Dois meses usando o Bullet Journal

Introdução

Ao contrário do que se espera do estereótipo de uma pessoa de esquerda, artista, anarquista, contra-colonialista, tenho muito interesse em métodos de organização e produtividade, sempre foram assuntos que me interessaram bastante. Mas diferente do estereótipo do “farialimer”, meu interesse nesse material não é de produzir mais, mas de ter mais qualidade de vida e otimizar meu trabalho, justamente para ter mais horas de lazer e descanso. Foi nessa que o Bullet Journal acabou entrando no meu radar, e resolvi dar uma chance para testar porque estava muito insatisfeito com a forma como eu gerenciava as minhas tarefas. Já tinha testado diversos aplicativos para celular (entre eles o divertido Habitica), post-its, lousa, grupo comigo mesmo no Telegram, mas enfim... nada que trouxesse um resultado satisfatório.

O Bullet Journal

Pra quem não está familiarizado, Bullet Journal é uma metodologia de registros em caderno físico, criada por Ryder Carrol e desenvolvido e aperfeiçoado pela comunidade entusiasta no assunto. Chama a atenção a versatilidade e possibilidades de customização do modelo, diferente das velhas agendas, onde não podemos editar suas seções, pelo menos não se for uma agenda física; além da simplicidade na necessidade material, um caderno simples e um lápis já são suficientes para começar.

Comprei o livro do Ryder Carrol, O método Bullet Journal, e aprendi a metodologia. Confesso que não gostei muito do livro, achei que tem um tom de auto-ajuda que me irritou em alguns momentos, e tem muita “encheção de linguiça” (escrevi uma pequena resenha na Velha Estante sobre), é o famoso livro que poderia ser um post de um blog. Resumidamente, o primeiro capítulo do livro já é suficiente para aprender o método.

Se você quer apenas aprender o método e começar, acho desnecessário adquirir o livro, penso que um tutorial, como o que encontrei no WikiHow é suficiente. Agora, se você quer compreender melhor o contexto que o autor criou o método (que é interessante), e está com paciência ou gosta de livros auto-ajuda, manda ver, leia o livro.

Meu caderno

Comprei um caderno pequeno, no estilo Molesquine, mas de uma marca com preço mais acessível (Cícero), com capa de papel craft. Comprei o caderno pontilhado, que é o recomendado para bullet journal, embora não seja obrigatório. Nunca curti cadernos pautados (a não ser que a pauta seja musical), já comprava cadernos sem pauta antes, e encarei o desafio de escrever no pontilhado, no começo tive um pouco de dificuldade, mas me adaptei rápido. E o caderno pontilhado realmente ajuda bastante a desenhar quadros, tabelas, gráficos, bem legal, eu recomendo!

Comprei um caderno de 96 folhas e já estou percebendo que não vai durar o ano inteiro, no meio do processo com certeza precisarei comprar outro, ou outros, mas tudo bem, faz parte. Acredito que esse caderno vai ser suficiente para o primeiro semestre. Gosto de fazer as anotações com lapiseira (lápis eu gosto mais de usar para desenho, não escrita), não gosto muito de caderno cheio de rasuras, prefiro usar a borracha.

Rotina

Uma coisa que me impressionou é como a rotina do Bullet Journal foi incorporada na minha rotina com rapidez e naturalidade. Talvez isso tenha acontecido porque eu sempre fui de fazer muitas anotações. Mas anotava algumas coisas num post-it, outras num caderninho, outras num aplicativo, e, quando precisava, nunca encontrava onde estava alguma anotação específica.

Esse, por enquanto, tem sido o maior benefício do bullet journal pra mim: concentrar todas as anotações em um lugar só. Eu anoto tudo nele: tarefas, registros, hábitos alimentares, nomes de pessoas que não quero esquecer, pautas de reunião, anotações de palestras e cursos, etc. A única coisa que anoto num caderno à parte são as transações financeiras, tenho um livro caixa exclusivo para isso.

Uma coisa que me fez perceber como o hábito de fazer registros no bullet journal se estabeleceu de maneira muito forte na minha rotina foi numa viagem curta de trabalho que esqueci de levá-lo. Em vários momentos eu sentia vontade de fazer registros no caderno, mas ele não estava lá. Acabei fazendo quando cheguei de viagem e, desde então, levo ele pra todo lado, mesmo em viagens mais curtas.

Minhas adaptações e customizações

Eu segui à risca as orientações do livro de quantas páginas devo deixar para índice, registro futuro, etc. Mas, passados dois meses, tenho a impressão de que não vou fazer assim tantos registros futuros e marcar tantas coisas assim no índice. O registro futuro e registro mensal pra mim não funcionaram tão bem, porque eu já possuo o hábito bem estabelecido de utilizar aplicativo de agenda. Acredito que se um dia eu abandonar o aplicativo pode ser que eu acabe usando mais esses registros, mas no momento eu não vejo muito porque desfazer um hábito que já está estabelecido e funciona. Estou pensando de, talvez, num próximo caderno deixar apenas uma página para índice, uma página para coleções, duas páginas para registro anual e duas páginas para registro futuro, acredito que para o meu uso é o suficiente.

Até o momento criei três coleções: rotina, hábitos alimentares e calendário Osé Ifá (da minha religião, o culto tradicional aos orixás). Como a minha doutrina religiosa segue um calendário da cultura iorubá, onde a semana possui apenas quatro dias, eu tenho feito no registro diário: a data numérica, o dia da semana e o dia da semana do calendário iorubá. Tem sido muito útil para fazer meus rituais nos dias certos.

Sobre as legendas, eu tenho utilizado basicamente quatro categorias de registros. Utilizo o tópico para registros comuns, as caixinhas para tarefas, horário para registros cronológicos e quadros para coisas mais específicas, como por exemplo: pauta de uma reunião, anotações que fiz em uma palestra, etc.

O meu problema original: gerenciamento de tarefas

Registro todas as tarefas no dia em que a demanda aparece, com uma caixinha. Quando cumpro a tarefa, risco o texto (assim) e dou uma ticada na caixinha ☑️. Quando a tarefa é adiada, risco o texto e coloco na frente dele uma seta ➡️ indicando que farei aquilo mais pra frente. E quando a tarefa é cancelada marco com a caixinha com um ❎, e também risco o texto. Riscar o texto é bem importante pra mim, dá uma boa sensação de que aquela questão foi resolvida ou pelo menos encaminhada. E além dessa marcação na tarefa originalmente escrita, também coloco no dia do cumprimento da tarefa um registro de que ela foi cumprida.

Toda vez que tenho tempo livre para resolução de tarefas vou foleando meu caderno em busca de caixinhas vazias. Quando algumas tarefas já começam a ficar muito para trás no caderno, ou quando elas estão muito espalhadas, gosto de reorganizar a lista e concentrar todas numa página só. Até agora, em dois meses de uso, só precisei utilizar esse recurso uma única vez.

Além disso, criei uma ordem de prioridades de 1 a 4 para as tarefas, de acordo com a sua natureza. Tarefas relativas ao doutorado são prioridade 1, relativas aos meus freelas são prioridade 2, relativas aos coletivos que faço parte são prioridade 3 e todas as outras são prioridade 4. Coloco sempre (que lembro) o número da prioridade na frente da descrição da tarefa. Quando a tarefa tem prazo, coloco a data também.

Conclusão

De tudo que já testei em termos de gerenciamento de tarefas, o bullet journal foi o método que mais me agradou e tem funcionado bem. Quando utilizava aplicativos eu percebia que conforme as tarefas acumulavam eu ia deixando de abrir o aplicativo, grupo de Telegram, idem. Também tive alguns problemas com os aplicativos na questão de colocar data nas tarefas, muitos deles apresentavam alguns bugs, principalmente quando você trabalha no formato CalDav. A lousa e o post-it tinham o problema de não visualizar as tarefas já cumpridas, e também o fato de que também é possível ignorá-los, transformá-los em paisagem.

Já o caderno, como tem a questão dos registros diários, meio que não tem como ignorar, se você estabelecer bem o hábito, você vai lidar com ele todos os dias, e as tarefas estarão ali. Nesse sentido, acho bem importante as tarefas serem misturadas com o diário, se houvesse uma sessão só com tarefas eu provavelmente a evitaria, como evitava abrir os aplicativos.

Além disso, como já foi dito anteriormente, o bullet journal me ajudou a concentrar todas (ou quase todas) as anotações em um lugar apenas. Inclusive, o caderno aliado ao aplicativo de agenda funciona muito bem. Por exemplo, eu quero achar as anotações que fiz em uma reunião: vou até o calendário, olho a data da reunião, vou até essa data no caderno e vejo todos os registros do dia, excelente!

A única parte que ainda não me adaptei é a questão de registros futuros e de registrar os compromissos no caderno, já que o hábito de utilizar aplicativo de calendário já está estabelecido. Mas eu percebi uma leve mudança já, agora estou anotando no aplicativo de agenda apenas compromissos esporádicos, já não estou mais anotando os compromissos rotineiros, esses tenho preferido registar no caderno. Quem sabe um dia eu acabe abandonando o aplicativo de calendário, veremos...

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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