Felipe Siles

Espaço onde organizo, registro e compartilho algumas reflexões e práticas sobre tecnologia e cultura. Espero que seja útil e ajude a despertar boas ideias.

O fenômeno que vou narrar não é novo, o historiador José Ramos Tinhorão já aponta há muito tempo a identificação da classe média brasileira com a classe média dos Estados Unidos, e a não identificação com a classe popular do Brasil. Segundo a crítica de Tinhorão, presente em diversos de seus livros, essa identificação cultural da classe média com o americano — que se dava principalmente na música (o jazz), no cinema e no vestuário — culminou na Bossa Nova. Porém, a reflexão que eu tento fazer aqui se dá em cima de processo semelhante, mas que foi por mim presenciado no início dos anos 2000: a popularização das séries americanas aqui no Brasil.

Eram os anos 2000, início do governo Lula 1, os Estados Unidos foram abalados pelo atentado terrorista do 11 de setembro de 2001 e, apesar do arranhão, pelo menos naquele momento ainda permaneciam no topo do mundo. No Brasil, por uma série de fatores, começou o processo de grande mobilidade social, levando ao inchaço da classe média no país. Quem vive no Brasil sabe, acho que nem a Judith Butler é capaz de imaginar que por aqui a classe social não é só questão de patrimônio, mas também de performance. A classe popular faz tudo para parecer a classe média, a classe média emula comportamentos da classe dominante, e a classe dominante jura que é pobre, que não é tão privilegiada assim... como dizem, isso aqui não é para amadores.

Essa performance de classe social ocupa o nosso imaginário de uma forma que a gente nem se dá conta direito. Eu, que sou oriundo das classes populares, me lembro que desde criança minha mãe vivia me enchendo a paciência com a questão da aparência: não pode andar na rua de chinelo e bermuda, precisa cortar o cabelo (o cabelo não pode em hipótese nenhuma ficar armado, estilo black), até pra ir no mercado precisa se arrumar.

No Brasil do Lula 1 as placas tectônicas das classes sociais começaram a se mover, e a classe média, que passou a ter os seus ambientes frequentados agora também pelas classes populares (aeroporto, rolezinhos no shopping, etc), precisava se distinguir dos subalternos, no aspecto cultural, o que também não é nada novo (até mesmo antes da Revolução Francesa, os nobres ameaçados pela burguesia que ascendia se diferenciavam pelo gosto artístico). O cinema e a música já não davam mais conta de diferenciar tanto assim as duas classes, já que ambas consumiam mais ou menos os mesmos produtos: a classe média ia no cinema, a classe popular assistia o mesmo filme quando passava na Tela Quente; a classe média comprava CDs, a classe popular ouvia as mesmas músicas no rádio ou em fitas K7. E é nessa mesma época que começou a se popularizar um tipo de entretenimento: a TV à cabo.

É seguro dizer que, nessa época, o principal entretenimento das classes populares era a televisão aberta: novelas, futebol, Jornal Nacional, Silvio Santos, etc. E a classe média, com TV à cabo, gostava de Friends, Two and Half Man, House, Lost. A classe popular consumia as séries americanas só quando passavam dubladas na tv aberta: Todo mundo odeia o Chris é um bom exemplo. Eu me lembro bem do estranhamento que tive, pois a partir do meu ingresso em universidade pública em 2003, passei a conviver com esses dois mundos. Na minha casa a gente assistia Kubanacan e Domingo Legal (assim como na casa de meus amigos do Ensino Médio), já meus amigos de faculdade assistiam Law and Order.

E a classe média, ameaçada pela classe popular ascendente, fazia questão de reforçar esses limites, adquirindo produtos das suas séries preferidas: livros, canecas, camisetas, etc. Conversavam entre eles sobre as tais séries, deixando quem não acompanha esse mundo boiando na conversa. Desenvolviam piadas e compartilhavam referências entre eles: “ah, isso é tão fulaninho do Friends” (p.s.: não sei o nome de nenhum personagem dessa série), também com o objetivo de se diferenciar do pobre, que assistia Ratinho e Ana Maria Braga.

Assim como aconteceu com a música e o cinema, esse consumo de séries hoje se massificou, e não é mais possível diferenciar as classes sociais no Brasil pelos produtos culturais que elas consomem, já que todas consomem os mesmos produtos. Essa massificação deve-se a inúmeros fatores: a TV à cabo que cada mais se popularizou, a chegada do streaming, e das redes antissociais com seus famigerados algoritmos.

Porém, você lembra que o Brasil é o lugar onde o pobre quer parecer a classe média, a classe média quer parecer o rico, e o rico quer parecer o pobre, né? Pois é... O rico pode viajar para os Estados Unidos praticamente a hora que quiser, a classe média não necessariamente, precisa planejar bem a viagem. E essas séries trouxeram uma familiaridade com a cultura, o jeito de pensar e até com a geografia dos Estados Unidos. Sentiram-se contemplados, porque na performance da classe média em parecer classe alta, esse conhecimento pode até fazer com que pareça que eles conhecem a terra do Tio Sam, como se viajassem para lá o tempo todo.

O pobre, assim que teve acesso a esse produto cultural, passou a consumi-lo para performar uma imagem de classe média. Diferente do filme, a série está ali contigo o tempo todo, uma vez por semana, todo dia, depende, mas é uma presença constante, é diferente do filme onde você fica exposto às ideias americanas por duas horas e depois volta pra Banheira do Gugu e pras Videocassetadas. E o povão, que tinha seu imaginário de desejos povoado pela novela das oito, passou a desejar o sonho americano, aquele american way of life. Tanto classe média como classe popular sonham com a mobilidade e ascenção social, e agora ambos buscam essa ascenção através da mesma bússola, que é esse estilo de vida americano, o que também ajuda a explicar o fenômeno do empreendedorismo e a praga dos coachs.

Pouca gente no Brasil conseguiu capitalizar e organizar esse desejo e esse imaginário como a extrema direita, até os dias de hoje inclusive. A babação de ovo para o Trump, o Bolsonaro batendo continência para a bandeira dos Estados Unidos, liberação do porte de armas, importação de movimento antivax, vocabulário coach, tudo isso mexe com o desejo de mobilidade social do povo, que a partir do consumo das séries se organizou e se alinhou ao american way of life. No senso comum do povão, tudo que venha dos Estados Unidos é melhor, sentimento que é muito bem ilustrado pelo personagem Renan do Choque de Cultura. Esse sentimento já existia por conta de Hollywood, mas foi aprofundado com o consumo das séries.

Lógico que as séries sozinhas não são responsáveis pela ascenção do facismo brasileiro, há também a contribuição dos jogos de videogame, filmes, música, comida ultraprocessada e outros produtos culturais. Mas pude ver de perto, o quanto essas séries foram utilizadas como marcador de classe social, na medida que falar mal ou simplesmente dizer que não liga para How I meet your mother ou Orange is new black é como ofender a mãe de algumas pessoas, porque faz a pessoa lembrar que a fronteira entre classe popular e classe média é mais frágil que a masculinidade, o que faz essa pessoa ir correndo para o Starbucks tomar um café meia boca e continuar no auto-engano.

E até hoje, mesmo dentro do campo progressista, eu consigo sacar a origem social de pessoas da minha geração facilmente pelas suas referências culturais. As minhas referências de anos 2000 estavam a maioria na TV aberta, no máximo na MTV, que pegava na TV aberta em alguns lugares. Eu sou capaz de reconhecer infinitos jogadores de futebol, mas devo saber no máximo o nome de uns trinta atores dos Estados Unidos. Vai ver que é por perceber esse fenômeno que eu até hoje não tenho a menor boa vontade com séries, não acompanho quase nenhuma, com poucas exceções. E também porque são muito grandes, tenho mais o que fazer...

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Esse é um texto bem com cara de final de ano. Afinal, vem o recesso e a maioria dos trabalhadores pode ter um pouco mais de tempo livre, descanso e muitos aproveitam para fazer andar a fila de filmes e séries. Não sou diferente, e apesar de ainda estar trabalhando, por conta da minha vida de profissional autônomo, tenho utilizado essa quebra na minha rotina normal para fazer testes, reflexões, consolidações e ajustes na maneira como eu escolho meu entretenimento audiovisual.

Mas Siles, que chatice! Precisa ser organizado até nisso? Não é só sentar na TV, relaxar e assistir o que quiser? Pode ser, se funciona assim pra você, ótimo! Mas eu acho que se a gente não precisasse de curadoria, não haveriam algoritmos de streamings e redes sociais nos entupindo de sugestões de filmes e séries. Quem conhece bem este blogue, já sacou que eu sou bem avesso a esses algoritmos e sua propaganda, acredito que cada sujeito ou grupo social deveria exercitar investigar o que realmente gosta de consumir, procurando se alienar dessa publicidade (na medida do possível) com o objetivo de auto-conhecimento, auto-descoberta e qualidade de vida, que realmente nos faça descansar do trabalho, e não gere ainda mais ansiedade. Fazendo um paralelo com alimentação, nunca vi propaganda na televisão de alimentos orgânicos, mas apesar disso eles são a parte principal da minha alimentação há muitos anos.

No sentido de evitar a ansiedade, eu sigo alguns princípios, que funcionam para mim. Podem não funcionar para você, mas isso aqui não é um guia ou manual da coisa certa a se fazer, apenas um relato pessoal da experiência que funciona para mim, e aproveite o quanto esse relato for útil para você. Minhas regras, por um entretenimento menos ansioso, são:

  • Prefiro me alienar de lançamentos e de hypes, com exceção de quando tenho a oportunidade de ir ao cinema, porque aí vou inevitavelmente assistir algo que está em cartaz. Mas dentro da minha casa, na frente da minha televisão, tento ao máximo ignorar o que todo mundo tá vendo, afinal sou um radical daquela regra da mamãe: “você não é todo mundo”;
  • Proibido mexer no celular ou em qualquer aparelho digital enquanto assisto um filme, série, etc;
  • O horário de televisão, assim como sua duração é pré estabelecido dentro da minha rotina;
  • Menos é mais, melhor ver poucas coisas e se divertir com elas do que tentar dar conta de várias e ficar perdido, ansioso e entediado, ou ficar criando listas e metas intermináveis e depois lidar com auto-cobrança.

A última regra e uma opinião muito impopular: pessoalmente, evito as séries. Na minha opinião elas são produtos meramente comerciais e sua explosão e popularização só se justifica na necessidade dos serviços de streaming demandarem produtos que vão prender o usuário na assinatura. No meu caso, um trabalhador com tempo livre escasso, as séries além de consumir muito tempo livre, ainda geram um nível de ansiedade, já que elas são produzidas para viciar e provocar a maratona. E sou uma pessoa que valoriza a rotina, as 8 horas de sono, as refeições no horário correto (as minhas costumam ser acompanhadas de um podcast), então dispenso esse formato de entretenimento. E tem uma pitada de old school e saudosismo também, ainda acho que a sétima arte, o cinema, os filmes, ainda é uma forma de entretenimento superior, seja lá o que isso queira dizer.

Substituto as séries por animes, que em geral são ótimos produtos culturais, com duração bem mais curta dos episódios. Enquanto uma série em geral tem episódios de cerca de 1 hora, um anime dificilmente chega a 30 minutos. Ou seja, ao invés de assistir dois episódios de uma série, eu prefiro assistir um filme (ou seja, uma história com começo, meio e fim, pelo menos assim espero rs), ou então 4 episódios de anime (animes diferentes, ou o mesmo anime, se eu estiver maratonando).

Outro detalhe interessante, com essa coisa de diversos streamings irem reduzindo o compartilhamento de assinaturas, fui deixando diversos serviços e atualmente assino apenas dois, que me contemplam bem (Max e Telecine), e compartilho a senha do Crunchyroll, assinado pelo meu irmão. Para as coisas que eu gosto de assistir essas assinaturas são suficientes. E se tiver algum produto cultural que eu queira muito ver, que esteja em outro serviços, sempre existem meios de assistir, se é que você me entende...

Contextualizado o meu gosto pessoal, minhas regras, vamos a como eu monto a minha curadoria:

  • Animes: acabo escolhendo por recomendações de amigos mesmo, esse é um assunto que eu sempre converso em determinadas rodas de amizades. Gosto de acompanhar alguns que ainda estão sendo produzidos, assistindo semanalmente o episódio novo. Gosto muito mais dessa forma de consumir do que as maratonas, acho mais gostoso e menos ansioso assistir desse jeito. Mas não posso negar que às vezes gosto de maratonar um anime, quando ele me pega muito. Vou acompanhando esses que estão sendo produzidos na atualidade uma vez por semana, e também pego um mais “antigo” para ir assistindo aos poucos. Esse “antigo” eu gosto de pegar bem os clássicos mesmo, consagrados pelo gênero e assisto um de cada vez, no máximo dois, não gosto de conciliar vários. Outra coisa, eu evito deixar a “lista de favoritos” muito grande, deixo só os novos que estou acompanhando, e o(s) “antigo(s)”, e quando termino de ver o(s) “antigo(s)”, tiro ele da lista. Atualmente estou considerando como ideal assistir no máximo 4 episódios de anime por dia, e se for futuramente mexer nesse número será para diminuir, e não aumentar;

  • Filmes: eu odeio aquela sensação de indecisão ao escolher um filme. Então já salvo vários que quero assistir na famosa “minha lista” e gosto de definir algum critério para a sequência que vou assistir. Exemplos: todos os filmes do Studio Ghibli (ou de outro estúdio), todos os filmes do Spike Lee (ou de outro diretor), filmes biográficos, filmes com um ator específico, filmes de um gênero específico, todos os filmes de uma trilogia ou coleção, etc. Esse tipo de critério ajuda muito na escolha do filme que vou assistir, já que a escolha é um processo cansativo para o cérebro e a ideia é relaxar e se divertir. E é legal que você fica no clima de um determinado tipo de filme. Por exemplo, assisti na sequência filmes biográficos sobre Pixinguinha e Elis Regina, foi uma experiência interessante e acabei traçando mentalmente diversos paralelos entre essas duas produções. Se nos animes eu evito a “minha lista” muito longa, aqui vou simplesmente adicionando tudo que quero ver, sem muito filtro, mas também não me cobro pra ver tudo num prazo específico, apenas penso nesse monte de filme como se fosse a minha locadora pessoal (essa só o pessoal dos anos 1980 e 1990 vai pegar a referência kkkk).

Outra coisa que acho legal é produzir um registro das coisas que assisto. Tenho utilizado as plataformas Justwatch e Letterboxd para isso. E elas também são muito úteis para descobrir em qual serviço de streaming está algum produto cultural que eu queira ver. Se você quiser me seguir no Letterboxd.

Mais uma coisa: eu não sou dessas pessoas que acha que todo entretenimento tem que ser “cult”, tem que levar à reflexão, etc. tem horas que eu amo assistir um filme de porrada para desligar o cérebro mesmo, viva o escapismo! Mas trocar a realidade dura de trabalhador no capitalismo tardio por um entretenimento raso 100% do tempo, é algo que eu evito também, então tento minimamente equilibrar. Normalmente eu gosto de assistir as coisas mais rasas durante a semana, depois de um dia cansativo de trabalho e deixar a arte mais profunda, “cult”, nobre, etc para os feriados e finais de semana.

Última coisa, prometo: não precisamos ocupar todo o tempo livre também, com filmes, séries, leituras, podcasts, músicas, passeios... o ócio também faz parte da vida, e lidar com ele tem sido um desafio na conteporaneidade, mas penso que valha a pena encará-lo, em nome de uma vida melhor.

Bom descanso, e bom entretenimento!

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Obs.: em geral, não estou considerando aplicativos muito básicos, como relógio, calendário, chamadas, calculadora, loja de aplicativos, etc, normalmente uso o nativo

1. Smartphone com Android

  • Tocadores: AntennaPod, Transistor, VLC, Tidal, NewPipe
  • Mapas e navegação: Google Maps, Moovit,
  • Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud, DAVx5
  • Mensagens: Beeper
  • Bloco de notas: Joplin
  • Navegador: Firefox Focus
  • Passivos: TC Control, Screen Time
  • Launcher: Smart Launcher
  • Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth P.S.: vários desses aplicativos foram instalados via F-Droid

2. Tablet com IOS, vulgo iPad

  • Nativos Apple: Safari, Email, Calendário
  • Leitura: Omnivore (deus o tenha), Zotero, PDF Gear
  • Notas: Joplin
  • Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud
  • Nas aulas de música que leciono: Musescore, Metronomo, iGrand Piano, iReal Pro
  • Mensagens: Beeper
  • Entretenimento: Lichess, Sofascore, JustWatch, Letterboxd
  • Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth

3. Computadores com Linux

(Notebook com Manjaro; PC de gabinete com Debian) – E-mails e calendário: Thunderbird – Navegador: Firefox – Mensagens: Ferdium – Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud – Notas: Joplin – Pacotes de escritório: Libre Office, Only Office – Produção musical: Musescore, Audacity, Ardour – Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth – Tocadores: VLC, FreeTube – Gestão de textos e livros: Zotero, Calibre

4. Projeções para 2025

Quero começar a usar mais o Syncthing, até pra aliviar meu uso de nuvens, que é meio pesado. Para substituir o finado Omnivore, migrei para o Pocket. Também quero me tornar mais analógico, em 2024 já substitui aplicativos de tarefas que usava pelo bom e velho caderninho físico, utilizando o método do Bullet Journal, vamos ver o que 2025 me reserva, nesse sentido. E sempre estou aberto a testar e eventualmente incorporar na minha rotina novos aplicativos, preferencialmente livres e de código aberto.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Relembrando 2022

Em primeiro lugar, este não é um texto embasado em estatísticas, números, como diz o título: apenas o relato de impressões pessoais. Vou voltar um pouco no tempo, para 2022. Elon Musk comprou o Twitter, trouxe de volta perfis banidos, demitiu um monte de gente, afrouxou a moderação da plataforma (que já era problemática antes) e bradava aquele discurso fantasioso americano de “liberdade de expressão”, que na verdade é liberdade para oprimir sem lidar com as consequencias.

Naquela altura do campeonato o cenário era o seguinte: Zuckberg colocou às pressas pra rodar o seu Threads; BlueSky era uma novidade também, mas precisava de convite para entrar; e o Mastodon era a única plataforma pronta para receber os insatisfeitos com o Twitter sob nova direção (vou poupá-los da vergonha de lembrar que um considerável montante aderiu a uma rede social indiana de extrema direita só porque tinha um nome meio 5ª série).

Muitos usuários relataram dificuldade para migrar para o Mastodon: o sistema descentralizado, organizado por instâncias, foi um entrave para a maioria, fazendo com que muitos ficassem ali pelo Twitter, mesmo com os problemas da nova realidade. Foi nessa leva que eu excluí minha conta do Twitter e migrei definitivamente para o Mastodon.

O cenário atual é bem diferente: BlueSky e Threads, apesar de estarem ainda implementando alguns recursos, me parecem redes prontas para receberem os usuários do Twitter. E o Mastodon continua sendo o Mastodon, pro mal e pro bem.

Mastodon

Fiquei três anos (2019 a 2022) tentando ter alguma visibilidade no Twitter. Como sou uma pessoa que gosta de textos, tanto de escrever como ler, sempre preferi as redes textuais, criando até um certo asco pelas redes de fotos e vídeos. Fui muito popular no Facebook (na era pré-algoritmo) e com o declínio da plataforma do Zuckberg, tentei transferir essa popularidade para o Twitter, sem sucesso. Tinha vontade de divulgar minha produção acadêmica e também fazer parte do “debate público”, mas foi um fracasso. Tweets às moscas, pouca interação, quando ia no tweet de algum influenciador famoso e discordava de algum ponto não havia diálogo, e sim frases de efeito, lacração, com o amplo apoio dos seguidores daquela pessoa, ou seja, o diálogo completamente interditado, mesmo em contas de esquerda/progressistas/não-fascistas.

Encontrei no Mastodon um ambiente parecido com o Facebook pré-algoritmo que, gostem ou não, era uma rede muito boa para interagir com amigos. Desde então o Mastodon tornou-se minha rede principal, descobri o Fediverso e a possibilidade dele interagir com outras plataformas que compartilham o mesmo protocolo, descobri o ótimo Lemmy, e que posso federar blogues e sites feitos em wordpress e até mesmo ESTE BLOGUE que você está lendo, fantástico!

A impressão que eu tenho é que o Mastodon não tem a menor vocação para virar um novo Twitter, embora ainda exista gente (ao meu ver equivocadamente) com essa expectativa. A dificuldade inicial em criar uma conta foi resolvida, agora o novo usuário se não quiser entrar em uma instância é colocado por padrão na mastodon.social, facilitando o acesso para a geral (igualzinho funciona o BlueSky com a bsky.social). Mesmo assim, aquela fama de 'difícil de entrar' permanece, mesmo não sendo mais a realidade atual.

Mas eu acredito que esse não é o principal entrave para a plataforma crescer. Acho que conheço o Mastodon o suficiente para elaborar duas razões principais do por que ele nunca será massificado:

1) a falta de algoritmo faz com que um influenciador praticamente vire um usuário comum. Mesmo que ele ganhe muitos seguidores só por ser famoso, suas postagens vão concorrer igualmente com postagens de usuários comuns. Além disso, o público do Mastodon tende a ser bastante avesso a propagandas, tornando a prática da 'publi' difícil na plataforma, inclusive existem instâncias que proibem. Isso afasta os influenciadores grandes, que acabam criticando a plataforma publicamente, numa lógica de concorrência e reserva de mercado, afinal não querem perder seu público, sua fonte de renda;

2) a própria comunidade do Mastodon não parece muito empolgada com a ideia da massificação da plataforma. O usuário do Mastodon é como o morador de uma cidade pequena, que gosta de estar ali, e não tem a menor vontade de que ela vire uma metrópole. Mesmo a federação com a Threads é vista com desconfiança pela maioria e já é silenciada ou bloqueada em diversas instâncias brasileiras. O Mastodon é bem uma cidade pequena mesmo, todo mundo meio que se conhece, e as instâncias são os bairros dessa cidade, você pode não conhecer todo mundo, mas sabe que tem a galera da Ursal, da Bantu, da Ayom, da Bolha.us, da Bolha.one, etc.

Isso tem um lado positivo, que faz com que a rede seja mais humana, mais acolhedora. Mas, por outro lado, gera também um efeito condomínio, acaba que essa experiência mais agradável é acessada por poucas pessoas, por nichos, se tornando elitizada. Mas tenho a impressão que no capitalismo isso ocorre com outras coisas também: pouca gente tem acesso a uma alimentação natural, com alimentos orgânicos, por exemplo.

BlueSky

Apesar de gostar muito de estar no Mastodon, sempre me incomodei com o fato de instituições públicas não estarem lá (existem algumas ações pontuais, como a dos museus, mas é muito pouco, infelizmente). Comecei a seguir diversos veículos de imprensa e instituições através do feed RSS, mas a verdade é que não dei conta do volume de informação, e hoje minha feed RSS é bem restrita, para não sobrecarregar minhas leituras (faço doutorado e já preciso ler bastante). Isso sem falar que muitos sequer têm uma feed RSS. Tentei seguir as instituições pelos canais de whatsapp, mas também não dei conta, e o meu whatsapp que já é um inferno de notificações tornou-se ainda pior. Nisso eu sentia falta do Twitter, você encontrava ali no meio da sua timeline uma ou outra informação oficial, que poderia ser útil, mas não precisava necessariamente acompanhar tudo.

Quando percebi que estava rolando uma movimentação de bloqueio do X, antigo Twitter, resolvi dar uma chance ao BlueSky e criei uma conta. Quem me acompanha neste blogue, sabe que sou avesso à big tech, mas a possibilidade de uma rede social que se propõe a ser descentralizada, moderada e de código aberto despertou a minha curiosidade. O fato do antigo criador do Twitter, com aquele famigerado discurso de liberdade de expressão, ter se afastado do projeto também me animava. Além disso, fiquei empolgado com a possibilidade de voltar a seguir alguns conteúdos que seguia no Twitter, agora sem propagandas e sem o maldito algoritmo deles, aquele que premia a escrotidão e a treta.

Criei a conta no BlueSky e fui percebendo a migração aos poucos das contas que eu gostava de acompanhar no Twitter, alguns deles já estavam lá antes do bloqueio. Com o bloqueio, fui notando que diversos veículos de imprensa passaram a criar conta no BlueSky, que aparentemente ganhou a batalha de números contra o Threads.

Minha experiência com o BlueSky, pesando prós e contras, vem sendo positiva. A plataforma tem uma vocação para ser o “antigo Twitter”. Percebo que não há tanta interação quanto o Mastodon, já que lá existem algoritmos. Mas a ideia de personalizar a experiência algoritmica me pareceu interessante e útil, escolhendo as feeds que você quer ter na sua página inicial. Muita coisa que eu posto lá fica ao vento, como era no Twitter, mas já entendi que lá é um lugar de pouca interação mesmo para humanos comuns.

Venho utilizando a plataforma para seguir veículos de imprensa e instituições públicas de uma forma que eu consigo dar conta. Também venho interagindo com algumas pessoas que me seguiram, e voltei a interagir com pessoas que eu já interagia quando tinha conta no Twitter. Pretendo utilizar a plataforma para divulgar meu trabalho acadêmico e a hashtag #AcademicSky me parece bem útil pra isso. As postagens onde usei essa hashtag ganharam um pouco mais de tração e interação, me parece um recurso bem promissor.

Meu maior temor em relação ao BlueSky é a forma como eles vão monetizar a plataforma, que pra mim ainda é um mistério. Será que vão ter assinaturas, liberando recursos extras, mais ou menos como o Telegram? Ou será que vão apostar na monetização do conteúdo exclusivo, num caminho meio OnlyFans? Será que vão enfiar propaganda goela abaixo na timeline da galera, como o Twitter (ou pior, o Facebook)? Prefiro aguardar, mas se a última opção ocorrer, vou deletar minha conta.

Threads

Não criei Threads nem pretendo criar, a nova rede parece ter um ambiente muito parecido com o do Instagram, ambiente este que eu não tenho a menor vontade de estar presente. Mas confesso que dei algumas buscas na Threads, em perfis que não migraram para o BlueSky. A impressão que eu tenho é que gente MUITO FAMOSA está na Threads, principalmente figuras ligadas à música, cinema e esportes.

Acho compreensível, lá é o ambiente de gente famosa mesmo, e práticas como publicidade, as publis, estão naturalizadas por ali. Como uma grande 'Revista Caras' que se tornou o Instagram, faz sentido que essas pessoas muito famosas fiquem ali pela Threads mesmo, monetizando em cima de uma base de usuários que é gigantesca, que é a base de usuários do Instagram, onde mais de 90% dos brasileiros com acesso a smartphones e internet têm conta (felizmente estou nos menos de 10% que não tem, ô sorte!).

X

Não sabemos se o X vai voltar a operar no Brasil ou não. Aparentemente a rede, no contexto brasileiro, se tornou um lamaçal de facistóides usuários de VPN, um verdadeiro esgoto. Sempre fui crítico a essa postura das esquerdas de “ocupar o twitter”, não adiantava nada, e o Alexandre de Morais e o STF esfregaram isso na nossa cara. Sem um algoritmo premiando comportamentos agressivos, BlueSky e até o Threads se mostram como ambientes mais saudáveis que o X. Inclusive, acho que poucos lugares na internet são piores que o esgoto fascista que se tornou o X.

Muitas pessoas no BlueSky estão relatando que o discurso de extrema direita perdeu tração sem o X, embora eu ainda gostaria de ver essa afirmação expressa em números, estatísticas e gráficos para me convencer totalmente. Mas, pelo menos aparentemente, o bloqueio desmobilizou a máquina pública de discurso de ódio e fake news, jogando os fascistas a permanecer na plataforma com o VPN ou se esconder nos esgotos de seus grupos privados de Telegram e Whatsapp.

O ser humano é um animal de hábitos e me parece que mesmo em tão pouco tempo temos o ecossistema do X reorganizado nas duas plataformas: o crackudo de notícias foi para o BlueSky, o crackudo da Ilha de Caras foi para o Threads. O usuário do 'núcleo duro' do Twitter parece ter ido para o BlueSky, o usuário mais casual para o Threads (aí pesa a comodidade de ter o perfil associado ao Instagram). Me parece que os públicos dos influenciadores, veículos e instituições se acomodou nas duas plataformas e parecem estar gostando da experiência.

Os estudiosos do comportamento dizem que um novo hábito leva mais ou menos um mês para se estabelecer. Se o bloqueio durar menos de um mês, eu acredito que as pessoas voltam para o X, e as outras plataformas voltam a ser produtos de nicho. Agora se o bloqueio durar um mês ou mais, eu penso que pode ser interessante observar a movimentação dos influenciadores de esquerda, progressistas ou pelo menos não-fascistas:

1) Pode acontecer de voltarem em masssa para o X: vão voltar a fortalecer em número de base de usuários uma máquina de desinformação, de produção de discurso de ódio. Se isso acontecer, ficará muito nítido que a briga dessas pessoas não é por uma internet livre, saudável e humana, mas sim pela própria fama, visibilidade, monetização e sucesso. P.S.: excluo dessa conta os jornalistas, esses são proletários e vão para onde os jornais (e seus patrocinadores) determinarem que é pra ir;

2) Pode acontecer de haver uma divisão (acho o mais provável): alguns voltam para o X, outros ficam pelo Threads e BlueSky e trabalham com suas bases de seguidores nas novas plataformas. Apesar do monopólio atual do Instagram, pessoas estão em outras redes também, e me parece que a segunda rede de preferência da maioria das pessoas varia muito. Me parece que existe uma tendência, fora do Instagram, das redes serem consumidas de forma mais compartimentada e nichada mesmo, o que inclusive vejo como positivo;

3) Pode acontecer de ignorarem a volta do X (meu sonho) e tornarem a rede do Elon Musk um esgoto da extrema direita, uma cidade abandonada, uma espécie de novo 4chan ou truth.social. Caso isso aconteça, eu acredito que demos um passo em direção à civilidade.

Acho que mesmo com o final do bloqueio, a vida de Elon Musk não será fácil, a companhia perdeu muito dinheiro com essa decisão do STF brasileiro e parece que a ação já está reverberando em outros países. Então acredito que a tendência é que Elon Musk encontre cada vez mais barreiras legais em diversos países para suas loucuras. E a perda de dinheiro e patrocínios fazem com que o fantasma da falência passe a assombrá-lo. Nesse hipotético cenário, Musk terá que escolher entre ceder (o mais provável) ou sucumbir de vez, fazendo com que o X, assim como o Twitter, Koo e o Orkut, sejam parte do passado da tecnologia. Assim espero!

Meus perfis para quem tiver interesse em seguir:

Mastodon: https://ayom.media/@felipesiles BlueSky: https://bsky.app/profile/felipesiles.bsky.social

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Mastodon

O Mozilla Thunderbird é uma excelente ferramenta para gerir emails. Ele é gratuito, tem código aberto e está disponível para instalação em diversos sistemas operacionais. Além da função óbvia de gerenciar emails, ele possui outras funções bem interessantes, como calendário, chat e acompanhar feeds RSS. E as extensões, a maioria desenvolvida pela comunidade, acrescentam ainda mais funções e possibilidades interessantes ao software. Seguem minhas extensões preferidas no momento:

Confirm-Address: já aconteceu com você de enviar um email e só depois lembrar que esqueceu de acrescentar uma CC (cópia carbono) ou anexo? Ou já esbarrou sem querer no botão 'enviar' e mandou um email que não estava totalmente pronto ainda? Essa extensão é bem simples, ela pede uma confirmação antes de enviar qualquer email. Eu acho bem útil, para dar aquela revisada se está tudo certo para o envio, antes de fazê-lo de forma definitiva e sem volta;

Provider for CalDAV and CardDAV + TbSync: ajuda a sincronizar calendários CalDAV com servidores como o Nextcloud, por exemplo;

Remover mensagens duplicadas: quem usa o Thunderbird, sabe que ele possui o incoveniente de duplicar algumas notificações de novos emails, essa extensão corrige o problema;

Quick Acess: esse conjunto de extensões pode transformar o Thunderbird num super gestor de mensagens, já que agrega botões que abrem páginas para ler emails a princípio não compatíveis com o Thunderbird (como Tuta e Proton), além de botões para acessar mensageiros como Whatsapp, Telegram e Discord. São 18 extensões do mesmo criador, que criam botões para diversos serviços da web.

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Mastodon

Acredite, muita gente ainda ouve rádio, muita gente mesmo. E, para quem gosta da mídia, é possível que já tenha se deparado com a situação de visitar alguns sites de webrádios, aí se incomodar com a arquitetura do site, os anúncios, a parafernalha, sendo que você só queria ouvir rádio. Ou simplesmente não consegue desenvolver o hábito de visitar um site para ouvir uma rádio. Você vai na Play Store (ou Apple Store) e procura algum aplicativo de web rádios, mas o aplicativo não tem a rádio que você quer ouvir, principalmente se ela é mais alternativa. Não sei quanta gente já passou pelo mesmo problema, mas eu sempre desconfiei que havia uma forma de seguir rádios parecida com seguir RSS de notícias ou podcasts. E tem sim!

Uma webradio é mais ou menos uma playlist que fica rodando em um site na internet (na verdade, é um pouco mais complexo que isso rs, mas só pra ficar mais prático o entendimento). Se você consegue o link dessa “playlist”, pimba! Basta rodá-la em um programa ou aplicativo de sua preferência que tenha essa função. Então vamos primeiro aprender como encontramos o link para ouvir a webradio. Após algumas interações pelo Mastodon, Elmo Neto trouxe um passo-a-passo bem interessante para isso. Nas palavras dele:

  • Abra a página da rádio;
  • Abra as ferramentas de desenvolvedor do navegador (pode usar o atalho ctrl+shift+i) e clique na aba “Rede”;
  • Limpe todas as requisições clicando na lixeira;
  • Clique em Play e espere a requisição pra transmissão;
  • Copie a URL e cole no seu player preferido (como o VLC).

Agora segue a lista dos meus programas e aplicativos preferidos para rodar as URLs das webrádios:

Por último, seguem algumas sugestões de rádios (com seus devidos links) que eu gosto e acompanho:

Rádio Aconchego https://orelha.radiolivre.org/aconchego

Rádio USP https://flow.emm.usp.br:8008/radiousp-rp-128.mp3

Rádio Yandê https://cloud.cdnseguro.com:2611/stream

Rádio Unicamp https://radio.sec.unicamp.br/aovivo

Rádio ABET https://s19.maxcast.com.br:8415/live?id=1192757142750

Rádio Antena Zero https://www.radios.com.br/play/playlist/27099/listen-radio.m3u

Rádio Comunitária Cantareira https://5a2b083e9f360.streamlock.net/sc_canta/sc_canta.stream/playlist.m3u8

Rádio Noroeste (Campinas-SP) http://svrstream3.svreua.com:8322/stream?1718737404193

Universidade FM (UFMA) https://s26.maxcast.com.br:8280/live?id=1718833388070

Educadora FM (Bahia) https://www.radios.com.br/play/playlist/12911/listen-radio.m3u

Rádio Universitária (UFPE) https://www.radios.com.br/play/playlist/14984/listen-radio.m3u

Rádio Cultura Cigana Brasil https://streaming.studioshopping.com.br/listen/radio_cultura_cigana_brasil/radio

Rádio Chiveo https://comodin.uy/listen/chiveo/128.mp3?refresh=1728309944820

Rádio Pipi Cucu https://comodin.uy/listen/pipi_cucu/128.mp3?refresh=1728310043403

Gostaria também de agradecer e dedicar esse texto ao Saci da Rádio Aconchego que foi a pessoa que resgatou em mim o amor pelo rádio, obrigado meu amigo!!!

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Fala pessoal! Na data que escrevo (14 de junho de 2024) estou com 34 horas de tela de celular nos últimos 31 dias, mas se considerar apenas os últimos 11 dias, tenho 11 horas, ou seja, nos últimos 11 dias dá pra dizer que tenho média cravada de 1 hora por dia de tela de celular. Pode parecer bobagem, mas morando em um país onde as pessoas passam EM MÉDIA (significa que tem gente que passa mais) 9 horas por dia no celular ou em outros eletrônicos, acho que o feito é bem considerável, não só pelo aspecto da saúde mental e bem estar, mas acaba gerando um certo deslocamento cultural (que resolvi bancar), já que não estou com o nariz enfiado no celular o tempo inteiro, como a maioria das pessoas ao meu redor.

Vou colocar de maneira prática e objetiva algumas estratégias combinadas que adotei para alcançar essa média, caso interesse alguém:

  • Não tenho perfil nas redes sociais comerciais famosas (Instagram, Facebook, Xwitter e TikTok);
  • Tenho perfis em algumas rede sociais do Fediverso (Mastodon e Lemmy), mas só as acesso via computador, no celular não tenho aplicativos dessas redes;
  • Deletei aplicativos que me faziam ficar perdendo um tempo no celular, como aplicativos de esportes (como o Sofascore) e jogos (como o Lichess);
  • Para evitar ficar navegando por sites na internet, uso o Firefox Focus como único navegador no celular. Ele não salva senhas, nem histórico, funciona sempre como se fosse uma aba anônima, o que ao meu ver limita bastante o uso prolongado;
  • Deletei muitos aplicativos do meu celular, deixei aquilo que considero muito essencial (dentro do meu uso, óbvio), como aplicativos de mapas, transporte, bancos, e afins;
  • Tenho apenas três mensageiros no meu celular: whatsapp, telegram e o SMS. E só os mantenho instalados porque tem muita gente que me liga usando esses aplicativos. A checagem e respostas das mensagens eu faço uma ou duas vezes por dia no computador mesmo, utilizando clientes web (utilizo o Ferdium, que agrega todos esses mensageiros num ambiente só);
  • Utilizo o aplicativo Screen Time (da F-Droid) para monitorar meu tempo de tela, e criei essa meta de 1 hora por dia;
  • Pelo menos uma dia na semana eu tento ficar o maior tempo possível offline, sem nem encostar no celular, costumam ser aos domingos (quando não tenho trabalho/freela nesse dia);
  • Comecei a levar o meu e-reader (popularmente conhecido como Kindle) pra todo lugar que eu vou, e quando bate aquele tédio ao esperar um ônibus ou um atendimento no banco, eu leio um livro ao invés de mexer no celular;
  • Aqui tem uma pequena roubadinha: o maior tempo de uso do meu celular é ouvindo coisas: webrádios, rádio FM, podcasts, música, etc, ou seja, não contam como tempo de tela. Inclusive eu queria muito ter um aparelho só pra isso, que não fosse celular. Vi que já lançaram uma espécie de walkman Android, mas por enquanto é meio caro para o meu bolso;
  • Participações em videochamadas: COMPUTADOR SEMPRE! Além de tempo de tela no celular, ainda come uma bateria da porra;
  • Desligo TODAS as notificações do celular;
  • Prática diária do Bullet Journal tem me deixado um pouco mais analógico, pelo menos pra gerenciamento das tarefas;
  • Mantenho hobbies que não dependem de tela, como passear com cachorro, visitar banca de jornal e montar cubo mágico;
  • Uso relógio de pulso para não precisar recorrer ao celular para ver as horas.

A parte que eu mais amo de priorizar fazer as coisas no computador, é que é muito fácil delimitar um fim para sua relação com a internet e a tecnologia no dia. Basta desligar o aparelho. Diferente do celular, que já nem temos mais coragem de desligar (eu programei um desligamento automático do espertofone diário, na hora de dormir, religando na hora de acordar).

ATUALIZAÇÃO (11 de agosto de 2024) Consegui baixar o tempo de tela atualmente para uma média de 30 minutos por dia

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Salve galera! Faz alguns meses que não escrevo neste espaço, pois de um tempo pra cá venho sentindo maior necessidade de ler do que escrever. Então abro uma pequena exceção pra falar um pouco como tem sido essa retomada a um forte hábito de leitura.

Digital x Analógico: eu fico com os dois

Prefiro ler o papel, mas venho cada vez mais diminuindo o uso do celular no meu dia-a-dia e, nesse sentido, o Kindle tem me ajudado muito. Ando com ele na minha pochete, junto com os três Cs (carteira, chave e celular), e quando bate aquele tédio de esperar um ônibus ou minha vez no banco, recorro ao e-reader ao invés do espertofone.

Quando estou em casa, tenho priorizado os livros de papel. Organizei uma lista de desejos, aí vou registrando livros que preciso comprar, a maioria deles para a minha pesquisa de doutorado. Aí no começo de cada mês compro um desses livros, assim que cai a minha bolsa. É uma forma de investir na minha biblioteca ao longo do doutorado e frear o impulso de sair comprando muitos livros que provavelmente não vou ler. Tenho também reservado dois horários do dia para leitura, um de manhã para leituras do doutorado e um mais no final da tarde e começo da noite dedicadas à leitura apenas pelo prazer.

Outra coisa que tem sido legal é que voltei a frequentar a banca de jornal. Moro em uma cidade pequena, e aqui há apenas uma banca. Como ela fica em frente ao principal supermercado da cidade, tenho aproveitado quando vou às compras pra dar uma passadinha na banca antes. Já fui assinante de revistas, chega uma hora que eu não dava mais conta de lê-las, então eu tenho preferido fuçar a banca, ver se tem alguma revista ou HQ com algum tema que me interesse e compro, sem o compromisso de ter que comprar as edições seguintes.

Alguns programas/aplicativos que eu tenho utilizado pra ajudar no hábito de leitura

Quando se trata do digital, eu não gosto muito de ler nem no computador e muito menos no celular. Meus dois dispositivos preferidos para leitura no digital são o iPad e o Kindle.

Tenho utilizado o Kindle deslogado da Amazon, sempre no modo avião, e passo meus livros para ele via cabo mesmo, usando o Calibre no computador. Tem sido muito legal utilizá-lo dessa forma, praticamente ressignifiquei minha relação com esse dispositivo, que vinha usando muito pouco.

Já para o iPad, tenho utilizado principalmente dois aplicativos: Omnivore para ler textos, links salvos e feeds RSS; e Zotero para ler os textos acadêmicos/científicos. Tenho extensões se sincronizam com esses dois aplicativos no navegador do meu computador (Firefox) e conforme aparece um texto que me interessa, já salvo via extensão. Tenho procurado ser parcimonioso para não me sobrecarregar de leituras, volta e meia acabo apagando textos que eu salvei pra ler depois, quando entendo que esse “depois” não vai chegar. Textos e links que preciso ter salvos de maneira um pouco mais permanente, para consultas futuras, eu prefiro salvar num bloco de notas simples mesmo, num caderno dedicado pra isso, uso o Joplin. Tenho sido bastante econômico também nas feeds RSS que sigo, pelo mesmo motivo, não sobrecarregar a leitura.

Também gosto de registrar minhas leituras no Bookwyrm, uma rede social de livros conectada ao Fediverso. Utilizo a instância Velha Estante, e adoro de vez em quando olhar as leituras e listas dos colegas para ter novas ideias do que ler. Como a plataforma é conectada ao Fediverso, acabo utilizando o Mastodon para compartilhar o registro de leitura, para chegar em mais amigos, que podem gostar da recomendação.

Conclusão

Nunca abandonei totalmente o hábito de leitura, mas houve momentos onde ele esteve mais forte e em outros mais fraco. Sinto que é um momento onde está um pouco mais forte e tem sido muito bom, já que me sinto um pouco saturado de assistir mídias como vídeos, filmes e séries, pouca coisa nesse formato tem me interessado de verdade ultimamente. Também tenho feito um uso muito minimalista do celular, e o crescimento do hábito de leitura contribui nesse sentido. Desconfio que o hábito de escrever no Bullet Journal (o qual já escrevi a respeito neste blog) também favorece a necessidade de me tornar mais analógico e ler mais. Tenho percebido também que ler é um investimento em longo prazo para ser mais paciente, menos ansioso e aumentar minha capacidade de retenção da atenção. Não sinto necessidades de ter metas de leitura, eu acho que isso só geraria ansiedade e obrigação. Estou simplesmente lendo, a todo momento onde isso é possível. Se você gostou deste texto, dê uma chance aos livros, leia você também!

Se quiser acompanhar minhas leituras: https://velhaestante.com.br/user/felipesiles

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Infelizmente, pra maioria das pessoas não dá pra ficar sem

O Whatsapp, do Grupo Meta, se consolidou no Brasil como um verdadeiro oligopólio em termos de aplicativos de mensagens. Quando é derrubado pela Justiça o país pára. Mesmo serviços gornamentais utilizam a plataforma, como por exemplo a ferramenta recente “Canais”. Isso sem falar nos diversos serviços que atendem pelo aplicativo.

Só pra citar dois exemplos na minha vida que foram ilustrativos do quanto o whatsapp é fundamental em coisas básicas. O plano de internet que eu uso na minha casa faz todo o atendimento ao cliente pelo whatsapp. Quer outro exemplo? Fui criar um perfil no aplicativo TOP, de transporte público da região metropolitana de São Paulo. Usei um email seguro e uma senha forte e, por alguma razão (pode ter sido também pela VPN que eu uso no celular) ele bloqueou minha conta, dizendo que não é segura. No fim das contas, sem ter acesso ao aplicativo eu só consigo comprar os QR Codes pra andar de ônibus na região metropolitana de São Paulo pelo whatsapp. Resumo da ópera: sem whatsapp eu não tenho atendimento pra minha internet e nem ando de ônibus...

Existem formas e formas de se relacionar com o aplicativo. Existem aqueles que usam para falar com amigos e família, mas existem aqueles, assim como eu, que acabam usando pra trabalho. Eu diria que uns 90% da minha comunicação de trabalho acontece pelo whatsapp. Isso sem falar nos grupos que eu faço parte, de teatro, do terreiro de culto aos orixás, todo mundo se comunica pelo whatsapp. Isso se agrava ainda mais pelo fato de eu não ter Instagram, já que percebo que as pessoas também utilizam muito a DM dele também para conversar. No meu caso vai tudo para o whatsapp mesmo.

Até utilizo o Telegram e o Element/Matrix, mas para falar com pessoas e grupos muito específicos e que normalmente são da bolha tech/dev/linux/etc. Pra mim está fora de cogitação sair do aplicativo, a não ser que aconteça uma mudança cultural nesse sentido no país. E eu acredito que se tal mudança acontecer, provavelmente vai ser pra pior como, por exemplo, o TikTok substituindo os buscadores 🤮. E, como eu disse antes, muita gente se comunica comigo por ele, pessoas pertencentes a diferentes grupos. E o fato de eu ser um músico freelancer faz também com que a maioria dos contatos de prestação de serviços ocorra por ali.

Problemas

Vou ser sincero, quem conhece meus textos sabe que eu tenho aversão à Meta, não tenho conta pessoal nem no Facebook, nem Threads e muito menos Instagram, tenho pavor desses serviços. Dito isso, acho o Whatsapp um dos aplicativos menos problemáticos da empresa. Ele entrega um mensageiro simples, intuitivo, seguro (pelo menos assim prometem), criptografado de ponta-a-ponta. Um dos grandes problemas do whatsapp aconteceria em qualquer mensageiro privado: é um campo fértil para a extrema direita trocar mensagens e disseminar suas notícias falsas sem a curadoria de um algoritmo ou uma moderação. Só pra reforçar, esse tipo de conteúdo circula também no Telegram e no Matrix, acho difícil ter controle sobre isso, o controle implicaria em quebrar a segurança do aplicativo, então fica dificil dizer o que seria pior.

O problema mais prático pra minha vida é o excesso de mensagens. Eu morro de inveja quando vejo as pessoas no metrô que conversam só com alguns amigos e uns familiares no aplicativo. No meu é mensagem do grupo de teatro, da macumba, gente me procurando pra freela, amigos, familiares, gente me pedindo dinheiro, golpe, gente me pedindo nota fiscal, enfim... tudo junto e misturado no mesmo aplicativo. Inclusive eu adoraria que o whatsapp tivesse o recurso de setorizar os contatos e grupos, e abrisse abas diferentes pra família, trabalho e amigos, por exemplo, seria ótimo! Mas enquanto esse recurso não chega, vou explicando como vou me virando pra usar a ferramenta sem ficar soterrado no fluxo insano de mensagens.

Corro do fluxo de mensagens rápidas e curtas como o diabo foge da cruz

Eu acho que essa é a maior armadilha pra perder tempo no whatsapp: entrar no fluxo de mensagens curtas e rápidas.

oi oi tudo bem? tudo bem e vc?

Eu corro desse tipo de diálogo como o diabo foge da cruz, porque esse é o comportamento que mais faz a gente perder muito tempo no whatsapp. Quando eu percebo que alguém quer conversar comigo nesse fluxo eu simplesmente dou uma ignorada e demoro propositalmente para responder, pra não engatar o fluxo. Outra opção é dar uma resposta gigantesca pra pessoa, que também ajuda a interromper o fluxo, ou ela não vai responder, ou vai responder também com uma resposta gigantesca, que vai exigir mais tempo e reflexão, interrompendo o fluxo curto. E outra opção, quando percebo que um amigo muito próximo quer entrar nesse tipo de fluxo é ligar, tenho preferido falar com a pessoa no telefone do que ficar ali horas no chat.

Whatsapp Web

A minha forma preferida de utilizar o whatsapp é pelo computador. Utilizo um aplicativo chamado Ferdium, que é uma espécie de navegador dedicado apenas a mensageiros. Uso o Ferdium com Whatsapp, Telegram e Matrix. Eu gosto de fazer assim porque no meu caso responder whatsapp é TRABALHO, mesmo quando estou falando com amigos e família. Nem todo trabalho é remunerado, só pra citar um exemplo, limpar a própria casa é trabalho, mas não necessariamente remunerado. Então, como se trata de TRABALHO, eu gosto de fazer no computador, porque já tenho uma relação estabelecida com ele: se eu ligo o notebook é para trabalhar (inclusive eu não o uso para lazer, prefiro videogame, tv box, entre outras coisas para o entretenimento). Eu gosto dessa separação porque uma das armadilhas da vida moderna é justamente diluir essa fronteira entre o trabalho e as outras áreas da vida, e assumir essa tarefa como trabalho ajuda nessa clareza e separação, inclusive de melhores aparelhos.

No mundo ideal, eu gostaria de reservar apenas 1 hora do meu dia, sentar na frente do computador, abrir o Ferdium e responder todas as mensagens, e só voltar a ver mensagens no dia seguinte. Na prática, existem situações onde preciso ficar esperto com a chegada de uma mensagem, então acabo deixando o Ferdium ligado (com notificações) enquanto faço outras tarefas. Odeio, porque costuma tirar a concentração do que estou fazendo (principalmente a galera do fluxo rápido e curto), mas existem situações que não me dão muita opção. Inclusive a maioria das pessoas, pelo menos no Brasil, ficam com o nariz enfiado no celular o dia inteiro e subentendem que todas as outras fazem o mesmo. Ou então deixam habilitadas as infernais notificações (com som ainda pra ficar mais pavloviano) e acham que todos fazem da mesma forma. Só pra citar exemplos: eu tenho amigos que quando vão na minha casa nem chamam mais, nem tocam a campainha, avisam que chegaram pelo whatsapp, aí infelizmente eu preciso ficar meio de olho, senão nem fico sabendo que a pessoa está na frente da minha própria casa. Mas dito isso, tenho tentado separar essas situações específicas (que infelizmente estão se tornando cada vez mais frequentes) e me focado a manter o hábito de 1 hora de mensageiros por dia, e só.

Meu whatsapp oculto no celular

Eu ocultei o ícone do whatsapp no celular, porque percebi que ficava tentado a olhar várias vezes, e isso me deixava ansioso, principalmente se estava esperando a resposta de alguém. Dificultar um pouco o acesso me fez acessar o aplicativo só quando realmente preciso enviar alguma mensagem importante. Ah, e obviamente o meu whatsapp está com as notificações desabilitadas no celular, assim como a maioria dos aplicativos com poucas exceções.

Outras configurações

Eu gosto de desabilitar o download automático de mídia, porque isso faz com que a sua memória vá embora muito rápido. Eu evito ao máximo abrir as mídias no celular, justamente pra não ficar ocupando memória do aparelho (ou tendo que apagar depois pra livrar a memória). Prefiro ver todas as mídias no computador, sempre que possível.

Também deixo habilitada a opção de auto-apagar mensagens depois de um tempo, já que antes de existir essa configuração eu já fazia essa limpeza manualmente de tempos em tempos. Não gosto de usar whatsapp como nuvem ou como backup, eu não acho que ele seja muito confiável pra isso. Prefiro usar aplicativos de anotações pra guardar informações importantes, e deixar o whatsapp, telegram e cia só pra comunicação mesmo. Então essa história de grupo comigo mesmo, que um monte de gente usa, acho um convite pra você perder as suas coisas, zero confiável. Fora que quando você quiser acessar essas informações vai ter que abrir o mesmo aplicativo que vai ter um monte de mensagens pra te distrair. Enfim, sei que muita gente faz isso, mas não recomendo essa prática, de forma alguma.

Outra configuração marota que eu faço, e não sei mais viver sem é usar o Whatsapp como se fosse um email, arquivando as mensagens já lidas. Aprendi essa técnica no site do Manual do Usuário e achei uma abordagem muito boa, que deixa a caixa de entrada limpa. Como eu sou praticamente uma Marie Kondo digital, minha alma agradece, depois de passar 1 hora respondendo as pessoas de ver a caixa de entrada simplesmente VAZIA, com todas as mensagens lidas arquivadas. Qualidade de vida!!!

Por último, eu não suporto os stories do Whatsapp, se eu quisesse esse recurso estaria no Instagram. Então eu silencio manualmente, um a um, de cada contato. Um pouco trabalhoso, mas vale a pena. No Telegram, eu uso o Forkgram para desabilitar os stories, já que o aplicativo não possui essa opção nativamente.

Minha ética particular no mensageiro

Eu participo de grupos profissionais, ou relativos ao meu doutorado e coletivos que eu integro. Evito ao máximo grupos de piadas, de lazer, do bairro, da família, não estou em nada disso. Mesmo grupos de trabalho, estudo e coletivos, eu faço uma limpa de tempos em tempos nos grupos inativos.

Outra coisa, eu considero 24 horas um bom prazo para alguém responder uma mensagem. Então não cobro de ninguém, nem de mim mesmo, uma resposta antes desse prazo. Eu acho que esse prazo até poderia ser maior, mas infelizmente sabemos que o fluxo de mensagens se tornou tão rápido que demorar mais de 24 horas faz com que cheguem tantas mensagens que você corra o risco de protelar ou procrastinar demais a resposta, e é capaz que você acabe nem respondendo. Por isso acho a regra das 24 horas bem razoável, dado o contexto.

Por fim, odeio de verdade quando alguém não me responde. Acho um profundo desrespeito. Não ligo se a pessoa demorar pra responder, mas não responder eu vejo como um comportamento tóxico, independente da intenção. Enfim, uma questão minha, talvez até pra psicanálise. Mas digamos... se eu falasse com alguém na rua “bom dia” e essa pessoa não me respondesse isso seria tratado como falta de educação. Eu não entendo porque nos mensageiros, pela questão assíncrona, essa falta de resposta acabe naturalizada, normalizada, não consigo aceitar isso de maneira nenhuma. Mas, infelizmente, eu percebo que existem as pessoas que esquecem de responder (na maioria das vezes por desleixo, desorganização, desatenção ou simplesmente não dar conta), e pra elas eu evito mandar mensagens que precisam de resposta (até pra evitar meu próprio sofrimento) e tenho preferido ligar direto.

Conclusão

Eu odeio ter que depender do Whatsapp, mas moro num país onde 98% da população usa essa ferramenta. Até entendo que tem gente que consegue ficar sem usar, convence os contatos mais próximos a migrar pro Telegram, Signal, XMPP, Matrix, sei lá...

Eu mesmo já fui a pessoa que ficava convencendo geral a usar o Telegram, mas depois desse episódio aqui eu simplesmente perdi a coragem de cobrar isso de alguém.

Na minha dinâmica de vida, onde me relaciono com muitas, muitas (muitas mesmo) pessoas, levar todo mundo pro Matrix, XMPP, Signal ou pro raio que o parta torna-se praticamente inviável. Ceder faz parte de guerrear. Dentro dessa dinâmica possível, tenho tentado, às vezes com maior ou menor sucesso, fazer um uso mais saudável da plataforma, evitando ao máximo perder o meu tempo de vida precioso nela, minutos valiosos que eu poderia usar cozinhando, brincando com meus cachorros, encontrando amigos pessoalmente, dando uma volta na praça, lendo um bom livro, bom... você entendeu.

ATUALIZAÇÃO (11 de agosto de 2024) Venho conseguindo olhar o whatsapp pelo PC uma ou duas vezes por dia, percebo que aos poucos, quando você deixa de ter uma prontidão nas respostas, as pessoas também se adaptam um pouco a você.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Introdução

Ao contrário do que se espera do estereótipo de uma pessoa de esquerda, artista, anarquista, contra-colonialista, tenho muito interesse em métodos de organização e produtividade, sempre foram assuntos que me interessaram bastante. Mas diferente do estereótipo do “farialimer”, meu interesse nesse material não é de produzir mais, mas de ter mais qualidade de vida e otimizar meu trabalho, justamente para ter mais horas de lazer e descanso. Foi nessa que o Bullet Journal acabou entrando no meu radar, e resolvi dar uma chance para testar porque estava muito insatisfeito com a forma como eu gerenciava as minhas tarefas. Já tinha testado diversos aplicativos para celular (entre eles o divertido Habitica), post-its, lousa, grupo comigo mesmo no Telegram, mas enfim... nada que trouxesse um resultado satisfatório.

O Bullet Journal

Pra quem não está familiarizado, Bullet Journal é uma metodologia de registros em caderno físico, criada por Ryder Carrol e desenvolvido e aperfeiçoado pela comunidade entusiasta no assunto. Chama a atenção a versatilidade e possibilidades de customização do modelo, diferente das velhas agendas, onde não podemos editar suas seções, pelo menos não se for uma agenda física; além da simplicidade na necessidade material, um caderno simples e um lápis já são suficientes para começar.

Comprei o livro do Ryder Carrol, O método Bullet Journal, e aprendi a metodologia. Confesso que não gostei muito do livro, achei que tem um tom de auto-ajuda que me irritou em alguns momentos, e tem muita “encheção de linguiça” (escrevi uma pequena resenha na Velha Estante sobre), é o famoso livro que poderia ser um post de um blog. Resumidamente, o primeiro capítulo do livro já é suficiente para aprender o método.

Se você quer apenas aprender o método e começar, acho desnecessário adquirir o livro, penso que um tutorial, como o que encontrei no WikiHow é suficiente. Agora, se você quer compreender melhor o contexto que o autor criou o método (que é interessante), e está com paciência ou gosta de livros auto-ajuda, manda ver, leia o livro.

Meu caderno

Comprei um caderno pequeno, no estilo Molesquine, mas de uma marca com preço mais acessível (Cícero), com capa de papel craft. Comprei o caderno pontilhado, que é o recomendado para bullet journal, embora não seja obrigatório. Nunca curti cadernos pautados (a não ser que a pauta seja musical), já comprava cadernos sem pauta antes, e encarei o desafio de escrever no pontilhado, no começo tive um pouco de dificuldade, mas me adaptei rápido. E o caderno pontilhado realmente ajuda bastante a desenhar quadros, tabelas, gráficos, bem legal, eu recomendo!

Comprei um caderno de 96 folhas e já estou percebendo que não vai durar o ano inteiro, no meio do processo com certeza precisarei comprar outro, ou outros, mas tudo bem, faz parte. Acredito que esse caderno vai ser suficiente para o primeiro semestre. Gosto de fazer as anotações com lapiseira (lápis eu gosto mais de usar para desenho, não escrita), não gosto muito de caderno cheio de rasuras, prefiro usar a borracha.

Rotina

Uma coisa que me impressionou é como a rotina do Bullet Journal foi incorporada na minha rotina com rapidez e naturalidade. Talvez isso tenha acontecido porque eu sempre fui de fazer muitas anotações. Mas anotava algumas coisas num post-it, outras num caderninho, outras num aplicativo, e, quando precisava, nunca encontrava onde estava alguma anotação específica.

Esse, por enquanto, tem sido o maior benefício do bullet journal pra mim: concentrar todas as anotações em um lugar só. Eu anoto tudo nele: tarefas, registros, hábitos alimentares, nomes de pessoas que não quero esquecer, pautas de reunião, anotações de palestras e cursos, etc. A única coisa que anoto num caderno à parte são as transações financeiras, tenho um livro caixa exclusivo para isso.

Uma coisa que me fez perceber como o hábito de fazer registros no bullet journal se estabeleceu de maneira muito forte na minha rotina foi numa viagem curta de trabalho que esqueci de levá-lo. Em vários momentos eu sentia vontade de fazer registros no caderno, mas ele não estava lá. Acabei fazendo quando cheguei de viagem e, desde então, levo ele pra todo lado, mesmo em viagens mais curtas.

Minhas adaptações e customizações

Eu segui à risca as orientações do livro de quantas páginas devo deixar para índice, registro futuro, etc. Mas, passados dois meses, tenho a impressão de que não vou fazer assim tantos registros futuros e marcar tantas coisas assim no índice. O registro futuro e registro mensal pra mim não funcionaram tão bem, porque eu já possuo o hábito bem estabelecido de utilizar aplicativo de agenda. Acredito que se um dia eu abandonar o aplicativo pode ser que eu acabe usando mais esses registros, mas no momento eu não vejo muito porque desfazer um hábito que já está estabelecido e funciona. Estou pensando de, talvez, num próximo caderno deixar apenas uma página para índice, uma página para coleções, duas páginas para registro anual e duas páginas para registro futuro, acredito que para o meu uso é o suficiente.

Até o momento criei três coleções: rotina, hábitos alimentares e calendário Osé Ifá (da minha religião, o culto tradicional aos orixás). Como a minha doutrina religiosa segue um calendário da cultura iorubá, onde a semana possui apenas quatro dias, eu tenho feito no registro diário: a data numérica, o dia da semana e o dia da semana do calendário iorubá. Tem sido muito útil para fazer meus rituais nos dias certos.

Sobre as legendas, eu tenho utilizado basicamente quatro categorias de registros. Utilizo o tópico para registros comuns, as caixinhas para tarefas, horário para registros cronológicos e quadros para coisas mais específicas, como por exemplo: pauta de uma reunião, anotações que fiz em uma palestra, etc.

O meu problema original: gerenciamento de tarefas

Registro todas as tarefas no dia em que a demanda aparece, com uma caixinha. Quando cumpro a tarefa, risco o texto (assim) e dou uma ticada na caixinha ☑️. Quando a tarefa é adiada, risco o texto e coloco na frente dele uma seta ➡️ indicando que farei aquilo mais pra frente. E quando a tarefa é cancelada marco com a caixinha com um ❎, e também risco o texto. Riscar o texto é bem importante pra mim, dá uma boa sensação de que aquela questão foi resolvida ou pelo menos encaminhada. E além dessa marcação na tarefa originalmente escrita, também coloco no dia do cumprimento da tarefa um registro de que ela foi cumprida.

Toda vez que tenho tempo livre para resolução de tarefas vou foleando meu caderno em busca de caixinhas vazias. Quando algumas tarefas já começam a ficar muito para trás no caderno, ou quando elas estão muito espalhadas, gosto de reorganizar a lista e concentrar todas numa página só. Até agora, em dois meses de uso, só precisei utilizar esse recurso uma única vez.

Além disso, criei uma ordem de prioridades de 1 a 4 para as tarefas, de acordo com a sua natureza. Tarefas relativas ao doutorado são prioridade 1, relativas aos meus freelas são prioridade 2, relativas aos coletivos que faço parte são prioridade 3 e todas as outras são prioridade 4. Coloco sempre (que lembro) o número da prioridade na frente da descrição da tarefa. Quando a tarefa tem prazo, coloco a data também.

Conclusão

De tudo que já testei em termos de gerenciamento de tarefas, o bullet journal foi o método que mais me agradou e tem funcionado bem. Quando utilizava aplicativos eu percebia que conforme as tarefas acumulavam eu ia deixando de abrir o aplicativo, grupo de Telegram, idem. Também tive alguns problemas com os aplicativos na questão de colocar data nas tarefas, muitos deles apresentavam alguns bugs, principalmente quando você trabalha no formato CalDav. A lousa e o post-it tinham o problema de não visualizar as tarefas já cumpridas, e também o fato de que também é possível ignorá-los, transformá-los em paisagem.

Já o caderno, como tem a questão dos registros diários, meio que não tem como ignorar, se você estabelecer bem o hábito, você vai lidar com ele todos os dias, e as tarefas estarão ali. Nesse sentido, acho bem importante as tarefas serem misturadas com o diário, se houvesse uma sessão só com tarefas eu provavelmente a evitaria, como evitava abrir os aplicativos.

Além disso, como já foi dito anteriormente, o bullet journal me ajudou a concentrar todas (ou quase todas) as anotações em um lugar apenas. Inclusive, o caderno aliado ao aplicativo de agenda funciona muito bem. Por exemplo, eu quero achar as anotações que fiz em uma reunião: vou até o calendário, olho a data da reunião, vou até essa data no caderno e vejo todos os registros do dia, excelente!

A única parte que ainda não me adaptei é a questão de registros futuros e de registrar os compromissos no caderno, já que o hábito de utilizar aplicativo de calendário já está estabelecido. Mas eu percebi uma leve mudança já, agora estou anotando no aplicativo de agenda apenas compromissos esporádicos, já não estou mais anotando os compromissos rotineiros, esses tenho preferido registar no caderno. Quem sabe um dia eu acabe abandonando o aplicativo de calendário, veremos...

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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