Cultivo

É um dia como outro qualquer na minha humilde fazenda, exceto pela tempestade que ao longe se aproxima. É noite e posso sentir minha exaustão após um longo dia de trabalho. O vento lá fora está muito forte e posso perceber que no horizonte relampeja.Vou fechar as portas e janelas e aguardar a tempestade passar. Um ensurdecedor estrondo me surpreende, aparentemente, um raio caiu bem no meu quintal. Agora a escuridão me cerca e eu me encolho na cama rezando para esse caos passar… E sem perceber, eu apago, um novo dia nasceu. Hora de avaliar os danos, parecem bem menores do que o esperado. Um ou outro galho caído e no meio do quintal, uma marca, deve ser o ponto onde o raio atingiu. Por mais que tenha deixado um largo círculo de grama queimada no chão, estranhamente, não gerou um incêndio e a parte mais estranha de tudo isso é que bem no centro desse círculo uma pequena planta nasceu. Sim, eu sei que é de se estranhar esse fenômeno, mas acima de tudo a misteriosa planta me fascinou, decido cultivá-la. Uma semana se passou, a planta parece com muita saúde, todo dia tenho ido regá-la e ela já se estruturou em um caule de uns 20 cm. Mas algo está me incomodando, parece que as minhas atividades rotineiras que tanto me acostumei estão me cansando mais do que o normal. É algo sutil, porém notável. Faz um mês que eu ritualmente cuido da planta, agora ela se ergueu como uma vistosa pequena árvore de não mais que 1 m. Meu cansaço aumentou significativamente a ponto que passei a deixar algumas tarefas de lado, mas não consigo deixar de cuidar dela. A planta está se tornando uma prioridade na minha vida. Três meses… Meus animais definham, minhas plantações morrem, minha casa está um caos… E eu… Estou sem energia. Mas a planta está bem! Isso é o que importa! Minha mente não funciona mais... Cansaço e fome me tomam… Mas, tenho que terminar de cultivar a planta. Eu abro a porta para o quintal enquanto sinto minha vida se esvair... Eu a vejo, ela deve ter… 1,60… Minha altura… He he… Agora que parei para pensar, essa é uma planta estranha… Da raiz saem dois caules que mais se parecem pernas e estes se juntam num… Tronco? Do tronco saem dois galhos… São braços? E então, no topo, o que parece ser uma cabeça. Me aproximo… A lentos passos me arrasto para aquela que tenho dedicado meus últimos meses… Ela não só parece ter um corpo humano… Altura, proporções e até mesmo as feições do estranho rosto de madeira e folhagens se pareciam… Comigo? A planta começa a mexer… Ela move suas pernas... Erguendo-as da terra... E se cortando de suas raízes… Minha visão está embaçando… Sinto minha vida se afastando de mim… Respiração pesada… Minhas pernas não mais me sustentam e caio de joelhos no chão… Eu olho para cima enquanto ela se aproxima… Ela se inclina na minha direção… Agora não parece mais de madeira nem mesmo é verde… Uma perfeita cópia minha… E então ela suspira nos meus ouvidos as últimas palavras que irei ouvir na minha existência… — Agradeço pela minha vida.