Como montei um mini PC gamer retrô para jogar emuladores
Não trabalho profissionalmente com tecnologia, mas sou um entusiasta do software livre e um dos meus hobbies é configurar pequenos aparelhos dedicados a funções específicas. Já tive uma TV Box rodando lisinho um servidor de Nextcloud, e funcionou direitinho uns anos até falecer. E fazia muito tempo que eu queria fazer um experimento de montar um console gamer retrô a partir de alguma TV Box ou Raspberry que tivesse dando sopa por aí. E esse dia chegou! O generoso Biloti, a quem muito agradeço, ofereceu no Mastodon alguns computadores antigos dos quais ele estava se desfazendo, e como moramos na região de Campinas (SP), pedi para reservar um deles para mim e combinamos a entrega, ali pelo centro da cidade. Acabei demorando um pouquinho para colocar o projeto em ação, devido ao fato de que o mini PC precisava trocar a bateria da placa mãe, mas eis que descobri que essa complexa manutenção numa ótima lojinha da minha cidade custou a bagatela de R$30,00. Vamos à ficha técnica do mini PC:
Acer Revo Aspire R3600 CPU: Intel Atom 230 HD: 320GB Memória RAM: 4GB Video: nVidia ION integrada Arquitetura: 32 bits
Depois desse complexo concerto, comecei a botar a mão na massa para montar meu mini PC gamer, o primeiro passo foi a escolha do sistema operacional, optei pelo Lakka, vi alguns reviews na internet elogiosos e me pareceu simples de instalar e configurar. Baixei a imagem da distro no site oficial, escolhendo a modalidade Generic PC e depois 32 bits CPU. Confesso que tive dificuldade em montar o pendrive bootável (inclusive já adianto que todos os pontos onde tive dificuldade se deram pelo fato de que a maioria dos tutoriais na internet eram orientados para o Windows, e eu fiz todo o processo pelo Debian Linux). O site oficial recomenda o Balena Etcher, mas não consegui instalá-lo em nenhum dos meus dois computadores com Debian, e os programas que eu costumo usar não montam o pendrive se o arquivo não for .iso. Depois de muita pesquisa e quebração de cabeça, consegui montar o pendrive bootável pelo Impression, que consegui instalar na minha máquina via Flathub. Feito o pendrive, o restante, pelo menos pra mim, é caminho da roça hehehe espeta o pendrive no bicho, liga, entra na BIOS, muda o dispositivo de boot pro pendrive e instala o bicho. Sucesso!!!
Enquanto o processo de instalação acontecia, comecei a baixar as famosas ROMs para rodar nos emuladores que já vêm nativos no Lakka. Não vou entrar em detalhes sobre essa parte porque tecnicamente se trata de pirataria, mas é fácil descobrir por aí pesquisando sobre emuladores e roms. Optei, pelo menos em um primeiro momento, por baixar ROMs de videogames até no máximo 16 bits, para obter um bom desempenho num computador com hardware mais modesto. Pensando nisso, baixei ROMs de:
- 8 bits: Atari 2600, Master System, Nintendinho, Game Gear, Game Boy e Game Boy Color;
- 16 bits: Mega Drive, Sega CD, Super Nintendo e Neo Geo.
(Mais para frente quero testar o desempenho de ROMS de consoles de 32 bits, vou começar por videogames com hardware mais leves como Game Boy Advanced e 32X Mega Drive, mas depois arriscar outros consoles mais potentes, como Sega Saturno e PlayStation. Se fizer o teste, eu edito este texto futuramente contando como foi.)
Instalado o sistema operacional e baixadas as ROMS, veio mais uma parte que precisei levemente quebrar a cabeça. É que o sistema de compartilhamento padrão de arquivos do Lakka é o Samba, e ele não está instalado no meu computador, e não consegui fazer a instalação, por ignorância mesmo. Vi que o Lakka tem a opção de compartilhamento por SSH, que é mais familiar para mim, e ativei essa opção. Consegui acessar o Lakka via SSH primeiro pelo terminal, mas depois acabei achando mais prático instalar o Dolphin na minha máquina e mexer direto pelo gerenciador de arquivos. Ah, demorei um pouco para descobrir: a senha padrão de root do SSH do Lakka é root
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Copiadas as ROMs para o miniPC gamer, começou a jogatina! A parte legal é que a maioria dos emuladores mais conhecidos já vêm instalados, então é só colocar as ROMs mesmo e começar a diversão. Num primeiro momento, pedi para o Lakka analisar o diretório onde estavam as ROMs e depois me arrependi um pouco, além de demorar uma eternidade, ele criou listas de jogos gigantescas, onde é até difícil encontrar o jogo que você quer jogar. E se você pede pra analisar de novo, ele vai criando vários itens repetidos nas listas. Acabei optando, então, por um uso mais minimalista, deletei as listas e agora peço para analisar apenas a ROM do jogo que vou jogar naquele momento, assim ficam listados no menu principal apenas os jogos que eu de fato jogo. E toda a biblioteca está a disposição para testes, mas um pouco mais escondida, perfeito pra mim! Saí jogando vários clássicos, como Sonic, Alladin, Yoshi Island, entre outros!!!
Ah, usei o joystick do meu Xbox One ligado no cabo USB, funcionou bem, inclusive o botão do meio acessa o menu, o que achei ótimo! Porém, não sei se por causa da qualidade do cabo, ou da saída do controle, ele desconecta com uma certa frequência, o que é um pouco irritante, e quando a pilha está acabando começa a desconectar toda hora também. Então encomendei um joystick do tipo Xbox, só que com o cabo já embutido, acredito que vá melhor a experiência, qualquer coisa conto pra vocês na edição do presente texto. Mas achei ótimo que o sistema operacional funciona muito bem só com o joystick, sem necessidade de teclado e mouse.
Uma coisa que comecei a refletir depois de montar esse PC Gamer Retro é o quanto a biblioteca de diversos consoles antigos é rica, muito boa e com ótima qualidade. Fiquei pensando se a gente precisa mesmo de tanta novidade, jogo novo, ficar comprando jogo, console, sei lá, a diversão tá ali disponível, e de qualidade muito boa! Temos muito o que explorar nesses clássicos ainda, sempre tem algo que não ainda não conhecemos dentro do que já foi lançado.
Quando eu era criança e adolescente, jogando meu Master System e depois Super Nintendo, minha dificuldade no inglês dificultou um pouco a minha experiência em alguns RPGs, que é um gênero que eu adoro, e acabava que eu sempre precisava recorrer aos chamados detonados para terminar esses jogos. Estou jogando agora os RPGs clássicos, só que em português ou espanhol, para aproveitar melhor a experiência. Comecei por Legend of Zelda: Oracle of Ages do Game Boy Color, e quero desbravar a franquia no mundo dos 8 bits e 16 bits. Depois pretendo revisitar Final Fantasy, Chrono Trigger e outros clássicos do gênero.
Enfim, a experiência de revisitar esses clássicos tem sido tão positiva que o meu Xbox One tá parado, parado... vamos ver o que acontece com ele nos próximos capítulos...
Custo da operação: – R$17,10 = ida e volta de ônibus de Cosmópolis para Campinas; – R$30,00 = troca da bateria da placa mãe; – energia elétrica e internet, que já pagaria mesmo; – algumas horas de vida que não voltam mais (rs).
Equipamentos que eu já tinha e foram utilizados no processo: – televisão; – computador; – Joystick de Xbox One.
Edição: faltou mencionar o desempenho. Os jogos todos rodaram lisos, mesmo os de NeoGeo, que exigem mais processamento. Já quando rodei os jogos com outra tarefa no fundo, como reconhecer pastas ou baixar capas de jogos, o desempenho caiu consideravelmente e os jogos 16 bits ficaram engasgados, os de 8 bits rodando normal. Minha recomendação, se tiver configurações parecidas de hardware, é não rodar outras tarefas durante a jogatina.
Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima! Felipe Siles é pesquisador musical, educador e produtor cultural. Escrevo esta coluna voluntariamente, mas se quiser me pagar um cafezinho e contribuir para que eu escreva mais, segue minha chave pix: felipesilespix@protonmail.com
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