Blogroll

Imagem de um galo cacarejando ao lado de um sol nascente. Ao fundo uma passarada

“Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos”.

A melhor forma de conhecer pessoas interessantes é conhecer pessoas interessantes. E a melhor forma de conhecer blogues interessantes é conhecer blogues interessantes. Essa é uma ideia de uma tautologia aparentemente simples, mas que custa muito a entendê-la.

Os blogues, os indivíduos e os podcasts mais interessantes que já conheci foram aqueles que tive contato pelo “boca a boca”, apresentados através de amigos, mutuals em redes sociais ou mesmo por criadores aos quais dou crédito. Isso porque os blogues, indivíduos e podcasts não são alcançados pelos algoritmos de curadoria de conteúdo ― nós mesmos temos de nos apresentar.

Isso posto, me vejo agora no papel de passar a mensagem adiante, e participar desse imenso network “analógico” ― quero dizer: sem intermédio de algoritmo de curadoria de conteúdo.

A seguir listarei alguns dos blogues de que gosto, dos quais não perco uma publicação sequer, além de outras informações sobre esses endereços, como o tema e a língua de seu conteúdo, e como os conheci. Nesta minha curadoria, tentei “variar o cardápio”, por assim dizer, com os mais diversos assuntos.

Manual do Usuário, blogue sobre tecnologia, um dos grandes responsáveis por me fazer estar onde estou. Pelos comentários do Rodrigo Ghedin, mantenedor do site, fui influenciado a ingressar no Mastodon logo após o declínio do Twitter, do qual eu participava há mais de dez anos. A partir da comunidade do Mastodon/Fediverso, fui influenciado a ter outras redes federadas com o protocolo ActivityPub, entre as quais está este blogue em que escrevo.

Ainda do mesmo autor, temos seus Excertos, onde publica aforismos, reflexões pessoais e indicações de filmes e outras coisas de cultura. Ghedin é um dos melhores escritores da internet que conheço. Por isso, vale a leitura.

Flashbak, do qual tive conhecimento nos tempos do Twitter. Como o nome já sugere, Flashbak publica “pérolas culturais”, histórias curiosas do passado através de imagens ou ilustradas por imagens. Só recentemente soube que tinham um site com mais imagens para além das de seus tuítes. Pela Flashbak, “tudo o que era velho, torna-se novo de novo”, como diz o seu slogan.

Blogue do Felipe Siles, daqui da casa, por onde tenho as melhores dicas sobre hábitos digitais ― e o mais curioso: Felipe é músico de formação, mas tem um incrível letramento em software livre!

Blogue do Lionel Dricot, blogueiro veterano, cujo site é também conhecido por Ploum.net, onde lemos debates sobre tecnologias e seus impactos sociais. Ploum é escrito em inglês e em francês.

Sol2070, indicado pelo blogroll do Kliniko, publica ensaios e resenhas sobre livros e filmes do universo distópico, sobretudo o cyberpunk.

Low Tech Magazine, blogue do inventor, ambientalista e jornalista belga Kris de Decker. Aí ele publica suas invenções de energia renovável ou de baixo consumo de energia, e com pouco impacto ambiental, além de reflexões sobre o impacto do capitalismo sobre o meio ambiente. Kris é um dos caras da atualidade que mais admiro. Entre estas Ideias de Chirico, há inclusive uma tradução minha de um texto seu ensinando como prescindir de notebooks novos. Low Tech Magazine publica primariamente em inglês, mas tem alguns textos traduzidos em outras línguas. Low Tech, Ploum.net e o Manual do Usuário são inspirações ao design destas Ideias de Chirico.

El cuarto del GatoOscuro, blogue sobre questões de privacidade digital e outros assuntos. Publica em língua espanhola.

Arquitetura em notas, espaço que conheci pelo fórum do Manual do Usuário, o Órbita, do qual Gabriel Fernandes, autor do blogue, é participante. O foco desse blogue é arquitetura ― como o próprio título sugere ―, mas aí lemos desde comentários sobre design de logomarcas até menções de arquitetura brasileira em jogos e filmes.

Sibila, revista de literatura nacional e internacional, que comenta lançamentos e clássicos. Quando eu começava a estudar poesia concreta, os melhores artigos que eu encontrava em minhas pesquisas sobre isso estavam no Sibila.

Cinegnose, indicado por um amigo da área da filosofia. Também um blogueiro veterano ― seu endereço é de domínio blogspot! ―, escreve sobre tudo o que está na praça.

Lembro que todos esses endereços possuem versões em RSS, o que possibilita ler seus novos textos no momento da publicação.

Podroll

Os programas de áudio, assim como os blogues, não são movimentados por algoritmo, e dependem do público para a própria proliferação. Por isso, decidi fazer também uma lista dos podcasts que escuto ou que já terminei de escutar:

Xadrez Verbal, “revista semanal sobre política internacional em formato podcastal”, como é apresentado em todos os episódios, dá uma visão panorâmica dos principais acontecimentos geopolíticos de todos os continentes. Os anfitriões são Filipe Figueiredo e Matias Pinto, ambos profissionais da área de História, com participação de Sylvia Colombo, colunista da Folha de São Paulo, bem como da economista Vivian Almeida. As primeiras escutas dos longos episódios de três a quatro horas foram difíceis, e eu levava de três a cinco dias para terminá-los. Hoje já mato o episódio em um dia. Xadrez Verbal me abriu o apetite para outros programas de áudio.

Naruhodo apresenta uma perspectiva científica, mas bem humorada, de assuntos cotidianos, como a birra, o ciúme e o riso, ou outros assuntos tabus como o luto, a traição, os perigos da maconha à saúde e a relação entre homens e animais domesticados. Os anfitriões são Ken Fujioka e Altay de Souzar, que também entrevistam alguns dos principais cientistas do Brasil. A frequência de novos episódios é semanal e o comprimento médio dos episódios é de 45 minutos.

Foro de Teresina é um programa de áudio com parte do estafe da Revista Piauí. Com uma perspectiva de esquerda, aborda as principais notícias do Brasil, e tem frequência de episódios semanal, com comprimento médio também de 45 minutos. Há um apêndice ao Foro de Teresina que é a série “Desiguais”, na qual se entrevista figuras públicas negras para falar de suas vivências no Brasil.

Durma com Essa é um programa de áudio mantido pela Revista Nexo. Resume as principais notícias do Brasil e do mundo, tem frequência diária de segunda a sexta e o comprimento médio dos episódios é de 15 minutos.

Primeiro Contato é uma série documental sobre a história da internet no Brasil. Esse foi um dos programas com os quais mais me emocionei e dos quais mais gostei de ouvir. O anfitrião é Henrique Sampaio, que recentemente iniciou o programa “Código do Caos”, sobre problemas da tecnologia na contemporaneidade.

Outra série documental é o Ser Sonoro que aborda os principais aspectos da música, dos sons e da cultura da escuta. É baseado em uma tese de doutorado do próprio autor, Fernando Cespedes. Uma recomendação que dou é ouvir o programa com bons fones de ouvidos e antes de dormir, quando não há nenhum ruído ambiental. Só consegui apreciá-lo devidamente quando me eduquei a fazer isso.

Para onde vamos? é o programa do antropólogo Michel Alcoforado na rádio CBN ― transmitido também em podcast ―, que vai ao ar duas vezes por semana, com episódios de 15 a 20 minutos. Michel faz análises dos últimos acontecimentos viralizados pela ótica da antropologia. Apesar de acadêmico, sua retórica não é maçante. Ele tem sido uma das minhas melhores antenas para me sintonizar com o zeitgeist do século XXI.

E por falar em zeitgeist, outro programa que me deixa em sintonia com a cultura pop e com os social media é mimimidias, que eu acho simplesmente viciante. Não pulo sequer os seus merchans. Sua frequência é semanal e o comprimento médio de seus episódios é de 45 minutos.

Radio Ambulante é um programa de áudio com direção argentina e promovido pela NPR, a estação radiofônica estatal dos Estados Unidos. Radio Ambulante conta crônicas da América Latina. Foi com este podcast que aprendi espanhol ― o que me rendeu o sotaque rioplatense e muita emoção. Sua frequência é semanal e o comprimento médio de seus episódios é de 45 minutos.


“Tecendo a manhã”

1. Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.

2. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

― João Cabral de Melo Neto.


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