Felipe Siles

Espaço onde organizo, registro e compartilho algumas práticas que realizo na direção de um uso racional e civilizado das tecnologias. Espero que seja útil e ajude a despertar boas ideias.

Relembrando 2022

Em primeiro lugar, este não é um texto embasado em estatísticas, números, como diz o título: apenas o relato de impressões pessoais. Vou voltar um pouco no tempo, para 2022. Elon Musk comprou o Twitter, trouxe de volta perfis banidos, demitiu um monte de gente, afrouxou a moderação da plataforma (que já era problemática antes) e bradava aquele discurso fantasioso americano de “liberdade de expressão”, que na verdade é liberdade para oprimir sem lidar com as consequencias.

Naquela altura do campeonato o cenário era o seguinte: Zuckberg colocou às pressas pra rodar o seu Threads; BlueSky era uma novidade também, mas precisava de convite para entrar; e o Mastodon era a única plataforma pronta para receber os insatisfeitos com o Twitter sob nova direção (vou poupá-los da vergonha de lembrar que um considerável montante aderiu a uma rede social indiana de extrema direita só porque tinha um nome meio 5ª série).

Muitos usuários relataram dificuldade para migrar para o Mastodon: o sistema descentralizado, organizado por instâncias, foi um entrave para a maioria, fazendo com que muitos ficassem ali pelo Twitter, mesmo com os problemas da nova realidade. Foi nessa leva que eu excluí minha conta do Twitter e migrei definitivamente para o Mastodon.

O cenário atual é bem diferente: BlueSky e Threads, apesar de estarem ainda implementando alguns recursos, me parecem redes prontas para receberem os usuários do Twitter. E o Mastodon continua sendo o Mastodon, pro mal e pro bem.

Mastodon

Fiquei três anos (2019 a 2022) tentando ter alguma visibilidade no Twitter. Como sou uma pessoa que gosta de textos, tanto de escrever como ler, sempre preferi as redes textuais, criando até um certo asco pelas redes de fotos e vídeos. Fui muito popular no Facebook (na era pré-algoritmo) e com o declínio da plataforma do Zuckberg, tentei transferir essa popularidade para o Twitter, sem sucesso. Tinha vontade de divulgar minha produção acadêmica e também fazer parte do “debate público”, mas foi um fracasso. Tweets às moscas, pouca interação, quando ia no tweet de algum influenciador famoso e discordava de algum ponto não havia diálogo, e sim frases de efeito, lacração, com o amplo apoio dos seguidores daquela pessoa, ou seja, o diálogo completamente interditado, mesmo em contas de esquerda/progressistas/não-fascistas.

Encontrei no Mastodon um ambiente parecido com o Facebook pré-algoritmo que, gostem ou não, era uma rede muito boa para interagir com amigos. Desde então o Mastodon tornou-se minha rede principal, descobri o Fediverso e a possibilidade dele interagir com outras plataformas que compartilham o mesmo protocolo, descobri o ótimo Lemmy, e que posso federar blogues e sites feitos em wordpress e até mesmo ESTE BLOGUE que você está lendo, fantástico!

A impressão que eu tenho é que o Mastodon não tem a menor vocação para virar um novo Twitter, embora ainda exista gente (ao meu ver equivocadamente) com essa expectativa. A dificuldade inicial em criar uma conta foi resolvida, agora o novo usuário se não quiser entrar em uma instância é colocado por padrão na mastodon.social, facilitando o acesso para a geral (igualzinho funciona o BlueSky com a bsky.social). Mesmo assim, aquela fama de 'difícil de entrar' permanece, mesmo não sendo mais a realidade atual.

Mas eu acredito que esse não é o principal entrave para a plataforma crescer. Acho que conheço o Mastodon o suficiente para elaborar duas razões principais do por que ele nunca será massificado:

1) a falta de algoritmo faz com que um influenciador praticamente vire um usuário comum. Mesmo que ele ganhe muitos seguidores só por ser famoso, suas postagens vão concorrer igualmente com postagens de usuários comuns. Além disso, o público do Mastodon tende a ser bastante avesso a propagandas, tornando a prática da 'publi' difícil na plataforma, inclusive existem instâncias que proibem. Isso afasta os influenciadores grandes, que acabam criticando a plataforma publicamente, numa lógica de concorrência e reserva de mercado, afinal não querem perder seu público, sua fonte de renda;

2) a própria comunidade do Mastodon não parece muito empolgada com a ideia da massificação da plataforma. O usuário do Mastodon é como o morador de uma cidade pequena, que gosta de estar ali, e não tem a menor vontade de que ela vire uma metrópole. Mesmo a federação com a Threads é vista com desconfiança pela maioria e já é silenciada ou bloqueada em diversas instâncias brasileiras. O Mastodon é bem uma cidade pequena mesmo, todo mundo meio que se conhece, e as instâncias são os bairros dessa cidade, você pode não conhecer todo mundo, mas sabe que tem a galera da Ursal, da Bantu, da Ayom, da Bolha.us, da Bolha.one, etc.

Isso tem um lado positivo, que faz com que a rede seja mais humana, mais acolhedora. Mas, por outro lado, gera também um efeito condomínio, acaba que essa experiência mais agradável é acessada por poucas pessoas, por nichos, se tornando elitizada. Mas tenho a impressão que no capitalismo isso ocorre com outras coisas também: pouca gente tem acesso a uma alimentação natural, com alimentos orgânicos, por exemplo.

BlueSky

Apesar de gostar muito de estar no Mastodon, sempre me incomodei com o fato de instituições públicas não estarem lá (existem algumas ações pontuais, como a dos museus, mas é muito pouco, infelizmente). Comecei a seguir diversos veículos de imprensa e instituições através do feed RSS, mas a verdade é que não dei conta do volume de informação, e hoje minha feed RSS é bem restrita, para não sobrecarregar minhas leituras (faço doutorado e já preciso ler bastante). Isso sem falar que muitos sequer têm uma feed RSS. Tentei seguir as instituições pelos canais de whatsapp, mas também não dei conta, e o meu whatsapp que já é um inferno de notificações tornou-se ainda pior. Nisso eu sentia falta do Twitter, você encontrava ali no meio da sua timeline uma ou outra informação oficial, que poderia ser útil, mas não precisava necessariamente acompanhar tudo.

Quando percebi que estava rolando uma movimentação de bloqueio do X, antigo Twitter, resolvi dar uma chance ao BlueSky e criei uma conta. Quem me acompanha neste blogue, sabe que sou avesso à big tech, mas a possibilidade de uma rede social que se propõe a ser descentralizada, moderada e de código aberto despertou a minha curiosidade. O fato do antigo criador do Twitter, com aquele famigerado discurso de liberdade de expressão, ter se afastado do projeto também me animava. Além disso, fiquei empolgado com a possibilidade de voltar a seguir alguns conteúdos que seguia no Twitter, agora sem propagandas e sem o maldito algoritmo deles, aquele que premia a escrotidão e a treta.

Criei a conta no BlueSky e fui percebendo a migração aos poucos das contas que eu gostava de acompanhar no Twitter, alguns deles já estavam lá antes do bloqueio. Com o bloqueio, fui notando que diversos veículos de imprensa passaram a criar conta no BlueSky, que aparentemente ganhou a batalha de números contra o Threads.

Minha experiência com o BlueSky, pesando prós e contras, vem sendo positiva. A plataforma tem uma vocação para ser o “antigo Twitter”. Percebo que não há tanta interação quanto o Mastodon, já que lá existem algoritmos. Mas a ideia de personalizar a experiência algoritmica me pareceu interessante e útil, escolhendo as feeds que você quer ter na sua página inicial. Muita coisa que eu posto lá fica ao vento, como era no Twitter, mas já entendi que lá é um lugar de pouca interação mesmo para humanos comuns.

Venho utilizando a plataforma para seguir veículos de imprensa e instituições públicas de uma forma que eu consigo dar conta. Também venho interagindo com algumas pessoas que me seguiram, e voltei a interagir com pessoas que eu já interagia quando tinha conta no Twitter. Pretendo utilizar a plataforma para divulgar meu trabalho acadêmico e a hashtag #AcademicSky me parece bem útil pra isso. As postagens onde usei essa hashtag ganharam um pouco mais de tração e interação, me parece um recurso bem promissor.

Meu maior temor em relação ao BlueSky é a forma como eles vão monetizar a plataforma, que pra mim ainda é um mistério. Será que vão ter assinaturas, liberando recursos extras, mais ou menos como o Telegram? Ou será que vão apostar na monetização do conteúdo exclusivo, num caminho meio OnlyFans? Será que vão enfiar propaganda goela abaixo na timeline da galera, como o Twitter (ou pior, o Facebook)? Prefiro aguardar, mas se a última opção ocorrer, vou deletar minha conta.

Threads

Não criei Threads nem pretendo criar, a nova rede parece ter um ambiente muito parecido com o do Instagram, ambiente este que eu não tenho a menor vontade de estar presente. Mas confesso que dei algumas buscas na Threads, em perfis que não migraram para o BlueSky. A impressão que eu tenho é que gente MUITO FAMOSA está na Threads, principalmente figuras ligadas à música, cinema e esportes.

Acho compreensível, lá é o ambiente de gente famosa mesmo, e práticas como publicidade, as publis, estão naturalizadas por ali. Como uma grande 'Revista Caras' que se tornou o Instagram, faz sentido que essas pessoas muito famosas fiquem ali pela Threads mesmo, monetizando em cima de uma base de usuários que é gigantesca, que é a base de usuários do Instagram, onde mais de 90% dos brasileiros com acesso a smartphones e internet têm conta (felizmente estou nos menos de 10% que não tem, ô sorte!).

X

Não sabemos se o X vai voltar a operar no Brasil ou não. Aparentemente a rede, no contexto brasileiro, se tornou um lamaçal de facistóides usuários de VPN, um verdadeiro esgoto. Sempre fui crítico a essa postura das esquerdas de “ocupar o twitter”, não adiantava nada, e o Alexandre de Morais e o STF esfregaram isso na nossa cara. Sem um algoritmo premiando comportamentos agressivos, BlueSky e até o Threads se mostram como ambientes mais saudáveis que o X. Inclusive, acho que poucos lugares na internet são piores que o esgoto fascista que se tornou o X.

Muitas pessoas no BlueSky estão relatando que o discurso de extrema direita perdeu tração sem o X, embora eu ainda gostaria de ver essa afirmação expressa em números, estatísticas e gráficos para me convencer totalmente. Mas, pelo menos aparentemente, o bloqueio desmobilizou a máquina pública de discurso de ódio e fake news, jogando os fascistas a permanecer na plataforma com o VPN ou se esconder nos esgotos de seus grupos privados de Telegram e Whatsapp.

O ser humano é um animal de hábitos e me parece que mesmo em tão pouco tempo temos o ecossistema do X reorganizado nas duas plataformas: o crackudo de notícias foi para o BlueSky, o crackudo da Ilha de Caras foi para o Threads. O usuário do 'núcleo duro' do Twitter parece ter ido para o BlueSky, o usuário mais casual para o Threads (aí pesa a comodidade de ter o perfil associado ao Instagram). Me parece que os públicos dos influenciadores, veículos e instituições se acomodou nas duas plataformas e parecem estar gostando da experiência.

Os estudiosos do comportamento dizem que um novo hábito leva mais ou menos um mês para se estabelecer. Se o bloqueio durar menos de um mês, eu acredito que as pessoas voltam para o X, e as outras plataformas voltam a ser produtos de nicho. Agora se o bloqueio durar um mês ou mais, eu penso que pode ser interessante observar a movimentação dos influenciadores de esquerda, progressistas ou pelo menos não-fascistas:

1) Pode acontecer de voltarem em masssa para o X: vão voltar a fortalecer em número de base de usuários uma máquina de desinformação, de produção de discurso de ódio. Se isso acontecer, ficará muito nítido que a briga dessas pessoas não é por uma internet livre, saudável e humana, mas sim pela própria fama, visibilidade, monetização e sucesso. P.S.: excluo dessa conta os jornalistas, esses são proletários e vão para onde os jornais (e seus patrocinadores) determinarem que é pra ir;

2) Pode acontecer de haver uma divisão (acho o mais provável): alguns voltam para o X, outros ficam pelo Threads e BlueSky e trabalham com suas bases de seguidores nas novas plataformas. Apesar do monopólio atual do Instagram, pessoas estão em outras redes também, e me parece que a segunda rede de preferência da maioria das pessoas varia muito. Me parece que existe uma tendência, fora do Instagram, das redes serem consumidas de forma mais compartimentada e nichada mesmo, o que inclusive vejo como positivo;

3) Pode acontecer de ignorarem a volta do X (meu sonho) e tornarem a rede do Elon Musk um esgoto da extrema direita, uma cidade abandonada, uma espécie de novo 4chan ou truth.social. Caso isso aconteça, eu acredito que demos um passo em direção à civilidade.

Acho que mesmo com o final do bloqueio, a vida de Elon Musk não será fácil, a companhia perdeu muito dinheiro com essa decisão do STF brasileiro e parece que a ação já está reverberando em outros países. Então acredito que a tendência é que Elon Musk encontre cada vez mais barreiras legais em diversos países para suas loucuras. E a perda de dinheiro e patrocínios fazem com que o fantasma da falência passe a assombrá-lo. Nesse hipotético cenário, Musk terá que escolher entre ceder (o mais provável) ou sucumbir de vez, fazendo com que o X, assim como o Twitter, Koo e o Orkut, sejam parte do passado da tecnologia. Assim espero!

Meus perfis para quem tiver interesse em seguir:

Mastodon: https://ayom.media/@felipesiles BlueSky: https://bsky.app/profile/felipesiles.bsky.social

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

O Mozilla Thunderbird é uma excelente ferramenta para gerir emails. Ele é gratuito, tem código aberto e está disponível para instalação em diversos sistemas operacionais. Além da função óbvia de gerenciar emails, ele possui outras funções bem interessantes, como calendário, chat e acompanhar feeds RSS. E as extensões, a maioria desenvolvida pela comunidade, acrescentam ainda mais funções e possibilidades interessantes ao software. Seguem minhas extensões preferidas no momento:

Confirm-Address: já aconteceu com você de enviar um email e só depois lembrar que esqueceu de acrescentar uma CC (cópia carbono) ou anexo? Ou já esbarrou sem querer no botão 'enviar' e mandou um email que não estava totalmente pronto ainda? Essa extensão é bem simples, ela pede uma confirmação antes de enviar qualquer email. Eu acho bem útil, para dar aquela revisada se está tudo certo para o envio, antes de fazê-lo de forma definitiva e sem volta;

Provider for CalDAV and CardDAV + TbSync: ajuda a sincronizar calendários CalDAV com servidores como o Nextcloud, por exemplo;

Remover mensagens duplicadas: quem usa o Thunderbird, sabe que ele possui o incoveniente de duplicar algumas notificações de novos emails, essa extensão corrige o problema;

Quick Acess: esse conjunto de extensões pode transformar o Thunderbird num super gestor de mensagens, já que agrega botões que abrem páginas para ler emails a princípio não compatíveis com o Thunderbird (como Tuta e Proton), além de botões para acessar mensageiros como Whatsapp, Telegram e Discord. São 18 extensões do mesmo criador, que criam botões para diversos serviços da web.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Acredite, muita gente ainda ouve rádio, muita gente mesmo. E, para quem gosta da mídia, é possível que já tenha se deparado com a situação de visitar alguns sites de webrádios, aí se incomodar com a arquitetura do site, os anúncios, a parafernalha, sendo que você só queria ouvir rádio. Ou simplesmente não consegue desenvolver o hábito de visitar um site para ouvir uma rádio. Você vai na Play Store (ou Apple Store) e procura algum aplicativo de web rádios, mas o aplicativo não tem a rádio que você quer ouvir, principalmente se ela é mais alternativa. Não sei quanta gente já passou pelo mesmo problema, mas eu sempre desconfiei que havia uma forma de seguir rádios parecida com seguir RSS de notícias ou podcasts. E tem sim!

Uma webradio é mais ou menos uma playlist que fica rodando em um site na internet (na verdade, é um pouco mais complexo que isso rs, mas só pra ficar mais prático o entendimento). Se você consegue o link dessa “playlist”, pimba! Basta rodá-la em um programa ou aplicativo de sua preferência que tenha essa função. Então vamos primeiro aprender como encontramos o link para ouvir a webradio. Após algumas interações pelo Mastodon, Elmo Neto trouxe um passo-a-passo bem interessante para isso. Nas palavras dele:

  • Abra a página da rádio;
  • Abra as ferramentas de desenvolvedor do navegador (pode usar o atalho ctrl+shift+i) e clique na aba “Rede”;
  • Limpe todas as requisições clicando na lixeira;
  • Clique em Play e espere a requisição pra transmissão;
  • Copie a URL e cole no seu player preferido (como o VLC).

Agora segue a lista dos meus programas e aplicativos preferidos para rodar as URLs das webrádios:

Por último, seguem algumas sugestões de rádios (com seus devidos links) que eu gosto e acompanho:

Rádio Aconchego https://orelha.radiolivre.org/aconchego

Rádio USP https://flow.emm.usp.br:8008/radiousp-rp-128.mp3

Rádio Yandê https://cloud.cdnseguro.com:2611/stream

Rádio Unicamp https://radio.sec.unicamp.br/aovivo

Rádio ABET https://s19.maxcast.com.br:8415/live?id=1192757142750

Rádio Antena Zero https://www.radios.com.br/play/playlist/27099/listen-radio.m3u

Rádio Comunitária Cantareira https://5a2b083e9f360.streamlock.net/sc_canta/sc_canta.stream/playlist.m3u8

Rádio Noroeste (Campinas-SP) http://svrstream3.svreua.com:8322/stream?1718737404193

Universidade FM (UFMA) https://s26.maxcast.com.br:8280/live?id=1718833388070

Educadora FM (Bahia) https://www.radios.com.br/play/playlist/12911/listen-radio.m3u

Rádio Universitária (UFPE) https://www.radios.com.br/play/playlist/14984/listen-radio.m3u

Rádio Cultura Cigana Brasil https://streaming.studioshopping.com.br/listen/radio_cultura_cigana_brasil/radio

Rádio Chiveo https://comodin.uy/listen/chiveo/128.mp3?refresh=1728309944820

Rádio Pipi Cucu https://comodin.uy/listen/pipi_cucu/128.mp3?refresh=1728310043403

Gostaria também de agradecer e dedicar esse texto ao Saci da Rádio Aconchego que foi a pessoa que resgatou em mim o amor pelo rádio, obrigado meu amigo!!!

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Fala pessoal! Na data que escrevo (14 de junho de 2024) estou com 34 horas de tela de celular nos últimos 31 dias, mas se considerar apenas os últimos 11 dias, tenho 11 horas, ou seja, nos últimos 11 dias dá pra dizer que tenho média cravada de 1 hora por dia de tela de celular. Pode parecer bobagem, mas morando em um país onde as pessoas passam EM MÉDIA (significa que tem gente que passa mais) 9 horas por dia no celular ou em outros eletrônicos, acho que o feito é bem considerável, não só pelo aspecto da saúde mental e bem estar, mas acaba gerando um certo deslocamento cultural (que resolvi bancar), já que não estou com o nariz enfiado no celular o tempo inteiro, como a maioria das pessoas ao meu redor.

Vou colocar de maneira prática e objetiva algumas estratégias combinadas que adotei para alcançar essa média, caso interesse alguém:

  • Não tenho perfil nas redes sociais comerciais famosas (Instagram, Facebook, Xwitter e TikTok);
  • Tenho perfis em algumas rede sociais do Fediverso (Mastodon e Lemmy), mas só as acesso via computador, no celular não tenho aplicativos dessas redes;
  • Deletei aplicativos que me faziam ficar perdendo um tempo no celular, como aplicativos de esportes (como o Sofascore) e jogos (como o Lichess);
  • Para evitar ficar navegando por sites na internet, uso o Firefox Focus como único navegador no celular. Ele não salva senhas, nem histórico, funciona sempre como se fosse uma aba anônima, o que ao meu ver limita bastante o uso prolongado;
  • Deletei muitos aplicativos do meu celular, deixei aquilo que considero muito essencial (dentro do meu uso, óbvio), como aplicativos de mapas, transporte, bancos, e afins;
  • Tenho apenas três mensageiros no meu celular: whatsapp, telegram e o SMS. E só os mantenho instalados porque tem muita gente que me liga usando esses aplicativos. A checagem e respostas das mensagens eu faço uma ou duas vezes por dia no computador mesmo, utilizando clientes web (utilizo o Ferdium, que agrega todos esses mensageiros num ambiente só);
  • Utilizo o aplicativo Screen Time (da F-Droid) para monitorar meu tempo de tela, e criei essa meta de 1 hora por dia;
  • Pelo menos uma dia na semana eu tento ficar o maior tempo possível offline, sem nem encostar no celular, costumam ser aos domingos (quando não tenho trabalho/freela nesse dia);
  • Comecei a levar o meu e-reader (popularmente conhecido como Kindle) pra todo lugar que eu vou, e quando bate aquele tédio ao esperar um ônibus ou um atendimento no banco, eu leio um livro ao invés de mexer no celular;
  • Aqui tem uma pequena roubadinha: o maior tempo de uso do meu celular é ouvindo coisas: webrádios, rádio FM, podcasts, música, etc, ou seja, não contam como tempo de tela. Inclusive eu queria muito ter um aparelho só pra isso, que não fosse celular. Vi que já lançaram uma espécie de walkman Android, mas por enquanto é meio caro para o meu bolso;
  • Participações em videochamadas: COMPUTADOR SEMPRE! Além de tempo de tela no celular, ainda come uma bateria da porra;
  • Desligo TODAS as notificações do celular;
  • Prática diária do Bullet Journal tem me deixado um pouco mais analógico, pelo menos pra gerenciamento das tarefas;
  • Mantenho hobbies que não dependem de tela, como passear com cachorro, visitar banca de jornal e montar cubo mágico;
  • Uso relógio de pulso para não precisar recorrer ao celular para ver as horas.

A parte que eu mais amo de priorizar fazer as coisas no computador, é que é muito fácil delimitar um fim para sua relação com a internet e a tecnologia no dia. Basta desligar o aparelho. Diferente do celular, que já nem temos mais coragem de desligar (eu programei um desligamento automático do espertofone diário, na hora de dormir, religando na hora de acordar).

ATUALIZAÇÃO (11 de agosto de 2024) Consegui baixar o tempo de tela atualmente para uma média de 30 minutos por dia

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Salve galera! Faz alguns meses que não escrevo neste espaço, pois de um tempo pra cá venho sentindo maior necessidade de ler do que escrever. Então abro uma pequena exceção pra falar um pouco como tem sido essa retomada a um forte hábito de leitura.

Digital x Analógico: eu fico com os dois

Prefiro ler o papel, mas venho cada vez mais diminuindo o uso do celular no meu dia-a-dia e, nesse sentido, o Kindle tem me ajudado muito. Ando com ele na minha pochete, junto com os três Cs (carteira, chave e celular), e quando bate aquele tédio de esperar um ônibus ou minha vez no banco, recorro ao e-reader ao invés do espertofone.

Quando estou em casa, tenho priorizado os livros de papel. Organizei uma lista de desejos, aí vou registrando livros que preciso comprar, a maioria deles para a minha pesquisa de doutorado. Aí no começo de cada mês compro um desses livros, assim que cai a minha bolsa. É uma forma de investir na minha biblioteca ao longo do doutorado e frear o impulso de sair comprando muitos livros que provavelmente não vou ler. Tenho também reservado dois horários do dia para leitura, um de manhã para leituras do doutorado e um mais no final da tarde e começo da noite dedicadas à leitura apenas pelo prazer.

Outra coisa que tem sido legal é que voltei a frequentar a banca de jornal. Moro em uma cidade pequena, e aqui há apenas uma banca. Como ela fica em frente ao principal supermercado da cidade, tenho aproveitado quando vou às compras pra dar uma passadinha na banca antes. Já fui assinante de revistas, chega uma hora que eu não dava mais conta de lê-las, então eu tenho preferido fuçar a banca, ver se tem alguma revista ou HQ com algum tema que me interesse e compro, sem o compromisso de ter que comprar as edições seguintes.

Alguns programas/aplicativos que eu tenho utilizado pra ajudar no hábito de leitura

Quando se trata do digital, eu não gosto muito de ler nem no computador e muito menos no celular. Meus dois dispositivos preferidos para leitura no digital são o iPad e o Kindle.

Tenho utilizado o Kindle deslogado da Amazon, sempre no modo avião, e passo meus livros para ele via cabo mesmo, usando o Calibre no computador. Tem sido muito legal utilizá-lo dessa forma, praticamente ressignifiquei minha relação com esse dispositivo, que vinha usando muito pouco.

Já para o iPad, tenho utilizado principalmente dois aplicativos: Omnivore para ler textos, links salvos e feeds RSS; e Zotero para ler os textos acadêmicos/científicos. Tenho extensões se sincronizam com esses dois aplicativos no navegador do meu computador (Firefox) e conforme aparece um texto que me interessa, já salvo via extensão. Tenho procurado ser parcimonioso para não me sobrecarregar de leituras, volta e meia acabo apagando textos que eu salvei pra ler depois, quando entendo que esse “depois” não vai chegar. Textos e links que preciso ter salvos de maneira um pouco mais permanente, para consultas futuras, eu prefiro salvar num bloco de notas simples mesmo, num caderno dedicado pra isso, uso o Joplin. Tenho sido bastante econômico também nas feeds RSS que sigo, pelo mesmo motivo, não sobrecarregar a leitura.

Também gosto de registrar minhas leituras no Bookwyrm, uma rede social de livros conectada ao Fediverso. Utilizo a instância Velha Estante, e adoro de vez em quando olhar as leituras e listas dos colegas para ter novas ideias do que ler. Como a plataforma é conectada ao Fediverso, acabo utilizando o Mastodon para compartilhar o registro de leitura, para chegar em mais amigos, que podem gostar da recomendação.

Conclusão

Nunca abandonei totalmente o hábito de leitura, mas houve momentos onde ele esteve mais forte e em outros mais fraco. Sinto que é um momento onde está um pouco mais forte e tem sido muito bom, já que me sinto um pouco saturado de assistir mídias como vídeos, filmes e séries, pouca coisa nesse formato tem me interessado de verdade ultimamente. Também tenho feito um uso muito minimalista do celular, e o crescimento do hábito de leitura contribui nesse sentido. Desconfio que o hábito de escrever no Bullet Journal (o qual já escrevi a respeito neste blog) também favorece a necessidade de me tornar mais analógico e ler mais. Tenho percebido também que ler é um investimento em longo prazo para ser mais paciente, menos ansioso e aumentar minha capacidade de retenção da atenção. Não sinto necessidades de ter metas de leitura, eu acho que isso só geraria ansiedade e obrigação. Estou simplesmente lendo, a todo momento onde isso é possível. Se você gostou deste texto, dê uma chance aos livros, leia você também!

Se quiser acompanhar minhas leituras: https://velhaestante.com.br/user/felipesiles

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Infelizmente, pra maioria das pessoas não dá pra ficar sem

O Whatsapp, do Grupo Meta, se consolidou no Brasil como um verdadeiro oligopólio em termos de aplicativos de mensagens. Quando é derrubado pela Justiça o país pára. Mesmo serviços gornamentais utilizam a plataforma, como por exemplo a ferramenta recente “Canais”. Isso sem falar nos diversos serviços que atendem pelo aplicativo.

Só pra citar dois exemplos na minha vida que foram ilustrativos do quanto o whatsapp é fundamental em coisas básicas. O plano de internet que eu uso na minha casa faz todo o atendimento ao cliente pelo whatsapp. Quer outro exemplo? Fui criar um perfil no aplicativo TOP, de transporte público da região metropolitana de São Paulo. Usei um email seguro e uma senha forte e, por alguma razão (pode ter sido também pela VPN que eu uso no celular) ele bloqueou minha conta, dizendo que não é segura. No fim das contas, sem ter acesso ao aplicativo eu só consigo comprar os QR Codes pra andar de ônibus na região metropolitana de São Paulo pelo whatsapp. Resumo da ópera: sem whatsapp eu não tenho atendimento pra minha internet e nem ando de ônibus...

Existem formas e formas de se relacionar com o aplicativo. Existem aqueles que usam para falar com amigos e família, mas existem aqueles, assim como eu, que acabam usando pra trabalho. Eu diria que uns 90% da minha comunicação de trabalho acontece pelo whatsapp. Isso sem falar nos grupos que eu faço parte, de teatro, do terreiro de culto aos orixás, todo mundo se comunica pelo whatsapp. Isso se agrava ainda mais pelo fato de eu não ter Instagram, já que percebo que as pessoas também utilizam muito a DM dele também para conversar. No meu caso vai tudo para o whatsapp mesmo.

Até utilizo o Telegram e o Element/Matrix, mas para falar com pessoas e grupos muito específicos e que normalmente são da bolha tech/dev/linux/etc. Pra mim está fora de cogitação sair do aplicativo, a não ser que aconteça uma mudança cultural nesse sentido no país. E eu acredito que se tal mudança acontecer, provavelmente vai ser pra pior como, por exemplo, o TikTok substituindo os buscadores 🤮. E, como eu disse antes, muita gente se comunica comigo por ele, pessoas pertencentes a diferentes grupos. E o fato de eu ser um músico freelancer faz também com que a maioria dos contatos de prestação de serviços ocorra por ali.

Problemas

Vou ser sincero, quem conhece meus textos sabe que eu tenho aversão à Meta, não tenho conta pessoal nem no Facebook, nem Threads e muito menos Instagram, tenho pavor desses serviços. Dito isso, acho o Whatsapp um dos aplicativos menos problemáticos da empresa. Ele entrega um mensageiro simples, intuitivo, seguro (pelo menos assim prometem), criptografado de ponta-a-ponta. Um dos grandes problemas do whatsapp aconteceria em qualquer mensageiro privado: é um campo fértil para a extrema direita trocar mensagens e disseminar suas notícias falsas sem a curadoria de um algoritmo ou uma moderação. Só pra reforçar, esse tipo de conteúdo circula também no Telegram e no Matrix, acho difícil ter controle sobre isso, o controle implicaria em quebrar a segurança do aplicativo, então fica dificil dizer o que seria pior.

O problema mais prático pra minha vida é o excesso de mensagens. Eu morro de inveja quando vejo as pessoas no metrô que conversam só com alguns amigos e uns familiares no aplicativo. No meu é mensagem do grupo de teatro, da macumba, gente me procurando pra freela, amigos, familiares, gente me pedindo dinheiro, golpe, gente me pedindo nota fiscal, enfim... tudo junto e misturado no mesmo aplicativo. Inclusive eu adoraria que o whatsapp tivesse o recurso de setorizar os contatos e grupos, e abrisse abas diferentes pra família, trabalho e amigos, por exemplo, seria ótimo! Mas enquanto esse recurso não chega, vou explicando como vou me virando pra usar a ferramenta sem ficar soterrado no fluxo insano de mensagens.

Corro do fluxo de mensagens rápidas e curtas como o diabo foge da cruz

Eu acho que essa é a maior armadilha pra perder tempo no whatsapp: entrar no fluxo de mensagens curtas e rápidas.

oi oi tudo bem? tudo bem e vc?

Eu corro desse tipo de diálogo como o diabo foge da cruz, porque esse é o comportamento que mais faz a gente perder muito tempo no whatsapp. Quando eu percebo que alguém quer conversar comigo nesse fluxo eu simplesmente dou uma ignorada e demoro propositalmente para responder, pra não engatar o fluxo. Outra opção é dar uma resposta gigantesca pra pessoa, que também ajuda a interromper o fluxo, ou ela não vai responder, ou vai responder também com uma resposta gigantesca, que vai exigir mais tempo e reflexão, interrompendo o fluxo curto. E outra opção, quando percebo que um amigo muito próximo quer entrar nesse tipo de fluxo é ligar, tenho preferido falar com a pessoa no telefone do que ficar ali horas no chat.

Whatsapp Web

A minha forma preferida de utilizar o whatsapp é pelo computador. Utilizo um aplicativo chamado Ferdium, que é uma espécie de navegador dedicado apenas a mensageiros. Uso o Ferdium com Whatsapp, Telegram e Matrix. Eu gosto de fazer assim porque no meu caso responder whatsapp é TRABALHO, mesmo quando estou falando com amigos e família. Nem todo trabalho é remunerado, só pra citar um exemplo, limpar a própria casa é trabalho, mas não necessariamente remunerado. Então, como se trata de TRABALHO, eu gosto de fazer no computador, porque já tenho uma relação estabelecida com ele: se eu ligo o notebook é para trabalhar (inclusive eu não o uso para lazer, prefiro videogame, tv box, entre outras coisas para o entretenimento). Eu gosto dessa separação porque uma das armadilhas da vida moderna é justamente diluir essa fronteira entre o trabalho e as outras áreas da vida, e assumir essa tarefa como trabalho ajuda nessa clareza e separação, inclusive de melhores aparelhos.

No mundo ideal, eu gostaria de reservar apenas 1 hora do meu dia, sentar na frente do computador, abrir o Ferdium e responder todas as mensagens, e só voltar a ver mensagens no dia seguinte. Na prática, existem situações onde preciso ficar esperto com a chegada de uma mensagem, então acabo deixando o Ferdium ligado (com notificações) enquanto faço outras tarefas. Odeio, porque costuma tirar a concentração do que estou fazendo (principalmente a galera do fluxo rápido e curto), mas existem situações que não me dão muita opção. Inclusive a maioria das pessoas, pelo menos no Brasil, ficam com o nariz enfiado no celular o dia inteiro e subentendem que todas as outras fazem o mesmo. Ou então deixam habilitadas as infernais notificações (com som ainda pra ficar mais pavloviano) e acham que todos fazem da mesma forma. Só pra citar exemplos: eu tenho amigos que quando vão na minha casa nem chamam mais, nem tocam a campainha, avisam que chegaram pelo whatsapp, aí infelizmente eu preciso ficar meio de olho, senão nem fico sabendo que a pessoa está na frente da minha própria casa. Mas dito isso, tenho tentado separar essas situações específicas (que infelizmente estão se tornando cada vez mais frequentes) e me focado a manter o hábito de 1 hora de mensageiros por dia, e só.

Meu whatsapp oculto no celular

Eu ocultei o ícone do whatsapp no celular, porque percebi que ficava tentado a olhar várias vezes, e isso me deixava ansioso, principalmente se estava esperando a resposta de alguém. Dificultar um pouco o acesso me fez acessar o aplicativo só quando realmente preciso enviar alguma mensagem importante. Ah, e obviamente o meu whatsapp está com as notificações desabilitadas no celular, assim como a maioria dos aplicativos com poucas exceções.

Outras configurações

Eu gosto de desabilitar o download automático de mídia, porque isso faz com que a sua memória vá embora muito rápido. Eu evito ao máximo abrir as mídias no celular, justamente pra não ficar ocupando memória do aparelho (ou tendo que apagar depois pra livrar a memória). Prefiro ver todas as mídias no computador, sempre que possível.

Também deixo habilitada a opção de auto-apagar mensagens depois de um tempo, já que antes de existir essa configuração eu já fazia essa limpeza manualmente de tempos em tempos. Não gosto de usar whatsapp como nuvem ou como backup, eu não acho que ele seja muito confiável pra isso. Prefiro usar aplicativos de anotações pra guardar informações importantes, e deixar o whatsapp, telegram e cia só pra comunicação mesmo. Então essa história de grupo comigo mesmo, que um monte de gente usa, acho um convite pra você perder as suas coisas, zero confiável. Fora que quando você quiser acessar essas informações vai ter que abrir o mesmo aplicativo que vai ter um monte de mensagens pra te distrair. Enfim, sei que muita gente faz isso, mas não recomendo essa prática, de forma alguma.

Outra configuração marota que eu faço, e não sei mais viver sem é usar o Whatsapp como se fosse um email, arquivando as mensagens já lidas. Aprendi essa técnica no site do Manual do Usuário e achei uma abordagem muito boa, que deixa a caixa de entrada limpa. Como eu sou praticamente uma Marie Kondo digital, minha alma agradece, depois de passar 1 hora respondendo as pessoas de ver a caixa de entrada simplesmente VAZIA, com todas as mensagens lidas arquivadas. Qualidade de vida!!!

Por último, eu não suporto os stories do Whatsapp, se eu quisesse esse recurso estaria no Instagram. Então eu silencio manualmente, um a um, de cada contato. Um pouco trabalhoso, mas vale a pena. No Telegram, eu uso o Forkgram para desabilitar os stories, já que o aplicativo não possui essa opção nativamente.

Minha ética particular no mensageiro

Eu participo de grupos profissionais, ou relativos ao meu doutorado e coletivos que eu integro. Evito ao máximo grupos de piadas, de lazer, do bairro, da família, não estou em nada disso. Mesmo grupos de trabalho, estudo e coletivos, eu faço uma limpa de tempos em tempos nos grupos inativos.

Outra coisa, eu considero 24 horas um bom prazo para alguém responder uma mensagem. Então não cobro de ninguém, nem de mim mesmo, uma resposta antes desse prazo. Eu acho que esse prazo até poderia ser maior, mas infelizmente sabemos que o fluxo de mensagens se tornou tão rápido que demorar mais de 24 horas faz com que cheguem tantas mensagens que você corra o risco de protelar ou procrastinar demais a resposta, e é capaz que você acabe nem respondendo. Por isso acho a regra das 24 horas bem razoável, dado o contexto.

Por fim, odeio de verdade quando alguém não me responde. Acho um profundo desrespeito. Não ligo se a pessoa demorar pra responder, mas não responder eu vejo como um comportamento tóxico, independente da intenção. Enfim, uma questão minha, talvez até pra psicanálise. Mas digamos... se eu falasse com alguém na rua “bom dia” e essa pessoa não me respondesse isso seria tratado como falta de educação. Eu não entendo porque nos mensageiros, pela questão assíncrona, essa falta de resposta acabe naturalizada, normalizada, não consigo aceitar isso de maneira nenhuma. Mas, infelizmente, eu percebo que existem as pessoas que esquecem de responder (na maioria das vezes por desleixo, desorganização, desatenção ou simplesmente não dar conta), e pra elas eu evito mandar mensagens que precisam de resposta (até pra evitar meu próprio sofrimento) e tenho preferido ligar direto.

Conclusão

Eu odeio ter que depender do Whatsapp, mas moro num país onde 98% da população usa essa ferramenta. Até entendo que tem gente que consegue ficar sem usar, convence os contatos mais próximos a migrar pro Telegram, Signal, XMPP, Matrix, sei lá...

Eu mesmo já fui a pessoa que ficava convencendo geral a usar o Telegram, mas depois desse episódio aqui eu simplesmente perdi a coragem de cobrar isso de alguém.

Na minha dinâmica de vida, onde me relaciono com muitas, muitas (muitas mesmo) pessoas, levar todo mundo pro Matrix, XMPP, Signal ou pro raio que o parta torna-se praticamente inviável. Ceder faz parte de guerrear. Dentro dessa dinâmica possível, tenho tentado, às vezes com maior ou menor sucesso, fazer um uso mais saudável da plataforma, evitando ao máximo perder o meu tempo de vida precioso nela, minutos valiosos que eu poderia usar cozinhando, brincando com meus cachorros, encontrando amigos pessoalmente, dando uma volta na praça, lendo um bom livro, bom... você entendeu.

ATUALIZAÇÃO (11 de agosto de 2024) Venho conseguindo olhar o whatsapp pelo PC uma ou duas vezes por dia, percebo que aos poucos, quando você deixa de ter uma prontidão nas respostas, as pessoas também se adaptam um pouco a você.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Introdução

Ao contrário do que se espera do estereótipo de uma pessoa de esquerda, artista, anarquista, contra-colonialista, tenho muito interesse em métodos de organização e produtividade, sempre foram assuntos que me interessaram bastante. Mas diferente do estereótipo do “farialimer”, meu interesse nesse material não é de produzir mais, mas de ter mais qualidade de vida e otimizar meu trabalho, justamente para ter mais horas de lazer e descanso. Foi nessa que o Bullet Journal acabou entrando no meu radar, e resolvi dar uma chance para testar porque estava muito insatisfeito com a forma como eu gerenciava as minhas tarefas. Já tinha testado diversos aplicativos para celular (entre eles o divertido Habitica), post-its, lousa, grupo comigo mesmo no Telegram, mas enfim... nada que trouxesse um resultado satisfatório.

O Bullet Journal

Pra quem não está familiarizado, Bullet Journal é uma metodologia de registros em caderno físico, criada por Ryder Carrol e desenvolvido e aperfeiçoado pela comunidade entusiasta no assunto. Chama a atenção a versatilidade e possibilidades de customização do modelo, diferente das velhas agendas, onde não podemos editar suas seções, pelo menos não se for uma agenda física; além da simplicidade na necessidade material, um caderno simples e um lápis já são suficientes para começar.

Comprei o livro do Ryder Carrol, O método Bullet Journal, e aprendi a metodologia. Confesso que não gostei muito do livro, achei que tem um tom de auto-ajuda que me irritou em alguns momentos, e tem muita “encheção de linguiça” (escrevi uma pequena resenha na Velha Estante sobre), é o famoso livro que poderia ser um post de um blog. Resumidamente, o primeiro capítulo do livro já é suficiente para aprender o método.

Se você quer apenas aprender o método e começar, acho desnecessário adquirir o livro, penso que um tutorial, como o que encontrei no WikiHow é suficiente. Agora, se você quer compreender melhor o contexto que o autor criou o método (que é interessante), e está com paciência ou gosta de livros auto-ajuda, manda ver, leia o livro.

Meu caderno

Comprei um caderno pequeno, no estilo Molesquine, mas de uma marca com preço mais acessível (Cícero), com capa de papel craft. Comprei o caderno pontilhado, que é o recomendado para bullet journal, embora não seja obrigatório. Nunca curti cadernos pautados (a não ser que a pauta seja musical), já comprava cadernos sem pauta antes, e encarei o desafio de escrever no pontilhado, no começo tive um pouco de dificuldade, mas me adaptei rápido. E o caderno pontilhado realmente ajuda bastante a desenhar quadros, tabelas, gráficos, bem legal, eu recomendo!

Comprei um caderno de 96 folhas e já estou percebendo que não vai durar o ano inteiro, no meio do processo com certeza precisarei comprar outro, ou outros, mas tudo bem, faz parte. Acredito que esse caderno vai ser suficiente para o primeiro semestre. Gosto de fazer as anotações com lapiseira (lápis eu gosto mais de usar para desenho, não escrita), não gosto muito de caderno cheio de rasuras, prefiro usar a borracha.

Rotina

Uma coisa que me impressionou é como a rotina do Bullet Journal foi incorporada na minha rotina com rapidez e naturalidade. Talvez isso tenha acontecido porque eu sempre fui de fazer muitas anotações. Mas anotava algumas coisas num post-it, outras num caderninho, outras num aplicativo, e, quando precisava, nunca encontrava onde estava alguma anotação específica.

Esse, por enquanto, tem sido o maior benefício do bullet journal pra mim: concentrar todas as anotações em um lugar só. Eu anoto tudo nele: tarefas, registros, hábitos alimentares, nomes de pessoas que não quero esquecer, pautas de reunião, anotações de palestras e cursos, etc. A única coisa que anoto num caderno à parte são as transações financeiras, tenho um livro caixa exclusivo para isso.

Uma coisa que me fez perceber como o hábito de fazer registros no bullet journal se estabeleceu de maneira muito forte na minha rotina foi numa viagem curta de trabalho que esqueci de levá-lo. Em vários momentos eu sentia vontade de fazer registros no caderno, mas ele não estava lá. Acabei fazendo quando cheguei de viagem e, desde então, levo ele pra todo lado, mesmo em viagens mais curtas.

Minhas adaptações e customizações

Eu segui à risca as orientações do livro de quantas páginas devo deixar para índice, registro futuro, etc. Mas, passados dois meses, tenho a impressão de que não vou fazer assim tantos registros futuros e marcar tantas coisas assim no índice. O registro futuro e registro mensal pra mim não funcionaram tão bem, porque eu já possuo o hábito bem estabelecido de utilizar aplicativo de agenda. Acredito que se um dia eu abandonar o aplicativo pode ser que eu acabe usando mais esses registros, mas no momento eu não vejo muito porque desfazer um hábito que já está estabelecido e funciona. Estou pensando de, talvez, num próximo caderno deixar apenas uma página para índice, uma página para coleções, duas páginas para registro anual e duas páginas para registro futuro, acredito que para o meu uso é o suficiente.

Até o momento criei três coleções: rotina, hábitos alimentares e calendário Osé Ifá (da minha religião, o culto tradicional aos orixás). Como a minha doutrina religiosa segue um calendário da cultura iorubá, onde a semana possui apenas quatro dias, eu tenho feito no registro diário: a data numérica, o dia da semana e o dia da semana do calendário iorubá. Tem sido muito útil para fazer meus rituais nos dias certos.

Sobre as legendas, eu tenho utilizado basicamente quatro categorias de registros. Utilizo o tópico para registros comuns, as caixinhas para tarefas, horário para registros cronológicos e quadros para coisas mais específicas, como por exemplo: pauta de uma reunião, anotações que fiz em uma palestra, etc.

O meu problema original: gerenciamento de tarefas

Registro todas as tarefas no dia em que a demanda aparece, com uma caixinha. Quando cumpro a tarefa, risco o texto (assim) e dou uma ticada na caixinha ☑️. Quando a tarefa é adiada, risco o texto e coloco na frente dele uma seta ➡️ indicando que farei aquilo mais pra frente. E quando a tarefa é cancelada marco com a caixinha com um ❎, e também risco o texto. Riscar o texto é bem importante pra mim, dá uma boa sensação de que aquela questão foi resolvida ou pelo menos encaminhada. E além dessa marcação na tarefa originalmente escrita, também coloco no dia do cumprimento da tarefa um registro de que ela foi cumprida.

Toda vez que tenho tempo livre para resolução de tarefas vou foleando meu caderno em busca de caixinhas vazias. Quando algumas tarefas já começam a ficar muito para trás no caderno, ou quando elas estão muito espalhadas, gosto de reorganizar a lista e concentrar todas numa página só. Até agora, em dois meses de uso, só precisei utilizar esse recurso uma única vez.

Além disso, criei uma ordem de prioridades de 1 a 4 para as tarefas, de acordo com a sua natureza. Tarefas relativas ao doutorado são prioridade 1, relativas aos meus freelas são prioridade 2, relativas aos coletivos que faço parte são prioridade 3 e todas as outras são prioridade 4. Coloco sempre (que lembro) o número da prioridade na frente da descrição da tarefa. Quando a tarefa tem prazo, coloco a data também.

Conclusão

De tudo que já testei em termos de gerenciamento de tarefas, o bullet journal foi o método que mais me agradou e tem funcionado bem. Quando utilizava aplicativos eu percebia que conforme as tarefas acumulavam eu ia deixando de abrir o aplicativo, grupo de Telegram, idem. Também tive alguns problemas com os aplicativos na questão de colocar data nas tarefas, muitos deles apresentavam alguns bugs, principalmente quando você trabalha no formato CalDav. A lousa e o post-it tinham o problema de não visualizar as tarefas já cumpridas, e também o fato de que também é possível ignorá-los, transformá-los em paisagem.

Já o caderno, como tem a questão dos registros diários, meio que não tem como ignorar, se você estabelecer bem o hábito, você vai lidar com ele todos os dias, e as tarefas estarão ali. Nesse sentido, acho bem importante as tarefas serem misturadas com o diário, se houvesse uma sessão só com tarefas eu provavelmente a evitaria, como evitava abrir os aplicativos.

Além disso, como já foi dito anteriormente, o bullet journal me ajudou a concentrar todas (ou quase todas) as anotações em um lugar apenas. Inclusive, o caderno aliado ao aplicativo de agenda funciona muito bem. Por exemplo, eu quero achar as anotações que fiz em uma reunião: vou até o calendário, olho a data da reunião, vou até essa data no caderno e vejo todos os registros do dia, excelente!

A única parte que ainda não me adaptei é a questão de registros futuros e de registrar os compromissos no caderno, já que o hábito de utilizar aplicativo de calendário já está estabelecido. Mas eu percebi uma leve mudança já, agora estou anotando no aplicativo de agenda apenas compromissos esporádicos, já não estou mais anotando os compromissos rotineiros, esses tenho preferido registar no caderno. Quem sabe um dia eu acabe abandonando o aplicativo de calendário, veremos...

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Como me mantenho razoavelmente informado numa perspectiva (pelo menos tentando ser) slow web

Desde que saí do falecido Twitter e priorizei o Mastodon como minha rede social principal, me dei conta de que tinha pego nos últimos anos o péssimo hábito de me informar na rede (que era) do passarinho azul. Como já possuía familiaridade com o RSS principalmente por conta do agregador que uso de podcasts, o AntennaPod, acabei por concluir que seria mais interessante seguir notícias por esse método.

Acabei testando diversos programas, clientes, e principalmente: no começo (na empolgação) enchi a minha linha do tempo de assinaturas RSS. Assinei também várias newletter, e não consegui ler praticamente nenhuma. E a avalanche de postagens chegando por RSS me fazia mais ansioso, não estava ajudando muito. Fui fazendo ajustes, diminuindo, vendo o que era realmente fundamental eu estar informado.

Foi legal acontecer essa avalanche de postagens, porque acabei percebendo que a minha fila praticamente infinita de podcasts também estava me deixando cansado e ansioso. Todas essas coisas acabavam por parecer tarefas incompletas para mim, coisas a fazer que não eu não dava conta. E se você somar a isso as mensagens do whatsapp, emails, um inferno de ansiedade e que acaba gerando também cansaço mental.

Percebi que precisava controlar o tamanho da largura do duto onde passava a informação. Esse é um processo contínuo, sempre estou fazendo ajustes, portanto aí vai uma fotografia de como ele está neste momento.

Notícias, blogs, textos

No computador eu acabo utilizando uma extensão do Firefox chamada Feedbro. Acho mais prático consumir as notícias assim porque o navegador já está todo configurado com extensões que uso para ler essas notícias (leitura sem distração, adblock, removedor de paywall, tradutor, entre outras ferramentas). Ele também tem uma função bem interessante que é procurar feeds RSS em qualquer site que você abrir, bem prático!

Eu sigo no Feedbro feeds de quatro associações de pesquisadores que eu sou associado, para saber de eventos, congressos, chamadas para artigos, etc. O fluxo de postagens desse grupo é bem esporádico. Também assino duas feeds para ter informações sobre a minha cidade: a prefeitura e um portal de notícias. O fluxo aqui é um pouco mais intenso, mas não muito difícil de acompanhar, o site da prefeitura tem postagens meio esporádicas, o de notícias, de duas a quatro postagens por dia. Sigo também as feeds de dois portais que eu gosto e admiro bastante: Agência Pública e Manual do Usuário. Eu gosto e admiro o trabalho de muita gente, contudo o que foi decisivo para inclui-los na minha rotina no Feedbro foi o fluxo de notícias, costumam postar mais ou menos umas 3 por dia, coisa que dá pra acompanhar sem ficar maluco. E, por fim, acompanho o Cultura e Mercado para ficar antenado em aberturas de editais e leis de incentivo.

No iPad eu utilizo o NetNewsWire, o logo dele infelizmente é meio tosco, fica um verdadeiro patinho feio perto dos logos bonitos do IOS, mas o aplicativo é bem funcional, além de ser livre e código aberto. Gosto de colocar no iPad os feeds RSS de blogs, principalmente blog de amigos. Eu considero a leitura de textos longos mais agradável no iPad do que no computador, por isso faço dessa maneira.

E no meu celular, Android, utilizo o Feeder, instalado via F-Droid. Assinei 4 feeds de portais de notícias bem conhecidos (Carta Capital, Jornal da USP, Jornal GGN e Nexo Jornal). Como aqui o fluxo de notícias é bem alto, configurei o app para me mostrar no máximo 50 postagens e coloquei a visualização em formato supercompacto. Eu não costumo ler a maioria dessas notícias do celular, apenas fico ali rolando pela linha do tempo vendo os títulos para ficar mais ou menos por dentro do que está acontecendo. A ideia é ter essa feed mais ágil para consultar quando estou na rua, que já se mostrou muito útil para me informar sobre greves, paralisações e outros eventos que afetam o transporte público. Diferente dos outros dispositivos, aqui eu não tenho a preocupação de ler tudo.

Outra coisa importante é que se tem alguma postagem em qualquer um dos três dispositivos que eu tenho interesse mas quero ler com calma depois, salvo no Omnivore. O aplicativo funciona bem e roda nos três dispositivos.

As newsletter para mim simplesmente não funcionaram, pode ser que funcione para muita gente, mas para mim não deu certo. Eu acabava lendo no começo, mas com o passar do tempo comecei a ter relação com esses e-mails praticamente de spam.

Podcasts, rádios, música

Sou entusiasta de podcasts, consumo a mídia desde 2018, tenho meu podcast próprio, e também colaboro em outros projetos de amigos. Sou apaixonado por essa mídia, pela distribuição livre e também pela praticidade de ouvir no ônibus, no almoço, enquanto lava louça, sem a obrigação de ficar com os olhos ali grudados numa tela. Já tive o meu momento de seguir muitos podcasts e querer maratonar todos eles, o que com o tempo foi me deixando muito ansioso e cansado mentalmente.

Um belo dia perdi todo meu histórico no aplicativo que eu uso, o AntennaPod, e acabei aproveitando a tragédia para fazer uma mudança radical na forma como eu consumia a mídia. Elegi apenas alguns podcasts, que estão ainda em atividade, e, ao invés de ficar preocupado em maratonar, configurei o download automático de episódios novos. Dessa forma eu não fico preocupado em maratonar nada, apenas em dar conta da linha do tempo. Outra coisa que me ajudou foi esconder o contador de episódios não ouvidos, uma coisa que me deixava ansioso e soava como pendência.

Atualmente sigo doze podcasts, dentre eles: – dois são diários (segunda a sexta), mas são curtos, costumam durar entre 15 e 30 minutos; – dois possuem duas edições semanais, esses são mais longos, duram cerca de 60 minutos; – um deles é semanal e dura cerca de 30 minutos; – um deles (teoricamente) é quinzenal e dura cerca de 60 minutos; – um deles possui uma periodicidade meio caótica, mas costuma publicar uns dois ou três episódios por semana, com durações variadas; – os cinco demais são aperiódicos e vários deles são publicados por temporada, só têm episódios novos quando tem temporada nova. Costumam ser episódios mais longos de cerca de 60 minutos.

Dessa forma eu consigo facilmente terminar a fila de podcasts do dia nas refeições ou andando de ônibus. Quando acaba a fila, nada de maratonar podcast, eu costumo colocar em alguma rádio ou até mesmo vou fazer outra coisa, fico em silêncio, ouço uma música. Inclusive recomendo a ótima Rádio Aconchego, que eu ouço pelo bom e velho VLC no celular. Também gosto da Rádio USP, Rádio Unicamp e Rádio Yande.

E, por último, para ouvir música tenho gostado bastante do RiMusic para o Android, que pode ser instalado pela F-Droid. Ele é um cliente/front-end do Youtube Music, mas com aquela cara de aplicativos de streaming como Spotify, inclusive dando a opção de salvar as músicas para ouvir offline.

Também possuo ainda esse hábito jurássico de baixar alguns mp3, no celular e principalmente no computador, e costumo ouvi-los no VLC mesmo. Já fui entusiasta no computador do aplicativo Nuclear, mas ultimamente tenho achado que ele deixa a desejar, tem muito álbum que acaba vindo com música trocada, então tenho preferido baixar mesmo. Ou então ouvir um disco de vinil, já que possuo toca discos.

Videos, filmes, séries

Consumo o conteúdo do Youtube apenas em front-ends e clientes. No computador e iPad utilizo o Individious (pelo navegador) e no celular e tv stick o NewPipe. Gosto de consumir dessa forma porque esses clientes tiram as propagandas e também possuem mais opções de customização. Eu gosto de customizar esses aplicativos para valorizar a linha do tempo, já que a ideia é apenas seguir conteúdo de uns poucos canais e playlists. Nada de ficar vendo conteúdo sugerido, clicando em vídeos relacionados, ou olhar o que está “bombando”, de jeito nenhum. Consumo igual ao podcast, quando acaba a fila vou ver outra coisa... um anime ou até ler um livro. Atualmente sigo o conteúdo de apenas sete canais e quatro playlists.

Eu parei de consumir séries, porque elas acabavam tomando muito tempo e essa ideia de maratoná-las me deixava tão ansioso quanto ficava por maratonar os podcasts e sempre com a sensação de pendência e cansaço mental. Resolvi consumir então mais filmes e animes. Filmes duram ali duas, três horas... e pronto, acabou... começo, meio e fim... nada de um novo capítulo, no máximo uma continuação da franquia, excelente!!! E animes podem ser gigantescos (como o meu preferido, One Piece) mas os episódios costumam durar só uns 20 minutos, o que deixa leve e gostoso para acompanhar lentamente ali no dia-a-dia, vendo de um a quatro episódios seguidos, dependendo do tempo disponível.

Outra coisa importante é que eu evito ficar assistindo muito vídeo no celular, computador e iPad. Prefiro assistir na televisão mesmo, possuo uma tv stick e consegui instalar o aplicativo do NewPipe. Gosto de fazer isso principalmente quando já terminei as minhas tarefas do dia, eu gosto de fazer essa separação do computador como ambiente de trabalho e a televisão como fonte de lazer e entretenimento. Filmes eu prefiro assistir no final de semana, nos dias úteis eu vejo mais o conteúdo do Youtube e alguns animes.

Mensagens, emails, redes sociais

Gosto de usar aplicativos agregadores de mensagens, como o Ferdium para os mensageiros e o Thunderbird para emails. É uma forma de otimizar a tarefa de ver as mensagens e respondê-las, gosto de pegar uma hora todo dia apenas para isso. Na maioria das vezes essa uma hora é suficiente para ler e responder tudo. Faço esse trabalho no computador e depois evito ficar trocando muita mensagem no celular, dou umas olhadas de vez em quando, só para checar possíveis urgências e ir administrando para não deixar muita mensagem acumulada para a prática do dia seguinte no computador.

Gosto de manter a prática de arquivar mensagens e e-mails lidos, isso deixa a caixa de entrada vazia e me dá uma sensação excelente. Inclusive eu fico desesperado só de ver a caixa de email de outras pessoas, tenho vontade de morrer com a quantidade de emails não lidos, ignorados. Spams, propagandas, emails de notificação, costumo me descadastrar de todas as listas. É uma coisa bem rápida de se fazer e que evita que sua caixa se encha com esses emails. Emails e mensagens que vão demandar um trabalho um pouco maior eu só arquivo quando termino a tarefa. Ver o email ou mensagem pendente ali na caixa de entrada também é uma forma de não esquecer de cumprir a tarefa em questão.

Tenho várias contas de email, cada uma com uma função. Um mais público ou profissional, um universitário, um para logins e um só para situações que envolvam pagamentos. Parece exagero, mas essa segmentação me ajuda muito a não acumular muitas mensagens num e-mail só. E acaba que, a depender da função, não preciso olhar todos esses e-mails todo dia. O e-mail de logins, por exemplo, olho uma vez por semana, o de pagamentos só quando faço ou recebo alguma transação.

Os mensageiros uso três basicamente: Whatsapp (não tem o que fazer), Telegram e Element/Matrix. E o mais importante: desabilito as notificações de todos esses aplicativos e emails, a saúde mental agradece. Tendo uma hora todo dia dedicada para isso, não há a menor necessidade de notificação. Basta abrir o Ferdium e o Thunderbird e começar o trabalho.

Redes sociais eu tenho utilizado apenas o Mastodon e o Lemmy. No computador e iPad uso no navegador mesmo (não gostei de nenhum dos clientes para iOS). Já no celular uso o Tusky como cliente do Mastodon, gosto da pegada dele bem minimalista, customizável e com botões para clicar. Para o Lemmy utilizo o Jerboa, praticamente pelo mesmo motivo: simples, funcional e customizável. E nada de ficar vendo muita notícia nessas redes, inclusive evito perfis e comunidades que postam muita notícia. A ideia aqui é a interação social e a troca de ideias.

Conclusão

Essa é a maneira como eu controlo a metafórica largura o duto de informação, para ter um fluxo saudável e evitar ansiedade, sensação de pendência e cansaço mental. Olhando o texto parece até um paradoxo, um verdadeiro textão propondo uma relação mais minimalista com a informação. Mas tenho certeza de que se você colocar no papel toda informação que consome e por onde ela chega é provável que vá se assustar, inclusive se eu descrevesse minhas fontes de informação antes de sistematizar esse filtro mais rigoroso, acho que este texto seria um livro e não um post de um blog (rs).

Lógico que esse é meu uso pessoal, e cada pessoa possui demandas bem diferentes. Este texto não tem pretensão de ser um guia, um manual, apenas o registro, um relato de como eu faço. Levei muito tempo para organizar essa rotina em lidar com a informação e continuo fazendo ajustes, então achei que uma ou outra coisa pode servir de ideias para outras pessoas. Fiquem à vontade para testar, adaptar ou até ignorar a maneira como faço.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Meu último texto aqui no blog sobre não ter redes sociais comerciais teve uma repercussão bem interessante, e reverberou de uma maneira bem bacana, com várias pessoas dando um retorno positivo e até inspirando outros textos. Fico muito feliz de que o compartilhamento da minha vivência tenha sido útil e, dada a relevância do tema que essa repercussão revelou, resolvi criar uma série de textos sobre cada ferramenta específica da big tech que eu não uso (e também sobre as que eu uso né, afinal não só de negativa vive o homem rs). A ideia é mostrar na prática como essa falta de uso me afeta e minhas estratégias para contornar alguns problemas que isso possa acarretar.

Muita gente relatou dificuldade com a ideia de sair do Instagram, por isso resolvi começar com essa plataforma. Realmente, o Instagram infelizmente se tornou um monopólio em termos de redes sociais, por mais que existam concorrentes, como o TikTok. Aquela rede que já serviu para compartilhar fotos pessoais e imagens, acabou se tornando essa espécie de aplicativo faz-tudo: é mensageiro, entretenimento, notícias, vendas, entre outras coisas. Além disso, a rede se tornou o principal canal de comunicação de diversas instituições, como bares, restaurantes, lojas, marcas, e, infelizmente, também de órgãos públicos ou de utilidade pública (congressos acadêmicos, associações de pesquisadores, coletivos e movimentos, etc). Infelizmente é muito difícil sair dessa armadilha e não ter uma conta no Instagram implica em abrir mão de muita coisa. Como eu sempre digo, nunca julgo quem precisa estar na rede, considero essa pessoa uma vítima.

Antes de mais nada, vamos aos principais motivos concretos de porque eu não tenho conta pessoal no Instagram:

  • Como já havia dito no meu texto anterior, nunca tive muito interesse por redes sociais de fotos, sempre preferi as de texto;
  • Considero uma rede danosa para a saúde mental, existem fortes indícios de que o uso massivo da plataforma possa estar indiretamente associado a problemas sérios principalmente entre adolescentes, como aumento do índice de suicídios femininos e cyber bullying;
  • É uma rede feita para viciar e te enclausurar dentro dela;
  • Não é uma rede segura, o fato de não ter o código aberto faz com que sabe-se lá o que eles fazem com seus dados e informações;
  • É uma ferramenta que ajuda a espalhar notícias falsas e divugar as ideias da extrema direita no mundo, e é omissa para conter esse conteúdo;
  • O Instagram gera uma grande quantidade de lixo virtual, que está hospedado em servidores consumindo recursos naturais.

Vamos então às soluções práticas que eu adoto para contornar a falta de um perfil pessoal.

Ter o contato das pessoas fora dali

Hoje em dia acho muito importante ter o contato das pessoas (telefone e email principalmente) justamente para não ficar dependente dessa rede para conversar com as pessoas que você conhece. Se você pensa em deletar sua conta pessoal do Instagram, uma sugestão que eu dou é olhar a sua caixa de entrada, ver as pessoas com quem você conversa normalmente, checar se tem o contato delas fora dali e, se não tiver, pedir o telefone e/ou email dessa pessoa.

Monitorar contas

Utilizo o Aximo Bot para monitorar algumas contas do meu interesse, de órgãos e instituições que, infelizmente, não possuem feed RSS. Ele às vezes dá um bug e você precisa forçar a atualização da feed, é um problema um pouco chato, mas contornável. Num passado não tão distante eu utilizava o Lemeno e achava excelente! Mas, não sei porque motivo, ele parou de atualizar a feed e acabei abandonando, não sei se esse problema já foi resolvido, acho que vale o teste.

Infelizmente, devido ao fato da API do Instagram ser fechada, essas soluções precisam constantemente ser atualizadas e algumas acabam até sendo descontinuadas, como foi o caso do excelente Bibliogram.

Por U$8,32 o RSS App transforma as feeds de qualquer conta no Instagram em uma feed RSS. Infelizmente esse valor, que talvez seja baixo para muita gente, é um pouco pesado para meu orçamento modesto, de alguém que vive de sua bolsa de pesquisa.

Outra coisa possível de se fazer também, é reclamar com as instituições e estabelecimentos, pedindo para que tenham outros canais de comunicação que não o Instagram.

Entretenimento

Sempre considerei o entretenimento oferecido por essas plataformas de videos curtos (Instagram, TikTok, Kwai) de péssima qualidade. Eu sei que esse é um ponto bem espinhoso, já que definir concreta e objetivamente o que seria um entretenimento de qualidade é algo bem complicado, e pode soar bastante classista. Mesmo sendo dificil, vou fazer uma tentativa, possivelmente com problemas.

Eu gosto de comparar a indústria do entretenimento com a alimentícia. Ambas têm um ponto em comum muito nítido: o objetivo final em lucrar e enriquecer seus donos, proprietários e acionistas. Em relação à indústria alimentícia é um pouco mais fácil de você definir concretamente o que é um alimento de qualidade, já que existem parâmetros para isso, como os nutrientes, propriedades, efeitos daquele alimento na saúde, por mais que, assim como na indústria do entretenimento, existam fatores culturais.

Então dizer que um entrenimento é bom porque é popular, porque tem bons números, no meu entendimento é uma falácia, na medida que o consumo é mediado e direcionado por processos que dizem respeito ao lucro de grandes empresas, como a publicidade. Um video do TikTok não é necessariamente bom porque tem bilhões de visualizações, assim como Coca-Cola não é um alimento bom para saúde, por mais que seja consumida por bilhões de pessoas.

Então uma dica para largar do Instagram enquanto vício é consumir outras fontes de arte e entretenimento: filmes, séries, livros, HQs, mangás, peças de teatro, shows, passeios, etc.

Investir tempo em redes sociais não comerciais

Ainda quero fazer um texto mais detalhado sobre o Fediverse, e dar boas dicas de instâncias nele. Mas hoje em dia tenho gostado cada vez mais de interagir com as pessoas por redes sociais não comerciais, sem algoritmo e sem propaganda, tenho conseguido formar “minha galera” e manter contato com essas pessoas.

Não adianta, a nossa subjetividade hoje em dia é muito moldada pelas redes sociais, estou nelas desde 2004, no Orkut... Não acho que é algo que nós vamos nos livrar totalmente e nem sei se precisa.

Eu tenho encontrado nas redes sociais não comerciais um ambiente muito mais agradável e saudável do que na Big Tech, já que não há ali a preocupação de te prender ou vender algo.

Minha rede social principal hoje em dia é o Mastodon, uma rede de microblog, ou seja, pequenos textos. Tenho gostado muito do Lemmy também, que é uma rede de fóruns de discussão.

Se você gosta de redes sociais de fotos, em primeiro lugar eu lamento por você (rs), mas falando sério eu sugiro que conheça o Pixelfed, que é livre, de código aberto e faz parte do Fediverse, sendo possível não só acessá-lo sem login, mas também por outras plataformas como Mastodon e futuramente até a famigerada Threads.

Ter vida social fora da internet

Um ponto que eu percebo que pega para muita gente é a comodidade de ter a vida social totalmente online. Conheço pessoas inclusive que namoram online e praticamente nunca se encontram presencialmente. Não sou psicanalista, portanto não sou a melhor pessoa para avaliar os impactos na saúde mental dessa abordagem. Entendo também que quando a pessoa passa dos 30 anos ela, em geral, vai perdendo o pique de sair, ir em festas, fazer esse tipo de socialização.

Minha dica é fazer parte de coletivos com quem você se identifica. Pode ser ONG, religião, grupo de teatro, partido político, movimento social, clube de leitura, escola de samba, não importa. Mas faça parte de grupos, integre-se, participe ativamente deles. Infelizmente a urbanidade nos tornou pessoas solitárias na multidão, e essa é uma forma de emular levemente uma vida “em vila”. Ter o nosso clã, as pessoas que confiamos, nos identificamos, e vemos presencialmente com alguma regularidade.

Aprender a lidar com o tédio

O (mau) hábito de rolar a feed do Instagram está muito associado com driblar uma vida tediosa, que a urbe nos coloca. Acredito que uma forma de lidar com isso é procurar uma vida menos tediosa, e com atividades interessantes. Mas o ócio, o vazio e o tédio fazem parte da vida também. Então aprenda a lidar com ele, se não conseguir sozinho ou sozinha, peça ajuda de profissionais. É importante lidar com situações entediantes ou ruins sem ficar entupindo seu cérebro de dopamina. Esse é o princípio da maioria dos vícios, inclusive o vício no Instagram.

Acessando conteúdo do Instagram sem logar

Existem diversos clientes interessantes de Instagram, como o Imginn e o Picuki, que permitem visualizar contas sem precisar logar. Eu configuro dois aplicativos para redirecionar links que me enviam do Instagram para o Imginn. No computador utilizo a extensão de navegador LibRedirect e substituo a instância do Bibliogram pelo link do Imginn. E no celular eu utilizo o aplicativo da F-Droid UnTrack Me, e faço a mesma configuração.

Pra Android existem aplicativos clientes de Instagram, como o próprio Picuki e o Barinsta, mas não me adaptei muito bem a eles, mas de repente vale o teste pra ver se serve para você.

Conta institucional

É fato, não ter nenhum Instagram limita demais as possibilidades, infelizmente. Como ele virou um monopólio em termos de redes sociais, não ter acesso a ele faz com que seja muito difícil ou até impossível obter algumas informações que só estão nele. Às vezes é preciso fazer aquele contato profissional que você não consegue o telefone e email da pessoa de jeito nenhum ou comprar algo específico que só é vendido e anunciado por ali.

A solução que eu dei para esses casos, é ter uma conta institucional e não pessoal. No meu caso, é a conta do meu podcast, o Estação Música. Obviamente, não tenho o aplicativo do Instagram no meu celular, assim como evito qualquer aplicativo que vá me distrair e passar muito tempo nele. Mas configurei a DM dessa conta para outros dois aplicativos que utilizo, que são agregadores de mensageiros: Ferdium e Beeper, e funciona muito bem.

Essa conta atualmente (14/01/24) não possui nenhuma postagem, mas em breve quero transformá-la num portifólio do meu podcast para estar ali naquela prateleira. A ideia não é criar conteúdo, produzir stories, nada disso. Apenas criar alguns cards fixos mostrando para a pessoa onde encontrar o podcast e os seus episódios, só isso.

Outra coisa é importante é isolar seu uso em um container no navegador, para que ao usar essa conta ela não compartilhe dados sensíveis com outros sites utilizados no ambiente do navegador. Para isso, eu utilizo o ótimo Multi-Account Containers da Mozilla.

Se você não possui nenhum projeto desse tipo, use a criatividade. De repente utilize a conta de algum projeto que você faz parte ou crie uma conta mais discreta, que não posta nenhum conteúdo. Importante não ter acesso a essa conta pelo celular, justamente para evitar o vício e a perda de tempo, sempre utilizar o navegador do computador ou algum cliente.

Conclusão

Não vou dizer que a vida sem Instagram é confortável. Minha opção por não ter um perfil pessoal na plataforma é política, diz respeito à militância contra a Big Tech. E militância implica em sacrifícios, eu até me sinto comôdo em saber que existem pessoas que morrem por conta de suas militâncias e eu só preciso às vezes fazer uma atualização manual em um bot do Telegram que não está funcionando direito, acho que está tudo bem.

Seria muito bom se os estabelecimentos e instituições sempre tivessem pelo menos um blog, com uma feed RSS, para que a informação circulasse também fora do ambiente da Meta. Inclusive existem plugins que integram o Wordpress ao Instagram, mas essa informação é pouco conhecida e difundida, infelizmente. Isso por culpa do próprio Instagram, que não permite integração com muitas ferramentas, obrigando o usuário que faça as coisas dentro dele ou dentro do ambiente Meta.

Por último, eu digo que me organizo dessa forma, sem o Instagram, principalmente em nome do autocuidade e da saúde mental. Mas eu sou muito pessimista em relação a um horizonte em que as pessoas diminuam ou até deixem de usá-lo. Sempre acho que se as pessoas pararem de usar, será para substituir por algo mais apelativo e ainda pior para a saúde mental, como um TikTok, por exemplo. Fiquei animado ao assistir uma reportagem sobre uma juventude low profile (discreta), que se orgulhava por usar muito pouco as redes. Fui pesquisar sobre o assunto e fui bombardeado de textos de como ser low profile dentro do Instagram. A falta de imaginação chegou a um nível que é necessário estar no Instagram até para ser low profile, complicado...

ATUALIZAÇÃO 11 de agosto de 2024 Deletei o Instagram institucional, do meu podcast. Não vinha utilizando ele pra nada. Usava pra de vez em quando falar com uma pessoa específica, mas consegui o contato dessa pessoa pelo whatsapp.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

A experiência de existir sem Instagram, Facebook, TikTok e Twitter

Faz muito tempo que gostaria de descrever essa vivência, mas achei que o intervalo de um ano seria o mais ideal e simbólico para materializar em palavras uma experiência que parece distante para muitas pessoas, talvez para a maioria. Importante ressaltar que não estou cagando regra, me colocando em superioridade moral ou coisa parecida, meu objetivo aqui é apenas descrever uma experiência, com seus prazeres e dores.

Saturação

O ano de 2022 foi difícil para mim. Por conta do isolamento social imposto pela pandemia de corona vírus, optei por deixar de morar em São Paulo, e voltar a residir, no interior do estado, onde passei a morar com meu irmão, na casa de herança de nossa mãe. As atividades presenciais estavam retornando aos poucos, mas eu não tinha o menor desejo de voltar a morar na capital, com seu custo de vida alto, financeiro e mental. A saída foi investir pesado no trabalho online. Tinha acabado de terminar o mestrado, o qual cursei inteiro sem bolsa, e não tinha pretensão naquele momento de já emendar num doutorado, precisava de um tempo para respirar e amadurecer as ideias. Vivia quebrando a cabeça de noite e de dia como ganharia dinheiro naquele contexto sendo músico e professor de música. Aos poucos, meus alunos iam abandonando as aulas online, e migrando de volta para cursos presenciais e a maioria dos grupos com quem eu trabalhava como músico já não me chamavam mais, por não estar mais na capital. Vivia basicamente do dinheiro de alguns poucos alunos com quem desenvolvi fortes laços afetivos, e que mantiveram as aulas online comigo, mesmo nesse contexto de volta às atividades presenciais. Mas era um dinheiro muito curto, fui me endividando cada vez mais.

Nessa altura do campeonato, eu era muito resistente à ideia de ter um Instagram. Comecei minha jornada nas redes sociais pelo Orkut, e sempre gostei e usei bastante redes sociais de texto, como o Facebook e Twitter. Redes sociais de imanges nunca me atraíram, passei direto pelo Snapchat, cheguei a criar uma conta para mim no Instagram, mas deletei porque simplesmente não a usava. Mas naquela situação profissional delicada, vivendo exclusivamente como profissional autônomo, acabei comprando um curso de produção de conteúdo, de um influenciador do campo político da esquerda. Sempre tive um pouco de preguiça dessa história de produção de conteúdo, mas a necessidade, e a oportunidade de aprender com alguém de viés político mais próximo ao meu fez com que eu acabasse me jogando na produção de conteúdo. Fiz conta no Instagram, no TikTok, dei uma repaginada no Facebook e no Twitter. Passei a produzir conteúdo praticamente diário, para divulgar meu trabalho como professor de música.

Os problemas nesse processo são vários. Um deles, é que notei um aumento na ansiedade. Eu consigo compreender porque influenciadores e youtubers relatam em algum momento problemas de depressão e ansiedade. Lidar diariamente com números e estatísticas de engajamento, pelo menos para mim, era um poço infinito de ansiedade, tenho certeza que se eu continuasse nesse caminho teria uma crise em algum momento. Pessoas lidam com isso de forma diferente, mas sei lá... minhas finanças dependiam desse plano ser bem sucedido, acho difícil não ter ansiedade em tal contexto, embora eu também sei que existem pessoas que lidam de maneira mais leve do que eu com a própria situação financeira. E, acreditem vocês nessa parte ou não, sou filho de santo iniciado em Obatalá, um orixá que representa a paz, a tranquilidade, o trabalho lento, de longo prazo. Toda essa ansiedade me fazia sentir mais distante do meu orixá de cabeça, não me sentia digno de representá-lo na terra, se não conseguisse acalmar meu coração e minha mente.

Outro problema é que nessa de procurar o que o público gostava, o que dava certo, o que gerava engajamento, eu começava a me perder de quem eu era. Olhar as estatísicas de retenção de atenção em um video de Youtube é uma experiência muito frustrante. O começo da produção de conteúdo é bem estimulante, principalmente para alguém com uma forte pulsão criativa, como é o meu caso. Mas com o tempo, a coisa não tem mais a ver com criação, com criatividade, e sim se manter na prateleira chamando a atenção das pessoas, concorrendo por essa atenção com Beyoncé, Bolsonaro e Luva de Pedreiro, loucura! Além disso, eu gostava tanto de usar Linux e aplicativos e softwares livres e de código aberto, estava passando tempo distante desse mundo que eu tanto amo, não pesquisava sobre o assunto como antes, tinha saudades até dos problemas que eu encontrei no Linux quando era um usuário muito novato e de como eu sempre conseguia resolvê-los com ajuda dos fóruns e da comunidade de usuários.

E, por último, mesmo com a minha dedicação na criação de conteúdo, não sentia que tinha um retorno financeiro à altura da minha dedicação e trabalho naquelas plataformas. Criei um plano de ensino de teoria musical por assinatura, e a adesão foi baixíssima. E a esmagadora maioria dos alunos se matriculou no curso depois de eu enviar divulgação em grupos privados (Whatsapp, Telegram e Matrix) e não pela propaganda no Instagram, TikTok e cia.

Quebra

Esse fluxo automático foi interrompido por alguns fatores. Um deles foi o fato de ter passado no doutorado. Inclusive o tempo que eu me dediquei a passar no processo seletivo do doutorado, elaborando projeto, lendo, era o único momento onde eu sentia que estava fazendo algo que eu gostava de verdade, algo para mim, que teria frutos no médio e longo prazo. Dessa vez eu tinha boas perspectivas de conseguir uma bolsa, um governo progressista venceu as eleições de 2022 e já nos primeiros dias anunciou aumento para os bolsistas. Além disso, eu tinha fé na minha comunidade espiritual, de que seria capaz de conseguir tudo que sonhava com o apoio dela.

Outra questão bem importante, ao contrário do estereótipo do militante de esquerda, eu gosto muito de ler livros sobre organização e produtividade. Já li vários: Bullet Journal (Ryder Carrol), O Poder do Hábito (Charles Duhigg), entre outros. Graças à indicação do ótimo podcast Tecnocracia (Guilherme Felitti), eu descobri o livro Deep Work de Cal Newport. Eu não gosto da maneira como traduziram o título desse livro para o português, para Trabalho focado, embora consiga compreender o apelo desse título no público brasileiro que consome esse tipo de literatura. Enfim, esse livro me ajudou muito a repensar várias coisas na minha vida, e me trouxe a ideia de que o trabalho profundo não só é mais produtivo, mas como uma vida vivida em profundidade é melhor. E o autor ensina como se livrar das distrações superficiais, que te tiram o tempo todo desse contato com uma dimensão mais profunda do trabalho e da vida.

Por último, mas não menos importante, eu tive um reencantamento pelo mundo do código aberto e do software livre. Encontrei um amigo em Belo Horizonte, quando fui assistir ao show do Milton Nascimento, e a empolgação dele com o mundo Linux e FOSS incendiaram novamente a minha paixão pela ideia de democracia digital.

Ventos da mudança

Com a aquisição do Twitter pelo Elon Musk acabei aderindo ao movimento coletivo de deletar a conta lá e migrar para outra plataforma. Tinha gente migrando para o Koo, BlueSky, entre outras plataformas. Mas a minha proximidade com a comunidade do software livre me fazia olhar com bons olhos para o Mastodon. Inclusive eu já tinha tentado a plataforma anteriormente, mas a falta de uma comunidade ativa em língua portuguesa na época me fizeram abandonar a plataforma. Porém, agora com essa grande diáspora do Twitter, pude conhecer uma galera brasileira e lusófona bem ativa e engajada no Mastodon. Essa experiência com o Mastodon me levou a conhecer o Fediverse e me encantar com ele. Isso tudo me levava a um dilema, se apaguei o Twitter, que era a rede social que eu mais gostava de usar, me via obrigado a ceifar também as redes que eu odiava, que era obrigado a manter só para divulgar meu trabalho autônomo, e mesmo assim sem sucesso. Sem muito planejamento, sem muita preparação ou aviso, simplesmente deletei Facebook, Instagram e TikTok, em janeiro de 2023, não me recordo precisamente o(s) dia(s).

Janeiro é um mês parado profissionalmente para mim. Alunos estão de férias, normalmente viajando. Tenho poucos trabalhos nessa época, não sou um músico que toca muito em Carnaval (músicos de percussão e sopros tocam mais nessa época, emprego para pianista e sanfoneiro não tem muito), portanto não dedico esse mês para o ensaio do mesmo. Então faz tempo que faço do meu janeiro um laboratório do que eu quero para o meu ano inteiro. Eu sabia que o ideal era esperar conseguir uma bolsa de doutorado primeiro, para depois sair das redes sociais comerciais, já que talvez precisasse ainda divulgar meu trabalho autônomo por lá. Mas, por outro lado, a experiência prática me mostrou que a divulgação em grupos privados era mais eficiente para mim que a criação de conteúdo. Além disso, não podia desperdiçar o meu mês laboratório de janeiro para fazer ajustes, se fizesse esse tipo de mudança drástica no decorrer do ano me sentiria alguém consertando o carro andando.

A perspectiva era boa, doutorado, voltaria a frequentar São Paulo ao menos uma vez por semana para assistir as aulas na faculdade. Dava para organizar algumas aulas presenciais em São Paulo, alguns trabalhos como músico, as coisas iam se ajeitando novamente e ainda havia a perspectiva da bolsa de doutorado, que acabou vindo! Fiquei, orgulhosamente, em primeiro lugar no processo seletivo interno do meu programa de pós graduação. Tenho certeza que o fato de eu ter trabalhado de maneira dedicada sem as distrações das redes sociais ajudaram a alcançar tal feito. Esse primeiro lugar foi muito importante para minha auto-estima, que andava abalada e por premiar como correto o caminho e a estratégia que empreguei, já que tive muitas incertezas e medos ao longo do processo.

Como fiquei em primeiro lugar no processo seletivo, passei a receber a bolsa rapidamente, ainda no primeiro semestre do doutorado. Já tinha planejado que, com a bolsa, daria um tempo na minha vida de trabalhador autônomo. Pararia com as aulas particulares, que me tomava tempo, concentração e energia mental, e faria como músico instrumentistas apenas trabalhos que faziam sentido para mim. Também pude me concentrar melhor na elaboração de projetos visando leis públicas de incentivo, e foi dessa forma que lancei meu primeiro livro. Além disso, o fato de eu não precisar vender nem convencer ninguém a nada trouxe uma leveza para a minha vida que eu não consigo nem descrever. A vida não poderia estar melhor. Mas voltemos às redes sociais...

Twitter x Mastodon

Como eu disse antes, gostava muito do Twitter. Era uma rede onde eu me mantinha razoavelmente informado, principalmente sobre a política. E era onde eu tinha uma esperança de conseguir alguma visibilidade ao longos dos anos. Passei três anos me dedicando a essa rede, postando nela esperando algum engajamento, para a maioria dos tweets ficar abandonada aos sons de grilos. Cheguei a “hitar” algumas vezes, mas isso nunca fez com que eu ganhasse sequer um único seguidor. Me sentia falando com ninguém ali, e só tinha interação quando comentava no tweet dos outros. Nesses três anos acumulei um pouco mais de 500 seguidores, ridículo em relação aos 3000 que eu tinha no Instagram, uma rede social que eu odiava e que tive por menos de um ano.

A primeira grande diferença que senti no Mastodon é a quantidade e qualidade das interações. Raramente fiquei aos sons de grilos lá, mesmo o post (lá eles se chamam toot) com a piada mais tiozão do pavê acabava ganhando pelo menos um mísero like. E a comunidade do Mastodon é muito menor que a do Twitter, então tenho aquela sensação boa de vida em comunidade, de que conheço ou pelo menos vi a cara de todo mundo ali em algum momento. Foi uma experiência parecida com a de mudar da capital para o interior.

Desde então, o Mastodon passou a ser minha rede social principal. Passei a olhar com carinho também para outras plataformas dentro do Fediverse. Subi alguns videos no PeerTube, mas não dá pra dizer que é uma plataforma que eu consumo atualmente. Fiz um Pixelfed, mas acabei abandonando igual ao meu primeiro Instagram, já que esse tipo de rede não tem apelo pra mim. Uso também o Funkwhale, mas parecido com o PeerTube, mais alimento de conteúdo do que consumo. E, no momento, estou bem animado com o Lemmy, tenho gostado e usado bastante. Foi outra rede que cresceu depois da diáspora do Reddit, numa história bem parecida com a do Twitter com Mastodon, e acabou ganhando uma comunidade brasileira bem ativa. E gosto bastante também do Writefreely, onde você está lendo este texto no exato momento.

Instagram

Como eu disse antes, rede social de imagem nunca teve apelo comigo. Nem mesmo no meu auge da produção de conteúdo eu não consumia a timeline do Instagram e muito menos a do TikTok. Eu tinha até uma brincadeira de que eu era um traficante e não um usuário de drogas. Nem mesmo o TikTok com seu poderoso algoritmo me ganhou. Eu acho que em algum momento eu tive muita clareza de que essas redes não eram mais sociais e sim redes de entretenimento. E um entretenimento de gosto bem duvidoso... Sei lá, ao invés de ver um video tosco feito por um amigo, eu acho que eu prefiro ver um filme do Tarantino ou do Spike Lee (nada contra quem prefere o video tosco). Não julgo o escapismo de ninguém, eu também tenho o meu, mas procuro preenchê-lo com entretenimento pelo menos bem produzido. Enfim... gosto...

Outra coisa interessante que aprendi nesse processo é que o Instagram, dessas redes comerciais que eu citei é a única relevante de verdade para a maioria das pessoas. Quando digo que não tenho Twitter, ninguém liga, porque o brasileiro não tem Twitter. A última vez que vi uma notícia sobre isso dizia que até o Pinterest tem mais usuários ativos no Brasil que o Twitter. Ele ganha esse status de importância por conta do número de jornalistas e políticos que estão lá, dão à plataforma essa sensação de credibilidade, mas um país com grande índice de analfabetismo digital não dá muita bola para uma rede social baseada em textos.

TikTok, apesar de ser uma rede de muito sucesso, eu tenho impressão que ninguém questiona quando digo que não tenho. Apesar de ser uma rede com públicos de todas as idades, inclusive sucesso entre pessoas idosas, é inegável que ficou marcada na plataforma chinesa uma imagem de rede social dos jovens. Então quando alguém nascido em 1985 diz que não tem TikTok isso não causa muita surpresa nas pessoas.

Facebook é uma rede ainda muito relevante no Brasil, principalmente no Brasil profundo, conforme pudemos acompanhar no podcast Rádio Escafandro, na série O pastor. Porém, também é relativamente comum, mesmo entre pessoas ditas normais gente que cansou do chernobyl ali do Facebook, principalmente no pós-eleições e saiu da plataforma, ou abandonou o perfil, ou olha lá muito de vez em quando. Então dizer que não tem Facebook também não causa surpresa em ninguém.

Já o Instagram... Dizer que não tem Instagram é quase dizer que não tem RG. Tanto que atualmente nem digo mais para as pessoas que não tenho redes sociais comerciais, prefiro ir direto ao ponto e dizer que não tenho Instagram. As reações, basicamente, são:

  1. A pessoa demonstra admiração e curiosidade, mas ao longo da conversa vai tentando me convencer a voltar a usar a plataforma. A pessoa gosta do meu ponto, mas me diz que não preciso ser tão radical, que dá pra fazer um uso mais saudável da rede, etc. Eu percebo que esse é o menor grupo;

  2. A pessoa demonstra admiração, e meio que se justifica, diz que não gosta muito das redes, que se pudesse também deletaria, mas que precisa por motivo x ou y, normalmente trabalho, família e/ou amigos. Eu percebo que esse grupo é relativamente grande, rivaliza com o próximo;

  3. A pessoa não faz muito rodeio, diz que é um erro, que todo mundo precisa ter o Instagram hoje em dia, que consegue bons resultados por ali, e aquele papo todo que vocês já conhecem. Quando isso acontece eu fico até apreensivo de que essa pessoa vai se tornar o Agente Smith e começar a me perseguir atirando pela Matrix. Esse grupo é tão grande quanto o anterior.

O que eu costumo responder para as pessoas é que pesando os prós e contras, aquilo que as redes nos proporcionam e aquilo que elas tiram de nós, eu não acho que compense estar ali.

Conclusão

Hoje em dia tenho plena certeza de que as redes sociais comerciais, que eu tenho preferido chamar de redes de entretenimento servem justamente para isso, nos entreter. O quanto deixamos de olhar para nós mesmos, o quanto deixamos de sentir tédio, para ficarmos nos alimentando de dopamina como zumbis viciados. Outro livro bem importante nesse processo foi Nação dopamina (Anna Lembke), recomendo que vocês leiam. Essa exposição constante a esse entretenimento fácil tem prejudicado nossa capacidade de atenção, concentração, disciplina, além da capacidade de enfrentar situações desagradáveis e que nos contrariam. É o Narciso achando feio o que não é espelho... Quando vimos algo que não gostamos, silenciamos, bloqueamos... isso antigamente, já que o algoritmo nem tem deixado mais a gente em contato com o contraditório, a não ser quando a gente precise engajar algum conteúdo pelo ódio, ou seja, somos marionetes nas mãos da Big Tech, políticos de esquerda e direita são marionetes também nas mãos deles.

A minha vida sem redes da Big Tech é mais saudável. Tenho rotina, tenho bons hábitos, me alimento melhor, sou mais disciplinado, menos ansioso, lido relativamente bem com o tédio e com processos mais lentos e demorados. Até comecei agora a fazer academia. Em geral, consigo me propor ao que planejo, afinal todo o tempo livre que essas redes consumiriam eu acabo utilizando para fazer coisas saudáveis, sejam produtivas (como marcar uma reunião, escrever um relatório, revisar um artigo, etc) ou coisas para o meu bem estar, como ler um livro, ver um filme, passear com cachorro. O fato de não ter as redes, meio que me obriga também a fortalecer o contato com pessoas reais. Faço parte de dois grupos da minha cidade, um religioso e um de teatro. Acabei me engajando nesses grupos e as pessoas que fazem parte deles atualmente são meus grandes amigos, são irmãos para mim.

Eu tenho a impressão de que eu só voltaria a ter as redes de entretenimento se fosse uma necessidade muito específica. Por exemplo, reativei uma conta no Instagram do meu podcast Estação Música, que uso quando preciso mandar uma mensagem para alguém que eu não tenho o telefone. Uso só pelo computador e não tenho o Instagram instalado no meu celular. Achei que usaria mais, mas usei apenas uma vez, quando queria comprar um tambor específico com alguém que só vende por lá. Mas voltar a criar ou consumir conteúdo, eu acho muito difícil... Não vou dizer impossível, nunca diga nunca, mas não vejo qualquer possibilidade no horizonte atual.

Ainda quero escrever um texto sobre divulgação artística e musical, muito provavelmente no Zumbido de Bamba, blogue no qual sou colaborador. Se você precisa usar as redes sociais para divulgar seu trabalho eu não te julgo, já que eu não tenho costume de julgar a vítima. Nosso inimigo é a Big Tech, é a Google, a Meta, eles são nossos colonizadores e capturaram coisas preciosas como a nossa atenção, o nosso tempo livre e nos deram o Instagram, ou seja, espelhinhos em troca do nosso ouro e do nosso pau-brasil.

Eu também estou num momento profissional muito específico, já construi minha rede de contatos, e através dela sempre tenho trabalhos. Além disso, a bolsa de doutorado segura minhas finanças, conforme expliquei lá atrás. Eu também acabei percebendo que a divulgação é um trabalho e deve ser feito por profissionais competentes, especializados e remunerados. No meu atual estágio eu tenho preferido aumentar a minha rede de contato com jornalistas que vão repercutir o meu trabalho do que investir esse tempo em redes sociais. Quando se digita “Esmeraldino Salles” em qualquer buscador, pelo menos atualmente, a primeira página estará repleta de trabalhos meus, e não consegui isso através de redes sociais, e sim investindo tempo na minha própria pesquisa de mestrado, postando em blogues, escrevendo verbetes para a wikipedia e, por último mas não menos importante, dando entrevistas para jornalistas. E, para a minha surpresa, a maioria dos jornalistas adora quando levamos pauta para eles.

Sei que meu caso é específico e muito provavelmente a minha experiência não se encaixa na sua vida. Mas encare este texto como um convite. Se você também não tem redes sociais comerciais este texto pode servir como identificação e reforço de suas convicções pessoais, o que é ótimo. Mas se você possui as redes sociais e é ativo nelas, eu te convido a refletir um pouco sobre essa relação. Quanto tempo passa nelas? Consegue ficar quanto tempo sem olhá-las? Consegue ficar entediado ou passar por uma situação desconfortável sem dar uma olhada nelas? Ainda consegue manter uma leitura de mais fôlego? E ver um filme mais longo sem pegar no celular ou dar muitos intervalos? Consegue sequer assistir um jogo de futebol ou do seu esporte favorito sem o celular na mão? Considera que sua concentração continua igual a antes dessas redes? E sua disciplina e capacidade de realizar as coisas, como está? A partir dessa reflexão, faça aquilo que você julgar melhor para você e para as pessoas ao seu redor.

Além do nosso tempo, nossos dados, nossa concentração e nossa saúde mental, as redes sugam nossa pulsão criativa. Imagina o que estaríamos produzindo sem ela, livros, filmes, fotografias, novas invenções, ideias, conceitos. Se a gente não tivesse essa sensação de que estamos participando da política através dela talvez nos engajaríamos mais em movimentos, partidos e projetos sociais.

Não estar nas redes de entretenimento é um pequeno gesto de rebeldia e desobediência civil, dentro desse feudo que se tornou a internet plataformizada. Estar fora e mostrando para as pessoas que dá para viver sem elas, para mim é um compromisso ético e civilizatório.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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