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from Ideias de Chirico


Imagem de vários pixels soltos formando duas mãos escrevendo sobre uma máquina de escrever

Imagem: Serenity Strull/BBC/Getty Images.

Reportagens dos últimos dois anos:

Os “telefones burros” voltaram? (vídeo da CNBC, março de 2023).

Porque as câmeras digitais estão retornando (vídeo da TODAY, fevereiro de 2023).

As fitas cassete voltaram, o dilema é encontrar um toca-fitas. (matéria da New York Times, outubro de 2024)

Por que as máquinas de escrever estão tendo um renascimento na era digital (vídeo da PBS NewsHour, outubro de 2024).

Graças a entusiastas do minidisc, é possível adicionar músicas do seu smartphone em um tocador de minidisc (matéria da The Verge, outubro de 2024).

Por que tem se falado tão pouco desse súbito renascimento de várias tecnologias de comunicação antigas? De um lado uma indústria gastando rios de dinheiro na promoção das realidades virtual e aumentada, na streaminguização e na bluetoothização das coisas, e, é claro, na inteligência artificial; de outro, a nova geração reciclando aqui e ali várias tecnologias analógicas, como a máquina de escrever, ou tecnologias eletrônicas “ultrapassadas”, como a câmera digital ou mesmo como os blogues, que participam do movimento da chamada Web Revival, da qual estas Ideias de Chirico fazem parte. Tolice pensar que isso é moda de gente saudosista e ludista...

Essa não parece ser simplesmente uma onda sazonal e gratuita, concentrada em estética. Não é também como a moda hipster dos anos 2010, entusiasta sobretudo do vinil e da máquina de escrever ― eventualmente da fita cassete, como em 2016. Essa nova onda revivalista investe em muito mais tecnologias. Não é organizada em um movimento, mas dela pode se apontar um recorte geracional, nacional e de classe ― gente do norte global, de classe média, com idades em torno de 25 a 35 anos.

Há uma ímpar, crescente e geral insatisfação pelas tecnologias digitais ― seja por conta da bostificação, seja por conta do lock in, seja por conta da economia de atenção. O que esse pequeno movimento (mesmo que nichado) diz a respeito do Vale do Silício? O que posso dizer é que, definitivamente, o analógico é o novo hi-tech. E o offline é o novo online. Não é por outra razão que o filme “Dias Perfeitos” fez sucesso com o público abaixo de 30 anos... Eis aí todo um mundo ocultado pela digitalização compulsiva da vida. “O futuro do futuro é o presente”, já dizia o midiólogo Marshall McLuhan ― o que implica em dizer que o futuro do presente é o passado. Enquanto uma nova tecnologia for ofertada, não como ferramenta, mas imposta como meio de exclusão social (tal como o carro), o analógico seguirá como vanguarda.

#cultura #tecnologia #notas


 
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from Ideias de Chirico


Três desenhos feitos por crianças, que estão sobrepostas sobre uma mesa de madeira gasta.

Sempre foi um sonho meu ser desenhado. Por outra pessoa. Sim, porque no período mesmo em que aprendia a desenhar, eu próprio fiz autorretratos. Mas, para mim, ter a própria imagem feita por outros era um grande sinal de admiração. Não é (tanto) este o caso quando o desenhado e o desenhista são a mesma pessoa...

Claro, autorretratar é um ótimo exercício de autoanálise. Mil autorretratos, no entanto, podem não elevar a autoestima de quem desenha. Talvez fosse essa pequena ponta de carinho que eu gostaria de ter!

Mas aí o destino me fez professor escolar de Língua Portuguesa e agora com frequência sou modelo de meus alunos, que volta e meia me presenteiam com um desenho. Nos últimos seis meses de aula, recebi pelo menos três desenhozinhos ― além de recadinhos. Como forma de agradecimento a eles, nesta publicação analisarei suas artes. Para preservar suas identidades, os nomes abaixo são fictícios.

Toca o Vivaldi, DJ!

“Arlon, 04.04.24”, arte de Paula Benevides.

Desenho feito por uma criança. É o retrato de um homem jovem de barba e cabelos curtos. Está feito em estilo mangá.

Nem todos os autorretratos de Rembrandt juntos atingiriam a profundeza que esta obra de Paula Benevides, estudante de 14 anos, atinge. Em papel pólen 70 g/m², com a gramatura alta o suficiente para suportar uma boa camada de grafite, “Arlon, 04.04.24” é uma obra prima da arte discente. O modelo, autodeclarado branco, foi retratado com traços indígenas ― olhos puxados, cabelos lisos, lábios finos ―, um fenótipo muito presente na população do Ceará. Isso implicaria em uma dívida geracional aos povos originários ― “todos somos descendentes de indígenas”?

A figura retratada mostra uma aparente apatia frente ao que está diante de si (sua presença demarcada pela penumbra sobre os olhos); isso, no entanto, só disfarçaria sua segurança, similar ao de um atleta olímpico diante de uma prova decisiva ― o modelo é posto de frente ao observador provavelmente para provocar este efeito.

Nesta obra enfatizaram-se os ombros, denotando estabilidade. Para a artista, o modelo é uma figura de autoridade, mas que flutua ― não se vê seus pés. Apenas um Velásquez pintando a família real espanhola seria capaz de tamanho feito.

É possível notar a influência das iluminuras japonesas, bem como a arte contemporânea do mangá, o que torna a obra de Paula Benevides um ícone da arte pop brasileira...

“04/06/24 Arlon”, de Eddy Leite.

Desenho feito por uma criança. É o retrato de uma figura masculina de óculos, camiseta e calças. Está em estilo de cartum.

Traço näif, humor, simplicidade e objetividade: essas são características da primorosa arte de Eddy Leite, estudante de 11 anos, que acaba de despontar em sua promissora carreira através de “04/04/24 Arlon”.

Se por um lado Paula (acima) e Patty (abaixo) preferiram expor closes do modelo, Eddy, detalhista desenhista, preferiu “montar todo o mosaico”, e trabalhou com astúcia movido por seu cubista instinto de mostrar o objeto observado em sua plenitude, buscando não esconder um traço sequer do expectador.

Todas as partes do corpo da figura têm a mesma medida, vejam vocês! Em vez de um corpo de proporção de oito cabeças ― como manda a Academia de Belas-Artes ―, Eddy, conscientemente disruptivo e em um claro protesto contra essa instituição, preferiu desenhá-lo na proporção de três cabeças. Ainda assim, sua obra é muito mais precisa do que o mais acurado afresco de Leonardo da Vinci. Neste momento ― tenho certeza ―, as mais aclamadas salas de aula de desenho acadêmico em Paris devem estar confusas, necessitando de rever toda a sua teoria de anatomia...

Ao contrário das demais artes expostas nesta publicação, Eddy fez o modelo não como alguém que pretende algum confronto, mas como alguém que, diante das intempéries da vida, não se mostra abalado. Notem que, enquanto todo o corpo do modelo possui rugas e marcas de movimento, seu rosto segue liso como bumbum de bebê.

“Prof. Arlon. 'Eu sei que não ficou nada a ver, mas to tentando'”, arte de Patty Ferreira.

Desenho feito por uma criança de uma cabeça de cabelos curtos e óculos. A orelha esquerda tem um pequeno buraco no lóbulo.

Esta obra foi realizada por Patty, uma estudante de 11 anos, e é um grafite sobre papel ofício 65 g/m², entregue em um caprichado envelope artesanal de material igual ao da obra.

Patty, na incrível altura de seus 11 anos, já demonstra um excepcional domínio de sua ferramenta artística: o lápis hexagonal de ponta de grafite, da fabricante Bic. A figura central desta obra foi retratada com a dor honesta de um combatente da Segunda Guerra Mundial ou da Guerra do Vietnã ― é possível até mesmo notar pequenas gotas de lágrima em volta dos olhos (ou seriam talvez reflexos de luz ao fim do túnel desta vida que é ser professor?).

A boca de dentes plenamente cerrados denotam um momento de aflição (algo que o deixa como “um goleiro na hora do gol”, como dizia Belchior) ― alguma incompreensão por parte da turma, alguma desobediência, falta de cooperação por parte do estafe escolar? Patty nos convida a terminar de compor este quadro que, com toda a certeza, já ocupa o rol dos cânones ocidentais...

Seu traço é frenético, mas mostra domínio das proporções do rosto humano. Sua direta menção à arte grega do escorço é por demais notável, máxime por sua multidirecionalidade. Além disso, Patty é claramente uma adepta da escola de expressionismo alemão, pois que carrega o frenesi de um Wols, o desespero de um Egon Schiele e a melancolia de uma Käthe Kollwitz.

Os signos que Patty nos fornece são feitos aos mínimos traços: duas linhas formam a orelha, outras duas delineiam o nariz, dois círculos fazem os óculos etc., uma atitude típica de quem entendeu as maiores lições da Escola Bauhaus de design ― “Menos é mais”.

Claramente uma obra que fará demasiado burburinho nos principais museus de arte europeus, como o Centro Pompidou, e que, por conta de sua irreverência deveras singular, circulará bastante pelas principais colunas de arte dos Estados Unidos, como o da New Yorker.


#cotidiano

 
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from vereda

O compartilhamento deste texto é permitido segundo a licença CC BY-ND 4.0.

Tags: #Militância #Pessoal #Neurodivergência

Introdução

Faz 4 meses que abandonei a Força Esperança. Nesse período passei por um mergulho em profunda depressão, mas hoje, estando em clara tendência de deixar os dias assustadores para trás, posso reavaliar a minha relação com a FE.

Não sabe o que é a Força Esperança? Leia meu texto Desfiliação.

Esse texto é um resgate de coisas que já falei antes, mas com um olhar mais analítico permitido pela maior tranquilidade emocional, afim de processar o que ocorreu comigo. Na última seção vou além do retorno ao passado e traço caminhos para o futuro. Tenha em mente que esse ainda assim é um relato subjetivo, que não leva em consideração as versões das diferentes pessoas envolvidas.

Começo

Começando do começo, eu vinha tratando um quadro depressivo-ansioso desde o começo de 2021, fruto da pressão no trabalho, mas com remédio e terapia estava estável. Mesmo com esse suporte, eu adoeci pra valer em 2023. O diagnóstico oficial foi de transtorno misto ansioso e depressivo (F41.2) combinado com esgotamento (Z73.0). Na época, o esgotamento parecia se sobressair. Eu estava exausta para tudo. Pensei que nunca mais fosse conseguir voltar a trabalhar com o rendimento que eu antes tinha. E, passado mais de 1 ano deste colapso, apesar de grande melhora, posso dizer que ainda não recuperei a energia e estabilidade que eu tinha antes.

Necessário pontuar que a piora do meu quadro coincidiu com o momento em que passei a ser contabilizada para a cota PcD no trabalho, e discriminada como tal, porém sem obter adaptações razoáveis nos termos da lei. Esse tratamento diferenciado, combinado com o pessimismo sobre a estagnação de carreira de uma PcD, minou a minha autoestima.

Foi também por volta desse momento que conhecidos me falaram de um tal de comunismo na Internet. Achei que seria algo tosco, mas fui aos poucos sendo convencida pela dialética materialista e a revolta foi me radicalizando. Me convenci que eu não teria chance de lutar sozinha e que precisaria me organizar. Me aproximei da FE, comecei a estudar e a participar das atividades.

Desde o começo esclareci a minha situação: eu estava adoecida pelo esgotamento e em recuperação. Minha coordenação compreendia que por causa disso eu não poderia participar de todas as atividades, mas isso não impediu que eu fosse estimulada a me envolver cada vez mais: mais participação em brigadas de venda de jornal, mais cotas individuais de jornal para vender, mais participação em atos e atividades de finanças, mais estudo e apresentação. Minha coordenação me disse que era o papel dela me estimular a fazer cada vez mais. Afinal, os comunistas praticam a profissionalização do trabalho de militância e nisso a FE era exemplar, mas havia um óbvio problema: Eu não estava em plenas condições de trabalhar.

Eu errei em ceder a esse estimulo. É parte do quadro clínico de esgotamento o histórico de alto envolvimento com o trabalho. E eu estava novamente cometendo o mesmo erro que me fez adoecer por causa de meu ofício. E minha coordenação não me ajudou a encontrar formas de aliviar o autojulgamento de “estar fazendo menos do que eu deveria”, muito pelo contrário, já que nos fazia ler materiais que explicitavam a importância moral do comprometimento e da disciplina. Ao invés de me parabenizar pelo que eu havia conseguido, eu recebia o estímulo a fazer ainda mais. Isto era contraprodutivo para meu momento de recuperação.

Afastamento

Em determinado momento eu desenvolvi hiperfoco em certa pauta compatível com o programa da FE. Observei que haviam organizações brigando por mudanças políticas com relação ao uso de dados e da tecnologia da informação. Como boa militante, passei a tentar convencer os companheiros de que precisaríamos debater essa pauta como organização também, assim como já era feito com a questão sindical, estudantil e feminina. Era, e ainda é, minha crença que a questão da tecnologia da informação necessita ser trabalhada de maneira organizada, sem aventureirismos.

Claramente eu estava propondo uma pauta que era maior do que a FE. As tentativas de trabalhar esse tema eram negligenciadas com argumentos fracos como “A FE é uma organização dentro da lei e não há motivos de tratar esse tema”. E por não verem o tema como relevante, o assunto foi silenciado: Comportamento típico de quadros antigos que insistem em interpretar novos fenômenos da forma que lhes é familiar. A pauta que estava em pleno debate público internacional foi menosprezada internamente. Não tive o espaço para desenvolvê-la e apresentá-la a mais pessoas além do meu núcleo imediato.

Aqui entra em ação a obstinação natural de uma pessoa autista. Quanto mais me ignoravam e me davam justificativas fracas, mais forte ficava meu interesse, mais eu me aprofundava no assunto, mais eu pesquisava, para poder convencer as pessoas de que esse assunto era (é!) importante. Eu fui fisgada pelo hiperfoco, e isso tem seu lado bom e seu lado ruim.

Eu pedi ajuda de minha coordenação para me ajudar a manter a calma, mas a ajuda que ela podia oferecer era insuficiente. Acabei agindo desesperadamente e quebrando a disciplina numa tentativa de chamar a atenção. A autocrítica é óbvia, pois eu já sabia que estava agindo de forma incorreta mesmo antes de me advertirem.

Contudo, continuo sem saber como poderia ter agido melhor. Sendo a pauta suprimida silenciosamente e estando desconfiada de omissão da minha coordenação, o que eu poderia fazer? A hierarquia não permitia que eu levasse a pauta para amplo debate, sob argumentos que não convenciam logicamente e sequer indicavam ter havido decisão coletiva anterior. Sem democracia não se pode exigir disciplina. Eu rejeito a acusação de individualismo e de desvio pequeno-burguês de minha parte. Se eu agi da forma como o fiz, foi por não ser capaz de tratar o assunto de outra forma. Há uma grave incoerência entre o que é dito (operamos na legalidade) e o que é praticado (decisões tomadas por organismos ocultos, sem envolvimento das bases). Que queriam que eu fizesse? Que me resignasse com o silêncio e aceitasse a minha insignificância em propor reivindicações?

Na ocasião da crítica realizada sobre minha conduta houve ainda um erro de agregar na mesma oportunidade a devolutiva sobre o teor da matéria que eu havia escrito. Julgaram meu texto idealista e anticientífico. Quem julgou, isso eu não tive o direito de saber. A devolutiva me foi passada anonimamente por minha coordenação. Seria eu idealista ou seria o avaliador secreto um passivo oportunista?

Me permitam demonstrar fraqueza por um instante. Essa devolutiva me destruiu um pouco mais. Eu estava há meses trabalhando nesse tema, de modo que ele tomou a importância de missão para mim, incentivada por minha coordenação que me exigia uma proposta mais estruturada para levar o tema para a apreciação do organismo superior. E depois de todo o tempo de pesquisa e estudo tudo que eu tive o direito de receber foram 2 rótulos negativos provindos de um avaliador anônimo. Isso me fez ter, em 2024, meu segundo colapso, sem haver ainda me recuperado do primeiro.

Os sentimentos de inutilidade e incapacidade retornaram, e eu chorei a maior parte dos dias naquela semana. Permito-lhes que me chamem de fraca ou de doente, ou até mesmo de imatura. O que rejeito, porém, é que me digam que eu estava errada. A mágoa era o sentimento possível naquele momento adoecido, mas hoje, entendendo que eu tinha a razão, posso transformar esse sentimento em raiva útil.

A conduta autodestrutiva que eu desenvolvi nesses 4 meses de depressão profunda, felizmente está ficando para trás.

Reorganize-se da forma que der

Mesmo acreditando que eu estava correta eu não tenho força ainda para voltar naquele ambiente e lutar para que o certo seja aplicado. Por meu movimento de autopreservação fui chamada de sectarista. Isso consolida a crença de que eu não sou bem-vinda naquele espaço. Não há acolhimento de minha condição de saúde, nem tampouco de minha neurodivergência. Podem me chamar de idealista, mas eu continuarei defendendo que ninguém é obrigado a estar em um espaço em que se é excluído. Se o preço para isso é não poder atuar na construção da revolução brasileira, então esse é um custo que eu terei que arcar. A gente faz o que dá, e pra mim não dá pra seguir recuperando minha saúde e minha capacidade de trabalhar naquele coletivo.

Acredito hoje no que disseram algumes amigues: que a organização necessita merecer a nossa participação tanto quanto nós necessitamos merecer estar na organização. Eu sou uma pessoa neurodivergente, com necessidade de suporte aumentada por conta do adoecimento que o trabalho me proporcionou e do qual tenho ainda sequelas. Se uma organização de massas tal qual a FE não é capaz de me acolher, ela então não me representa. Arrisco que não representa nenhuma pessoa com deficiência ou que se encontre incapacitada para o trabalho de forma temporária ou definitiva.

Felizmente eu fui acolhida em outra organização, de ideologia anarquista. Não que eu tenha passado a rejeitar o marxismo e os aportes de validez universal de Lênin sobre como realizar a revolução. Acontece que neste momento eu necessito mais do que contribuir para a construção do socialismo científico. Preciso voltar a me julgar útil e competente. O coletivo anarquista me oferece uma forma de me integrar no trabalho coletivo dentro das minhas possibilidades, e isso favorece a minha cura.

O anarquismo é o meio-termo que permite que eu siga trabalhando coletivamente, de forma não alienada, no presente. E vendo a enorme quantidade de pessoas neurodivergentes que estão em coletivos anarquistas, vejo que não sou só eu que, apesar de rejeitar a ideologia individualista, não se adequa para estar em um coletivo marxista-leninista. Os comunistas estão falhando conosco, e não poderemos trabalhar juntos enquanto o capacitismo não for adequadamente tratado.

Lembro que autistas verbais (comumente chamado de nível “leve”) tem 9 vezes mais chance de cometer suicídio do que pessoas neurotípicas. Prosseguir moralizando inadequações de neurodivergentes é fazer pouco caso dos problemas comportamentais e de convivência que caracterizam o quadro de TEA, bem como outras condições. Demandar a inclusão hoje é garantir que o movimento trabalhador cresça com o apoio das potencialidades de neurodivergentes, para que não tenha que, vitoriosa a revolução, condenar-nos dissidentes que devem ser exterminados.

 
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Foto da silhueta de alguns postes de luz contra a luz do final da tarde. No céu, degradês em lilás, amarelo e azul escuro.

Entardecer em Fortaleza. Foto minha.

Como ando meio sem ideia do que publicar, eis um compilado de postagens do meu microblogue Akkoma, conversas de e-mail, ivesdropes e outros fragmentos de pensamentos que não renderiam uma publicação, mas que valem a pena compartilhar, além de eventuais recomendações.

Sobre o estado das Ideias de Chirico

Com frequência tenho um desejo de escrever ― sem saber o quê. É mais uma vontade de escrever por escrever ― como se assovia em vez de cantar. Uma pena que não dá para fazer “estudos” com escrita, como se faz com pintura por exemplo, ou “improvisos melódicos” como com um instrumento musical. Às vezes o que quero é escrever só pelo prazer de linguagem.

Ter um blogue tem me ensinado que a visibilidade vem através do tempo, e não através de um só espaço, e que às vezes ela não apresenta sinais ― como curtidas e compartilhamentos. Blogar tem me educado a não desanimar quando as coisas publicadas não causam “ruído” de primeira.

O que interessa é você deixar pontes visíveis para a sua produção. Sejam hashtags ou hiperlinkagens, se há pontes, as pessoas vão circular por ali.

Veículo para vídeos curtos

Assistir a vídeos curtos pelo computador é dez vezes melhor do que assistir pelo telefone. Assim dá para dividir a tela em duas, deixar o feed em um lado, e outra aba em outro, onde se pode pesquisar alguma recomendação ou abrir algum perfil enquanto o vídeo roda. Acho também que assim me sinto menos preso. Recomendo bastante.

National rock

Nomes de bandas brasileiras de pop-rock ― meio desprezadas ― escritos em inglês soam como qualquer outra banda estadunidense que o povo paga pau por aí:

New Cloth;

Initial Capital;

Assassins Mamonas;

Urban Legion;

Hawaii's Engineers;

Red Baron;

The Success' Mudguards

Twenty Two CPM.

Please, come to Brazil ― and make money!

Estava ouvindo o pessoal do podcast mimimídias ― aqui o corte do episódio ― falando sobre a nova música do Offspring, Come to Brazil, e Clara Matheus falou uma coisa que faz sentido.

Uma vez que o público brasileiro engaja em publicações de gringos falando sobre o Brasil (essa coisa toda de Brazil mentioned), agora os artistas internacionais, caso estejam precisando de uma grana, na dúvida metem o nosso país em uma nova produção.

Essa música do Offspring por exemplo parece ser puro suco de turismo barato, coisa de quem só ouviu falar do Rio de Janeiro, de mulher bonita, caipirinha, churrasco, samba etc.

Ouvir o mundo falar do Brasil é legal, mas tem de se ver se é um movimento genuíno, de alguém que conhece o país, e se, afinal, não é uma forma de nos transformar em massa de manobra para descolar um cachê...

E-mail para o Professor Pasquale

Religiosa e diariamente acompanho “A Nossa Língua de Todo Dia”, programa da Rádio CBN que ouço via podcast, apresentado pelo lendário Professor Pasquale. Neste programa, Pasquale responde, de segunda à sexta, a dúvidas de gramática. Como forma de ilustrar as regras gramaticais, ele roda ótimas músicas ― ou, como ele chama, “auxílios luxuosos”.

Em meados de setembro enviei uma mensagem na qual, além de pedir a solução de uma dúvida, também comentei sobre outro boletim seu, cujo título era “É correto aplicar o plural em frases que citam o número zero?” ― aqui o episódio. Aí, Pasquale faz uma confusão sobre a ironia em construções, muito comum entre a juventude, do tipo “Tal notícia surpreendeu um total de zero pessoas”, aplicando a mais rançosa das gramáticas normativas.

No começo deste mês de outubro, Pasquale respondeu minha dúvida. Entretanto, por uma questão de economia de tempo, não leu o meu comentário a respeito de sua má interpretação sobre construções com “zero”. Como forma de pôr a discussão para frente, aqui vai o meu e-mail na íntegra:

Boa tarde, professor Pasquale e equipe CBN! Quem escreve outra vez Arlon de Serra Grande, aquele que enviou a pergunta do programa do dia 7 de junho, sobre o uso do verbo ser em “Deus é contigo”. Antes de fazer minha nova pergunta, gostaria de dar meus dois centavos sobre a dúvida/discussão levantada no programa do dia 29 de agosto, a respeito de expressões com “zero”.

Expressões do tipo “O evento recebeu zero pessoas”, “Estou estagiando com a remuneração de zero centavos” etc., são muito comuns entre a geração de cristal (também conhecida por geração Z) e pode entrar no rol das expressões figurativas, logo, não deve ser lida de modo literal.

Me explico: quem o diz provavelmente tem plena consciência de que as palavras seguidas de zero não são flexionadas no plural. Ainda assim essa pessoa o faz para enfatizar a ineficácia ou a frustração de um evento esperado. Tanto é que em geral, quando as pessoas falam essa expressão, sublinham-na com o tom da voz: “Eu estou ganhando duro e ganhando ZERO centavos por isso, acredita?”.

Há ainda outra expressão neste formato: “A nossa festa recebeu um total de zero pessoas”. Ora, quando se fala de “total”, fala-se de soma, mas a expectativa de que há alguma quantia somável é quebrada pelo “zero”, que é ainda enfatizada pelo plural cinicamente flexionado. Então, dito isso, defendo que essa construção de suposto desvio é consciente, fruto de sarcasmo.

À parte disso, gostaria de lhe perguntar sobre outra coisa. Tenho percebido que há uma série de palavras em LP terminadas em “bundo”. Sua significação é quase que intuitiva para o falante. Por exemplo:“furibundo” é aquele que está com fúria; “meditabundo” é aquele que medita, ou que está pensativo; “moribundo” é aquele que está por morrer. Não nos esqueçamos ainda do conhecidíssimo “vagabundo”, aquele que vaga, que é associado ao ócio.

Mas, afinal, de onde vem e o que significa esse “bundo” grudado nessas palavras? Por que há variações dessas palavras mais simplificadas, como “furioso” e “meditativo”? Faço essa pergunta porque sei que você é uma figura muito afeita à filologia (ciência também conhecida como linguística histórica ― cuidado para não pronunciarem “linguiça”, hein!), e dúvidas filológicas são difíceis de serem sanadas através da internet.

É tudo. Se não for pedir demais, gostaria de que mandassem um abraço a Yuri Bravos, grande companheiro da internet fediversal, também daqui de Fortaleza, e, assim como eu, ouvinte assíduo da Nossa Língua de Todo Dia.

Abraços!

Readymades de ônibus

Frases roubadas de pichações, conversas, telas de telefone ou outras quase-interjeições que ouvi/li enquanto tomava condução coletiva.

“Vivo isso, não disso”.

“Prefiro me vestir igual um mendigo do que ficar igual um mendigo depois”.

“Não tenha medo de peidar enquanto mija ― não há chuva sem trovão. Mas cuidado com o deslizamento de terra...”.

“Não estou dizendo nada, só estou falando”.

#cotidiano #notas


 
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Imagem de uma teia de aranha molhada por orvalho

Alguns dos linques mais interessantes que encontrei durante o mês de setembro, com alguma reflexão que eles me trouxeram... Para quem não fala o idioma inglês, infelizmente eles não servirão de muita coisa.

Rewind Museum, uma “Wikipédia” de eletrônicos domésticos antigos ― de rádio à fita cassete, dos primeiros microcomputadores ao gramofone, de televisões analógicas aos videogames. É legal para mostrar para o Enzo que não tem ideia de como as coisas eram antes do esmartefone.

Lista de fotografias consideradas as mais importantes. Autoexplicativo. De vez em quando me pego vendo esta lista e acho uma das coisas mais fascinantes da Wiki.

Sítio web de “Dias Perfeitos”, filme teuto-japonês sobre o qual já escrevi nestas Ideias de Chirico. Sua página inicial promete mostrar “353 dias da vida de Hirayama não mostradas no filme”. Não é para tanto. Há, porém, outras informações relevantes: créditos completos, trilha sonora, entrevistas, dados sobre o estafe e referências de livros.

A visita acima de tudo vale a pena por ser uma obra prima de sítio. Muito caprichado mesmo. Esse é um tipo de material que satisfaz um pouco aquela necessidade de “extras” que vinham junto nos discos DVD, como cortes não incluídos no filme e faixa com comentários do diretor. Quem dera se essa moda de desenhar sítios web para filmes pegasse!

Como ter um banho mais sustentável? Essa é a pergunta levantada pelo ambientalista Kris de Decker em seu novo texto no blogue Low-Tech Magazine, “Communal Luxury: The Public Bathhouse”. Para pensar sobre o impacto ambiental desse costume ordinário e universal, Kris faz um levantamento histórico dos hábitos banhistas na Europa e na Ásia ― completamente em casas de banho público ― e qual a diferença de uso de recursos naturais dessa cultura em comparação com o atual e ubíquo costume do “banho privado”.

Recomendo a leitura. Kris escreve muito bem e é muito interessante ver como o hábito de tomar banho mudou com o tempo, e como, se quisermos ter uma vida sustentável, teremos de mudar drasticamente nossa cultura. Durante a leitura do texto também fiquei pensando na hipótese de nós brasileiros nos sentirmos extremamente vexados ao estarmos nus na frente de outras pessoas pelo fato de não termos tido uma cultura de banho público.

Isto é mais uma dica do que uma recomendação de sítio web. Sempre estranhei o fato de que no Instagram pelo computador você só consegue visualizar as postagens recomendadas pelo algoritmo. No aplicativo móvel pelo menos há uma opçãozinha escondida para ver a lista de favoritos (para ver publicações de perfis selecionados pelo usuário) e a lista de seguindo (para ver as últimas publicações em ordem cronológica). Na versão mobile nenhum desses feeds mostra propagandas e são menos viciantes, já que eles “têm fim”, digamos.

Durante esta semana, no entanto, eu soube que há, sim, um modo de acompanhar postagens recentes e a lista de favoritos pela versão desktop do Instagram, só que os desenvolvedores, claro, a fim de limitar os recursos dessa versão e forçar o usuário ao retorno da versão mobile, simplesmente ocultaram a droga dos botões. Bigtech sendo Bigtech, como sempre.

Na versão desktop, para você entrar na lista de favoritos, tem de pôr <?variant=favorites> depois de , e para entrar na lista das últimas postagens, tem de pôr <?variant=following> depois do mesmo domínio. Ficando assim:

https://www.instagram.com/?variant=following

https://www.instagram.com/?variant=favorites

Praticamente uma easter egg. Cada dia que passa mais eu desejo o fim do predomínio desta que é talvez a rede social mais mal feita da web 2.0. Deixo avisado que a experiência do Instagram por computador é muito mais positiva, já que é menos viciante (por ter mais espaço de tela), e por a gente ter a possibilidade de não ver propagandas. Neste último caso, recomendo a instalação da extensão Ublock, disponível para Mozilla Firefox e Google Chrome.

Que tal zapear por alguns canais do Youtube como se fosse por uma tevê analógica? Essa é a proposta de YTCH. Como a própria sigla acusa (Youtube Channel), a ideia do sítio é mostrar, à moda televisual, uma reprodução ininterrupta e aleatória de canais interessantes do Youtube.

Há separação por categorias como “ciência”, “documentário”, “comida” etc. Independente de qual seja a categoria, os vídeos sempre surpreendem pela qualidade. Sua edição em geral tem aquele quê de canais educativos que é bem relaxante… A sacada é genial e espero que inspire projetos para outras plataformas que necessitam urgentemente de uma curadoria humana de conteúdo, como o TikTok.

#cultura #tecnologia #notas #surfandoweb


 
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from Ideias de Chirico


Reflexões sobre a escuridão na cultura ocidental

Imagem de sombras de folhas de árvores no chão.

Imagem: quadro final de “Dias Perfeitos” (2023). Por que nos negamos às sombras?

Quando chego em casa pela noite, não acendo as luzes. Não. Limito-me a cruzar a sala tateando com o olhar. Tem sido assim desde que notei uma sensibilidade à luz ― tenho astigmatismo. Quando a percebi, tratei logo de evitar luzes fortes. Tudo quanto faço, se possível, faço sem luz: me agrada tomar banho com a luz que vem de fora do banheiro, faço as refeições noturnas em penumbra, às vezes até me preparo no escuro para sair...

Mas isso não é tudo ― passei também a ver beleza na escuridão. É bela a vida escura! E o estranho é o quanto se demora para o perceber. Vivendo a maior parte do tempo com uma forte luz sobre nós, não nos atemos ao fato de que as sombras também possuem seu encanto, que não podem ser vistas somente como um mero realçador da luz, mas também como elemento que circunscreve sua própria beleza.

Além do fato de eu ter sentido sensibilidade à luz, um ensaio me foi essencial para compreender o belo possível da penumbra: “Em louvor da sombra”, de Junichiro Tanizaki. Em um Japão tradicional do século XX ameaçado pela luz elétrica, intelectuais como Tanizaki buscaram registrar a apreciação pelas sombras ― ou, se possível, resgatá-las.

“Em louvor da sombra” é a descrição mais genuína possível do contraste entre as sombras dos espaços internos tradicionais do Japão e a luz ofuscante da era moderna, vinda da Europa ― luz que, ironicamente, marca muito mais o Japão contemporâneo do que a sombra.

Se por um lado esse ensaio de Tanizaki a respeito do impacto da luz elétrica sobre a arquitetura, a moda e a culinária japoneses soa conservador, por outro nos faz refletir o quanto de sensibilidade é perdida a cada nova invenção que envolva os sentidos mais imediatos do ser humano ― como a visão noturna ante a luz artificial.

Mais de uma vez, tentei mostrar neste blogue a minha afeição pelas coisas de baixa definição, como quando escrevi sobre o longa-metragem “Dias Perfeitos”. Falo de “baixa definição” em termos de Marshall McLuhan, falo das coisas que não estão dadas, que nos pedem para “ligar os pontinhos”, que requerem a nossa participação para a sua plenitude.

Poemas, fotografias em baixa definição, memes shitpost, música lo-fi, quadrinhos, vídeo-chamadas, palavras polissêmicas, al-guém que... FAla... meiotipoassinsabe?: esses são signos que não nos vêm “empacotados” ― participamos de sua “linha de montagem”.

As sombras possibilitam essa experiência de baixa definição. Um momento em penumbra é uma fuga desta nossa vida de consumo que ansia pela alta definição: a iluminação intensa dos supermercados, as superfícies lisas de ambientes públicos, o signo fácil das propagandas. Afinal: baixa definição = baixo estímulo; logo, alta definição = alto estímulo.

As coisas, em estado penumbral, podem ser quaisquer outras. Uma cadeira com roupas por dobrar pode ser uma poltrona; um cisco no assoalho do banheiro pode ser uma barata ou um naco de sabonete; todos os talheres na gaveta da cozinha, quando escura, são iguaizinhos. Nas sombras, devemos estar atentos, devemos nos preparar para tudo...

A sombra também é atraente em sua qualidade simbólica. Textos “sombreados”, obtusos, são aqueles que não se definem de cara, que convidam o leitor a uma coautoria, que ampliam o branco de sua página esperando ser terminada. É o texto de um Mikhail Bakhtin, deste já citado Marshall McLuhan, de um Machado de Assis, da maioria dos poetas, sobretudo os modernos.

A sensualidade mesmo está diretamente relacionada às sombras. Pensemos nas danças de strip tease ― são feitas à contraluz. Esses mesmos movimentos, se feitos em sol-a-pino, seriam de um humor vulgar e, em lugar de provocar, trariam uma irresistível vergonha alheia.

Esquisito é a campanha milenar dentro da cultura ocidental (ou ocidentalizada) contra as sombras. Nos filmes de terror, os piores monstros saem da escuridão; as rodas de contação de histórias macabras são feitas em torno de uma fogueira ou de um foco de luz, que faz os ouvintes evitarem olhar o seu entorno sombreado; as áreas de sombras nas casas são aquelas mais temidas pelas crianças, cujos pais, por nada neste mundo, não as ensinam a se sentir confortáveis no escuro.

Certo, há uma razão envolvendo a segurança das crianças que faz com que esses mesmos pais ensinem-nas a evitar os espaços assombrados. No entanto, esse medo é levado à vida adulta em forma de aversão. Saídos da infância, nunca mais nos arriscamos a ver as sombras com a atenção que damos à luz.

É compreensível que o homem rupestre, em um ambiente imprevisível, evitasse o escuro. Este era o lugar dos animais selvagens ou pençonhentos, era o lugar do mistério natural. Mas por que o homem moderno, com casa, energia e alimentação armazenada ainda segue com essa oposição ao escuro?

Essa aversão ao escuro é também encontrada no campo da linguagem figurativa. Quando passamos por um momento de dificuldade, dizemos que “procuramos ver a luz no fim do túnel”. Uma pessoa instruída é uma pessoa “esclarescida”. Qual a expressão afirmativa análoga à “Com certeza”? “É claro”! Quando temos dúvida sobre algo, buscamos alguém para “nos esclarescer”. A que está relacionado o Deus cristão? À “luz eterna”...

Não defendo que se evite toda a tecnologia eletrônica que nos ilumina e nos circunda. Não. Creio que devemos emular em nossas vidas o equilíbrio de uma floresta ensolarada. É impossível não se encantar com os feixes de luz que atravessam suas folhas. As sombras destacam a poeira iluminada pela luz solar. O sol não nos é tão quente em uma sombra arborizada, e é nessa mesma sombra que se desenha o movimento das árvores... Isso é komorebi!

“Komorebi” (木漏れ日) é a palavra japonesa para designar a dança entre a luz e as sombras, criada pelas folhas das árvores balançadas ao vento ― isso só existe uma vez, no momento em que é percebida. Apreciar tanto as sombras quanto as luzes nos educa também a viver o aqui-agora sem a perturbação constante do ali-depois. É na apreciação da impermanência, acredito, que reside a felicidade.

#cultura #tecnologia


 
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from yuribravos

Contextos

Essa é uma das melhores receitas que faço. Mal me lembro onde eu a encontrei pela primeira vez. Acho que numa versão antiga do Receitas de Minuto. Fiz umas pequenas adaptações, alterando a proporção de farinha de trigo e leite; e guardei a receita já adaptada em anotações próprias.

Porém, fazia algum tempo que não colocava esse bolo para assar. Por ser um bolo pão de mel, o ingrediente essencial e chave para ficar uma delícia é: mel.

E qualquer um que frequente um supermercado ou lojinhas à granel sabe o preço proibitivo de uma garrafa de mel.

Eu perdi meus atravessadores pessoais desse líquido viscoso e dourado: os pais de um amigo moravam no interior (Tianguá), e iam e vinham com frequência para a capital, agora se mudaram de vez e já não podem fazer o tráfico.

Até o dia que, após comentar com uma colega de trabalho sobre esse bolo, ela ficou de me trazer mel. Demorou, mas ela chegou com um pote daqueles de geléia cheinho de mel bem claro. Como gratidão, fiquei de levar o bolo para os colegas e, num domingo à tarde, tomei coragem de prepará-lo (não que seja difícil o preparo, mas às vezes só queremos ficar de barriga pra cima nos domingos à tarde).

Receita

Ingredientes

Bolo

  • 1 colher (sopa) de bicarbonato de sódio em pó
  • 3 xícaras (chá) de leite
  • 3 colheres (sopa) de manteiga
  • 3 xícaras (chá) de açúcar
  • 1 xícara (chá) de mel
  • 5 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 1 colher (sopa) de canela em pó

Ganache

  • 100gr de chocolate meio amargo derretido
  • Creme de leite

Modo de Preparo

  1. Untar a forma e pré-aquecer o forno a 200~230°C.
  2. Dissolva o bicarbonato em uma xícara de leite.
  3. Coloque na batedeira junto com todos os outros ingredientes. Sem uma ordem específica. Botar os secos primeiros talvez ajude a não voar farinha por aí.
  4. Bater até ficar homogêneo.
  5. Levar ao forno por cerca de 30 a 40 minutos. Fazer o teste do palito para ter certeza.
  6. Deixe o bolo esfriar para desenformar.
  7. Para ganache, derreta o chocolate em banho maria ou pondo de 30 em 30 segundos no microondas. Adicione creme de leite ao chocolate derretido. Isso sempre faço no olho, perdoe. Evite por muito creme de leite para não ficar sem gosto. Depois basta espalhar sobre o bolo.

Fotos dessa belezura

Foto da massa homogênea dentro da batedeira. O gancho da batedeira está levantado e os pingos da massa mostram que fica mais líquida mesmo

Observem a consistência da massa, é mais líquida mesmo.

Foto de dois bolos pão de mel ainda na forma sobre um tampo de madeira. A cor deles é morena clara.

Fui obrigado a fazer dois bolos: um pro trabalho e um para casa, pois minha esposa não admitiu dividir. Essa foto foi batida logo após eles sairem do forno. Observem que o bolo fica moreninho mesmo, mas ainda claro.

Foto de dois bolos pão de mel ainda na forma. Eles estão mais escuros do que no momento que saíram do forno.

Essa foto foi batida no dia seguinte, antes de desenformar. Vejam que eles ficam mais morenos. Lembrem disso pra evitar queimar.

Foto do bolo partido, a massa interior tem cor marrom clara, parece bastante aerada. O bolo está coberto com ganache de chocolate.

Me diga se essa foto não entregou tudo?

Perguntas perguntadas com frequência

Qual o tamanho da forma para essas quantidades? Uma forma grande de bolo furado no meio, normalmente com 24cm de diâmetro. Normalmente eu faço metade dessa receita para uma forma de 20cm de diâmetro.

Pode trocar a manteiga por margarina? Pode, não tem grandes alterações de sabor ou textura…

Ao desenformar, mesmo untando bem, uma parte ficou grudada na forma. O que fazer? Fica mesmo, desconfio que é fruto da alteração de proporções de leite e farinha que fiz. A massa fica menos densa quando crua, em compensação fica bem molhadinha quando pronto. Aceitei que há males que vem para o bem! Também é uma ótima desculpa para cobrir o bolo de ganache.

Pode fazer a ganache com chocolate ao leite? Aposto 10 real contigo que com chocolate meio amargo o equilíbrio do bolo e da cobertura vai ser melhor, mas seja livre.

Precisa mesmo cobrir com ganache? Não, ninguém é obrigado a ser feliz!

Pode trocar mel de abelha por mel karo? Não! Saia imediatamente daqui!

 
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from vereda

Tags: #Militância

Nota da autora, 19 de setembro de 2024: Este texto foi escrito em 12 de maio de 2024 e enviado para a redação paulista de um certo jornal comunista. O texto até então não foi publicado e a justificativa oficial foi que a redação estava sobrecarregada para revisá-lo e publicá-lo. Hoje, após 4 meses de espera, acho que posso afirmar que a falta de retorno sobre o texto reflete uma omissão incorreta da redação do jornal. Confiante de estar defendendo a linha correta, e tendo as possibilidades de debate interno no partido sido negadas, torno público este texto para que seja conhecido e criticado abertamente.

Nota da autora, 24 de setembro de 2024: Faço a autocrítica e considero incorreta minha atitude de expor o nome da organização e do jornal. O objetivo deste compartilhamento é tornar a matéria pública para debate e não em criticar o trabalho desta ou daquela organização.

O compartilhamento deste texto é permitido segundo a licença CC BY-ND 4.0.


Nos dias 10 e 11 de maio de 2024 ocorreu em São Paulo mais uma edição da Cryptorave, o maior evento aberto e gratuito de criptografia e segurança do mundo, que reuniu, em 24 horas, diversas atividades sobre segurança, hacking, privacidade e liberdade na rede. Inspirada em uma ação global para disseminar e democratizar o conhecimento e conceitos básicos de criptografia e software livre, o evento teve início em 2014, como reação à divulgação de informações que confirmaram a ação de governos e corporações para manter a população mundial sob vigilância e monitoramento constantes.

O público presente revelou à quem mais interessa debater segurança digital e tecnopolítica. Mulheres, pessoas negras, neurodivergentes e trans marcaram forte presença tanto na plateia quanto no palco, contrariando o estereótipo de um setor dominado por homens cis héteros e brancos. Um lembrete de quais são os grupos dentro da classe trabalhadora que mais sofrem opressão e violência, inclusive nos espaços digitais.

O keynote de abertura, sob o tema “Tecnologias de IA e seu impacto nas vidas e narrativas Palestinas” reforçou o posicionamento político do evento, denunciando mais uma vez como as tecnologias digitais tem sido usadas para explorar e violentar a população.

Mesmo onde não há uma guerra declarada, governos ainda perseguem sua própria população tratando-a como um inimigo interno. O Movimento Passe Livre (MPL) propôs uma roda de conversa sobre segurança e autodefesa trazendo informações sobre como movimentos sociais estão sendo criminalizados, e que isso é um projeto de São Paulo, do Brasil e de toda a América Latina.

Relatos de vazamentos de informações internas dos movimentos e coação de menores de idade para fazer a identificação de pessoas em fotos publicadas em mídias sociais confirmaram que a preocupação com segurança não se trata de paranoia. Trata-se de uma postura urgente para garantir os direitos constitucionais à livre manifestação de pensamento, a plena liberdade de associação para fins lícitos, a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, a inviolabilidade das comunicações – salvo com permissão judicial – e o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais.

No keynote de encerramento “Tecnoautoritarismo: Spyware, OSINT e outras tecnologias de vigilância na América Latina” foram denunciadas as táticas de censura e espionagem dos governos contra nossos companheiros no Equador, Colômbia e México. Fica evidente, a partir de contratos de governos na América Latina para uso de ferramentas de espionagem israelense, que o avanço da máquina de guerra sobre a Palestina não é apenas uma ameaça imediata para o povo palestino, mas também uma ameaça para nós na América Latina, ao passo que o desenvolvimento de software para a guerra israelense são financiados com dinheiro público de governos latino-americanos e usados, sem a devida previsão legal, contra o próprio povo.

As novas tecnologias informacionais são a tônica de nosso velho e admirável mundo novo. Um mundo onde tudo muda a velocidades crescentes, mas apenas para intensificar e diversificar as velhas formas de produção e extração de mais-valia. É preciso rever o colonialismo não como um fenômeno do passado, mas como um processo que perdura e se atualiza com novas expressões, e que hoje se apresenta em formato digital. A questão da tecnologia não é uma questão isolada, mas parte da materialidade do nosso tempo, se inserindo nas relações sociais como um elemento constitutivo da sociedade.

Não é mais tolerável que militantes ignorem o debate sobre segurança da informação. Dados e metadados estão sendo coletados em enorme escala e armazenados indefinidamente em grandes centros de processamento de dados. Essas informações são agregadas com uso de técnicas de inteligência artificial (IA) para reduzir o trabalho vivo necessário, permitindo aumentar a quantidade de informações processadas por governos e corporações em uma escala sem precedentes. Técnicas estas que avançam ano após ano, e que poderão ser aplicadas retroativamente em dados coletados no presente para o perfilamento de militantes e ações contrarrevolucionárias.

O esforço e o custo necessários para adotar e manter soluções alternativas, independentes de plataformas controladas pelos monopólios de tecnologia, devem ser priorizados para a segurança de nossos militantes e a continuidade de nossa luta, ao passo que atrapalham a coleta de informações e, por consequência, as práticas de espionagem adotadas pelos governos contra a sua própria população.

É preciso lutar pelo fim da exploração, mas também pelo fim da expropriação de dados. O atual estágio de desenvolvimento tecnológico abriu novos caminhos para a exploração do trabalho, mas também as formas de lutar e se organizar. O caminho contudo permanece familiar: tomada de consciência e muita organização popular!

 
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from Felipe Siles

Relembrando 2022

Em primeiro lugar, este não é um texto embasado em estatísticas, números, como diz o título: apenas o relato de impressões pessoais. Vou voltar um pouco no tempo, para 2022. Elon Musk comprou o Twitter, trouxe de volta perfis banidos, demitiu um monte de gente, afrouxou a moderação da plataforma (que já era problemática antes) e bradava aquele discurso fantasioso americano de “liberdade de expressão”, que na verdade é liberdade para oprimir sem lidar com as consequencias.

Naquela altura do campeonato o cenário era o seguinte: Zuckberg colocou às pressas pra rodar o seu Threads; BlueSky era uma novidade também, mas precisava de convite para entrar; e o Mastodon era a única plataforma pronta para receber os insatisfeitos com o Twitter sob nova direção (vou poupá-los da vergonha de lembrar que um considerável montante aderiu a uma rede social indiana de extrema direita só porque tinha um nome meio 5ª série).

Muitos usuários relataram dificuldade para migrar para o Mastodon: o sistema descentralizado, organizado por instâncias, foi um entrave para a maioria, fazendo com que muitos ficassem ali pelo Twitter, mesmo com os problemas da nova realidade. Foi nessa leva que eu excluí minha conta do Twitter e migrei definitivamente para o Mastodon.

O cenário atual é bem diferente: BlueSky e Threads, apesar de estarem ainda implementando alguns recursos, me parecem redes prontas para receberem os usuários do Twitter. E o Mastodon continua sendo o Mastodon, pro mal e pro bem.

Mastodon

Fiquei três anos (2019 a 2022) tentando ter alguma visibilidade no Twitter. Como sou uma pessoa que gosta de textos, tanto de escrever como ler, sempre preferi as redes textuais, criando até um certo asco pelas redes de fotos e vídeos. Fui muito popular no Facebook (na era pré-algoritmo) e com o declínio da plataforma do Zuckberg, tentei transferir essa popularidade para o Twitter, sem sucesso. Tinha vontade de divulgar minha produção acadêmica e também fazer parte do “debate público”, mas foi um fracasso. Tweets às moscas, pouca interação, quando ia no tweet de algum influenciador famoso e discordava de algum ponto não havia diálogo, e sim frases de efeito, lacração, com o amplo apoio dos seguidores daquela pessoa, ou seja, o diálogo completamente interditado, mesmo em contas de esquerda/progressistas/não-fascistas.

Encontrei no Mastodon um ambiente parecido com o Facebook pré-algoritmo que, gostem ou não, era uma rede muito boa para interagir com amigos. Desde então o Mastodon tornou-se minha rede principal, descobri o Fediverso e a possibilidade dele interagir com outras plataformas que compartilham o mesmo protocolo, descobri o ótimo Lemmy, e que posso federar blogues e sites feitos em wordpress e até mesmo ESTE BLOGUE que você está lendo, fantástico!

A impressão que eu tenho é que o Mastodon não tem a menor vocação para virar um novo Twitter, embora ainda exista gente (ao meu ver equivocadamente) com essa expectativa. A dificuldade inicial em criar uma conta foi resolvida, agora o novo usuário se não quiser entrar em uma instância é colocado por padrão na mastodon.social, facilitando o acesso para a geral (igualzinho funciona o BlueSky com a bsky.social). Mesmo assim, aquela fama de 'difícil de entrar' permanece, mesmo não sendo mais a realidade atual.

Mas eu acredito que esse não é o principal entrave para a plataforma crescer. Acho que conheço o Mastodon o suficiente para elaborar duas razões principais do por que ele nunca será massificado:

1) a falta de algoritmo faz com que um influenciador praticamente vire um usuário comum. Mesmo que ele ganhe muitos seguidores só por ser famoso, suas postagens vão concorrer igualmente com postagens de usuários comuns. Além disso, o público do Mastodon tende a ser bastante avesso a propagandas, tornando a prática da 'publi' difícil na plataforma, inclusive existem instâncias que proibem. Isso afasta os influenciadores grandes, que acabam criticando a plataforma publicamente, numa lógica de concorrência e reserva de mercado, afinal não querem perder seu público, sua fonte de renda;

2) a própria comunidade do Mastodon não parece muito empolgada com a ideia da massificação da plataforma. O usuário do Mastodon é como o morador de uma cidade pequena, que gosta de estar ali, e não tem a menor vontade de que ela vire uma metrópole. Mesmo a federação com a Threads é vista com desconfiança pela maioria e já é silenciada ou bloqueada em diversas instâncias brasileiras. O Mastodon é bem uma cidade pequena mesmo, todo mundo meio que se conhece, e as instâncias são os bairros dessa cidade, você pode não conhecer todo mundo, mas sabe que tem a galera da Ursal, da Bantu, da Ayom, da Bolha.us, da Bolha.one, etc.

Isso tem um lado positivo, que faz com que a rede seja mais humana, mais acolhedora. Mas, por outro lado, gera também um efeito condomínio, acaba que essa experiência mais agradável é acessada por poucas pessoas, por nichos, se tornando elitizada. Mas tenho a impressão que no capitalismo isso ocorre com outras coisas também: pouca gente tem acesso a uma alimentação natural, com alimentos orgânicos, por exemplo.

BlueSky

Apesar de gostar muito de estar no Mastodon, sempre me incomodei com o fato de instituições públicas não estarem lá (existem algumas ações pontuais, como a dos museus, mas é muito pouco, infelizmente). Comecei a seguir diversos veículos de imprensa e instituições através do feed RSS, mas a verdade é que não dei conta do volume de informação, e hoje minha feed RSS é bem restrita, para não sobrecarregar minhas leituras (faço doutorado e já preciso ler bastante). Isso sem falar que muitos sequer têm uma feed RSS. Tentei seguir as instituições pelos canais de whatsapp, mas também não dei conta, e o meu whatsapp que já é um inferno de notificações tornou-se ainda pior. Nisso eu sentia falta do Twitter, você encontrava ali no meio da sua timeline uma ou outra informação oficial, que poderia ser útil, mas não precisava necessariamente acompanhar tudo.

Quando percebi que estava rolando uma movimentação de bloqueio do X, antigo Twitter, resolvi dar uma chance ao BlueSky e criei uma conta. Quem me acompanha neste blogue, sabe que sou avesso à big tech, mas a possibilidade de uma rede social que se propõe a ser descentralizada, moderada e de código aberto despertou a minha curiosidade. O fato do antigo criador do Twitter, com aquele famigerado discurso de liberdade de expressão, ter se afastado do projeto também me animava. Além disso, fiquei empolgado com a possibilidade de voltar a seguir alguns conteúdos que seguia no Twitter, agora sem propagandas e sem o maldito algoritmo deles, aquele que premia a escrotidão e a treta.

Criei a conta no BlueSky e fui percebendo a migração aos poucos das contas que eu gostava de acompanhar no Twitter, alguns deles já estavam lá antes do bloqueio. Com o bloqueio, fui notando que diversos veículos de imprensa passaram a criar conta no BlueSky, que aparentemente ganhou a batalha de números contra o Threads.

Minha experiência com o BlueSky, pesando prós e contras, vem sendo positiva. A plataforma tem uma vocação para ser o “antigo Twitter”. Percebo que não há tanta interação quanto o Mastodon, já que lá existem algoritmos. Mas a ideia de personalizar a experiência algoritmica me pareceu interessante e útil, escolhendo as feeds que você quer ter na sua página inicial. Muita coisa que eu posto lá fica ao vento, como era no Twitter, mas já entendi que lá é um lugar de pouca interação mesmo para humanos comuns.

Venho utilizando a plataforma para seguir veículos de imprensa e instituições públicas de uma forma que eu consigo dar conta. Também venho interagindo com algumas pessoas que me seguiram, e voltei a interagir com pessoas que eu já interagia quando tinha conta no Twitter. Pretendo utilizar a plataforma para divulgar meu trabalho acadêmico e a hashtag #AcademicSky me parece bem útil pra isso. As postagens onde usei essa hashtag ganharam um pouco mais de tração e interação, me parece um recurso bem promissor.

Meu maior temor em relação ao BlueSky é a forma como eles vão monetizar a plataforma, que pra mim ainda é um mistério. Será que vão ter assinaturas, liberando recursos extras, mais ou menos como o Telegram? Ou será que vão apostar na monetização do conteúdo exclusivo, num caminho meio OnlyFans? Será que vão enfiar propaganda goela abaixo na timeline da galera, como o Twitter (ou pior, o Facebook)? Prefiro aguardar, mas se a última opção ocorrer, vou deletar minha conta.

Threads

Não criei Threads nem pretendo criar, a nova rede parece ter um ambiente muito parecido com o do Instagram, ambiente este que eu não tenho a menor vontade de estar presente. Mas confesso que dei algumas buscas na Threads, em perfis que não migraram para o BlueSky. A impressão que eu tenho é que gente MUITO FAMOSA está na Threads, principalmente figuras ligadas à música, cinema e esportes.

Acho compreensível, lá é o ambiente de gente famosa mesmo, e práticas como publicidade, as publis, estão naturalizadas por ali. Como uma grande 'Revista Caras' que se tornou o Instagram, faz sentido que essas pessoas muito famosas fiquem ali pela Threads mesmo, monetizando em cima de uma base de usuários que é gigantesca, que é a base de usuários do Instagram, onde mais de 90% dos brasileiros com acesso a smartphones e internet têm conta (felizmente estou nos menos de 10% que não tem, ô sorte!).

X

Não sabemos se o X vai voltar a operar no Brasil ou não. Aparentemente a rede, no contexto brasileiro, se tornou um lamaçal de facistóides usuários de VPN, um verdadeiro esgoto. Sempre fui crítico a essa postura das esquerdas de “ocupar o twitter”, não adiantava nada, e o Alexandre de Morais e o STF esfregaram isso na nossa cara. Sem um algoritmo premiando comportamentos agressivos, BlueSky e até o Threads se mostram como ambientes mais saudáveis que o X. Inclusive, acho que poucos lugares na internet são piores que o esgoto fascista que se tornou o X.

Muitas pessoas no BlueSky estão relatando que o discurso de extrema direita perdeu tração sem o X, embora eu ainda gostaria de ver essa afirmação expressa em números, estatísticas e gráficos para me convencer totalmente. Mas, pelo menos aparentemente, o bloqueio desmobilizou a máquina pública de discurso de ódio e fake news, jogando os fascistas a permanecer na plataforma com o VPN ou se esconder nos esgotos de seus grupos privados de Telegram e Whatsapp.

O ser humano é um animal de hábitos e me parece que mesmo em tão pouco tempo temos o ecossistema do X reorganizado nas duas plataformas: o crackudo de notícias foi para o BlueSky, o crackudo da Ilha de Caras foi para o Threads. O usuário do 'núcleo duro' do Twitter parece ter ido para o BlueSky, o usuário mais casual para o Threads (aí pesa a comodidade de ter o perfil associado ao Instagram). Me parece que os públicos dos influenciadores, veículos e instituições se acomodou nas duas plataformas e parecem estar gostando da experiência.

Os estudiosos do comportamento dizem que um novo hábito leva mais ou menos um mês para se estabelecer. Se o bloqueio durar menos de um mês, eu acredito que as pessoas voltam para o X, e as outras plataformas voltam a ser produtos de nicho. Agora se o bloqueio durar um mês ou mais, eu penso que pode ser interessante observar a movimentação dos influenciadores de esquerda, progressistas ou pelo menos não-fascistas:

1) Pode acontecer de voltarem em masssa para o X: vão voltar a fortalecer em número de base de usuários uma máquina de desinformação, de produção de discurso de ódio. Se isso acontecer, ficará muito nítido que a briga dessas pessoas não é por uma internet livre, saudável e humana, mas sim pela própria fama, visibilidade, monetização e sucesso. P.S.: excluo dessa conta os jornalistas, esses são proletários e vão para onde os jornais (e seus patrocinadores) determinarem que é pra ir;

2) Pode acontecer de haver uma divisão (acho o mais provável): alguns voltam para o X, outros ficam pelo Threads e BlueSky e trabalham com suas bases de seguidores nas novas plataformas. Apesar do monopólio atual do Instagram, pessoas estão em outras redes também, e me parece que a segunda rede de preferência da maioria das pessoas varia muito. Me parece que existe uma tendência, fora do Instagram, das redes serem consumidas de forma mais compartimentada e nichada mesmo, o que inclusive vejo como positivo;

3) Pode acontecer de ignorarem a volta do X (meu sonho) e tornarem a rede do Elon Musk um esgoto da extrema direita, uma cidade abandonada, uma espécie de novo 4chan ou truth.social. Caso isso aconteça, eu acredito que demos um passo em direção à civilidade.

Acho que mesmo com o final do bloqueio, a vida de Elon Musk não será fácil, a companhia perdeu muito dinheiro com essa decisão do STF brasileiro e parece que a ação já está reverberando em outros países. Então acredito que a tendência é que Elon Musk encontre cada vez mais barreiras legais em diversos países para suas loucuras. E a perda de dinheiro e patrocínios fazem com que o fantasma da falência passe a assombrá-lo. Nesse hipotético cenário, Musk terá que escolher entre ceder (o mais provável) ou sucumbir de vez, fazendo com que o X, assim como o Twitter, Koo e o Orkut, sejam parte do passado da tecnologia. Assim espero!

Meus perfis para quem tiver interesse em seguir:

Mastodon: https://ayom.media/@felipesiles BlueSky: https://bsky.app/profile/felipesiles.bsky.social

 
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from yuribravos

Quem me segue lá pelo @yuribravos@bolha.one viu que tomei dois dias para testar o Sharkey na capivarinha.club.

Pensei algumas várias vezes antes de fazer isso, já que o Mastodon já é um microblog e eu definitivamente não preciso de dois. Acontece que tenho uma sanha por testar coisa nova.

Experimentações & repetório

Jogo RPG desde os 17 anos. Comecei com um sistema, que joguei durante muitos anos. Aí conheci outro. Depois mais um. Depois mais outro. E hoje conheço e joguei algumas dezenas de sistemas de RPG. Me divirto muito de conhecer novas mecânicas e de vê-las em jogo, mesmo que seja só uma vez. Acho que foi jogando vários RPGs que eu entendi a importância de ter repertório.

Inclusive se você quiser ver algumas sugestões de jogos de RPG dadas por mim, fiz metade da hashtag #rpgaday2024. A vida me deu rasteiras na metade, mas fica essa contribuição.
Ceci n'est pas une citation

Sim, e o que tem a ver?

Tem a ver que essa minha incapacidade de ficar sem testar um negocinho novo me mordeu outra vez e decidi pular dentro da capivarinha para descobrir um fork do Misskey. Cabe dizer que o Arlon, companheiro aqui de blog.ayom.media no Ideias de Chirico já havia alardeado aos quatro ventos como o Mastodon era limitado e não tinha várias coisas legais que outras plataformas como o Akkoma e o Misskey tinham.

Ele e o Kariboka — que mantém a harpia.red e esse ótimo post com links para várias instâncias br do fediverso — vez ou outra mostram como o Akkoma é legal.

Acontece que a estética mais crua das instâncias de Akkoma que vi não me atraía muito. E sim, para mim, ser bonito é essencial. Não à toa uso o Phanpy como cliente web do Mastodon.

Até que apareceu uma instância brasileira no Sharkey. E olha só a cara dessa desgraçada:

Não me contive e decidi testar!

Maximalismo?

A primeira impressão é que o Sharkey é um mundo. Tem muitas timelines, mais que o Mastodon. Você pode reagir com qualquer emoji que a instância tiver personalizado. Tem um sistema de desbloqueio de conquistas. A página web tem widgets na lateral que são personalizáveis. Tem umas paradas como antenas e canais que eu ainda estou tentando entender melhor como funcionam (e que constinuem timelines também). E as más línguas ainda dizem que tem joguinhos dentro da parada (esses não achei e é provável que não os procure).

Então, ao primeiro momento, fiquei confuso. Passei um dia apenas olhando todas as abas, todas as configurações possíveis (e são muitas). E decidi levar adiante o teste.

Nomadismo digital

Aqui foi que me dei conta que o fediverso permite um nomadismo digital diferente do home office pelo mundo a fora: é possível trocar de redes sociais. Sem o sofrimento de começar do zero.

Baixei a lista de pessoas que seguia no Mastodon e importei o arquivo no Sharkey. Alguns momentos depois, já seguia mais de cem pessoas. Minha timeline no Sharkey estava tão povoada quanto a do Mastodon. Foi quando entendi que o verdadeiro valor da rede social são as pessoas que você segue. Pude, então, fazer um teste perfeitamente equiparado entre as plataformas, já que não estava tolhido por não ter conteúdo para ver.

Isso foi incrível.

Personalização

Algo que gosto muito é poder personalizar as coisas. Adoro isso no RPG. Adoro isso em qualquer coisa que use. O Sharkey parece ter sido feito por pessoas que adoram isso também.

Mexer nas configurações dele é um mundo sem fim. Tem muita coisa que você pode habilitar e desabilitar. Inclusive configurar sua reação padrão, já que não existe uma única reação possível. Deixei minha reação padrão uma estrela, como é originalmente o favorito no Mastodon.

Isso se estende também para o aplicativo Aria. Dá para personalizar a cor de fundo de alguns tipos de nota. Aproveitei isso para chupinhar o Phanpy e pintar de laranja as DMs. O aplicativo inclusive permite ajustar quais botões aparecem para interagir com as notas. Botei o botão de tradução, para facilitar minha vida, e o de reação automática, já que boa parte das pessoas que sigo são do Mastodon (e ao que me consta, parece que eles só recebem favoritos se usar a reação padrão).

É possível, inclusive, ajustar o tamanho desses botões. Aumentei o tamanho dos meus pois, muitas vezes, estava abrindo a nota invés de interagir com ela.

Poder fazer tudo isso é incrível!

E acho que esse é o grande ponto forte do Sharkey: poder fazer muita coisa, inclusive não usar todas as coisas que ele oferece. Lá tem suporte nativo para markdown e, embora eu ame botar um negritozinho aqui outro ali, devo usar só em 10% das postagens que faço. Ainda assim, é melhor poder fazer do que não poder fazer.

Mastodon ou Sharkey?

E agora que descobrimos que o Mastodon não é a plataforma mais legal de microblogging do fediverso? É ótimo haver opções. Poder levar as pessoas que você segue de um lugar para outro é o que garante que você pode, de fato mudar de instância a qualquer momento.

Não fiz ainda nenhuma migração. Talvez nem faça, pois aparentemente não precisarei. Da mesma forma que apenas desativei minha conta no Pixelfed, talvez deixe uma conta congelada num dos dois lugares.

Se você está no fediverso, mas somente no Mastodon, talvez valha a pena conhecer outras plataformas. Pra mim valeu demais!

 
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from vereda

Tags: #Militância

Não basta organizar a classe trabalhadora, é preciso educá-la para gerir a produção de maneira científica.

De pouco adianta desenvolver hábitos e competências em cima de ferramentas e serviços que fortalecem a subordinação ao imperialismo. Patentes, marcas, direito autoral e todo o conjunto de leis de “propriedade intelectual”¹ são usados para nos aprisionar enquanto usuários de “soluções”² sob forte controle do grande capital internacional.

Obviamente rejeitamos a ideia de usar a língua estrangeira como principal ferramenta de comunicação dentro de nossas organizações e conhecemos a importância de uma moeda própria para a soberania nacional. Deveria ser óbvio então que precisamos resistir a usar ferramentas de processamento da informação que não possam ser rapidamente substituídas por alternativas sob controle popular.

O uso de produtos de software privativo (Windows, MS Office, Google Drive, AWS EC2, Zoom, etc) em detrimento de produtos de software livres (Linux-libre, Libreoffice, Nextcloud, KVM/QEMU, Jitsi, etc) precisa ser encarado como subordinação à superpotências estrangeiras e negação da nossa soberania. Mais do que o simples consumo de bens manufaturados no exterior, em detrimento da produção nacional: Esses produtos possuem características exclusivas que os tornam impossíveis de serem replicados, nos colocando em uma relação colonialista cada vez mais grave a medida que permitimos que eles tornem-se monopólios de nossos hábitos computacionais.

O nosso esforço organizativo precisa substituir os processos artesanais e manuais por alternativas cada vez mais informatizadas, mas sempre usando ferramentas que jamais nos aprisionem em um colonialismo digital tais como os softwares privativos.

Desconfie de qualquer revolucionário que adote uma postura rebaixada e se recuse a reconhecer a importância dos meios computacionais para a sociedade do século XXI, resignadamente aceitando usar, bem como promover, softwares não livres.

Esses são alguns coletivos e organizações com caráter de classe que estão hoje pavimentando o caminho para o controle popular:

¹ Por que a propriedade intelectual é um termo enganoso ² O que nos é ofertado como solução para nossos problemas é na verdade solução para os problemas do imperialismo em como nos vigiar e controlar

 
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from yuribravos

Meu toot fixado no mastodon é:

Me chamo Yuri Bravos. Aqui costumo falar de coisas que estou pensando (no gerúndio mesmo), muitas vezes sem conclusões apresentadas.

Costumo pensar em temas como urbanismo, sustentabilidade, aprendizado de línguas, rpg de mesa, espiritualidade católica, filosofia, animes, ser no mundo, etc.

E meio que é o que eu pretendo fazer aqui, mas de modo mais estendido. Pensei em começar aqui com espiritualidade católica, mas os receios me impediram e em outro post posso vir a falar sobre isso.

Então hoje será sobre coisas que estou usando a algum tempo e sobre como estou avaliando esse uso. A curadoria de experiências não seguirá nenhum critério lógico além de: estou usando e estou pensando no uso.

Então, vamos!


Tênis barefoot

Primeiro, urge um termo em português pra esses sapatos com desenho mais largo, coerentes com o formato natural de um pé humano. 🦶

Comprei um modelo descontinuado da Feet of Tomorrow cujo nome era Yette. Estava em promoção num preço pagável, embora não barato (menos de 350 reais).

Foto publicitária do modelo de tênis Yette da Feet of Tomorrow. Mostra um pé do tênis de lado. O tênis é branco com detalhes frontais e laterais cinza, o cadarço é preto. O aspecto do tecido do tênis é de um tecido bastante respirável pois tem inúmeros pequenos furos.

Eu trabalhei muito tempo como autônomo, então tinha muita liberdade de usar sandálias ou chinelas. Quando passei a trabalhar num emprego CLT tradicional, precisei usar sapatos. E terminava o dia com o pé incomodado, sabe? Não era dor, mas passava o dia apertado e era desagradável. Decidi apostar.

Estou usando ele há cerca de dois meses, quase todos os dias. Demorou um pouco mais que o esperado porque segui a medida de tamanho do site, que dizia que eu deveria usar um 39, e acabou que o sapato ficou pequeno. Tive de fazer a troca para o número padrão que sempre usei que é 40.

O modelo é bem ajustado ao tornozelo pois ele tem um elástico com desenho bem compatível ao volume dessa articulação. O espaço para o pé é bem maior mesmo e os dedos não ficam absolutamente em nada apertados.

Sendo que o modelo tem umas partes mais rígidas nas laterais: a parte cinza que dá para ver nas fotos. Como estou usando sem meias, já que elas também comprimem o pé, quase fico com um calo no pé esquerdo por conta disso. Algumas semanas de uso e já não é um problema.

O sapato é bastante flexível e tem um solado fino, o que permite sentir seu pé atuando como um pé enquanto você caminha: os dedos se mexem, fazem força e se flexionam, de maneira muito similar a se estivesse descalço.

O uso durante oito horas ainda gera algum leve desconforto. Contudo, com sapatos normais eu precisava massagear o pé para aliviar, com este, dez minutinhos depois de tirar já está tudo certo.

O cadarço deixa um pouco a desejar, é fininho e desamarra com bastante facilidade.

Objetivo da aquisição foi atingido ✅: próximos tênis devo comprar no mesmo estilo e provável na mesma marca.


Pulseira Inteligente

Foi um misto de curiosidade de oportunidade. Sabia que essas pulseiras servem mais como sensores de sinais vitais. Não era muito minha praia, mas estava curioso e tive a oportunidade de comprar por 150 reais. Comprei a Mi Band 8 da Xiaomi.

Foto publicitária da Mi Band 8. A tela da pulseira tem um formato retangular, mas as pontas terminam em semicírculos. A pulseira em si é de borracha preta fosca. A tela pode ser trocada, a da foto mostra a tela padrão de fábrica com horário, data, temperatura e porcentagem de bateria e contadores no formato de pista de atletismo em três cores.

Por algum tempo usei todas as funções de medição ativa e depois de alguns meses as métricas estavam bastante consistentes. Pude atestar que dormia bem, meu nível de estresse é surpreendetemente baixo — o dia de maior transtorno pontou 46, normalmente fica 36 — e meu coração bate os esperados 80 bpm.

Desativei quase todas as medições e agora me divirto mudando as telas da pulseira de acordo com a roupa que estou usando, respeitando minha paleta pessoal. Queria comprar as pulseiras alternativas, porém nunca achei para vender que chegasse no Brasil.

As notificações na pulseira, meio que cortei quase todas. Tem hora que você surta, mas é ótima para o alarme de bater o ponto.

Objetivo da aquisição foi... atingido? ✅: não tinha muito objetivo, pra falar a verdade. Era um teste. Não sei se compraria outra igual. Talvez um relógio inteligente sim, mas uma pulseira, não. Dito isso, usarei essa até se acabar.


Zen to Done

Pra não falar só de objetos adquiridos, vamos falar de hábitos. Conheci esse método de organização pessoal pelo site do @augustocc@social.br-linux.org o Efetividade.

Li, achei interessante, vi alguns outros posts relacionados e comecei a tentar fazer. As primeiras tentativas foram meio xoxas e capengas, mas o conceito das Grandes Rochas é bem bacana e lhe ajuda a resolver as coisas que você achou importante pro dia.

Depois eu localizei um pdf traduzido descrevendo melhor o método e que está disponível aqui e captei mais alguns detalhes importantes. Foi aí a coisa começou a andar melhor.

Ainda estou adquirindo o hábito de capturar tudo e de começar o dia fazendo as Grandes Rochas, mas algumas coisas já começaram a andar. Por exemplo, eu finalmente comprei uma pedra de amolar (a famosa mó) para manter as facas da cozinha lá de casa em condições de uso. E vi vídeos sobre amolação de facas e fiz a primeira tentativa. Eu tava querendo fazer isso tem meses.

Então se deu efeito nisso, imagina nas coisas importantes de verdade.

Ainda planejo ler o livro completo.

O processo de aquisição de hábitos vai bem, obrigado.


Big Linux

Com o tempo a gente fica velho e sem paciência pras coisas. Inclusive para ficar crackeando programas e sistemas. O Windows do meu computador além de me humilhar dizendo que não estava ativo, ainda me impedia de trocar meu papel de parede.

Então eu tive que tomar medidas drásticas.

Tela de boot do Big Linux. No centro o logo da distribuição é circundado de um círculo azul formado por 3 arcos de círculo que giram dando uma sensação de carregamento. O logo é a palavra big escrita em azul. O fundo da tela de boot é preto.

Larguei o Windows queimando pontes com quaisquer programas que usava enquanto atuava como arquiteto e pulei para um Linux. O plano era manter um dual boot para ter a segurança de um sistema que conhecia e testar o novo. Mas o grub nunca apareceu, não importasse o número de feitiçarias que me ensinassem no fediverso ou que eu procurasse nos fóruns de dúvidas. Então decidi deixar só o Big Linux.

Escolhi essa distribuição porque é brasileira e sou meio bairrista, sim. E em algum lugar do site também dizia que o Big Linux era a melhor coisa desde o pão com manteiga. Isso me pegou demais!

Estou fazendo um uso bem de usuário médio, tendo que me adaptar com alguns programas com interface nova, mas nada que seja do outro mundo. Algumas coisas não funcionaram de primeira, como usar o celular de câmera no Discord. Mas segui a dica de instalar o programa via Flatpack e funcionou. Estava usando antes um webapp já configurado da distro.

No geral, segue tudo muito bem e tudo muito bom. Tô aprendendo várias coisas. Acho que não volto pro Windows, a não ser obrigado.


Vamos parar por aqui para não ficar muito longo. O objetivo desse post era simplesmente começar. Pois começamos.

 
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from Resenha Cibernética

A ficção valor

Em Marx aprendemos que no Capitalismo impera a lei do valor.

O valor significa que há uma equivalência geral de tudo com tudo. Mas o valor não é o valor de troca, no qual a troca “zeraria” o valor (valor de soma zero), mas sim o valor de “acumulação”, de soma não nula.

Isso significa que o valor não é uma equivalência geral, mas que se sustenta sobre uma “inequivalência”. Esta não equivalência corresponde, segundo Marx, ao trabalho não pago do trabalhador. Assim, o trabalhador recebe um salário pela sua “força de trabalho”, que é um valor de troca, mas seu trabalho não pago é um excedente além da troca, que fica com o empregador.

Marx diz que o capitalismo só ocorre porque há um “trabalhador livre”, que aceita não só vender (alienar) sua força de trabalho por um salário, mas trabalhar um pouco mais sem ser remunerado. Este valor não pago é o valor propriamente dito, i.e., o mais-valor, porque sempre acumula. Acumula precisamente sob a forma de capital.

Mas Marx também diz, n'O Capital, que antes da acumulação do trabalho não pago, houve uma acumulação primitiva que gerou o “capital inicial”, que correspondeu aos “cercamentos” (enclosures) das terras. Com isso, aquilo que era abundante, as terras comunais (the commons), tornou-se raro. Ora, o capital só viceja onde há raridade.

Os cercamentos liberaram os trabalhares da terra para serem “livres” na cidade. Livres para serem explorados e trabalharem o trabalho não pago.

Outro grande pensador chamado Karl, o Polanyi, disse que havia três mercadorias “fictícias”: a terra, o trabalho e o dinheiro. Fictícias porque são mercadorias que não podem ser trocadas, a não ser por meio de ficções chamadas falácias.

Assim, é lícito pensar, baseado nos dois Karls, que o capital é gerado ficcionalmete nesta ordem: primeiro, ocorreram os cerceamentos; esses criaram os trabalhadores livres e o trabalho não pago; e o trabalho não pago gerou o capital financeiro, que pode ser vendido como se fosse uma mercadoria.

Podemos assim citar três modos de produção do capital e não apenas um como queria Marx: a expropriação da terra (da natureza) pelos cerceamentos, a exploração dos trabalhadores pelo trabalho não pago (nos cercados fabris da produção) e a especulação do dinheiro, nos cercadinhos financeiros das “bolsas” e “bancos”.

O que é fictício no capital é precisamente esse ato de cercar, de impor um limite onde antes não havia. Mas essas cercas são antes de tudo simbólicas, pois o que garante a propriedade de um bem comum a não ser um acordo simbólico imposto ou não pela força bruta?

Alguém, em algum momento, disse: “isto aqui é meu”. E deste ato de fala nasceu a ficção do valor. E daí a expropriação, a exploração e a especulação foram apenas a consequência denominada de Capital, o “valor que se autovaloriza”.

 
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from Resenha Cibernética

O próprio e o impróprio

Seguindo os passos de Engels em A Origem da Família, eu diria que a luta de classes mais primordial é entre proprietários (que definem o que é próprio) x desapropriados (que são impróprios). Desapropriados daquilo que é comum a todos. Próprio/Impróprio é a distinção fundamental de todo meio (medium). Engels escreveu que esta distinção marca o início do patriarcado. O matriarcado seria então uma sociedade em que tudo é próprio, tudo é comum.

 
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from vereda

Tags: #Pessoal

Stay On The Path. Photo by Mark Duffel on Unsplash

“Tô pensando em chegar aí na quinta e sair daí no domingo. O que você acha? Me avisa se for muito tempo pra você”

Era véspera de um feriado prolongado e uma amiga estava planejando passar alguns dias na minha casa, em São Paulo. Eu havia acabado de dedicar um esforço descomunal pra lançar o novo site da DandaraLab com um prazo apertado e estava com demandas atrasadas, inclusive a negociação de duas novas parcerias da DiversifiX. A única coisa que eu conseguia pensar sobre o feriado é que seria a minha chance de me adiantar com os projetos que estavam sob minha responsabilidade.

“Tá tranquilo. Vai ser fantástico. Você é a única que ainda não veio me ver em sp!”

Eu não tinha tempo a perder e mesmo assim parei por 4 dias para dedicar tempo e atenção a ela. Foi um feriado maravilhoso que nos deixou ótimas memórias. Essa poderia ter sido uma decisão demorada e fonte de medo de fazer a escolha errada, mas felizmente eu relembrei um dos meus princípios e nele fundamentei a minha decisão:

Eu estabeleço e cuido de relacionamentos pessoais como uma das minhas maiores prioridades. Eu sempre tenho tempo para família ou para um amigo de verdade. Minha lista de tarefas e calendário refletem o quanto eu valorizo as pessoas na minha vida.

O que são princípios?

Princípios são normas de conduta, geralmente impostas por terceiros, para cumprir exigências morais ou legais. Devido ao caráter forçado, muita gente tem memórias ruins ao falar de princípios, mas existe um grande valor em reconhecer e utilizar uma lista pessoal de princípios.

Estando consciente disso ou não, todas as pessoas possuem certos valores e seguem determinados princípios derivados deles. Todos possuem uma bússola interna dizendo não apenas aquilo que é certo ou errado, mas também indicando aquilo que vai gerar mais satisfação de vida.

Inspirada no post General Operational Principles do Taylor Pearson e no livro Work the System do Sam Carpenter eu resolvi também dedicar tempo para identificar e documentar o que eu acredito e valorizo.

Os Princípios Gerais de Operação são basicamente uma síntese daquilo que a nossa bússola moral tenta nos dizer, registrados de forma explícita para facilitar a tomada de decisões.

Sempre que não houver uma forma clara de resolver alguma coisa, sempre que uma decisão precisar ser tomada, os Princípios Gerais de Operação são uma sólida referência guiando minhas ações para me gerar maior satisfação e menos arrependimentos.

“Estes são meus princípios. Se você não gosta deles, tenho outros!” – GROUCHO MARX

O documento de princípios precisa ser rígido, porém mutável. Para que os princípios sirvam como guia de conduta, eles precisam ser estáveis independente das circunstâncias. Porém também devem ser algo vivo, que se adapta para acompanhar as mudanças de nossa bússola moral ao longo do tempo. Alguns valores permanecem conosco por toda a vida, mas outros tem sua importância modificada conforme atravessamos diferentes fases da vida.

Eu produzi meu primeiro documento de Princípios Gerais de Operação em Outubro de 2018. Ocasionalmente eu dedico um tempo para rele-lo, mantendo todos eles frescos na cabeça, e para revisar cada um dos itens que eu mantenho nesta lista. Alguns princípios surgiram depois, conforme eu percebi que certas coisas importantes para mim não estavam ainda contempladas. Outros princípios foram reescritos para passar uma mensagem que fosse mais verdadeira para mim. A essência do documento porém continua a mesma e eu acho que, conforme o tempo passa, tenho cada vez mais clareza daquilo que eu valorizo e de como deve ser minha atitude para aproveitar cada vez mais a vida.

Sem mais demoras, apresento a minha lista na forma como ela está em Julho de 2024:

(meus) Princípios Gerais de Operação

Como eu recebo aquilo que o mundo me traz

  • Coragem: Eu não fujo de confrontos ou de oportunidades por causa do medo. Eu atuo fora da minha zona de conforto.
  • Aprendizado: Eu acredito que todo evento pode contribuir para o meu crescimento. É meu dever encontrar o valor e o aprendizado mesmo nas situações ruins.
  • Firmeza: Flexibilidade tem medida certa. A rigidez é a nossa estrutura permanente para enfrentar o inesperado.

Como eu invisto minha energia

  • Atenção: Eu direciono meu foco para aquilo que é mais importante para mim em cada momento. Eu não permito que outros tópicos roubem minha atenção.
  • Equilíbrio: Eu valorizo viver de forma plena e integrada e por isso eu busco obter satisfação em todas as áreas que são valiosas pra mim.
  • Intenção: Eu conscientemente aloco a minha energia de forma construtiva para que ela não assuma espontaneamente formas destrutivas.
  • Qualidade: Todas as coisas grandes e valiosas exigem esforço e comprometimento. Em todas elas eu estou disposta a me esforçar, fazer mais do que é esperado e persistir. Inspiração: [The Dip]

Como eu lido comigo e com outras pessoas

  • Autenticidade: Eu acredito que vulnerabilidade e sinceridade são os caminhos para conexões genuínas e bons relacionamentos.
  • Intuição: Eu invisto em minha auto percepção. Eu presto atenção e respeito aquilo que meu corpo e meus instintos tentam me dizer.
  • Desenvolvimento: Eu fortaleço contradições e o debate para promover o amadurecimento meu e alheio.
  • Diversidade: Eu valorizo e respeito a diversidade. Eu apresento minha forma de ser e pensar como um único exemplo dentre as múltiplas possibilidades e não como a única opção possível. Inspiração: [Pedagogia do oprimido]
  • Comunidade: Eu estabeleço e cuido de relacionamentos pessoais como uma das minhas maiores prioridades. Eu sempre tenho tempo para família ou para um amigo de verdade. Minha lista de tarefas e calendário refletem o quanto eu valorizo as pessoas na minha vida.

Como eu atuo no mundo

  • Legado: Quando tomo decisões, considero os efeitos de ordens superiores e não somente os efeitos mais diretos; eu sigo a perspectiva do sistema no longo prazo.
  • Propósito: Tudo que eu faço serve a uma visão maior que eu tenho para mim e para o mundo. Eu fabrico a realidade que eu quero que exista.
  • Colaboração: Eu acredito que obtemos melhores resultados quando existe colaboração profunda e solidária entre pessoas. Inspiração: [Linus Torvalds]
  • Repetição: Eu sou o que faço repetidamente. Cada ação não é um evento isolado, mas um reforço para os neurônios que moldam meu comportamento e personalidade. Inspiração: [The Bowling Game Kata]
  • Condicionamento: Eu me lanço consistentemente em desafios para me manter sempre apta para aproveitar oportunidades e superar contratempos. Inspiração: [Antifragile]
  • Sustentabilidade: Eu reconheço a importância de estar descansada para tomar boas decisões e produzir trabalho de qualidade. Se eu estou cansada, eu trato de descansar para atacar novamente o problema quando estiver recuperada.

Hierarquia de Valores

Esta seção é um experimento, inspirado pela Teoria da Desintegração Positiva de Dąbrowski. Dediquei um tempo para ponderar qual a hierarquia que os princípios mencionados tem para mim. O resultado atual segue abaixo:

  1. Autenticidade
  2. Coragem
  3. Atenção
  4. Intuição
  5. Desenvolvimento
  6. Aprendizado
  7. Legado
  8. Propósito
  9. Equilíbrio
  10. Firmeza
  11. Intenção
  12. Qualidade
  13. Colaboração
  14. Diversidade
  15. Repetição
  16. Comunidade
  17. Condicionamento
  18. Sustentabilidade
 
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Tags: #Neurodivergência #Pessoal #Militância

Introdução

Este artigo tem por objetivo relatar minha experiência em tentar, e fracassar, em me organizar politicamente.

Não pretendo construir uma crítica pública a nenhuma organização específica, nem desmobilizar ninguém que lute em nenhuma organização. Também evitarei uma crítica pública porque quero desestimular que o contrário, uma crítica pública contra mim, seja proferida. Embora não haja equivalência pessoa vs organização, observo que na luta política a justeza não é óbvia e é incerto a quem caberá decidir. Por fim desconfio que esse problema não seja um caso particular meu com esta organização, mas talvez seja o problema de mais pessoas, e também de inúmeras organizações.

Neste texto irei, portanto, me referir à organização que participei pelo nome fictício de “Força Esperança” ou “FE”, tendo como inspiração unicamente o sentimento que me organizar politicamente me trouxe inicialmente, inexistindo qualquer relação com organizações de nome similar atuais, extintas ou futuras.

Bagagem

Reconheço a minha inexperiência em militância: Não fui parte de grêmio estudantil, não assumi anteriormente alinhamento com este ou aquele partido, ou sequer com linhas apartidárias. Não participei de manifestações, ou de greves, e tampouco as condenei. Fui, em outras palavras, apenas lutando pelo meu, sendo guiada pela ideologia dominante, e acreditando ter minhas próprias ideias originais.

Sou uma pessoa enquadrada em uma condição chamada de dupla excepcionalidade: possuo uma capacidade intelectual muito acima da média, mas também possuo algo reconhecido como um déficit, que é, especificamente no meu caso, estar dentro do espectro autista. Fui diagnosticada, como muitos recentemente, na idade adulta, mas isso não invalida a nossa necessidade de suporte, dado que as dificuldades estão presentes desde a infância e perduram pela vida toda.

Sei quão inacessível é obter um diagnóstico assertivo para a maioria das pessoas. Eu demorei tanto para começar a falar que pediatras sugeriram para minha mãe que eu tivesse deficiência auditiva. A audiometria normal, porém, não explicava a minha dificuldade em prestar atenção no que as pessoas falavam comigo e responder coerentemente. Fazer fonoterapia e psicoterapia desde criança por dificuldades de falar e de fazer amigos não foi evidência o suficiente. Demorar para comer e ir ao banheiro sozinha também não. Isso tudo, ao mesmo tempo que eu por conta própria entendi como funcionava a corrente elétrica e passei a fazer reparos em circuitos elétricos com menos de 10 anos. Aos 12 anos, comecei a escrever programas de computador por diversão. Ninguém estranhou também quando eu fiquei de recuperação em matemática no mesmo semestre que fui medalhista na olimpíada brasileira de matemática das escolas públicas. Eu sei em quanto tempo o meu diagnóstico foi atrasado por profissionais que simplesmente riram de mim quando eu falei que suspeitava de ter a, então conhecida como, Síndrome de Asperger.

Como se isso não fosse suficiente, estou há alguns anos tratando um quadro de natureza mista ansiosa e depressiva que recentemente se agravou, me levando a obter afastamento pela previdência social e ter o reconhecimento do nexo causal com o trabalho. Tendo já se passado 1 ano do início do afastamento, ainda estou incapaz de desempenhar a função que eu costumava fazer e aceitei que no futuro resta-me mudar de profissão estando em um momento de precarização intensa do mercado de trabalho e ainda adoecida. Um triste desfecho para uma pessoa que tinha “tudo para dar certo”: bolsista do CNPQ já no ensino médio, engenheira formada em uma renomada universidade pública, crescida em um lar que não conheceu o que é passar fome, ou não ter onde morar, ou morte e doença familiar.

Felizmente a revolta me radicalizou. Foi também neste período de adoecimento que tomei consciência que a causa de todos esses males que me afligem, e que afligem ainda mais outras pessoas, é a ordem social vigente, e que esta é irreformável, devendo ser superada. Acreditando nisto, e rejeitando contribuir com a perpetuação da miséria no mundo, surge a dúvida: o que fazer?

“A organização é a arma dos oprimidos” me disseram. Logo, o que devo fazer é organizar-me, mas como fazer isso sendo, bem, você sabe, autista?

Deficiência

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão, as pessoas com deficiência são aquelas com impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Ainda, com a vigência da Lei 12.764 de 2012, conhecida como Lei Berenice Piana, pessoas com transtorno do espectro autista passaram a ser consideradas pessoa com deficiência para todos os efeitos legais.

Qualquer pessoa enxerga rapidamente a inteligência muito acima da média, mas dificilmente vão enxergar a deficiência do autismo, afinal é uma deficiência invisível. A inteligência permite eventualmente mascarar as dificuldades, contudo os prejuízos permanecem. Não interagimos de forma adequada, não nos adaptamos às normas sociais, não sustentamos um emprego formal, não conseguimos manter nossas amizades ao longo do tempo. A inteligência não justifica essas barreiras persistentes ao longo do tempo. Os transtornos mentais também não justificam, ao passo que, mesmo quando medicados e controlados, não conseguimos nos encaixar. Quando somos duplamente excepcionais, o sofrimento se intensifica diante da incompreensão das pessoas e das expectativas frustradas. As pessoas reconhecem o nosso potencial, mas encontram inúmeras justificativas para o nosso fracasso. Apontam o dedo pra gente e nos julgam preguiçosos, mal educados, arrogantes, individualistas, impacientes, impulsivos, grosseiros, entre outras coisas. A falha em realizar nosso potencial é justificada pela moral.

De todos os déficits que o transtorno traz, o que mais me machuca, e que eu tanto lutei para solucionar, é o prejuízo nos relacionamentos. Tanto eu estudei sobre relacionamentos, comportamento, psicologia... Tantas horas de psicoterapia eu fiz desde criança... E ainda assim, meus relacionamentos são frágeis, efêmeros, artificiais. Não consigo permanecer em uma mesma comunidade, qualquer que ela seja, por muito tempo: Na vida escolar, fiz algumas trocas de colégio na infância e, na adolescência e juventude, desenvolvi um comportamento absente, me aproveitando da autonomia crescente; na vida profissional, permaneci por pouco tempo em cada emprego, sempre necessitando pedir demissão por questões que tornavam o ambiente pra mim insuportável; na vida local, estou morando em minha 4ª cidade, e indo para a 14ª residência. Desde criança a dificuldade em manter relações me incomodou, e nem todos os anos de psicoterapia resolveram essa dor e a minha limitação. As mudanças constantes parecem ser um comportamento aprendido para me fazer fugir de situações ruins e jamais desistir de encontrar situações melhores.

Veremos que esta história não é diferente. Minha tentativa corajosa de me organizar politicamente, e com isso contribuir com a superação da ordem social que mantêm o mundo em miséria, foi mais um brusco rompimento, que apesar de esperado dado o meu histórico, ainda é desagradável e deprimente.

Responsabilidade

Sou atravessada simultaneamente por inúmeras questões. Isso é tudo incompetência minha? Teriam todo o estudo e anos de terapia falhado em me moldar em uma pessoa competente para estar integrada na comunidade? Não pode ser só minha culpa. Há tantas outras pessoas passando por situações tão ou mais graves. Há que haver também a culpa da sociedade em fazer do fracasso a regra para tantos milhões de indivíduos.

Não estou em um bom momento para avaliar nada. Me sinto inútil e incompetente, isso para não falar nos pensamentos intrusivos e autodestrutivos. A empresa oficializou a primeira advertência disciplinar para eu ajustar minha conduta e voltar a produzir. Eu não aguento sequer ouvir falar sobre coisas relacionadas ao trabalho. Como esperam que eu volte a me dedicar e entregar alguma coisa? O INSS diz que eu estou apta para trabalhar; o médico do trabalho diz que estou apta para trabalhar. Enquanto isso, a sujeira se acumula nas paredes do box, da louça sanitária e da pia do banheiro, tomando formas e cores. Quando foi a última vez que limpei a casa? Essa é uma questão de classe, não é mesmo? Isso é por que sou parte da classe trabalhadora oprimida? Se isto é verdade, por que não posso me organizar politicamente?

Em todas as apresentações na Força Esperança eu fiz questão de dizer “eu sou autista”. Disseram-me que eu não pareço. Como eu deveria ser para parecer autista? Querem que eu morda as pessoas? Isso sem dúvida ajudaria a aliviar certas frustrações. Três pessoas na FE me disseram que acham que elas próprias são autistas também. Não gosto de julgar o autodiagnóstico de ninguém, nem para validar nem para desacreditar. Mas eu acho problemático responder para autistas coisas como “você não parece” e “acho que eu também sou”. Ora, se você acha que é autista, vá atrás de um diagnóstico, diga quais são os seus prejuízos e necessidades de suporte. Mas, por favor, não use isso como justificativa para ignorar as necessidades alheias.

Há, para pessoas autistas um prejuízo significativo e permanente na qualidade de suas relações sociais. Sem o suporte adequado, sem adaptações individualizadas para cada necessidade, sua plena participação na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas ficará obstruída. Como falar “organize-se” para pessoas que por toda a vida enfrentaram dificuldades para se inserir e se manter em grupos sociais? Que às vezes não tem autonomia para executar tarefas básicas do dia a dia?

Não estou mais organizada. A causa, entendo eu, é o meu estado de saúde somado ao funcionamento inadequado da célula organizativa da FE. Funcionando a célula como deveria funcionar, talvez eu ainda estivesse organizada. Quem sabe?

Centralismo

Segundo os princípios do centralismo democrático, é plena a liberdade de crítica, desde que respeitados os espaços adequados para que a unidade de ação não seja prejudicada. Cabe a cada indivíduo, parte da base da organização, fazer a problematização e levantar as demandas conforme são observadas, a partir de seu lugar de trabalho, com suas experiências e conhecimentos. Essa problematização, necessita de um lugar apropriado, preferencialmente dentro da própria organização.

Para muitas organizações, a FE inclusive, o mais próximo destes espaços é o núcleo de base: Um espaço reservado para os membros da organização debaterem e construirem consenso sobre inúmeras pautas. Era de ser esperar que a democracia dentro da organização começasse no núcleo, onde os assuntos poderiam ser amplamente debatidos, até que se houvesse um consenso para a formulação de uma demanda para ser compartilhada com instâncias superiores. A direção central da organização então, após apreciar a demanda, haveria de fazer chegar ao conhecimento de todos a nova posição unificada da organização. Certo?

É meu julgamento vigente de que o centralismo democrático não foi praticado verdadeiramente pela organização, apesar dela assumir este como um princípio norteador. A hipocrisia para mim é uma questão muito dolorida, da qual eu não consigo compactuar. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não fosse tão boa em observar padrões e identificar inconsistências. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não me importasse com fissuras na prática que a afastam do ideal pregado. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não me importasse tanto. Mas eu me importo demais. E isso não é algo que pode ser mudado pois faz parte de quem eu sou. A superexcitabilidade é uma questão real e física, do cérebro, e não algo mental que pode ser solucionado com psicoterapia e melhor gestão dos pensamentos.

Dentro de um organização democrática a quem cabe a responsabilidade de indicar o espaço adequado para o amplo debate e garantir que este espaço exista? A quem cabe o papel de gestão de pessoas, acolhendo as necessidades individuais de cada membro, tanto materiais quanto emocionais? Mesmo que esta pessoa por ventura não tenha os meios de auxiliar, a quem cabe a responsabilidade de encaminhar o membro para outro lugar onde este auxilio possa ser concedido? Não se pode cobrar estas coisas de uma recém associada militante. Creio que a organização falhou comigo, pois negligenciou estes deveres.

Creio que seja meu direito, em uma organização democrática, poder desenvolver a questão até que a comunidade compreenda a pauta e o assunto seja esgotado, mas eu não tive um lugar para ser ouvida. Não fez sentido o motivo que deram para a falta de espaço que observei. Isso, em uma organização que prega o centralismo democrático é muito sério. Eu não sabia, e ainda não sei, quais são as ferramentas apropriadas para a construção desta proposta. O que é uma plenária e quando se deve convocar uma? Como é feita essa construção coletiva?

Associação

Perdoem a minha fraca memória episódica. Trarei os eventos passados nos últimos 2 meses de maneira um tanto distorcida. Além da memória já começar a falhar, e eu estar intencionalmente ocultando a real organização onde tais eventos ocorreram, há também a distorção subjetiva inerente a todo ser humano, que sempre observa os eventos do mundo a partir de seu próprio ponto de vista limitado.

No momento de meu ingresso na Força Esperança, me foi exigido que eu lesse e concordasse com o programa de atuação da FE. Este era um critério eliminatório para a minha associação. Estudei com calma o programa, e sendo uma pessoa com bagagem em tecnologia da informação, com 2 diplomas e atuação profissional em múltiplas organizações, tanto públicas quanto privadas, naturalmente a causa do controle das comunicações e da informação me chamou atenção.

Havia uma previsão expressa no programa relativo à importância da gestão popular das comunicações, mas este item não falava nada sobre a Internet. Com efeito, as únicas tecnologias de comunicação mencionadas no programa eram aquelas já existentes na década de 1930. Nada era dito sobre o controle algorítmico do comportamento humano, nem sobre o estado de vigilância constante ao qual são submetidos todos os cidadãos do mundo. Nada se dizia quanto à dependência tecnológica de produtos e serviços de monopólios estrangeiros, controlados por agentes hostis à atuação da Força Esperança.

Não pude deixar de pontuar essas omissões na ocasião de minha associação. Ao que recebi uma resposta de que aquele conteúdo programático consistia de uma pauta mínima de reivindicações, não excluindo outras demandas. Diante do argumento logicamente coerente, aceitei os termos do programa e formalizei a minha filiação.

Jornal

Por todo o meu tempo de militância, muito esforço foi investido na divulgação do jornal próprio da organização. O trabalho jornalístico é visto como essencial para a mobilização popular, e o esforço de construção de um jornal não apenas consolida as estruturas organizativas operacionais, como também disponibiliza uma tribuna, de alcance nacional, para que todos os cidadãos possam denunciar as pautas mais relevantes para sua realidade. Desde a minha efetiva inserção nas fileiras da FE eu defendi a importância do jornal e acreditei em suas palavras, tomando como tarefa o dever de realizar a leitura e me inteirar de todos os aspectos da vida cotidiana. Sempre acreditei quando me diziam: “Este é um jornal popular! É a população quem o constrói coletivamente e qualquer pessoa pode escrever para o jornal.” Tanto acreditei nestas palavras que as repeti confiantemente nas ruas quando eu própria me voluntariava para promover a divulgação do jornal.

O baque começou, creio eu, quando eu participei de um congresso anual sobre tecnologia e política. Após ouvir relatos de inúmeros palestrantes sobre o uso da tecnologia da informação para intensificar o genocídio em Gaza, o controle repressivo feito por governos latino-americanos por meio das mídias sociais e inúmeras outras questões práticas, eu resolvi que faria uma matéria sobre o evento e o que eu aprendi nele. Escrevi minha matéria e entrei em contato com o jornal para saber o que eu precisava fazer para ter o texto publicado. Me passaram orientações simples como quantidade de palavras e formatação. Após fazer os ajustes devidos eu enviei a minha matéria e recebi o retorno dizendo que meu texto havia sido enviado para a revisão.

Esperei o quanto pude. Mas, após ver 2 edições seguidas do jornal serem publicadas sem a minha matéria, comecei a me preocupar. O que houve com o meu texto? Eu havia dito algo errado? Havia algum problema no que eu escrevi? Eu precisava de um feedback. O assunto que eu trazia era de extrema relevância pra mim, e, acredito eu, essencial de ser conhecido por todos para avançar o trabalho da Força Esperança.

Comecei a pressionar a coordenação de meu núcleo, que ficou de “ver o que tinha acontecido” com a minha matéria. Até o presente momento, não recebi uma única justificativa do porque a minha matéria foi censurada. Não tenho outra palavra para descrever isso, dado que a justificativa dada de “eles estão atolados com a demanda” é coincidência demasiada e não reflete as evidências de publicação do jornal, que permaneceu realizando suas publicações regularmente no período. Pode ter sido, ao invés de censura, mera negligência, mas o efeito prático é o mesmo: Minha voz foi silenciada sem justificativa. Não creio que a linha política fosse tão divergente assim, afinal o texto passou por revisão do meu núcleo, que me elogiou.

Hiperfoco

Nesse período, eu fui fisgada pelo hiperfoco. A preocupação excessiva com a assertividade da matéria e a ausência de interesse do núcleo em debater a questão me sinalizou que necessitávamos de textos que fizessem a sensibilização da questão, mesmo para um público leigo no tema. Me lancei a pesquisar mais sobre o assunto, e conforme eu pesquisava, mais coisas eu escrevia. Quanto mais eu me aprofundava, mais certeza eu construia da importância do que precisava ser debatido. Ao mesmo tempo, o processo de hiperfoco começava a me desgastar e me fazer deixar de lado outras demandas pessoais para que eu pudesse avançar neste tema que ganhava a cada vez mais relevância para mim.

Em certo momento, chamei a coordenação do meu núcleo para uma conversa. Pedi ajuda para manter a calma e desenvolver o tema. Falei que a minha cabeça parecia que iria explodir. Ela me orientou a não investir esforços em fazer uma sensibilização, mas sim construir uma proposta completa, para que o assunto fosse debatido em instâncias superiores, sem a minha participação. Eu, naquele momento ainda ignorante do processo que se desenrolava, não vi a armadilha que me foi lançada. Eu já estava em hiperfoco, extremamente preocupada com medo de ter dito algo de errado, sem ter feedback de nada, e recebi então uma tarefa muito maior e importante, muito mais séria, que era construir uma proposta para ser levada para os de cima debaterem em segredo.

Creio que a minha coordenação deveria ter proposto de escrever isso coletivamente dentro do núcleo, e não me dado essa responsabilidade sozinha. Caso o núcleo não tivesse a capacidade de construir essa proposta, o que de fato acredito que não tivesse, ela deveria ter me encaminhado para outro espaço onde eu pudesse, junto de outros membros fazer essa construção. Não sendo o núcleo este espaço apropriado para a construção coletiva desta proposta, haveria a organização de apontar outro lugar, mais apropriado, para esta construção. Jamais um coletivo deveria imbuir a um único indivíduo, ainda mais uma pessoa PcD e com saúde debilitada por um acidente de trabalho, toda a responsabilidade e o peso de construção dessa proposta.

Mas, como eu disse, eu cai na armadilha. Sobre as problematizações que eu fiz dentro do núcleo, recebi respostas que não convenciam logicamente e me indicavam uma clara relutância em tratar da questão. Não poderíamos fazer nada diferente do que foi determinado como linha central da organização, mas eu também não tinha com quem debater sem ouvir argumentos repetitivos e fracos.

Isolamento

O núcleo, onde deveriam estar meus companheiros de luta mais próximos, deixou nas minhas costas todo o trabalho de pesquisa e formulação da proposta. Eu me senti cada vez mais sozinha e isolada, sem ninguém que valorizasse algo que pra mim era tão relevante e urgente, sem ninguém para debater e construir algo junto comigo.

Nesse período eu havia sido eleita a representante da tarefa de finanças dentro do nosso núcleo, então havia recebido determinados níveis de acesso dentro da organização. Ao obter esse acesso, veio o choque: a organização estava usufruindo de serviços gratuitos, fornecidos por nossos inimigos para coleta massiva de informações, para armazenar e processar dados pessoais e sensíveis dos membros da organização. Aquilo me desesperou. É nesta organização que eu estou confiando? Essa gente vai nos levar pro abismo desse jeito. Estamos correndo um grave risco! Algo precisa ser feito!

Comuniquei para a minha coordenação que eu não seria cúmplice deste movimento absolutamente errado, e que criaria problemas para os membros. A resolução foi eleger uma nova representante da atividade de finanças e me consolar com mais das respostas fracas e ilógicas.

Então eu, desgastada após semanas de luta e no meio de uma fase ansiosa, fiz algo sabidamente errado. Tendo ainda os acessos especiais concedidos à representante de finanças, ingressei sorrateiramente na reunião estadual de finanças. Lá eu permaneci inicialmente em silêncio, mas acabei revelando a minha presença quando um membro falou sobre como o núcleo dele estava também adotando essas ferramentas gratuitas para melhorar o trabalho dentro do núcleo e de como isso era seguro. Eu não poderia ficar calada. Aquilo não era nada seguro. Era justamente o oposto disso! Aquilo era algo terrível para a organização e jamais deveria ser fomentado como “boa prática”.

Posso estar errada, e espero que eu esteja, mas nada posso fazer contra meu instinto de sobrevivência que me grita “Esta galera não sabe o que tá fazendo. Guerra se faz com informação e logística. Deixar as ferramentas de organização interna na mão do oponente é perder a luta antes mesmo de começar”. Não esqueçamos que revoluções são contra a lei. Há como uma organização verdadeiramente revolucionária avançar cedendo para as forças de repressão estatal informações sensíveis sobre sua organização interna, ao mesmo tempo que cria dependência operacional em ferramentas sob controle do adversário? Não pude conversar com ninguém que me convencesse logicamente que todos esses absurdos, e inúmeros outros que omiti, não nos causariam problemas.

Se o tom catastrófico parece exagerado, é porque você não sabe o que é ter uma rigidez cognitiva. Ser autista é viver com esse tipo de resposta emocional a todo o momento, mesmo para coisas que as outras pessoas considerem sem importância. Certas coisas, em especial aquelas sobre as quais eu acumulei bastante conhecimento, me são tão preciosas que eu sou incapaz de tolerar detalhes fora do lugar.

Repúdio

Nessa reunião eu recebi a mesma resposta que eu já havia ouvido da minha coordenação. Naquele momento eu entendi: esta não é uma posição ignorante do meu núcleo. É uma posição ignorante da direção central da organização! Somente uma pessoa ignorante no tema poderia se deixar convencer sobre o tema com um argumento tão fraco e ilógico. Então, a posição ignorante é a linha central da organização FE, justamente daqueles que deveriam ser os mais hábeis, entendidos e comprometidos membros da classe. Isso me deixou profundamente decepcionada e desconfiada da direção central da organização.

Fui previsivelmente advertida por não seguir os preceitos organizativos, entre outras coisas. Eu falei que eu não me arrependia de ter feito aquilo porque, se não tivesse agido errado, eu não teria tido a chance de ser ouvida sobre os problemas que eu estava enfrentando com o isolamento e a falta de suporte. Falei que era meu desejo me afastar da organização, porque eu precisava me desligar de todo esse assunto. A minha coordenação insistiu pra que eu não me afastasse demais, sugerindo uma adaptação para que eu continuasse participando regularmente. Eu inicialmente aceitei, mas logo vi que eu tinha ficado demasiadamente ferida por toda essa situação, além de descrente na capacidade de construir uma organização sólida e competente.

Eu já estava doente quando ingressei na FE. Sempre comuniquei em reuniões que eu estava em recuperação e que por isso eu não poderia participar de tantas atividades. Acreditei que o melhor lugar para me curar seria entre companheiros de luta, mas eu estava errada. A luta entre a linha de direita e a linha de esquerda estará presente em todas as organizações e é preciso estar minimamente saudável para realizar esta disputa. A organização que luta pelo fim das opressões, reproduz as mesmas violências e exclusões que o sistema contra o qual ela luta.

Por muito tempo pedi para a minha coordenação me colocar em contato com outras pessoas com deficiência para trocarmos experiências, mas tive acesso a tão somente duas pessoas, e somente com uma pude conversar. É fato que uma agremiação de pessoas qualquer não tem a priori obrigação de acolher nossas dificuldades comportamentais e de relacionamento. Porém, quando falamos de uma organização orientada pelo materialismo prático, que preza pela libertação real e não em pensamentos, é necessário se comprometer a ir além dos ideais de inclusão e acessibilidade, atacando e transformando de forma concreta no mundo as barreiras que previnem a participação plena das pessoas na sociedade. A negligência em acolher estas demandas de forma efetiva é um erro gravíssimo para uma organização que se propõe a ser anti status quo.

O sentimento geral é de estar sendo levada para o abismo por uma liderança que permanece inacessível. Por autopreservação não tenho outra escolha a não ser me desligar. Não por uma divergência de tática, que poderia ser posteriormente corrigida, mas por rejeitar a obediência acrítica exigida por uma liderança encastelada que pune a divergência ao invés de compreendê-la.

Conclusão

Comuniquei à minha coordenação que não acreditava mais na organização e que pretendia me desassociar. Sem questionamentos, minha decisão foi aceita.

Desconfio que um movimento de massas, verdadeira escola de novos revolucionários, para cumprir seu papel formativo, necessitará abandonar o modelo de educação bancária e respeitar o conhecimento prévio de cada um, bem como suas dificuldades e potencialidades. Uma organização que não se proponha a reconhecer a diversidade e acolhê-la, ao invés de uniformizá-la, continuará ensejando acusações de autoritarismo e burocratismo, ainda que os críticos não sejam eles próprios modelos melhores.

Tenho a esperança de eventualmente voltar a me organizar, ainda que eu não saiba como e nem quando. Não somente para ter alguma chance de luta contra o sistema que nos oprime, como também para prosseguir com a minha formação, de forma tanto teórico quanto prática. No momento, contudo, investirei minha energia de forma egoísta: tratando da minha saúde e da minha subsistência. Assim eu terei mais o que oferecer quando eu me deparar com um movimento de vanguarda à altura do desafio. Até lá, só espero não servir de obstáculo àqueles que possuem a linha correta.

 
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