um técnico de personalidade mais pragmática, procurou montar o time de forma sólida, olhando para a realidade do futebol brasileiro no mundo, colocou a seleção de forma honrosa no lugar compatível com seu futebol praticado: quartas de finais nas últimas duas Copas do Mundo, ou seja, entre as oito melhores seleções do mundo, um lugar decepcionante se pensarmos na história do futebol brasileiro, mas bem ok, se pensarmos na desorganização e estrutura desse mesmo futebol na atualidade. Mas pragmatismo e realidade não geram engajamento com essa população que passa metade de sua vida no Instagram, e o técnico Tite até hoje é extremamente impopular, sendo que os representantes do futebol arte no imaginário comum ainda são os integrantes da seleção de 2006 cujos heróis mitológicos, pasmem, alcançaram o mesmo resultado de Tite na Copa: quartas de final. Essa parcela da população, que venera 2006, é a mesma que espera que o Tigrinho ou alguma BET traga o hexa para nós.

Após o término do contrato de Tite, em 2022, o Brasil se organizou atrás de uma promessa, a vinda de Carlo Ancelotti para o comando da seleção. Para aguardar o término de contrato do italiano, colocou dois técnicos interinos no comando da amarelinha: inicialmente Ramón Menezes e, posteriormente, Fernando Diniz, ambos com resultados catastróficos. Diante da realidade material da renovação de contrato de Ancelotti com o Real Madrid, Ednaldo Rodrigues contrata Dorival Júnior, que assume o posto mobilizando o discurso do resgate desse futebol mítico, com a famigerada e desgastada cartada de valorização dos atletas que atuam no território nacional. Aproveitando o fato de que infelizmetne citei o famigerado personagem Ednaldo Rodrigues, é bom lembrar que foi recentemente reeleito presidente da CBF com declarações denominando como “triunfo da democracia” o pleito em que foi candidato único. Voltando à Dorival, alguns meses antes, em setembro de 2024, o técnico prometeu o Brasil na final da Copa do Mundo.

A bravata, a promessa e a ilusão (des)estruturam e (des)organizam o futebol brasileiro atualmente, que chegou a um nível de aprofundamento de sua natureza no entretenimento e escapismo à condição radical de inimigo da realidade material. Bem na época em que o futebol se torna mais racional, científico, onde se consolida na metrópole comercial e econômica, a Europa, o futebol dos dados, estatísticas, scouts e profissionais com conhecimento científico. O Brasil confirma sua vocação vira-latas e vai ficando para trás nesse quesito, e esperneia com a bravata de que nosso jeito de fazer as coisas ainda é melhor, na base do improviso, do talento, das soluções fáceis e da resolução através de um herói mítico individual. Em uma terra fértil para o pensamento coach (que curiosamente significa treinador esporivo em inglês), a bravata se torna método em todas as etapas da cadeia de trabalho do futebol masculino, desde o seu presidente (que é quem deveria dar o exemplo) ao garoto que está ingressando na categoria de base de um clube com sonho de jogar na Europa, passando por jogadores profissionais e comissões técnicas, são todos aliados nessa guerra contra a realidade material.

Tenho convicção de que não há solução: podem convocar para a seleção brasileira masculina de futebol apenas jogadores que atuam no Brasil, ou jogadores que atuam na Europa. Podem convocar jogadores cascudos ou bailarinos. Podem convocar jogadores medalhões ou desconhecidos. Podem contratar um técnico estrangeiro renomado. Podem contratar até um técnico de outro planeta. O problema não será resolvido. Porque o problema é cultural e está entranhado em raízes do senso comum do povo brasileiro, que tem sua percepção de realidade moldada pela big tech. No cenário atual nos resta continuar acompanhando esse defunto vivo, chamado seleção brasileira masculina de futebol, que morreu em 2014 no Mineirão, mas que para nosso desespero continua nos assombrando a cada data FIFA.

 
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from yuribravos

Outro dia estava escutando o podcast Fio da Meada, o episódio com a Paola Carosella sobre cozinhar como um ato de rebeldia.

Ela falava sobre como lhe cansava os vídeos que um tomate cai numa bancada e aparece completamente picado, um frango é jogado numa frigideira e surge já dourado e de como tudo isso não ensina a cozinhar coisa nenhuma.


Uma das coisas inusitadas que faço é dar aulas de acrobacia. Pratico desde 2013, com um ano de pausa enquanto fiz intercâmbio. Isso soma mais de dez anos de prática. Alguns alunos ficam assombrados com certas coisas que demonstro para tentar ensinar. Quase sempre é possível ver na cara deles o pensamento que diz se eu tivesse talento como ele tem...

Não dá pra comparar dez anos de prática com dois meses.

Sempre ressalto que as coisas levam tempo. Como eles, eu também tentei várias coisas, repetidas vezes, sem conseguir executar de forma minimamente decente. Mas à força de repetição as poses e técnicas foram evoluindo até o que hoje eles veem como um único movimento perfeito do início ao fim. Sendo que, na realidade, eu estou num nível só ligeiramente acima da média. Tem tantos movimentos que ainda não domino completamente e tantos outros que até executo, mas estão longe de serem executados de forma limpa e fluida.

Os vídeos da internet que muitas vezes usamos como inspiração para as aulas são também uma armadilha, pois nunca revelam quanto tempo de prática foi preciso para executar aquilo num único take cravado.

Até nos vídeos que mostram tentativas até acertar, o olho mais treinado sabe que as pessoas estão errando de mentirinha para dar a impressão que em três ou quatro tentativas tiveram êxito.

Muitas vezes meu papel de instrutor é lembrar que não dá pra comparar dez anos de prática com dois meses.


Voltando ao podcast com a Paola, ela conta como não aceitou fazer vídeos rápidos ensinando a cozinhar e que decidiu fazer vídeos de uma hora. E que eles estavam indo bem.

Verdade que o Youtube privilegia vídeos mais longo atualmente, pois eles são passíveis de monetização para o criador (ou você não notou que todos os vídeos agora tem mais de dez minutos?) e porque podem inserir mais propagandas dentro da duração. Mas a Paola está certa em mostrar que cozinhar leva tempo. Jogar o tomate na bancada não vai fazê-lo aparecer picado, bater seis fotos em stop motion da colher de pau dentro da panela com molho e transformar num gif não vai reduzir esse molho instantaneamente. Você não pode apressar o fogo.

Ou pode. Sua comida vai queimar.


Vi também um canal, que acho até interessante sobre coquetelaria, ensinando a fazer um super suco de limão que dura muito tempo na geladeiras.

Note que esse vídeo tem 17min pra entrar exatamente naquela questão da monetização do Youtube, mas vamos relevar dessa vez.

Suco de limão é algo que se torna muito azedo se não for consumido pouco tempo depois de feito. Faz parte da oxidação dessa bebida. No vídeo o rapaz explica com detalhes como isso gera desperdício do próprio suco de limão e de tempo, já que é preciso espremer uma quantidade enorme de limões todos os dias para ter o suco necessário para fazer os drinks.

Então para acabar com todo esse desperdício, descobriram que se você colocar proporções exatas de ácido málico e ácido cítrico com cascas de limão, deixar extrair os óleos da casca e depois juntar o suco de dois limões e completar com água você faz um “super suco de limão” que rende muito e dura muito tempo na geladeira!

E assim nós adentramos o mundo dos drinks ultraprocessados! 🍹


É claro que, em restaurantes ou bares que fazem centenas de drinks por dia e que os clientes esperam ser atendidos com a rapidez de um reels, pode ser que consigamos justificar o fato de criar uma bebida sabor limão com 10% de suco integral para fazer drinks.

Ou não. Eu gostaria de beber um drink feito com suco de limão de verdade, mesmo que talvez demore dois minutos a mais para ser feito (o que eu acredito que seja o tempo médio de preparo de suco de um limão).

Eu realmente não gostaria de beber algo feito com dois pózinhos brancos adicionados de água feito para me enganar. Não importa quanto tempo ele dure na geladeira ou se ele tenha sabor artificial idêntico ao natural. As papilas gustativas não saberão diferenciar, talvez, mas quais serão as consequências de saúde dessa ligeireza mentirosa?


Conclusões

As coisas levam tempo e nós só estamos enganados quanto ao efeito instantâneo das redes sociais e da internet. Nada é instantâneo, só não sabemos quais foram os artifícios usados para acelerar o resultado. Se por um lado diminuir o tempo de algumas coisas é muito bom, por outro, acreditar que sempre dá para ser mais rápido é fonte de alienação e frustração. Isso irá nos enganar ou nos esgotar.

Avisos da Paróquia

O Danilo jogou ao vento que eu poderia fazer um blog de sommelier de RPG e talvez faça algo assim mesmo! Provavelmente uma coluna aqui, falando dos jogos que estejam ocupando meu imaginário e o que estou pensando disso.

É isso, e até lá!

 
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from daltux

As corporações, financeiras em especial, acabam mais confundindo os usuários do que ajudando sua conscientização sobre phishing em correio eletrônico. Eis uma tentativa de explicar como foi chegar a essa conclusão:

É sabido que, ao ler uma mensagem, não convém abrir um link para domínio suspeito, ou seja, diverso daquele já conhecido do remetente. Contudo, fica consideravelente mais complicado para leigos lidarem com isso enquanto praticamente todas as mensagens reais remetidas por grandes empresas contêm rastreadores diversos. Esses rastreadores geralmente são usados no intuito de registrar, no mínimo, quem, quando, em que condições e de que origem abriu qual ligação. Pior ainda, algumas vezes essas mensagens chegam a utilizar a mesmíssima ardilosa técnica do phishing: deixam visível no texto da ligação um endereço que claramente seria institucional, quando, no fundo, ela faz referência a outro — de rastreamento. O endereço real normalmente fica oculto. Quando você aciona a ligação e acaba parando na página de destino, mesmo que esta seja correta, pode sequer ter ciência de que passou pelo rastreador intermediário, exceto se prestar atenção ao canto da tela antes de clicar. Isso, pelo menos, é mais fácil perceber em cliente de e-mail ou navegador da Web no computador, digamos, tradicional. Já quando a mensagem é lida em tornozeleira eletrônica de bolso 📱, a pessoa incauta dificilmente nota isso, a não ser que tome precauções ligeiramente mais trabalhosas.

Exemplo de trecho visível de mensagem sobre onde baixar relatórios de rendimentos:

Acesse nosso portal: https://dominioCorretoDaCorporacao.exemplo

Porém, na realidade, tecnicamente falando, a mensagem que aparece poderia ser o resultado da formatação do seguinte trecho de HTML:

Acesse nosso portal: <a href="https://track.qqcoisa.exemplo/BlaBlaBla">https://dominioCorretoDaCorporacao.exemplo</a>

Ao clicar em https://dominioCorretoDaCorporacao.exemplo e possivelmente achando que vai abri-lo diretameente, na prática saria aberto primeiro o endereço https://track.qqcoisa.com/BlaBlaBla que, sendo um rastreador “legítimo”, poderia fazer, além do registro do acesso, o redirecionamento para o tal portal.

Algumas organizações não terceirizam o rastreamento, porém, mesmo assim, realizam o embuste de exibir um endereço que vai dar em outro, ainda que em domínio da própria instituição.

Como fica a cabeça de uma pessoa sem experiência? “Devo clicar ali mesmo senão vou ficar sem a informação” ou “corre que é cilada, Bino”? É fácil dizer que deve procurar pela informação diretamente na página oficial previamente conhecida das instituições. Será que vai mesmo? E como? A probabilidade de deslizes ao consultar notórios mecanismos de busca na Web também não deve ser menosprezada.

A maneira mais segura para identificar o conteúdo ardiloso seria, provavelmente, abrir as mensagens sempre em formato de texto simples. Por que quase todos os leitores de e-mail, sejam eles dedicados ou na Web, formatam as mensagens HTML por padrão? Você sabe como configurar isso no seu? E não vai voltar atrás quando constatar que a maioria das mensagens dessas empresas fica ilegível? Elas realmente não facilitam.

O pessoal acaba ficando cada vez mais receoso com o correio eletrônico — ferramenta que, concebida e em uso há tanto tempo, embora não seja perfeita, serve bem a seus propósitos de forma descentralizada — e acha que deve se comunicar apenas por algum mensageiro instantâneo ou plataforma de publicidade direcionada privativos de liberdade na moda.

Enfim, sem as organizações que mais enviam mensagens supostamente legítimas colaborarem, o oceano de incautos para pescaria por mensagens mal intencionadas permanecerá vasto mesmo.

#phishing #infoSec #engenhariaSocial #segurança #email #golpes

 
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from drax

Cultivo

É um dia como outro qualquer na minha humilde fazenda, exceto pela tempestade que ao longe se aproxima. É noite e posso sentir minha exaustão após um longo dia de trabalho. O vento lá fora está muito forte e posso perceber que no horizonte relampeja.Vou fechar as portas e janelas e aguardar a tempestade passar. Um ensurdecedor estrondo me surpreende, aparentemente, um raio caiu bem no meu quintal. Agora a escuridão me cerca e eu me encolho na cama rezando para esse caos passar… E sem perceber, eu apago, um novo dia nasceu. Hora de avaliar os danos, parecem bem menores do que o esperado. Um ou outro galho caído e no meio do quintal, uma marca, deve ser o ponto onde o raio atingiu. Por mais que tenha deixado um largo círculo de grama queimada no chão, estranhamente, não gerou um incêndio e a parte mais estranha de tudo isso é que bem no centro desse círculo uma pequena planta nasceu. Sim, eu sei que é de se estranhar esse fenômeno, mas acima de tudo a misteriosa planta me fascinou, decido cultivá-la. Uma semana se passou, a planta parece com muita saúde, todo dia tenho ido regá-la e ela já se estruturou em um caule de uns 20 cm. Mas algo está me incomodando, parece que as minhas atividades rotineiras que tanto me acostumei estão me cansando mais do que o normal. É algo sutil, porém notável. Faz um mês que eu ritualmente cuido da planta, agora ela se ergueu como uma vistosa pequena árvore de não mais que 1 m. Meu cansaço aumentou significativamente a ponto que passei a deixar algumas tarefas de lado, mas não consigo deixar de cuidar dela. A planta está se tornando uma prioridade na minha vida. Três meses… Meus animais definham, minhas plantações morrem, minha casa está um caos… E eu… Estou sem energia. Mas a planta está bem! Isso é o que importa! Minha mente não funciona mais... Cansaço e fome me tomam… Mas, tenho que terminar de cultivar a planta. Eu abro a porta para o quintal enquanto sinto minha vida se esvair... Eu a vejo, ela deve ter… 1,60… Minha altura… He he… Agora que parei para pensar, essa é uma planta estranha… Da raiz saem dois caules que mais se parecem pernas e estes se juntam num… Tronco? Do tronco saem dois galhos… São braços? E então, no topo, o que parece ser uma cabeça. Me aproximo… A lentos passos me arrasto para aquela que tenho dedicado meus últimos meses… Ela não só parece ter um corpo humano… Altura, proporções e até mesmo as feições do estranho rosto de madeira e folhagens se pareciam… Comigo? A planta começa a mexer… Ela move suas pernas... Erguendo-as da terra... E se cortando de suas raízes… Minha visão está embaçando… Sinto minha vida se afastando de mim… Respiração pesada… Minhas pernas não mais me sustentam e caio de joelhos no chão… Eu olho para cima enquanto ela se aproxima… Ela se inclina na minha direção… Agora não parece mais de madeira nem mesmo é verde… Uma perfeita cópia minha… E então ela suspira nos meus ouvidos as últimas palavras que irei ouvir na minha existência… — Agradeço pela minha vida.

 
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from Lento, pero escrevo

A tentação no terror e na política

Se pararmos pra pensar, a tentação, passar vontade, não é condenável. Mas diziam que são sete pecados capitais: a gula, luxúria, vaidade, orgulho, raiva e mais uns outros tantos.

Mas querer comer mais um pouco é condenado? Os mandamentos católicos apostólicos romanos indicam que querer se amostrar, cogitar em se orgulhar, pensar em transar, sentir tesão leva a gente pro tormento eterno no colinho do capeta?

Não faço a menor ideia da resposta biblicamente correta disso aí. Nunca li a bíblia por inteira, por que peguei canseira das missas católicas de domingo depois de pegar bicho do pé na Igreja. Apesar disso, esse monte de pertubação de juízo católica fez morada na minha cabeça. A culpa e a autoindulgência sempre tiveram seu lugarzinho aqui. Mas esses tempos me peguei pensando muito na tentação.

Pertubação de juízo, passar vontade. Talvez essa seja uma forma boa de olhar pra tentação. Aquela voz baixinha de desenho animado que não te dá paz, sobrevoando teu ombro, aquele pensamento intrusivo de fazer uma parada que talvez tu saiba que não possa.

Na política, a extrema-direita morre da tentação: tu não pode ter o menor contato com um mínimo de solidariedade que corre o risco de virar “comunista”. Tinha aquela história, que aparece no filme do ex-presidente Mujica preso na ditadura Uruguaia (eu acho), de que os milico tinham medo que os guerrilheiros convencessem até os torturadores e os convertessem no pecado de ser revolucionário, tamanha era a lábia que imaginavam que a galera tinha.

Mihakil Bakunin, anarquista russo das antigas e anticlerical, escreveu um texto chamado “CATECISMO REVOLUCIONÁRIO”. Teria ele, um ateu anticlerical, sofrido tentação da disciplina da Igreja para pensar a organização política que colocaria o capital abaixo? Provavelmente não. Mas todo o texto “Deus e o Estado”, sua crítica ao idealismo parte da noção de que se um iluminado tenta organizar a vida dos outros com ideias única e exclusivamente do seu cu da sua cabeça certamente vai terminar brutalizando a vida, como foram as Igrejas católicas, o Estado e o capitalismo. De toda forma, ele se “suja” de tudo que critica para, enfim, fazer sua crítica.

Ver a tentação como algo positivo talvez possa ser nada mais do que uma forma de sentimento de lidarmos com a contradição e a encararmos, superar a curiosidade e se situar no mundo.

Na ficção, os filmes de terror a tentação é um sentimento de lei. Vampiros são esses seres: sedutores, mas violentos, apropriados em algumas histórias pra questionar as hierarquias sociais, o racismo e a LGBTfobia (o patriarcado depende), mas moralmente questionáveis. Sentem uma vontade incontrolável de sangue e de seduzir homens e mulheres por esporte (e fome), mas também deslocados da sociedade e injustiçados. Eles encarnam um bom exemplo de tentação.

Os filmes e histórias de terror são vários e infinitos, mas sempre me questionei o por quê de termos tanta curiosidade com essas histórias. Seria a tentação de ver o diferente? De ver uma pertubação na ordem conservadora dos vários contos de terror com monstruosidades? Por que ver algo que nos dá medo? É pela adrenalina?

Não tenho as respostas disso. Mas foram pensamentos que me passaram nos últimos meses, vivenciando a volta de uma extrema-direita fascista no mundo enquanto leio e assisto histórias de vampiros como a série Entrevista com um Vampiro, os animes Vampire Hunter D: Bloodlust, mangás de horror do Junji Ito com incômodos mundanos levados ao absurdo e lendo contos de terror paraenses de Tanto Tupiassu no livro Dois Mortos e a Morte.

Como a tentação pode ser cultivada na política revolucionária? Como a tentação pode ser cultivada na superação definitiva do capital, do racismo e do patriarcado? Não tenho certeza, mas se para os capitalistas reacionários que organizam nossas vidas ser tentado é um problema, talvez haja um ponto aqui. Recentemente traduzida no Brasil, no livro Multidões e partido a comunista Jodi Dean incorpora um debate anarquista e autonomista e nos traz a importância da solidariedade enquanto um sentimento central na organização política comunista, por que só ela seria capaz de romper com esta ordem das coisas que bota cada um pra pensar no seu próprio umbigo, o individualismo burguês. Só a solidariedade rompe barreiras policiais que impedem um ato contra aumentos de tarifa de andar, impede um despejo de uma ocupação de prédios da especulação imobiliária ou produz comida de forma igualitária e sem veneno. Só a solidariedade cria um mundo novo.

Talvez devêssemos cultivar, junto dela, da tentação. Se os conservadores e reacionários nos dizem diariamente que essa vida é ruim, é realmente bruta, viril e violenta, “só os fortes sobrevivem”, em lugar dessa barbaridade devemos cultivar a tentação pela vida, pela solidariedade, igualdade e liberdade. Instingar e incomodar com a tentação de que a vida pode ser melhor, mais leve e menos bruta . Lembrar isso junto aos nossos e aos de baixo que foram seduzidos por ideias reacionárias é uma forma de desatar o nó entre as classes populares e o fascismo.

Fim deste rascunho e ideias jogadas ao ar.

 
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from daltux

Avatar do F-DroidFui instigado por uma publicação no Mastodon que pergunta:

Que apps vcs usam do fdroid?

Como a resposta não coube em 500 caracteres, resolvi redigir, aqui, uma lista com aplicativos que tenho utilizado na tornozeleira eletrônica de bolso Android, instalados com o F-Droid (conheça), sejam eles provenientes do repositório padrão, sejam do repositório IzzyOnDroid ou de outros a serem citados. Todos são software livre, regidos por diversas licenças assim consideradas, embora às vezes possam ainda ter dependências não-livres, conforme eventuais observações na página de cada pacote. Tento ainda indicar para que servem, com o mínimo de palavras.

  • Aegis Authenticator – segundo fator de autenticação (2FA) nos padrões TOTP e HOTP
  • AntennaPodpodcasts
  • Autu Mandu (IzzyOnDroid) – gestão de gastos de automóvel
  • BreezyWeather (IzzyOnDroid | F-Droid) – previsão do tempo altamente personalizada, podendo escolher fontes de dados meteorológicos diferentes para determinadas funções
  • Commons – envio de imagens e edição de metadados para Wikimedia Commons
  • DAVx⁵ (IzzyOnDroid) – sincronização de agendas (CalDAV) e contatos (CardDAV). Utilizo com Nextcloud.
  • Download Navi – gerenciador de baixação de arquivos com maior controle
  • Etar – agenda
  • Fedilab – cliente para redes sociais federadas Mastodon, Pleroma, Pixelfed, PeerTube, GNU Social, Friendica e variantes
  • HeliBoard – teclado
  • Imagepipe – remove metadados Exif e reduz tamanho de imagem antes de compartilhá-la
  • Jerboa – cliente Lemmy (Ayom Fórum)
  • Jitsi Meet – videoconferência
  • K-9 Mail – cliente de correio eletrônico, utilizado para múltiplas contas
  • KeePassDX – gestor de senhas. Sincronizo com Syncthing.
  • KingInstaller (IzzyOnDroid) – instala aplicativo marcando-o como se tivesse sido instalado por Play Store, a fim de tentar contornar restrições
  • Librera Reader – leitor de e-book
  • Logseq – gestão de conhecimento. Utilizo para anotações em tópicos, utilizando Markdown. Sincronizo com Syncthing.
  • Metrolist (IzzyOnDroid), reprodutor de música da “nuvem” (YouToba Music).
  • Monocles chat – mensagens e chamadas individuais e em grupo (XMPP)
  • Mull – navegador Web compilado a partir do código-fonte do Firefox, porém com mais privacidade e remoção de blobs
    • Projeto descontinuado em 2025. A equipe F-Droid sugere Fennec em seu lugar.
    • Navegadores “amigos da privacidade” podem ser obtidos também pelo FFUpdater
  • NewPipe – cliente leve para PeerTube, YouToba e outros.
  • Nextcloud – acesso a arquivos de Nextcloud
  • Nextcloud Talk – mensagens e videoconferência integrada a Nextcloud
  • ntfy – cliente de serviço de notificações push de inúmeras fontes, até por cURL
  • Obtainium – obter/atualizar alguns aplicativos diretamente dos desenvolvedores.
  • OpenKeychain: Easy PGP – criptografia no padrão OpenPGP, podendo ser usado por K-9 Mail, entre outros
  • openScale – gestor do “peso” e de outras métricas corporais
  • Organic Maps – navegação (“GPS”) leve com mapas baixados mensalmente do OpenStreetMap
  • OsmAnd~ – navegação (“GPS”) extremamente minuciosa com mapas baixados mensalmente do OpenStreetMap, opcionalmente podendo ser atualizados a cada hora. Indispensável a quem colabora com o mapa.
  • OSS Document Scanner (IzzyOnDroid) – digitalização de documentos físicos com a câmera da tornozeleira eletrônica de bolso
  • Pano Scrobbler (repositório F-Droid do próprio desenvolvedor) – envia músicas ouvidas nos aplicativos do aparelho para serviços do gênero – utilizo com ListenBrainz
    • Também pode ser instalado pelo Obtainium
  • PeerTube – cliente para a rede fediversal de vídeo desenvolvido oficialmente por FramaSoft
  • RiMusic – cliente leve de YouToba Music
    • Projeto abandonado/desconfigurado em março/2025, sucedido por Kreate, que ainda não testei. Tenho usado Metrolist, embora ainda não tenha testado nas mesmas condições a seguir.
    • Costumava baixar o apk do GitHub (com Download Navi) e instalar com KingInstaller, manobra lamentavelmente necessária para que o aplicativo fosse reconhecido por Android Auto e, assim, utilizável no aparelho embutido no carro.
  • RustDesk – acesso remoto a ambiente gráfico
  • SalvarEm – permite salvar em qualquer diretório um arquivo compartilhado por qualquer aplicativo
  • SatStat – dados de localização por satélites, bússola, rede celular, WiFi e outros sensores do aparelho
  • SCEE – versão um pouco mais avançada de Street Complete, app para facilmente ajudar a melhorar o OpenStreetMap
  • Syncthing-Fork – cliente do Syncthing, para sincronizar diretórios entre seus dispositivos, sem necessitar de “nuvens”
  • Termux – distribuição GNU dentro do Android com Bash e gerenciamento de pacotes similar ao APT do Debian.
  • Translate You – tradutor
  • VLC – tocador de praticamente qualquer arquivo de mídia. Utilizo com o diretório de músicas locais sincronizadas por Syncthing
  • WiFiAnalyzer – mostra metadados das redes WiFi

Atualizações

  • 2025-01-08
    • Mull/Fennec/FFUpdater e RustDesk, após informe da equipe F-Droid.
    • K-9 Mail, que tinha incrivelmente faltado na lista, bem como OpenKeychain, usados em conjunto, aqui instalados dentro de dita “Pasta Segura” do dispositivo.
  • 2025-06-13
    • Correção da data anterior
    • RiMusic encerrado; entram Metrolist, PeerTube

Descrição da imagem no início

É o ícone do projeto F-Droid, uma figura em formato que lembra um robô com cabeça verde e corpo azul, retangulares, sem membros. A cabeça, mais achatada, possui dois olhos circulares brancos e de suas extremidades superiores saem duas antenas curtas, também verdes. O corpo ostenta, em azul mais escuro, uma letra C invertida, contida num círculo, o que representa a ideia de Copyleft.

The F-Droid logo – Copyright 2012 William Theaker, 2013 Robert Martinez, 2015 Andrew Nayenko – CC-BY-SA 3.0 Unported || GPLv3+

 
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from yuribravos

Eu dirijo há mais de uma década. Nunca me envolvi em nenhum acidente sério, embora tenha tido uma ou outra batida de leve, sem danos além dos materiais.

Tirei a carteira de moto depois que casei, pois só tinha uma vaga e não cabiam dois carros. A primeira coisa que me deixou abismado com a motoescola é o fato — completamente aberrante, mas encarado como normal — de não ter aulas práticas no trânsito.

Tudo que te ensinam é se equilibrar sobre a moto e andar na primeira marcha. Nem ensinam a passar as marchas. Isso fica para o motociclista descobrir sozinho no meio da rua. Daí entendi porque há tantos motociclistas que dirigem de forma imprudente e sem noção: eles não foram ensinados a trafegar no meio de outros veículos.

Dito isso, eu já tinha mais de dez anos de prática no volante quando tirei a carteira de moto, então sempre dirigi de forma prudente. De forma correta. Até que, outro dia, tentaram me matar.


Eu também ando de bicicleta. Já andei mais. Por duas vezes fui derrubado por motoristas de carro que ignoraram qualquer regra básica de trânsito como preferênciais. Um deles fugiu, a outra se comprometeu a pagar pelo menos o conserto da minha bicicleta. Em ambos os casos a coisa me pareceu mais desatenção que qualquer outra coisa.

Uma desatenção, é óbvio, pavimentada sobre a percepção que a rua pertence aos carros e que, portanto, tudo mais deve parar e esperar que façam o que bem entenderem.

Nenhuma desculpa para o carrocentrismo das nossas vias urbanas.


Voltava do meu treino, pelo caminho que sempre faço. Tinha passado no mercado pra comprar algo para preparar a janta. No meu caminho, eu dobro à esquerda num entroncamento entre duas avenidas. A pista da direita também é bem comprometida, o que me faz, normalmente, seguir na pista da esquerda por 4 ou 5 quarteirões antes de dobrar no tal entroncamento.

O que não deveria ser um problema, já que vou rodando na velocidade máxima da via, 50km/h. Idealmente ninguém deveria fazer ultrapassagens se seguimos na velocidade máxima. Ainda mais depois das 20h, quando sequer tem trânsito pesado.

Pois bem, nesse dia eu seguia na faixa da esquerda, faltavam 3 quarteirões para virar. Notei, pelo retrovisor, um carro vindo em alta velocidade. Deu sinal de luz, buzinou. Fiz um gesto para que ele seguisse pela direita que estava completamente livre, afinal, logo mais eu iria virar à esquerda.

O motorista assim o fez, mas jogou o carro para cima de mim. Não passou perto o bastante para ser um problema. Não acelerei, apesar de tê-lo xingado mentalmente, e deixei o infeliz seguir seu caminho. Não fiz qualquer gesto agressivo.

Acontece que, como todos sabemos, correr é um auto-engano. Quando chegou no sinal do entroncamento e eu segui para o espaço de espera dos motociclistas, que fica à frente dos carros, acabei passando esse mesmo motorista, que esperava na fila da esquerda. Não fiz nenhum gesto, não alterei a velocidade, apenas segui meu caminho. Parei no mesmo sinal que ele.

O assassino saiu da fila, passou para a direita, parou o carro do meu lado. Baixou o vidro e começou a gritar sobre como eu precisava aprender a dirigir. Não respondi nada, não esbocei reações. O sinal abriu. Saí com minha moto. E pela segunda vez o assassino jogou o carro para cima de mim, dessa vez, encostando.

A sorte é que estava em baixa velocidade. Não cheguei a cair, embora tenha danificado minha moto. Ele fugiu, certo da impunidade.

Fiquei incrédulo. Respirei fundo. A moto ainda funcionava. Segui para casa. Botei uma braçadeira pra segurar a carenagem da moto enquanto não consertava. Registrei um boletim de ocorrência. No dia seguinte, fui à autarquia municipal de trânsito solicitar as filmagens das câmeras. Pois, talvez ele não sabia, mas aquele cruzamento é videomonitorado 24h. Abri o processo de solicitação e aguardei. Quase vinte dias depois, recebi as filmagens.

Infelizmente as instituições não funcionaram: as filmagens pegam exatamente o momento, mas é impossível identificar a placa do carro. A qualidade da imagem é péssima para esse tipo de detalhe.

Ainda assim, se você souber maneiras de melhorar a nitidez de uma filmagem de forma quase mágica, estou aberto a sugestões.


Depois disso, pela primeira vez na vida — as benesses das minhas circunstâncias — fiquei receoso de me locomover na cidade. Pois é evidente que aquele motorista queria me matar. Ele não tinha nenhum motivo para isso, mas queria.

Outro dia, voltando do trabalho 17h, vi uma outra pessoa com um carro grande — evidentemente — dirigindo numa velocidade absurda para as vias coletoras que faziam aquele caminho. O trânsito nem estava caótico, seguia normal. Mas a pessoa dirigia com clara sede de sangue. Quem ela queria matar?

Não sei. Espero que não seja eu, que fiz tudo direitinho, sem fazer mal a ninguém, e ainda assim, virei alvo de matador.

 
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from vereda

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Tags: #Militância #Pessoal #Neurodivergência

Introdução

Faz 4 meses que abandonei a Força Esperança. Nesse período passei por um mergulho em profunda depressão, mas hoje, estando em clara tendência de deixar os dias assustadores para trás, posso reavaliar a minha relação com a FE.

Não sabe o que é a Força Esperança? Leia meu texto Desfiliação.

Esse texto é um resgate de coisas que já falei antes, mas com um olhar mais analítico permitido pela maior tranquilidade emocional, afim de processar o que ocorreu comigo. Na última seção vou além do retorno ao passado e traço caminhos para o futuro. Tenha em mente que esse ainda assim é um relato subjetivo, que não leva em consideração as versões das diferentes pessoas envolvidas.

Começo

Começando do começo, eu vinha tratando um quadro depressivo-ansioso desde o começo de 2021, fruto da pressão no trabalho, mas com remédio e terapia estava estável. Mesmo com esse suporte, eu adoeci pra valer em 2023. O diagnóstico oficial foi de transtorno misto ansioso e depressivo (F41.2) combinado com esgotamento (Z73.0). Na época, o esgotamento parecia se sobressair. Eu estava exausta para tudo. Pensei que nunca mais fosse conseguir voltar a trabalhar com o rendimento que eu antes tinha. E, passado mais de 1 ano deste colapso, apesar de grande melhora, posso dizer que ainda não recuperei a energia e estabilidade que eu tinha antes.

Necessário pontuar que a piora do meu quadro coincidiu com o momento em que passei a ser contabilizada para a cota PcD no trabalho, e discriminada como tal, porém sem obter adaptações razoáveis nos termos da lei. Esse tratamento diferenciado, combinado com o pessimismo sobre a estagnação de carreira de uma PcD, minou a minha autoestima.

Foi também por volta desse momento que conhecidos me falaram de um tal de comunismo na Internet. Achei que seria algo tosco, mas fui aos poucos sendo convencida pela dialética materialista e a revolta foi me radicalizando. Me convenci que eu não teria chance de lutar sozinha e que precisaria me organizar. Me aproximei da FE, comecei a estudar e a participar das atividades.

Desde o começo esclareci a minha situação: eu estava adoecida pelo esgotamento e em recuperação. Minha coordenação compreendia que por causa disso eu não poderia participar de todas as atividades, mas isso não impediu que eu fosse estimulada a me envolver cada vez mais: mais participação em brigadas de venda de jornal, mais cotas individuais de jornal para vender, mais participação em atos e atividades de finanças, mais estudo e apresentação. Minha coordenação me disse que era o papel dela me estimular a fazer cada vez mais. Afinal, os comunistas praticam a profissionalização do trabalho de militância e nisso a FE era exemplar, mas havia um óbvio problema: Eu não estava em plenas condições de trabalhar.

Eu errei em ceder a esse estimulo. É parte do quadro clínico de esgotamento o histórico de alto envolvimento com o trabalho. E eu estava novamente cometendo o mesmo erro que me fez adoecer por causa de meu ofício. E minha coordenação não me ajudou a encontrar formas de aliviar o autojulgamento de “estar fazendo menos do que eu deveria”, muito pelo contrário, já que nos fazia ler materiais que explicitavam a importância moral do comprometimento e da disciplina. Ao invés de me parabenizar pelo que eu havia conseguido, eu recebia o estímulo a fazer ainda mais. Isto era contraprodutivo para meu momento de recuperação.

Afastamento

Em determinado momento eu desenvolvi hiperfoco em certa pauta compatível com o programa da FE. Observei que haviam organizações brigando por mudanças políticas com relação ao uso de dados e da tecnologia da informação. Como boa militante, passei a tentar convencer os companheiros de que precisaríamos debater essa pauta como organização também, assim como já era feito com a questão sindical, estudantil e feminina. Era, e ainda é, minha crença que a questão da tecnologia da informação necessita ser trabalhada de maneira organizada, sem aventureirismos.

Claramente eu estava propondo uma pauta que era maior do que a FE. As tentativas de trabalhar esse tema eram negligenciadas com argumentos fracos como “A FE é uma organização dentro da lei e não há motivos de tratar esse tema”. E por não verem o tema como relevante, o assunto foi silenciado: Comportamento típico de quadros antigos que insistem em interpretar novos fenômenos da forma que lhes é familiar. A pauta que estava em pleno debate público internacional foi menosprezada internamente. Não tive o espaço para desenvolvê-la e apresentá-la a mais pessoas além do meu núcleo imediato.

Aqui entra em ação a obstinação natural de uma pessoa autista. Quanto mais me ignoravam e me davam justificativas fracas, mais forte ficava meu interesse, mais eu me aprofundava no assunto, mais eu pesquisava, para poder convencer as pessoas de que esse assunto era (é!) importante. Eu fui fisgada pelo hiperfoco, e isso tem seu lado bom e seu lado ruim.

Eu pedi ajuda de minha coordenação para me ajudar a manter a calma, mas a ajuda que ela podia oferecer era insuficiente. Acabei agindo desesperadamente e quebrando a disciplina numa tentativa de chamar a atenção. A autocrítica é óbvia, pois eu já sabia que estava agindo de forma incorreta mesmo antes de me advertirem.

Contudo, continuo sem saber como poderia ter agido melhor. Sendo a pauta suprimida silenciosamente e estando desconfiada de omissão da minha coordenação, o que eu poderia fazer? A hierarquia não permitia que eu levasse a pauta para amplo debate, sob argumentos que não convenciam logicamente e sequer indicavam ter havido decisão coletiva anterior. Sem democracia não se pode exigir disciplina. Eu rejeito a acusação de individualismo e de desvio pequeno-burguês de minha parte. Se eu agi da forma como o fiz, foi por não ser capaz de tratar o assunto de outra forma. Há uma grave incoerência entre o que é dito (operamos na legalidade) e o que é praticado (decisões tomadas por organismos ocultos, sem envolvimento das bases). Que queriam que eu fizesse? Que me resignasse com o silêncio e aceitasse a minha insignificância em propor reivindicações?

Na ocasião da crítica realizada sobre minha conduta houve ainda um erro de agregar na mesma oportunidade a devolutiva sobre o teor da matéria que eu havia escrito. Julgaram meu texto idealista e anticientífico. Quem julgou, isso eu não tive o direito de saber. A devolutiva me foi passada anonimamente por minha coordenação. Seria eu idealista ou seria o avaliador secreto um passivo oportunista?

Me permitam demonstrar fraqueza por um instante. Essa devolutiva me destruiu um pouco mais. Eu estava há meses trabalhando nesse tema, de modo que ele tomou a importância de missão para mim, incentivada por minha coordenação que me exigia uma proposta mais estruturada para levar o tema para a apreciação do organismo superior. E depois de todo o tempo de pesquisa e estudo tudo que eu tive o direito de receber foram 2 rótulos negativos provindos de um avaliador anônimo. Isso me fez ter, em 2024, meu segundo colapso, sem haver ainda me recuperado do primeiro.

Os sentimentos de inutilidade e incapacidade retornaram, e eu chorei a maior parte dos dias naquela semana. Permito-lhes que me chamem de fraca ou de doente, ou até mesmo de imatura. O que rejeito, porém, é que me digam que eu estava errada. A mágoa era o sentimento possível naquele momento adoecido, mas hoje, entendendo que eu tinha a razão, posso transformar esse sentimento em raiva útil.

A conduta autodestrutiva que eu desenvolvi nesses 4 meses de depressão profunda, felizmente está ficando para trás.

Reorganize-se da forma que der

Mesmo acreditando que eu estava correta eu não tenho força ainda para voltar naquele ambiente e lutar para que o certo seja aplicado. Por meu movimento de autopreservação fui chamada de sectarista. Isso consolida a crença de que eu não sou bem-vinda naquele espaço. Não há acolhimento de minha condição de saúde, nem tampouco de minha neurodivergência. Podem me chamar de idealista, mas eu continuarei defendendo que ninguém é obrigado a estar em um espaço em que se é excluído. Se o preço para isso é não poder atuar na construção da revolução brasileira, então esse é um custo que eu terei que arcar. A gente faz o que dá, e pra mim não dá pra seguir recuperando minha saúde e minha capacidade de trabalhar naquele coletivo.

Acredito hoje no que disseram algumes amigues: que a organização necessita merecer a nossa participação tanto quanto nós necessitamos merecer estar na organização. Eu sou uma pessoa neurodivergente, com necessidade de suporte aumentada por conta do adoecimento que o trabalho me proporcionou e do qual tenho ainda sequelas. Se uma organização de massas tal qual a FE não é capaz de me acolher, ela então não me representa. Arrisco que não representa nenhuma pessoa com deficiência ou que se encontre incapacitada para o trabalho de forma temporária ou definitiva.

Felizmente eu fui acolhida em outra organização, de ideologia anarquista. Não que eu tenha passado a rejeitar o marxismo e os aportes de validez universal de Lênin sobre como realizar a revolução. Acontece que neste momento eu necessito mais do que contribuir para a construção do socialismo científico. Preciso voltar a me julgar útil e competente. O coletivo anarquista me oferece uma forma de me integrar no trabalho coletivo dentro das minhas possibilidades, e isso favorece a minha cura.

O anarquismo é o meio-termo que permite que eu siga trabalhando coletivamente, de forma não alienada, no presente. E vendo a enorme quantidade de pessoas neurodivergentes que estão em coletivos anarquistas, vejo que não sou só eu que, apesar de rejeitar a ideologia individualista, não se adequa para estar em um coletivo marxista-leninista. Os comunistas estão falhando conosco, e não poderemos trabalhar juntos enquanto o capacitismo não for adequadamente tratado.

Lembro que autistas verbais (comumente chamado de nível “leve”) tem 9 vezes mais chance de cometer suicídio do que pessoas neurotípicas. Prosseguir moralizando inadequações de neurodivergentes é fazer pouco caso dos problemas comportamentais e de convivência que caracterizam o quadro de TEA, bem como outras condições. Demandar a inclusão hoje é garantir que o movimento trabalhador cresça com o apoio das potencialidades de neurodivergentes, para que não tenha que, vitoriosa a revolução, condenar-nos dissidentes que devem ser exterminados.

 
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from yuribravos

Contextos

Essa é uma das melhores receitas que faço. Mal me lembro onde eu a encontrei pela primeira vez. Acho que numa versão antiga do Receitas de Minuto. Fiz umas pequenas adaptações, alterando a proporção de farinha de trigo e leite; e guardei a receita já adaptada em anotações próprias.

Porém, fazia algum tempo que não colocava esse bolo para assar. Por ser um bolo pão de mel, o ingrediente essencial e chave para ficar uma delícia é: mel.

E qualquer um que frequente um supermercado ou lojinhas à granel sabe o preço proibitivo de uma garrafa de mel.

Eu perdi meus atravessadores pessoais desse líquido viscoso e dourado: os pais de um amigo moravam no interior (Tianguá), e iam e vinham com frequência para a capital, agora se mudaram de vez e já não podem fazer o tráfico.

Até o dia que, após comentar com uma colega de trabalho sobre esse bolo, ela ficou de me trazer mel. Demorou, mas ela chegou com um pote daqueles de geléia cheinho de mel bem claro. Como gratidão, fiquei de levar o bolo para os colegas e, num domingo à tarde, tomei coragem de prepará-lo (não que seja difícil o preparo, mas às vezes só queremos ficar de barriga pra cima nos domingos à tarde).

Receita

Ingredientes

Bolo

  • 1 colher (sopa) de bicarbonato de sódio em pó
  • 3 xícaras (chá) de leite
  • 3 colheres (sopa) de manteiga
  • 3 xícaras (chá) de açúcar
  • 1 xícara (chá) de mel
  • 5 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 1 colher (sopa) de canela em pó

Ganache

  • 100gr de chocolate meio amargo derretido
  • Creme de leite

Modo de Preparo

  1. Untar a forma e pré-aquecer o forno a 200~230°C.
  2. Dissolva o bicarbonato em uma xícara de leite.
  3. Coloque na batedeira junto com todos os outros ingredientes. Sem uma ordem específica. Botar os secos primeiros talvez ajude a não voar farinha por aí.
  4. Bater até ficar homogêneo.
  5. Levar ao forno por cerca de 30 a 40 minutos. Fazer o teste do palito para ter certeza.
  6. Deixe o bolo esfriar para desenformar.
  7. Para ganache, derreta o chocolate em banho maria ou pondo de 30 em 30 segundos no microondas. Adicione creme de leite ao chocolate derretido. Isso sempre faço no olho, perdoe. Evite por muito creme de leite para não ficar sem gosto. Depois basta espalhar sobre o bolo.

Fotos dessa belezura

Foto da massa homogênea dentro da batedeira. O gancho da batedeira está levantado e os pingos da massa mostram que fica mais líquida mesmo

Observem a consistência da massa, é mais líquida mesmo.

Foto de dois bolos pão de mel ainda na forma sobre um tampo de madeira. A cor deles é morena clara.

Fui obrigado a fazer dois bolos: um pro trabalho e um para casa, pois minha esposa não admitiu dividir. Essa foto foi batida logo após eles sairem do forno. Observem que o bolo fica moreninho mesmo, mas ainda claro.

Foto de dois bolos pão de mel ainda na forma. Eles estão mais escuros do que no momento que saíram do forno.

Essa foto foi batida no dia seguinte, antes de desenformar. Vejam que eles ficam mais morenos. Lembrem disso pra evitar queimar.

Foto do bolo partido, a massa interior tem cor marrom clara, parece bastante aerada. O bolo está coberto com ganache de chocolate.

Me diga se essa foto não entregou tudo?

Perguntas perguntadas com frequência

Qual o tamanho da forma para essas quantidades? Uma forma grande de bolo furado no meio, normalmente com 24cm de diâmetro. Normalmente eu faço metade dessa receita para uma forma de 20cm de diâmetro.

Pode trocar a manteiga por margarina? Pode, não tem grandes alterações de sabor ou textura…

Ao desenformar, mesmo untando bem, uma parte ficou grudada na forma. O que fazer? Fica mesmo, desconfio que é fruto da alteração de proporções de leite e farinha que fiz. A massa fica menos densa quando crua, em compensação fica bem molhadinha quando pronto. Aceitei que há males que vem para o bem! Também é uma ótima desculpa para cobrir o bolo de ganache.

Pode fazer a ganache com chocolate ao leite? Aposto 10 real contigo que com chocolate meio amargo o equilíbrio do bolo e da cobertura vai ser melhor, mas seja livre.

Precisa mesmo cobrir com ganache? Não, ninguém é obrigado a ser feliz!

Pode trocar mel de abelha por mel karo? Não! Saia imediatamente daqui!

 
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from vereda

Tags: #Militância

Nota da autora, 19 de setembro de 2024: Este texto foi escrito em 12 de maio de 2024 e enviado para a redação paulista de um certo jornal comunista. O texto até então não foi publicado e a justificativa oficial foi que a redação estava sobrecarregada para revisá-lo e publicá-lo. Hoje, após 4 meses de espera, acho que posso afirmar que a falta de retorno sobre o texto reflete uma omissão incorreta da redação do jornal. Confiante de estar defendendo a linha correta, e tendo as possibilidades de debate interno no partido sido negadas, torno público este texto para que seja conhecido e criticado abertamente.

Nota da autora, 24 de setembro de 2024: Faço a autocrítica e considero incorreta minha atitude de expor o nome da organização e do jornal. O objetivo deste compartilhamento é tornar a matéria pública para debate e não em criticar o trabalho desta ou daquela organização.

O compartilhamento deste texto é permitido segundo a licença CC BY-ND 4.0.


Nos dias 10 e 11 de maio de 2024 ocorreu em São Paulo mais uma edição da Cryptorave, o maior evento aberto e gratuito de criptografia e segurança do mundo, que reuniu, em 24 horas, diversas atividades sobre segurança, hacking, privacidade e liberdade na rede. Inspirada em uma ação global para disseminar e democratizar o conhecimento e conceitos básicos de criptografia e software livre, o evento teve início em 2014, como reação à divulgação de informações que confirmaram a ação de governos e corporações para manter a população mundial sob vigilância e monitoramento constantes.

O público presente revelou à quem mais interessa debater segurança digital e tecnopolítica. Mulheres, pessoas negras, neurodivergentes e trans marcaram forte presença tanto na plateia quanto no palco, contrariando o estereótipo de um setor dominado por homens cis héteros e brancos. Um lembrete de quais são os grupos dentro da classe trabalhadora que mais sofrem opressão e violência, inclusive nos espaços digitais.

O keynote de abertura, sob o tema “Tecnologias de IA e seu impacto nas vidas e narrativas Palestinas” reforçou o posicionamento político do evento, denunciando mais uma vez como as tecnologias digitais tem sido usadas para explorar e violentar a população.

Mesmo onde não há uma guerra declarada, governos ainda perseguem sua própria população tratando-a como um inimigo interno. O Movimento Passe Livre (MPL) propôs uma roda de conversa sobre segurança e autodefesa trazendo informações sobre como movimentos sociais estão sendo criminalizados, e que isso é um projeto de São Paulo, do Brasil e de toda a América Latina.

Relatos de vazamentos de informações internas dos movimentos e coação de menores de idade para fazer a identificação de pessoas em fotos publicadas em mídias sociais confirmaram que a preocupação com segurança não se trata de paranoia. Trata-se de uma postura urgente para garantir os direitos constitucionais à livre manifestação de pensamento, a plena liberdade de associação para fins lícitos, a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, a inviolabilidade das comunicações – salvo com permissão judicial – e o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais.

No keynote de encerramento “Tecnoautoritarismo: Spyware, OSINT e outras tecnologias de vigilância na América Latina” foram denunciadas as táticas de censura e espionagem dos governos contra nossos companheiros no Equador, Colômbia e México. Fica evidente, a partir de contratos de governos na América Latina para uso de ferramentas de espionagem israelense, que o avanço da máquina de guerra sobre a Palestina não é apenas uma ameaça imediata para o povo palestino, mas também uma ameaça para nós na América Latina, ao passo que o desenvolvimento de software para a guerra israelense são financiados com dinheiro público de governos latino-americanos e usados, sem a devida previsão legal, contra o próprio povo.

As novas tecnologias informacionais são a tônica de nosso velho e admirável mundo novo. Um mundo onde tudo muda a velocidades crescentes, mas apenas para intensificar e diversificar as velhas formas de produção e extração de mais-valia. É preciso rever o colonialismo não como um fenômeno do passado, mas como um processo que perdura e se atualiza com novas expressões, e que hoje se apresenta em formato digital. A questão da tecnologia não é uma questão isolada, mas parte da materialidade do nosso tempo, se inserindo nas relações sociais como um elemento constitutivo da sociedade.

Não é mais tolerável que militantes ignorem o debate sobre segurança da informação. Dados e metadados estão sendo coletados em enorme escala e armazenados indefinidamente em grandes centros de processamento de dados. Essas informações são agregadas com uso de técnicas de inteligência artificial (IA) para reduzir o trabalho vivo necessário, permitindo aumentar a quantidade de informações processadas por governos e corporações em uma escala sem precedentes. Técnicas estas que avançam ano após ano, e que poderão ser aplicadas retroativamente em dados coletados no presente para o perfilamento de militantes e ações contrarrevolucionárias.

O esforço e o custo necessários para adotar e manter soluções alternativas, independentes de plataformas controladas pelos monopólios de tecnologia, devem ser priorizados para a segurança de nossos militantes e a continuidade de nossa luta, ao passo que atrapalham a coleta de informações e, por consequência, as práticas de espionagem adotadas pelos governos contra a sua própria população.

É preciso lutar pelo fim da exploração, mas também pelo fim da expropriação de dados. O atual estágio de desenvolvimento tecnológico abriu novos caminhos para a exploração do trabalho, mas também as formas de lutar e se organizar. O caminho contudo permanece familiar: tomada de consciência e muita organização popular!

 
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from yuribravos

Quem me segue lá pelo @yuribravos@bolha.one viu que tomei dois dias para testar o Sharkey na capivarinha.club.

Pensei algumas várias vezes antes de fazer isso, já que o Mastodon já é um microblog e eu definitivamente não preciso de dois. Acontece que tenho uma sanha por testar coisa nova.

Experimentações & repetório

Jogo RPG desde os 17 anos. Comecei com um sistema, que joguei durante muitos anos. Aí conheci outro. Depois mais um. Depois mais outro. E hoje conheço e joguei algumas dezenas de sistemas de RPG. Me divirto muito de conhecer novas mecânicas e de vê-las em jogo, mesmo que seja só uma vez. Acho que foi jogando vários RPGs que eu entendi a importância de ter repertório.

Inclusive se você quiser ver algumas sugestões de jogos de RPG dadas por mim, fiz metade da hashtag #rpgaday2024. A vida me deu rasteiras na metade, mas fica essa contribuição.
Ceci n'est pas une citation

Sim, e o que tem a ver?

Tem a ver que essa minha incapacidade de ficar sem testar um negocinho novo me mordeu outra vez e decidi pular dentro da capivarinha para descobrir um fork do Misskey. Cabe dizer que o Arlon, companheiro aqui de blog.ayom.media no Ideias de Chirico já havia alardeado aos quatro ventos como o Mastodon era limitado e não tinha várias coisas legais que outras plataformas como o Akkoma e o Misskey tinham.

Ele e o Kariboka — que mantém a harpia.red e esse ótimo post com links para várias instâncias br do fediverso — vez ou outra mostram como o Akkoma é legal.

Acontece que a estética mais crua das instâncias de Akkoma que vi não me atraía muito. E sim, para mim, ser bonito é essencial. Não à toa uso o Phanpy como cliente web do Mastodon.

Até que apareceu uma instância brasileira no Sharkey. E olha só a cara dessa desgraçada:

Não me contive e decidi testar!

Maximalismo?

A primeira impressão é que o Sharkey é um mundo. Tem muitas timelines, mais que o Mastodon. Você pode reagir com qualquer emoji que a instância tiver personalizado. Tem um sistema de desbloqueio de conquistas. A página web tem widgets na lateral que são personalizáveis. Tem umas paradas como antenas e canais que eu ainda estou tentando entender melhor como funcionam (e que constinuem timelines também). E as más línguas ainda dizem que tem joguinhos dentro da parada (esses não achei e é provável que não os procure).

Então, ao primeiro momento, fiquei confuso. Passei um dia apenas olhando todas as abas, todas as configurações possíveis (e são muitas). E decidi levar adiante o teste.

Nomadismo digital

Aqui foi que me dei conta que o fediverso permite um nomadismo digital diferente do home office pelo mundo a fora: é possível trocar de redes sociais. Sem o sofrimento de começar do zero.

Baixei a lista de pessoas que seguia no Mastodon e importei o arquivo no Sharkey. Alguns momentos depois, já seguia mais de cem pessoas. Minha timeline no Sharkey estava tão povoada quanto a do Mastodon. Foi quando entendi que o verdadeiro valor da rede social são as pessoas que você segue. Pude, então, fazer um teste perfeitamente equiparado entre as plataformas, já que não estava tolhido por não ter conteúdo para ver.

Isso foi incrível.

Personalização

Algo que gosto muito é poder personalizar as coisas. Adoro isso no RPG. Adoro isso em qualquer coisa que use. O Sharkey parece ter sido feito por pessoas que adoram isso também.

Mexer nas configurações dele é um mundo sem fim. Tem muita coisa que você pode habilitar e desabilitar. Inclusive configurar sua reação padrão, já que não existe uma única reação possível. Deixei minha reação padrão uma estrela, como é originalmente o favorito no Mastodon.

Isso se estende também para o aplicativo Aria. Dá para personalizar a cor de fundo de alguns tipos de nota. Aproveitei isso para chupinhar o Phanpy e pintar de laranja as DMs. O aplicativo inclusive permite ajustar quais botões aparecem para interagir com as notas. Botei o botão de tradução, para facilitar minha vida, e o de reação automática, já que boa parte das pessoas que sigo são do Mastodon (e ao que me consta, parece que eles só recebem favoritos se usar a reação padrão).

É possível, inclusive, ajustar o tamanho desses botões. Aumentei o tamanho dos meus pois, muitas vezes, estava abrindo a nota invés de interagir com ela.

Poder fazer tudo isso é incrível!

E acho que esse é o grande ponto forte do Sharkey: poder fazer muita coisa, inclusive não usar todas as coisas que ele oferece. Lá tem suporte nativo para markdown e, embora eu ame botar um negritozinho aqui outro ali, devo usar só em 10% das postagens que faço. Ainda assim, é melhor poder fazer do que não poder fazer.

Mastodon ou Sharkey?

E agora que descobrimos que o Mastodon não é a plataforma mais legal de microblogging do fediverso? É ótimo haver opções. Poder levar as pessoas que você segue de um lugar para outro é o que garante que você pode, de fato mudar de instância a qualquer momento.

Não fiz ainda nenhuma migração. Talvez nem faça, pois aparentemente não precisarei. Da mesma forma que apenas desativei minha conta no Pixelfed, talvez deixe uma conta congelada num dos dois lugares.

Se você está no fediverso, mas somente no Mastodon, talvez valha a pena conhecer outras plataformas. Pra mim valeu demais!

 
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from vereda

Tags: #Militância

Não basta organizar a classe trabalhadora, é preciso educá-la para gerir a produção de maneira científica.

De pouco adianta desenvolver hábitos e competências em cima de ferramentas e serviços que fortalecem a subordinação ao imperialismo. Patentes, marcas, direito autoral e todo o conjunto de leis de “propriedade intelectual”¹ são usados para nos aprisionar enquanto usuários de “soluções”² sob forte controle do grande capital internacional.

Obviamente rejeitamos a ideia de usar a língua estrangeira como principal ferramenta de comunicação dentro de nossas organizações e conhecemos a importância de uma moeda própria para a soberania nacional. Deveria ser óbvio então que precisamos resistir a usar ferramentas de processamento da informação que não possam ser rapidamente substituídas por alternativas sob controle popular.

O uso de produtos de software privativo (Windows, MS Office, Google Drive, AWS EC2, Zoom, etc) em detrimento de produtos de software livres (Linux-libre, Libreoffice, Nextcloud, KVM/QEMU, Jitsi, etc) precisa ser encarado como subordinação à superpotências estrangeiras e negação da nossa soberania. Mais do que o simples consumo de bens manufaturados no exterior, em detrimento da produção nacional: Esses produtos possuem características exclusivas que os tornam impossíveis de serem replicados, nos colocando em uma relação colonialista cada vez mais grave a medida que permitimos que eles tornem-se monopólios de nossos hábitos computacionais.

O nosso esforço organizativo precisa substituir os processos artesanais e manuais por alternativas cada vez mais informatizadas, mas sempre usando ferramentas que jamais nos aprisionem em um colonialismo digital tais como os softwares privativos.

Desconfie de qualquer revolucionário que adote uma postura rebaixada e se recuse a reconhecer a importância dos meios computacionais para a sociedade do século XXI, resignadamente aceitando usar, bem como promover, softwares não livres.

Esses são alguns coletivos e organizações com caráter de classe que estão hoje pavimentando o caminho para o controle popular:

¹ Por que a propriedade intelectual é um termo enganoso ² O que nos é ofertado como solução para nossos problemas é na verdade solução para os problemas do imperialismo em como nos vigiar e controlar

 
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from yuribravos

Meu toot fixado no mastodon é:

Me chamo Yuri Bravos. Aqui costumo falar de coisas que estou pensando (no gerúndio mesmo), muitas vezes sem conclusões apresentadas.

Costumo pensar em temas como urbanismo, sustentabilidade, aprendizado de línguas, rpg de mesa, espiritualidade católica, filosofia, animes, ser no mundo, etc.

E meio que é o que eu pretendo fazer aqui, mas de modo mais estendido. Pensei em começar aqui com espiritualidade católica, mas os receios me impediram e em outro post posso vir a falar sobre isso.

Então hoje será sobre coisas que estou usando a algum tempo e sobre como estou avaliando esse uso. A curadoria de experiências não seguirá nenhum critério lógico além de: estou usando e estou pensando no uso.

Então, vamos!


Tênis barefoot

Primeiro, urge um termo em português pra esses sapatos com desenho mais largo, coerentes com o formato natural de um pé humano. 🦶

Comprei um modelo descontinuado da Feet of Tomorrow cujo nome era Yette. Estava em promoção num preço pagável, embora não barato (menos de 350 reais).

Foto publicitária do modelo de tênis Yette da Feet of Tomorrow. Mostra um pé do tênis de lado. O tênis é branco com detalhes frontais e laterais cinza, o cadarço é preto. O aspecto do tecido do tênis é de um tecido bastante respirável pois tem inúmeros pequenos furos.

Eu trabalhei muito tempo como autônomo, então tinha muita liberdade de usar sandálias ou chinelas. Quando passei a trabalhar num emprego CLT tradicional, precisei usar sapatos. E terminava o dia com o pé incomodado, sabe? Não era dor, mas passava o dia apertado e era desagradável. Decidi apostar.

Estou usando ele há cerca de dois meses, quase todos os dias. Demorou um pouco mais que o esperado porque segui a medida de tamanho do site, que dizia que eu deveria usar um 39, e acabou que o sapato ficou pequeno. Tive de fazer a troca para o número padrão que sempre usei que é 40.

O modelo é bem ajustado ao tornozelo pois ele tem um elástico com desenho bem compatível ao volume dessa articulação. O espaço para o pé é bem maior mesmo e os dedos não ficam absolutamente em nada apertados.

Sendo que o modelo tem umas partes mais rígidas nas laterais: a parte cinza que dá para ver nas fotos. Como estou usando sem meias, já que elas também comprimem o pé, quase fico com um calo no pé esquerdo por conta disso. Algumas semanas de uso e já não é um problema.

O sapato é bastante flexível e tem um solado fino, o que permite sentir seu pé atuando como um pé enquanto você caminha: os dedos se mexem, fazem força e se flexionam, de maneira muito similar a se estivesse descalço.

O uso durante oito horas ainda gera algum leve desconforto. Contudo, com sapatos normais eu precisava massagear o pé para aliviar, com este, dez minutinhos depois de tirar já está tudo certo.

O cadarço deixa um pouco a desejar, é fininho e desamarra com bastante facilidade.

Objetivo da aquisição foi atingido ✅: próximos tênis devo comprar no mesmo estilo e provável na mesma marca.


Pulseira Inteligente

Foi um misto de curiosidade de oportunidade. Sabia que essas pulseiras servem mais como sensores de sinais vitais. Não era muito minha praia, mas estava curioso e tive a oportunidade de comprar por 150 reais. Comprei a Mi Band 8 da Xiaomi.

Foto publicitária da Mi Band 8. A tela da pulseira tem um formato retangular, mas as pontas terminam em semicírculos. A pulseira em si é de borracha preta fosca. A tela pode ser trocada, a da foto mostra a tela padrão de fábrica com horário, data, temperatura e porcentagem de bateria e contadores no formato de pista de atletismo em três cores.

Por algum tempo usei todas as funções de medição ativa e depois de alguns meses as métricas estavam bastante consistentes. Pude atestar que dormia bem, meu nível de estresse é surpreendetemente baixo — o dia de maior transtorno pontou 46, normalmente fica 36 — e meu coração bate os esperados 80 bpm.

Desativei quase todas as medições e agora me divirto mudando as telas da pulseira de acordo com a roupa que estou usando, respeitando minha paleta pessoal. Queria comprar as pulseiras alternativas, porém nunca achei para vender que chegasse no Brasil.

As notificações na pulseira, meio que cortei quase todas. Tem hora que você surta, mas é ótima para o alarme de bater o ponto.

Objetivo da aquisição foi... atingido? ✅: não tinha muito objetivo, pra falar a verdade. Era um teste. Não sei se compraria outra igual. Talvez um relógio inteligente sim, mas uma pulseira, não. Dito isso, usarei essa até se acabar.


Zen to Done

Pra não falar só de objetos adquiridos, vamos falar de hábitos. Conheci esse método de organização pessoal pelo site do @augustocc@social.br-linux.org o Efetividade.

Li, achei interessante, vi alguns outros posts relacionados e comecei a tentar fazer. As primeiras tentativas foram meio xoxas e capengas, mas o conceito das Grandes Rochas é bem bacana e lhe ajuda a resolver as coisas que você achou importante pro dia.

Depois eu localizei um pdf traduzido descrevendo melhor o método e que está disponível aqui e captei mais alguns detalhes importantes. Foi aí a coisa começou a andar melhor.

Ainda estou adquirindo o hábito de capturar tudo e de começar o dia fazendo as Grandes Rochas, mas algumas coisas já começaram a andar. Por exemplo, eu finalmente comprei uma pedra de amolar (a famosa mó) para manter as facas da cozinha lá de casa em condições de uso. E vi vídeos sobre amolação de facas e fiz a primeira tentativa. Eu tava querendo fazer isso tem meses.

Então se deu efeito nisso, imagina nas coisas importantes de verdade.

Ainda planejo ler o livro completo.

O processo de aquisição de hábitos vai bem, obrigado.


Big Linux

Com o tempo a gente fica velho e sem paciência pras coisas. Inclusive para ficar crackeando programas e sistemas. O Windows do meu computador além de me humilhar dizendo que não estava ativo, ainda me impedia de trocar meu papel de parede.

Então eu tive que tomar medidas drásticas.

Tela de boot do Big Linux. No centro o logo da distribuição é circundado de um círculo azul formado por 3 arcos de círculo que giram dando uma sensação de carregamento. O logo é a palavra big escrita em azul. O fundo da tela de boot é preto.

Larguei o Windows queimando pontes com quaisquer programas que usava enquanto atuava como arquiteto e pulei para um Linux. O plano era manter um dual boot para ter a segurança de um sistema que conhecia e testar o novo. Mas o grub nunca apareceu, não importasse o número de feitiçarias que me ensinassem no fediverso ou que eu procurasse nos fóruns de dúvidas. Então decidi deixar só o Big Linux.

Escolhi essa distribuição porque é brasileira e sou meio bairrista, sim. E em algum lugar do site também dizia que o Big Linux era a melhor coisa desde o pão com manteiga. Isso me pegou demais!

Estou fazendo um uso bem de usuário médio, tendo que me adaptar com alguns programas com interface nova, mas nada que seja do outro mundo. Algumas coisas não funcionaram de primeira, como usar o celular de câmera no Discord. Mas segui a dica de instalar o programa via Flatpack e funcionou. Estava usando antes um webapp já configurado da distro.

No geral, segue tudo muito bem e tudo muito bom. Tô aprendendo várias coisas. Acho que não volto pro Windows, a não ser obrigado.


Vamos parar por aqui para não ficar muito longo. O objetivo desse post era simplesmente começar. Pois começamos.

 
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from Resenha Cibernética

A ficção valor

Em Marx aprendemos que no Capitalismo impera a lei do valor.

O valor significa que há uma equivalência geral de tudo com tudo. Mas o valor não é o valor de troca, no qual a troca “zeraria” o valor (valor de soma zero), mas sim o valor de “acumulação”, de soma não nula.

Isso significa que o valor não é uma equivalência geral, mas que se sustenta sobre uma “inequivalência”. Esta não equivalência corresponde, segundo Marx, ao trabalho não pago do trabalhador. Assim, o trabalhador recebe um salário pela sua “força de trabalho”, que é um valor de troca, mas seu trabalho não pago é um excedente além da troca, que fica com o empregador.

Marx diz que o capitalismo só ocorre porque há um “trabalhador livre”, que aceita não só vender (alienar) sua força de trabalho por um salário, mas trabalhar um pouco mais sem ser remunerado. Este valor não pago é o valor propriamente dito, i.e., o mais-valor, porque sempre acumula. Acumula precisamente sob a forma de capital.

Mas Marx também diz, n'O Capital, que antes da acumulação do trabalho não pago, houve uma acumulação primitiva que gerou o “capital inicial”, que correspondeu aos “cercamentos” (enclosures) das terras. Com isso, aquilo que era abundante, as terras comunais (the commons), tornou-se raro. Ora, o capital só viceja onde há raridade.

Os cercamentos liberaram os trabalhares da terra para serem “livres” na cidade. Livres para serem explorados e trabalharem o trabalho não pago.

Outro grande pensador chamado Karl, o Polanyi, disse que havia três mercadorias “fictícias”: a terra, o trabalho e o dinheiro. Fictícias porque são mercadorias que não podem ser trocadas, a não ser por meio de ficções chamadas falácias.

Assim, é lícito pensar, baseado nos dois Karls, que o capital é gerado ficcionalmete nesta ordem: primeiro, ocorreram os cerceamentos; esses criaram os trabalhadores livres e o trabalho não pago; e o trabalho não pago gerou o capital financeiro, que pode ser vendido como se fosse uma mercadoria.

Podemos assim citar três modos de produção do capital e não apenas um como queria Marx: a expropriação da terra (da natureza) pelos cerceamentos, a exploração dos trabalhadores pelo trabalho não pago (nos cercados fabris da produção) e a especulação do dinheiro, nos cercadinhos financeiros das “bolsas” e “bancos”.

O que é fictício no capital é precisamente esse ato de cercar, de impor um limite onde antes não havia. Mas essas cercas são antes de tudo simbólicas, pois o que garante a propriedade de um bem comum a não ser um acordo simbólico imposto ou não pela força bruta?

Alguém, em algum momento, disse: “isto aqui é meu”. E deste ato de fala nasceu a ficção do valor. E daí a expropriação, a exploração e a especulação foram apenas a consequência denominada de Capital, o “valor que se autovaloriza”.

 
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