Felipe Siles

Espaço onde organizo, registro e compartilho algumas reflexões e práticas sobre tecnologia e cultura. Espero que seja útil e ajude a despertar boas ideias.

Introdução

Como sou uma pessoa de origem nas classes mais populares, que até conseguiu através dos estudos uma relativa mobilidade social, o impulso de gastar, consumir, se recompensar é um fantasma que está sempre me rondando. Como quase todo mundo que tem cartão de crédito, já perdi a mão e adquiri uma dívida gigantesca. Como não tenho parentes ricos para recorrer, sou sempre eu mesmo quem precisa corrigir as minhas próprias merdas, então fui ao longo dos anos consumindo diversos materiais de educação financeiro: textos, vídeos, livros, etc. Mas a maior dificuldade diante da maioria desses materiais, é que nunca tive a disciplina e paciência de anotar tudo o que gasto. Inclusive, sempre achei uma tarefa meio burra, já que existem outras formas de fazer esse registro, como o próprio extrato do banco ou do cartão.

Como a maior parte da minha carreira profissional é como profissional autônomo, a sazonalidade dos pagamentos aumentavam o caos financeiro. Daí que descobri, quase que por acaso, o livro Finanças para autônomos de Eduardo Amuri e, de tudo que eu consumi sobre o assunto, foi o que mais faz sentido pra mim. Acabei adaptando algumas dicas do livro, e outras inventei. Vou enumerar, então, que medidas são essas que uso para controlar meu dinheiro e indicar se foram tiradas/adaptadas ou não desse livro.

Este texto é despretensioso, não tem objetivo de ser um guia financeiro para ninguém, apenas um registro de como eu faço as coisas, do meu jeito, que pode servir ou não para outras pessoas. Mas não sou especialista em finanças, se precisar de ajuda de verdade, procure um profissional especializado.

Capa do livro Finanças para autônomos, de Eduardo Amuri

1. Calculo a média das coisas

Essa é uma dica retirada do livro. Como para praticamente todo mundo os valores das receitas e principalmente despesas flutuam, é bem importante calcular as coisas pela média. Quanto maior a amostragem, mais perto vai estar da realidade concreta do dia-a-dia. Então eu tenho uma planilha mensal com receitas e gastos. As receitas e gastos que são fixos, simplesmente coloco o valor, e as que são flexíveis, coloco a média mensal. Organizo tudo detalhado: receitas como bolsa de doutorado, e despesas como assinaturas, faxina, transporte, alimentação, etc. Ah, os investimentos que faço de maneira recorrente, minha reserva de emergência e meu pé de meia, estão nessa planilha também. Essa planilha me ajuda a ter uma visão do todo. E do lado dela coloco colunas referentes aos meses do ano, e vou ticando conforme vou efetuando ou recebendo os pagamentos.

2. Cartões pré-pagos

Uma dica que eu achei muito interessante no livro, mas não achava muito prática no mundo contemporâneo: o autor aconselha o leitor a sacar dinheiro físico toda semana, e usar apenas o montante sacado. Já tentei fazer isso, mas a falta de troco dos estabelecimentos me fez perder tempo e passar raiva. Mesmo assim, a ideia nunca saiu da minha cabeça, do meu radar, e eu ficava pensando como aplicar o conceito no mundo dos bancos digitais e do pix. Eis que encontrei a solução: cartão de débito ou crédito pré-pago. Existem diversos bancos e financeiras que oferecem esse serviço, não vou dizer quais por dois motivos: primeiro, não vou fazer propaganda de banco (me poupo dessa vergonha); e segundo, porque o texto periga ficar datado, já que instituições podem acrescentar ou retirar esse produto de seu cardápio de serviços oferecidos.

Eu possuo três cartões pré-pagos: em um deles deixo todos os débitos automáticos (contas, assinaturas, doações, etc), e recarrego esse cartão uma vez por mês, assim que cai a minha bolsa de doutorado. Tenho um cartão de débito pré-pago para utilizar no dia-a-dia, principalmente para comer em restaurantes, feiras, padarias, etc, eu brinco que é o meu VR. E um cartão de crédito pré-pago que uso para pequenos gastos esporádicos em aplicativos (basicamente carro particular, entrega de comida e recarga de bilhete de transporte público). E como uso menos esse cartão de crédito, ele ainda me salva quando o de débito, que utilizo mais, acaba o saldo. Esses dois cartões, que utilizo no meu cotidiano, são recarregados toda segunda-feira. E, lógico, coloco os valores das recargas como gastos fixos na minha planilha. Como existem meses de 4 e de 5 semanas, eu multiplico esse gasto na planilha mensal por 4,5. Costuma funcionar.

3. Poupo, logo existo

Meio óbvio, mas acho importante mencionar: todo mês eu destino 10% do que eu ganho para uma reserva emergencial e 10% invisto no meu pé de meia, que é um dinheiro que eu pretendo sacar só quando eu me aposentar. Dessa forma, 20% do que eu ganho é investido. Eu queria até investir mais, mas já notei que quando eu invisto mais que isso, meu dinheiro acaba mais rápido e eu preciso ficar mexendo na reserva emergencial. Dentro do patamar do que eu ganho e consumo, esses 20% até que ficam equilibrados.

4. Vendo coisas que não usa mais

Uma coisa que eu gosto muito de fazer é vender coisas que tenho e não uso mais. Como eu disse no começo do texto, houve épocas onde eu consumi muito, até para me recompensar e sentir o processo de mobilidade social (aquele prazer de comprar algo que você não podia ter antes, como por exemplo o álbum de figurinhas da Copa do Mundo). Acabou que eu acumulei muita coisa que não uso. Hobbies e coleções que comecei e depois abandonei, principalmente. E pode ser que o que está parado na sua casa possa ser útil para outra pessoa.

Já testei diversos sites de vendas, eu gosto muito daquele lá que as pessoas vendem coisas que elas enjoaram kkkk, pelo menos é um site brasileiro. As taxas são altas, mas o serviço é bom, e é um dos únicos lugares onde dá pra vender livros, já que o público desse site é majoritariamente de classe média. Já vi muita gente reclamando da galera fazer ofertas baixas, e conheço muita gente que fica alimentando aquele fetiche de que suas coisas podem ser vendidas bem caras para um colecionador. Eu sou bem desapegado, faço uma pesquisa de preço e coloco tudo na média ou até abaixo do preço médio, para desapegar logo. Pra quem não tem nada, meio é dobro. Eu acho que se um objeto render qualquer troco é melhor do que a situação dele parado na minha casa rendendo R$0,00. E não me preocupo em recuperar o que investi nesses objetos ou até com uma eventual valorização de um objeto raro, vejo mais esse hobbie como uma contenção de danos, já gastei dinheiro que não podia mesmo, como que eu recupero pelo menos uma parte dele?

E lembre-se, essa tarefa demanda um trabalhinho: é fazer o anúncio, responder eventualmente alguma pergunta de cliente, embalar o produto, levar no correio ou na transportadora, então planeje-se. Eu saco o dinheiro obtido com essas vendas uma vez ao mês, e jogo numa conta separada, que uso para algo bem específico, que prefiro não dizer o que é, por questões de privacidade.

5. Tenho várias contas bancárias (todas gratuitas), cada uma com uma função diferente

Em primeiro lugar, se você paga mensalidade da sua conta bancária, eu sugiro dar uma olhada em um conteúdo da Nath Finanças, onde ela ensina como obter contas gratuitas em praticamente todos os bancos famosos. Vai naquele site de vídeos que você sabe qual é, digita Nath Finanças, o nome do seu banco e “conta gratuita”, você certamente achará o tutorial (não vem me pedir o link, pelo amor de Jah, acha você).

Eu tenho contas separadas para receitas e gastos separados. Tenho uma conta apenas para receber minha bolsa de doutorado. Outra conta só para receber os freelas. Tenho as contas dos cartões pré-pagos que eu mencionei. A reserva de emergência ainda fica em outra conta de banco. Essa é a forma que eu encontrei para evitar gastos acidentais e principalmente pra ficar organizado, e até mesmo para dificultar meu próprio acesso a algumas dessas contas.

Eu tenho dois dispositivos móveis, onde estão meus aplicativos de banco. No meu celular, está apenas um desses aplicativos de banco, aquele banco do meu cartão pré-pago, e onde eu já deixo aquele famoso dinheiro do ladrão, caso eu seja assaltado. Os demais aplicativos de banco ficam em outro dispositivo, do qual não vou entrar em maiores detalhes, por questões de segurança pessoal.

Conclusão

Faz pouco mais de um ano que me organizo dessa maneira e vem dando muito certo. Consegui nesse período até pagar 3 dívidas grandes que tinha com banco. Minha reserva de emergência foi suficiente para me salvar de alguns perrengues: comprei um computador de gabinete quando meu notebook deu pau, ajudei meu irmão a pagar a cirurgia de uma das nossas cachorras, e volta e meia salvo algum amigo ou parente que tá numa situação financeira complicada.

Não sou um exemplo de sucesso, sou apenas uma pessoa de classe média baixa, que trabalha muito, cozinha a própria comida e se locomove na maior parte do tempo de ônibus, mas esse método me ajudou a tirar a preocupação financeira da minha cabeça, que já tirou muitas noites de sono, felizmente não me assombra mais... vamos ver até quando... tomara que por muito tempo...

Ainda não estou 100% satisfeito e quero ao longo dos anos adotar formas mais simples e baratas de viver, até para conseguir poupar mais dinheiro. Minha vida já é bem austera, mas sinto que ainda dá pra fazer pequenos ajustes para torná-la ainda mais simples, os saudosos Pepe Mujica e Papa Francisco são meus musos inspiradores. Mas para a minha vida hoje, tá funcionando direitinho e me poupando de passar sustos e perrengues.

P.S.: não confio nesses aplicativos de controle financeiro que puxam a movimentação direto do aplicativo do banco, não me parece seguro fazer isso.

P.S.2: hoje em dia não utilizo cartão de crédito nem cheque especial, a duras penas aprendi a fugir dessas duas armadilhas.

P.S.3: nunca negocie dívida direto com o banco, existem instituições terceiras que fazem a negociação muito mais vantajosa para o devedor. Uma dessas instituições é aquela onde o nome da pessoa vai parar quando ela está devendo.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima! Felipe Siles é pesquisador musical, educador e produtor cultural. Escrevo esta coluna voluntariamente, mas se quiser me pagar um cafezinho e contribuir para que eu escreva mais, segue minha chave pix: felipesilespix@protonmail.com

Esse trabalho é licenciado por Attribution-ShareAlike 4.0 International

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Peço licença povaria!

A BBC News Brasil publicou uma matéria da jornalista Thais Carrança, analisando os dados do Censo 2022 relativos à religião. A manchete destaca o arrefecimento do crescimento evangélico, inédito desde 1960. Ao longo da matéria podemos também constatar que o Brasil nunca foi um país tão religiosamente diverso como no momento.

Mas a grande notícia para o povo do asé, é que as religiões de matriz africana (umbanda e o candomblé) mais do que triplicaram seu tamanho em relação ao censo anterior, obtendo o maior crescimento percentual dentre todas as religiões no Brasil. Se em 2010 éramos 525,6 mil, em 2022 subimos nosso número para 1,8 milhões, representando 1% da população brasileira. Trata-se de um número ainda pequeno, se comparado aos cristãos por exemplo (só de católicos são 100 milhões), mas não se trata de um número desprezível. 1,8 milhões de pessoas está num patamar parecido com a população da cidade de Curitiba e de países como Letônia, Kosovo e Bahrein.

Ao olhar com mais calma a matéria e os dados trazidos por ela, alguns pontos que me chamam a atenção:

  1. Muitas pessoas que eram adeptas de religiões de matriz africana, mas antes se declaravam como católicas ou espíritas, passaram a afirmar sua religiosidade e ancestralidade. A própria matéria fala sobre isso no item 2, e o declínio no número de espíritas e católicos pode ser um indício que fortaleça esse argumento. Acho esse ponto particularmente positivo, pois apesar de todo o preconceito, racismo e intolerância religiosa que sofremos, as pessoas estão perdendo o medo de assumir suas identidades, o que é muito positivo. É muito provável que o número de adeptos de religiões de matriz africana não era de 525,6 mil na realidade concreta de 2010, certamente esse número estava subestimado;

  2. No item 8 a matéria discute a escolaridade dos grupos religiosos. Os espíritas são de longe os mais escolarizados, 48% possuem nível superior, porém os adeptos de candomblé e umbanda vêm logo atrás, com 25,5%. Acredito que isso seja um reflexo da política de cotas raciais nas últimas décadas. Uma parcela da população passou a acessar a universidade pública, e passou a produzir discurso oficial. Muitas dessas pessoas encontraram um ambiente hostil nessas instituições, e precisaram se reconectar com suas negritudes justamente no espaço do terreiro. Formou-se uma nova classe média negra e parda, intelectualizada, que produz e consome conhecimento, informação e cultura afro-centradas. Esse engajamento intelectual e religioso da classe média negra nos terreiros acaba emprestando legitimidade e respaldo à causa, criando um ambiente em que mesmo as pessoas que não pertencem a essas classes médias negras passem a perder o medo de assumir sua religiosidade. Creio que esse mesmo fenômeno esteja conectado ao aumento de pessoas que se declaram como pretas e pardas, já que o debate em torno do letramento racial ganhou popularidade e capilaridade nos últimos anos;

  3. Acredito que o número de adeptos de religiões de matriz africana pode até estar subestimado, já que existe uma grande zona cinzenta que é a categoria “Outras”, onde estão 7 milhões de brasileiros. Creio que muita gente pode ter se declarado como pertencente a religiosidades afro-brasileiras menos numerosas que o candomblé e a umbanda, como por exemplo: o culto tradicional iorubá Esin Orisa Ibilé (ao qual pertenço), o Terecô maranhense, a vertente cubana do culto de Ifá, entre muitas outras expressões espirituais africanas, afro-brasileiras e afro-indígenas. Por essa matéria, não conseguimos ainda dados mais precisos da categoria “Outros”, talvez valha a pena aguardar novas divulgações do IBGE com mais dados, para fazer uma nova análise.

Na condição de devoto do orixá, fico extremamente feliz com o crescimento, espero que seja um pequeno indício de que, apesar de tantos retrocessos que estamos passando com o avanço mundial da extrema direita, a semente de um mundo com maior diversidade cultural e religiosa começou a brotar.

Asé!

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima! Felipe Siles é pesquisador musical, educador e produtor cultural. Escrevo esta coluna voluntariamente, mas se quiser me pagar um cafezinho e contribuir para que eu escreva mais, segue minha chave pix: felipesilespix@protonmail.com

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Após a última derrota acachapante da seleção brasileira masculina de futebol para a Argentina, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa, ocorrida em 25 de março de 2025, fui pesquisar em portais conhecidos para ler opiniões sobre o ocorrido. Porém, o texto que me chamou a atenção foi publicado no mesmo dia da partida às 11h33 da manhã, ou seja, é anterior ao certame. A publicação tem autoria da jornalista Milly Lacombe e é entitulado Declarações de jogadores da seleção indicam por que Neymar virou um culto. Lacombe demonstra, de forma brilhante, como Neymar se tornou um mito, que representa algo de um passado mítico do futebol brasileiro que desejamos resgatar, mas ao mesmo tempo em que, em termos materiais, ele não é um jogador de futebol de elite, na prática, há pelo menos sete anos. Para reforçar a questão do mito, Lacombe exalta também o quanto transformamos artificialmente esse jogador num camisa 10, sendo que em sua melhor versão (entre 2015 e 2017), Neymar era um ponta esquerdo, agudo, driblador, ou seja, um camisa 11. Essa crença cega — por parte de jogadores, comissão técnica, e até parte da torcida e imprensa — em um mito, um culto, um herói que, sozinho, vai resgatar a mágica do futebol brasileira e nos trazer o hexa, me chamou a atenção para um descompasso entre o meio do futebol masculino (e seus muitos agentes) e a realidade concreta e material. Mas observando outros fatos, percebi que se trata de uma recorrência e não de um caso isolado.

Em minha opinião pessoal, Neymar é uma pessoa que usou o futebol para atingir seu objetivo verdadeiro, o de se tornar uma celebridade. No Brasil, um país com desigualdade social terminal e sérios problemas estruturais, é de se imaginar que as camadas populares desejem a mobilidade social. Sempre foi assim, inclusive. Para os mais pobres, historicamente, a música e o esporte foram caminhos mais pavimentados para isso, então é normal que, nesse contexto, jovens de origem popular se identifiquem com estrelas do esporte e da música, e sonhem com esse estrelato, para que tenham acesso ao que foi negado a eles: uma vida de conforto material. Isso inclusive é legítimo. Porém, o fenômeno da instagramação da vida distorce esse sonho legítimo, prometendo fama e fortuna para qualquer suposto reles mortal que conseguir seguidores, engajamento e joinhas. Um prato cheio para a juventude que sonha com uma vida melhor, que vê no Neymar como alguém que alcançou esse sucesso. É bom lembrar que o brasileiro passa, em média, 56% do seu tempo acordado em frente à telas de smartphones e computadores, e os aplicativos onde passa maior parte de seu tempo são todos da chamada big tech, sendo o Instagram o grande campeão, consumindo 35% desse tempo online. Trocando em miúdos, o brasileiro passa, em média, mais tempo em um mundo fictício moldado pela publicidade e pelo oligopólio do que lidando com a realidade concreta e material.

Essa instagramação da vida aprofunda um deslocamento com a realidade material, que culmina em fenômenos interligados: fake news, negacionismo climático e científico, mitomania recorrente de políticos e chefes de estado, entre outras coisas. Quando olhamos para a realidade social da maioria dos jogadores, é fácil notar (até pela cor de suas peles e pela textura de seus cabelos) que a maioria esmagadora veio das classes populares, mais suscetíveis a esses fenômenos, tendo o Instagram como uma das poucas formas acessíveis de lazer e entretenimento (já que a polícia brasileira mata jovens negros em bailes funk, melhor ficar vivo vendo Reels mesmo). Olhando por essa forma, fica factível compreender porque o fenômeno da extrema direita no Brasil tem grande lastro popular, e isso afeta esses jogadores, mesmo os que atuam na Europa. É relativamente comum ver jogadores brasileiros de futebol masculino se manifestando politicamente do lado da extrema direita. Um dos mais conhecidos nesse sentido é o ex-volante com passagem marcante pelo Palmeiras, Felipe Melo. Felipe Melo, um simbolo dessa bravataria viril, naturalmente aplaudiu as declarações de “porrada nos argentinos” dadas pelo atacante da seleção Raphinha no podcast do ex-atacante e ídolo da seleção Romário. O resultado, vexatório para Raphinha e para o futebol brasileiro, veio na forma de porrada simbólica no futebol praticado pelos argentinos na partida.

Engajamento, likes e número de seguidores, nas regras atuais do futebol, não alteram o placar de uma partida, atualmente são os gols que fazem isso. Mas ao invés de se concentrar em realizar um trabalho pé no chão para que os gols aconteçam, toda a cadeia do futebol brasileira dobra a aposta na bravata. Tite, um técnico de personalidade mais pragmática, procurou montar o time de forma sólida, olhando para a realidade do futebol brasileiro no mundo, colocou a seleção de forma honrosa no lugar compatível com seu futebol praticado: quartas de finais nas últimas duas Copas do Mundo, ou seja, entre as oito melhores seleções do mundo, um lugar decepcionante se pensarmos na história do futebol brasileiro, mas bem ok, se pensarmos na desorganização e estrutura desse mesmo futebol na atualidade. Mas pragmatismo e realidade não geram engajamento com essa população que passa metade de sua vida no Instagram, e o técnico Tite até hoje é extremamente impopular, sendo que os representantes do futebol arte no imaginário comum ainda são os integrantes da seleção de 2006 cujos heróis mitológicos, pasmem, alcançaram o mesmo resultado de Tite na Copa: quartas de final. Essa parcela da população, que venera 2006, é a mesma que espera que o Tigrinho ou alguma BET traga o hexa para nós.

Após o término do contrato de Tite, em 2022, o Brasil se organizou atrás de uma promessa, a vinda de Carlo Ancelotti para o comando da seleção. Para aguardar o término de contrato do italiano, colocou dois técnicos interinos no comando da amarelinha: inicialmente Ramón Menezes e, posteriormente, Fernando Diniz, ambos com resultados catastróficos. Diante da realidade material da renovação de contrato de Ancelotti com o Real Madrid, Ednaldo Rodrigues contrata Dorival Júnior, que assume o posto mobilizando o discurso do resgate desse futebol mítico, com a famigerada e desgastada cartada de valorização dos atletas que atuam no território nacional. Aproveitando o fato de que infelizmetne citei o famigerado personagem Ednaldo Rodrigues, é bom lembrar que foi recentemente reeleito presidente da CBF com declarações denominando como “triunfo da democracia” o pleito em que foi candidato único. Voltando à Dorival, alguns meses antes, em setembro de 2024, o técnico prometeu o Brasil na final da Copa do Mundo.

A bravata, a promessa e a ilusão (des)estruturam e (des)organizam o futebol brasileiro atualmente, que chegou a um nível de aprofundamento de sua natureza no entretenimento e escapismo à condição radical de inimigo da realidade material. Bem na época em que o futebol se torna mais racional, científico, onde se consolida na metrópole comercial e econômica, a Europa, o futebol dos dados, estatísticas, scouts e profissionais com conhecimento científico. O Brasil confirma sua vocação vira-latas e vai ficando para trás nesse quesito, e esperneia com a bravata de que nosso jeito de fazer as coisas ainda é melhor, na base do improviso, do talento, das soluções fáceis e da resolução através de um herói mítico individual. Em uma terra fértil para o pensamento coach (que curiosamente significa treinador esporivo em inglês), a bravata se torna método em todas as etapas da cadeia de trabalho do futebol masculino, desde o seu presidente (que é quem deveria dar o exemplo) ao garoto que está ingressando na categoria de base de um clube com sonho de jogar na Europa, passando por jogadores profissionais e comissões técnicas, são todos aliados nessa guerra contra a realidade material.

Tenho convicção de que não há solução: podem convocar para a seleção brasileira masculina de futebol apenas jogadores que atuam no Brasil, ou jogadores que atuam na Europa. Podem convocar jogadores cascudos ou bailarinos. Podem convocar jogadores medalhões ou desconhecidos. Podem contratar um técnico estrangeiro renomado. Podem contratar até um técnico de outro planeta. O problema não será resolvido. Porque o problema é cultural e está entranhado em raízes do senso comum do povo brasileiro, que tem sua percepção de realidade moldada pela big tech. No cenário atual nos resta continuar acompanhando esse defunto vivo, chamado seleção brasileira masculina de futebol, que morreu em 2014 no Mineirão, mas que para nosso desespero continua nos assombrando a cada data FIFA.

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O fenômeno que vou narrar não é novo, o historiador José Ramos Tinhorão já aponta há muito tempo a identificação da classe média brasileira com a classe média dos Estados Unidos, e a não identificação com a classe popular do Brasil. Segundo a crítica de Tinhorão, presente em diversos de seus livros, essa identificação cultural da classe média com o americano — que se dava principalmente na música (o jazz), no cinema e no vestuário — culminou na Bossa Nova. Porém, a reflexão que eu tento fazer aqui se dá em cima de processo semelhante, mas que foi por mim presenciado no início dos anos 2000: a popularização das séries americanas aqui no Brasil.

Eram os anos 2000, início do governo Lula 1, os Estados Unidos foram abalados pelo atentado terrorista do 11 de setembro de 2001 e, apesar do arranhão, pelo menos naquele momento ainda permaneciam no topo do mundo. No Brasil, por uma série de fatores, começou o processo de grande mobilidade social, levando ao inchaço da classe média no país. Quem vive no Brasil sabe, acho que nem a Judith Butler é capaz de imaginar que por aqui a classe social não é só questão de patrimônio, mas também de performance. A classe popular faz tudo para parecer a classe média, a classe média emula comportamentos da classe dominante, e a classe dominante jura que é pobre, que não é tão privilegiada assim... como dizem, isso aqui não é para amadores.

Essa performance de classe social ocupa o nosso imaginário de uma forma que a gente nem se dá conta direito. Eu, que sou oriundo das classes populares, me lembro que desde criança minha mãe vivia me enchendo a paciência com a questão da aparência: não pode andar na rua de chinelo e bermuda, precisa cortar o cabelo (o cabelo não pode em hipótese nenhuma ficar armado, estilo black), até pra ir no mercado precisa se arrumar.

No Brasil do Lula 1 as placas tectônicas das classes sociais começaram a se mover, e a classe média, que passou a ter os seus ambientes frequentados agora também pelas classes populares (aeroporto, rolezinhos no shopping, etc), precisava se distinguir dos subalternos, no aspecto cultural, o que também não é nada novo (até mesmo antes da Revolução Francesa, os nobres ameaçados pela burguesia que ascendia se diferenciavam pelo gosto artístico). O cinema e a música já não davam mais conta de diferenciar tanto assim as duas classes, já que ambas consumiam mais ou menos os mesmos produtos: a classe média ia no cinema, a classe popular assistia o mesmo filme quando passava na Tela Quente; a classe média comprava CDs, a classe popular ouvia as mesmas músicas no rádio ou em fitas K7. E é nessa mesma época que começou a se popularizar um tipo de entretenimento: a TV à cabo.

É seguro dizer que, nessa época, o principal entretenimento das classes populares era a televisão aberta: novelas, futebol, Jornal Nacional, Silvio Santos, etc. E a classe média, com TV à cabo, gostava de Friends, Two and Half Man, House, Lost. A classe popular consumia as séries americanas só quando passavam dubladas na tv aberta: Todo mundo odeia o Chris é um bom exemplo. Eu me lembro bem do estranhamento que tive, pois a partir do meu ingresso em universidade pública em 2003, passei a conviver com esses dois mundos. Na minha casa a gente assistia Kubanacan e Domingo Legal (assim como na casa de meus amigos do Ensino Médio), já meus amigos de faculdade assistiam Law and Order.

E a classe média, ameaçada pela classe popular ascendente, fazia questão de reforçar esses limites, adquirindo produtos das suas séries preferidas: livros, canecas, camisetas, etc. Conversavam entre eles sobre as tais séries, deixando quem não acompanha esse mundo boiando na conversa. Desenvolviam piadas e compartilhavam referências entre eles: “ah, isso é tão fulaninho do Friends” (p.s.: não sei o nome de nenhum personagem dessa série), também com o objetivo de se diferenciar do pobre, que assistia Ratinho e Ana Maria Braga.

Assim como aconteceu com a música e o cinema, esse consumo de séries hoje se massificou, e não é mais possível diferenciar as classes sociais no Brasil pelos produtos culturais que elas consomem, já que todas consomem os mesmos produtos. Essa massificação deve-se a inúmeros fatores: a TV à cabo que cada mais se popularizou, a chegada do streaming, e das redes antissociais com seus famigerados algoritmos.

Porém, você lembra que o Brasil é o lugar onde o pobre quer parecer a classe média, a classe média quer parecer o rico, e o rico quer parecer o pobre, né? Pois é... O rico pode viajar para os Estados Unidos praticamente a hora que quiser, a classe média não necessariamente, precisa planejar bem a viagem. E essas séries trouxeram uma familiaridade com a cultura, o jeito de pensar e até com a geografia dos Estados Unidos. Sentiram-se contemplados, porque na performance da classe média em parecer classe alta, esse conhecimento pode até fazer com que pareça que eles conhecem a terra do Tio Sam, como se viajassem para lá o tempo todo.

O pobre, assim que teve acesso a esse produto cultural, passou a consumi-lo para performar uma imagem de classe média. Diferente do filme, a série está ali contigo o tempo todo, uma vez por semana, todo dia, depende, mas é uma presença constante, é diferente do filme onde você fica exposto às ideias americanas por duas horas e depois volta pra Banheira do Gugu e pras Videocassetadas. E o povão, que tinha seu imaginário de desejos povoado pela novela das oito, passou a desejar o sonho americano, aquele american way of life. Tanto classe média como classe popular sonham com a mobilidade e ascenção social, e agora ambos buscam essa ascenção através da mesma bússola, que é esse estilo de vida americano, o que também ajuda a explicar o fenômeno do empreendedorismo e a praga dos coachs.

Pouca gente no Brasil conseguiu capitalizar e organizar esse desejo e esse imaginário como a extrema direita, até os dias de hoje inclusive. A babação de ovo para o Trump, o Bolsonaro batendo continência para a bandeira dos Estados Unidos, liberação do porte de armas, importação de movimento antivax, vocabulário coach, tudo isso mexe com o desejo de mobilidade social do povo, que a partir do consumo das séries se organizou e se alinhou ao american way of life. No senso comum do povão, tudo que venha dos Estados Unidos é melhor, sentimento que é muito bem ilustrado pelo personagem Renan do Choque de Cultura. Esse sentimento já existia por conta de Hollywood, mas foi aprofundado com o consumo das séries.

Lógico que as séries sozinhas não são responsáveis pela ascenção do facismo brasileiro, há também a contribuição dos jogos de videogame, filmes, música, comida ultraprocessada e outros produtos culturais. Mas pude ver de perto, o quanto essas séries foram utilizadas como marcador de classe social, na medida que falar mal ou simplesmente dizer que não liga para How I meet your mother ou Orange is new black é como ofender a mãe de algumas pessoas, porque faz a pessoa lembrar que a fronteira entre classe popular e classe média é mais frágil que a masculinidade, o que faz essa pessoa ir correndo para o Starbucks tomar um café meia boca e continuar no auto-engano.

E até hoje, mesmo dentro do campo progressista, eu consigo sacar a origem social de pessoas da minha geração facilmente pelas suas referências culturais. As minhas referências de anos 2000 estavam a maioria na TV aberta, no máximo na MTV, que pegava na TV aberta em alguns lugares. Eu sou capaz de reconhecer infinitos jogadores de futebol, mas devo saber no máximo o nome de uns trinta atores dos Estados Unidos. Vai ver que é por perceber esse fenômeno que eu até hoje não tenho a menor boa vontade com séries, não acompanho quase nenhuma, com poucas exceções. E também porque são muito grandes, tenho mais o que fazer...

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Esse é um texto bem com cara de final de ano. Afinal, vem o recesso e a maioria dos trabalhadores pode ter um pouco mais de tempo livre, descanso e muitos aproveitam para fazer andar a fila de filmes e séries. Não sou diferente, e apesar de ainda estar trabalhando, por conta da minha vida de profissional autônomo, tenho utilizado essa quebra na minha rotina normal para fazer testes, reflexões, consolidações e ajustes na maneira como eu escolho meu entretenimento audiovisual.

Mas Siles, que chatice! Precisa ser organizado até nisso? Não é só sentar na TV, relaxar e assistir o que quiser? Pode ser, se funciona assim pra você, ótimo! Mas eu acho que se a gente não precisasse de curadoria, não haveriam algoritmos de streamings e redes sociais nos entupindo de sugestões de filmes e séries. Quem conhece bem este blogue, já sacou que eu sou bem avesso a esses algoritmos e sua propaganda, acredito que cada sujeito ou grupo social deveria exercitar investigar o que realmente gosta de consumir, procurando se alienar dessa publicidade (na medida do possível) com o objetivo de auto-conhecimento, auto-descoberta e qualidade de vida, que realmente nos faça descansar do trabalho, e não gere ainda mais ansiedade. Fazendo um paralelo com alimentação, nunca vi propaganda na televisão de alimentos orgânicos, mas apesar disso eles são a parte principal da minha alimentação há muitos anos.

No sentido de evitar a ansiedade, eu sigo alguns princípios, que funcionam para mim. Podem não funcionar para você, mas isso aqui não é um guia ou manual da coisa certa a se fazer, apenas um relato pessoal da experiência que funciona para mim, e aproveite o quanto esse relato for útil para você. Minhas regras, por um entretenimento menos ansioso, são:

  • Prefiro me alienar de lançamentos e de hypes, com exceção de quando tenho a oportunidade de ir ao cinema, porque aí vou inevitavelmente assistir algo que está em cartaz. Mas dentro da minha casa, na frente da minha televisão, tento ao máximo ignorar o que todo mundo tá vendo, afinal sou um radical daquela regra da mamãe: “você não é todo mundo”;
  • Proibido mexer no celular ou em qualquer aparelho digital enquanto assisto um filme, série, etc;
  • O horário de televisão, assim como sua duração é pré estabelecido dentro da minha rotina;
  • Menos é mais, melhor ver poucas coisas e se divertir com elas do que tentar dar conta de várias e ficar perdido, ansioso e entediado, ou ficar criando listas e metas intermináveis e depois lidar com auto-cobrança.

A última regra e uma opinião muito impopular: pessoalmente, evito as séries. Na minha opinião elas são produtos meramente comerciais e sua explosão e popularização só se justifica na necessidade dos serviços de streaming demandarem produtos que vão prender o usuário na assinatura. No meu caso, um trabalhador com tempo livre escasso, as séries além de consumir muito tempo livre, ainda geram um nível de ansiedade, já que elas são produzidas para viciar e provocar a maratona. E sou uma pessoa que valoriza a rotina, as 8 horas de sono, as refeições no horário correto (as minhas costumam ser acompanhadas de um podcast), então dispenso esse formato de entretenimento. E tem uma pitada de old school e saudosismo também, ainda acho que a sétima arte, o cinema, os filmes, ainda é uma forma de entretenimento superior, seja lá o que isso queira dizer.

Substituto as séries por animes, que em geral são ótimos produtos culturais, com duração bem mais curta dos episódios. Enquanto uma série em geral tem episódios de cerca de 1 hora, um anime dificilmente chega a 30 minutos. Ou seja, ao invés de assistir dois episódios de uma série, eu prefiro assistir um filme (ou seja, uma história com começo, meio e fim, pelo menos assim espero rs), ou então 4 episódios de anime (animes diferentes, ou o mesmo anime, se eu estiver maratonando).

Outro detalhe interessante, com essa coisa de diversos streamings irem reduzindo o compartilhamento de assinaturas, fui deixando diversos serviços e atualmente assino apenas dois, que me contemplam bem (Max e Telecine), e compartilho a senha do Crunchyroll, assinado pelo meu irmão. Para as coisas que eu gosto de assistir essas assinaturas são suficientes. E se tiver algum produto cultural que eu queira muito ver, que esteja em outro serviços, sempre existem meios de assistir, se é que você me entende...

Contextualizado o meu gosto pessoal, minhas regras, vamos a como eu monto a minha curadoria:

  • Animes: acabo escolhendo por recomendações de amigos mesmo, esse é um assunto que eu sempre converso em determinadas rodas de amizades. Gosto de acompanhar alguns que ainda estão sendo produzidos, assistindo semanalmente o episódio novo. Gosto muito mais dessa forma de consumir do que as maratonas, acho mais gostoso e menos ansioso assistir desse jeito. Mas não posso negar que às vezes gosto de maratonar um anime, quando ele me pega muito. Vou acompanhando esses que estão sendo produzidos na atualidade uma vez por semana, e também pego um mais “antigo” para ir assistindo aos poucos. Esse “antigo” eu gosto de pegar bem os clássicos mesmo, consagrados pelo gênero e assisto um de cada vez, no máximo dois, não gosto de conciliar vários. Outra coisa, eu evito deixar a “lista de favoritos” muito grande, deixo só os novos que estou acompanhando, e o(s) “antigo(s)”, e quando termino de ver o(s) “antigo(s)”, tiro ele da lista. Atualmente estou considerando como ideal assistir no máximo 4 episódios de anime por dia, e se for futuramente mexer nesse número será para diminuir, e não aumentar;

  • Filmes: eu odeio aquela sensação de indecisão ao escolher um filme. Então já salvo vários que quero assistir na famosa “minha lista” e gosto de definir algum critério para a sequência que vou assistir. Exemplos: todos os filmes do Studio Ghibli (ou de outro estúdio), todos os filmes do Spike Lee (ou de outro diretor), filmes biográficos, filmes com um ator específico, filmes de um gênero específico, todos os filmes de uma trilogia ou coleção, etc. Esse tipo de critério ajuda muito na escolha do filme que vou assistir, já que a escolha é um processo cansativo para o cérebro e a ideia é relaxar e se divertir. E é legal que você fica no clima de um determinado tipo de filme. Por exemplo, assisti na sequência filmes biográficos sobre Pixinguinha e Elis Regina, foi uma experiência interessante e acabei traçando mentalmente diversos paralelos entre essas duas produções. Se nos animes eu evito a “minha lista” muito longa, aqui vou simplesmente adicionando tudo que quero ver, sem muito filtro, mas também não me cobro pra ver tudo num prazo específico, apenas penso nesse monte de filme como se fosse a minha locadora pessoal (essa só o pessoal dos anos 1980 e 1990 vai pegar a referência kkkk).

Outra coisa que acho legal é produzir um registro das coisas que assisto. Tenho utilizado as plataformas Justwatch e Letterboxd para isso. E elas também são muito úteis para descobrir em qual serviço de streaming está algum produto cultural que eu queira ver. Se você quiser me seguir no Letterboxd.

Mais uma coisa: eu não sou dessas pessoas que acha que todo entretenimento tem que ser “cult”, tem que levar à reflexão, etc. tem horas que eu amo assistir um filme de porrada para desligar o cérebro mesmo, viva o escapismo! Mas trocar a realidade dura de trabalhador no capitalismo tardio por um entretenimento raso 100% do tempo, é algo que eu evito também, então tento minimamente equilibrar. Normalmente eu gosto de assistir as coisas mais rasas durante a semana, depois de um dia cansativo de trabalho e deixar a arte mais profunda, “cult”, nobre, etc para os feriados e finais de semana.

Última coisa, prometo: não precisamos ocupar todo o tempo livre também, com filmes, séries, leituras, podcasts, músicas, passeios... o ócio também faz parte da vida, e lidar com ele tem sido um desafio na conteporaneidade, mas penso que valha a pena encará-lo, em nome de uma vida melhor.

Bom descanso, e bom entretenimento!

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima! Felipe Siles é pesquisador musical, educador e produtor cultural. Escrevo esta coluna voluntariamente, mas se quiser me pagar um cafezinho e contribuir para que eu escreva mais, segue minha chave pix: felipesilespix@protonmail.com

Esse trabalho é licenciado por Attribution-ShareAlike 4.0 International

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Obs.: em geral, não estou considerando aplicativos muito básicos, como relógio, calendário, chamadas, calculadora, loja de aplicativos, etc, normalmente uso o nativo

1. Smartphone com Android

  • Tocadores: AntennaPod, Transistor, VLC, Tidal, NewPipe
  • Mapas e navegação: Google Maps, Moovit,
  • Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud, DAVx5
  • Mensagens: Beeper
  • Bloco de notas: Joplin
  • Navegador: Firefox Focus
  • Passivos: TC Control, Screen Time
  • Launcher: Smart Launcher
  • Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth P.S.: vários desses aplicativos foram instalados via F-Droid

2. Tablet com IOS, vulgo iPad

  • Nativos Apple: Safari, Email, Calendário
  • Leitura: Omnivore (deus o tenha), Zotero, PDF Gear
  • Notas: Joplin
  • Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud
  • Nas aulas de música que leciono: Musescore, Metronomo, iGrand Piano, iReal Pro
  • Mensagens: Beeper
  • Entretenimento: Lichess, Sofascore, JustWatch, Letterboxd
  • Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth

3. Computadores com Linux

(Notebook com Manjaro; PC de gabinete com Debian) – E-mails e calendário: Thunderbird – Navegador: Firefox – Mensagens: Ferdium – Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud – Notas: Joplin – Pacotes de escritório: Libre Office, Only Office – Produção musical: Musescore, Audacity, Ardour – Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth – Tocadores: VLC, FreeTube – Gestão de textos e livros: Zotero, Calibre

4. Projeções para 2025

Quero começar a usar mais o Syncthing, até pra aliviar meu uso de nuvens, que é meio pesado. Para substituir o finado Omnivore, migrei para o Pocket. Também quero me tornar mais analógico, em 2024 já substitui aplicativos de tarefas que usava pelo bom e velho caderninho físico, utilizando o método do Bullet Journal, vamos ver o que 2025 me reserva, nesse sentido. E sempre estou aberto a testar e eventualmente incorporar na minha rotina novos aplicativos, preferencialmente livres e de código aberto.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima! Felipe Siles é pesquisador musical, educador e produtor cultural. Escrevo esta coluna voluntariamente, mas se quiser me pagar um cafezinho e contribuir para que eu escreva mais, segue minha chave pix: felipesilespix@protonmail.com

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Relembrando 2022

Em primeiro lugar, este não é um texto embasado em estatísticas, números, como diz o título: apenas o relato de impressões pessoais. Vou voltar um pouco no tempo, para 2022. Elon Musk comprou o Twitter, trouxe de volta perfis banidos, demitiu um monte de gente, afrouxou a moderação da plataforma (que já era problemática antes) e bradava aquele discurso fantasioso americano de “liberdade de expressão”, que na verdade é liberdade para oprimir sem lidar com as consequencias.

Naquela altura do campeonato o cenário era o seguinte: Zuckberg colocou às pressas pra rodar o seu Threads; BlueSky era uma novidade também, mas precisava de convite para entrar; e o Mastodon era a única plataforma pronta para receber os insatisfeitos com o Twitter sob nova direção (vou poupá-los da vergonha de lembrar que um considerável montante aderiu a uma rede social indiana de extrema direita só porque tinha um nome meio 5ª série).

Muitos usuários relataram dificuldade para migrar para o Mastodon: o sistema descentralizado, organizado por instâncias, foi um entrave para a maioria, fazendo com que muitos ficassem ali pelo Twitter, mesmo com os problemas da nova realidade. Foi nessa leva que eu excluí minha conta do Twitter e migrei definitivamente para o Mastodon.

O cenário atual é bem diferente: BlueSky e Threads, apesar de estarem ainda implementando alguns recursos, me parecem redes prontas para receberem os usuários do Twitter. E o Mastodon continua sendo o Mastodon, pro mal e pro bem.

Mastodon

Fiquei três anos (2019 a 2022) tentando ter alguma visibilidade no Twitter. Como sou uma pessoa que gosta de textos, tanto de escrever como ler, sempre preferi as redes textuais, criando até um certo asco pelas redes de fotos e vídeos. Fui muito popular no Facebook (na era pré-algoritmo) e com o declínio da plataforma do Zuckberg, tentei transferir essa popularidade para o Twitter, sem sucesso. Tinha vontade de divulgar minha produção acadêmica e também fazer parte do “debate público”, mas foi um fracasso. Tweets às moscas, pouca interação, quando ia no tweet de algum influenciador famoso e discordava de algum ponto não havia diálogo, e sim frases de efeito, lacração, com o amplo apoio dos seguidores daquela pessoa, ou seja, o diálogo completamente interditado, mesmo em contas de esquerda/progressistas/não-fascistas.

Encontrei no Mastodon um ambiente parecido com o Facebook pré-algoritmo que, gostem ou não, era uma rede muito boa para interagir com amigos. Desde então o Mastodon tornou-se minha rede principal, descobri o Fediverso e a possibilidade dele interagir com outras plataformas que compartilham o mesmo protocolo, descobri o ótimo Lemmy, e que posso federar blogues e sites feitos em wordpress e até mesmo ESTE BLOGUE que você está lendo, fantástico!

A impressão que eu tenho é que o Mastodon não tem a menor vocação para virar um novo Twitter, embora ainda exista gente (ao meu ver equivocadamente) com essa expectativa. A dificuldade inicial em criar uma conta foi resolvida, agora o novo usuário se não quiser entrar em uma instância é colocado por padrão na mastodon.social, facilitando o acesso para a geral (igualzinho funciona o BlueSky com a bsky.social). Mesmo assim, aquela fama de 'difícil de entrar' permanece, mesmo não sendo mais a realidade atual.

Mas eu acredito que esse não é o principal entrave para a plataforma crescer. Acho que conheço o Mastodon o suficiente para elaborar duas razões principais do por que ele nunca será massificado:

1) a falta de algoritmo faz com que um influenciador praticamente vire um usuário comum. Mesmo que ele ganhe muitos seguidores só por ser famoso, suas postagens vão concorrer igualmente com postagens de usuários comuns. Além disso, o público do Mastodon tende a ser bastante avesso a propagandas, tornando a prática da 'publi' difícil na plataforma, inclusive existem instâncias que proibem. Isso afasta os influenciadores grandes, que acabam criticando a plataforma publicamente, numa lógica de concorrência e reserva de mercado, afinal não querem perder seu público, sua fonte de renda;

2) a própria comunidade do Mastodon não parece muito empolgada com a ideia da massificação da plataforma. O usuário do Mastodon é como o morador de uma cidade pequena, que gosta de estar ali, e não tem a menor vontade de que ela vire uma metrópole. Mesmo a federação com a Threads é vista com desconfiança pela maioria e já é silenciada ou bloqueada em diversas instâncias brasileiras. O Mastodon é bem uma cidade pequena mesmo, todo mundo meio que se conhece, e as instâncias são os bairros dessa cidade, você pode não conhecer todo mundo, mas sabe que tem a galera da Ursal, da Bantu, da Ayom, da Bolha.us, da Bolha.one, etc.

Isso tem um lado positivo, que faz com que a rede seja mais humana, mais acolhedora. Mas, por outro lado, gera também um efeito condomínio, acaba que essa experiência mais agradável é acessada por poucas pessoas, por nichos, se tornando elitizada. Mas tenho a impressão que no capitalismo isso ocorre com outras coisas também: pouca gente tem acesso a uma alimentação natural, com alimentos orgânicos, por exemplo.

BlueSky

Apesar de gostar muito de estar no Mastodon, sempre me incomodei com o fato de instituições públicas não estarem lá (existem algumas ações pontuais, como a dos museus, mas é muito pouco, infelizmente). Comecei a seguir diversos veículos de imprensa e instituições através do feed RSS, mas a verdade é que não dei conta do volume de informação, e hoje minha feed RSS é bem restrita, para não sobrecarregar minhas leituras (faço doutorado e já preciso ler bastante). Isso sem falar que muitos sequer têm uma feed RSS. Tentei seguir as instituições pelos canais de whatsapp, mas também não dei conta, e o meu whatsapp que já é um inferno de notificações tornou-se ainda pior. Nisso eu sentia falta do Twitter, você encontrava ali no meio da sua timeline uma ou outra informação oficial, que poderia ser útil, mas não precisava necessariamente acompanhar tudo.

Quando percebi que estava rolando uma movimentação de bloqueio do X, antigo Twitter, resolvi dar uma chance ao BlueSky e criei uma conta. Quem me acompanha neste blogue, sabe que sou avesso à big tech, mas a possibilidade de uma rede social que se propõe a ser descentralizada, moderada e de código aberto despertou a minha curiosidade. O fato do antigo criador do Twitter, com aquele famigerado discurso de liberdade de expressão, ter se afastado do projeto também me animava. Além disso, fiquei empolgado com a possibilidade de voltar a seguir alguns conteúdos que seguia no Twitter, agora sem propagandas e sem o maldito algoritmo deles, aquele que premia a escrotidão e a treta.

Criei a conta no BlueSky e fui percebendo a migração aos poucos das contas que eu gostava de acompanhar no Twitter, alguns deles já estavam lá antes do bloqueio. Com o bloqueio, fui notando que diversos veículos de imprensa passaram a criar conta no BlueSky, que aparentemente ganhou a batalha de números contra o Threads.

Minha experiência com o BlueSky, pesando prós e contras, vem sendo positiva. A plataforma tem uma vocação para ser o “antigo Twitter”. Percebo que não há tanta interação quanto o Mastodon, já que lá existem algoritmos. Mas a ideia de personalizar a experiência algoritmica me pareceu interessante e útil, escolhendo as feeds que você quer ter na sua página inicial. Muita coisa que eu posto lá fica ao vento, como era no Twitter, mas já entendi que lá é um lugar de pouca interação mesmo para humanos comuns.

Venho utilizando a plataforma para seguir veículos de imprensa e instituições públicas de uma forma que eu consigo dar conta. Também venho interagindo com algumas pessoas que me seguiram, e voltei a interagir com pessoas que eu já interagia quando tinha conta no Twitter. Pretendo utilizar a plataforma para divulgar meu trabalho acadêmico e a hashtag #AcademicSky me parece bem útil pra isso. As postagens onde usei essa hashtag ganharam um pouco mais de tração e interação, me parece um recurso bem promissor.

Meu maior temor em relação ao BlueSky é a forma como eles vão monetizar a plataforma, que pra mim ainda é um mistério. Será que vão ter assinaturas, liberando recursos extras, mais ou menos como o Telegram? Ou será que vão apostar na monetização do conteúdo exclusivo, num caminho meio OnlyFans? Será que vão enfiar propaganda goela abaixo na timeline da galera, como o Twitter (ou pior, o Facebook)? Prefiro aguardar, mas se a última opção ocorrer, vou deletar minha conta.

Threads

Não criei Threads nem pretendo criar, a nova rede parece ter um ambiente muito parecido com o do Instagram, ambiente este que eu não tenho a menor vontade de estar presente. Mas confesso que dei algumas buscas na Threads, em perfis que não migraram para o BlueSky. A impressão que eu tenho é que gente MUITO FAMOSA está na Threads, principalmente figuras ligadas à música, cinema e esportes.

Acho compreensível, lá é o ambiente de gente famosa mesmo, e práticas como publicidade, as publis, estão naturalizadas por ali. Como uma grande 'Revista Caras' que se tornou o Instagram, faz sentido que essas pessoas muito famosas fiquem ali pela Threads mesmo, monetizando em cima de uma base de usuários que é gigantesca, que é a base de usuários do Instagram, onde mais de 90% dos brasileiros com acesso a smartphones e internet têm conta (felizmente estou nos menos de 10% que não tem, ô sorte!).

X

Não sabemos se o X vai voltar a operar no Brasil ou não. Aparentemente a rede, no contexto brasileiro, se tornou um lamaçal de facistóides usuários de VPN, um verdadeiro esgoto. Sempre fui crítico a essa postura das esquerdas de “ocupar o twitter”, não adiantava nada, e o Alexandre de Morais e o STF esfregaram isso na nossa cara. Sem um algoritmo premiando comportamentos agressivos, BlueSky e até o Threads se mostram como ambientes mais saudáveis que o X. Inclusive, acho que poucos lugares na internet são piores que o esgoto fascista que se tornou o X.

Muitas pessoas no BlueSky estão relatando que o discurso de extrema direita perdeu tração sem o X, embora eu ainda gostaria de ver essa afirmação expressa em números, estatísticas e gráficos para me convencer totalmente. Mas, pelo menos aparentemente, o bloqueio desmobilizou a máquina pública de discurso de ódio e fake news, jogando os fascistas a permanecer na plataforma com o VPN ou se esconder nos esgotos de seus grupos privados de Telegram e Whatsapp.

O ser humano é um animal de hábitos e me parece que mesmo em tão pouco tempo temos o ecossistema do X reorganizado nas duas plataformas: o crackudo de notícias foi para o BlueSky, o crackudo da Ilha de Caras foi para o Threads. O usuário do 'núcleo duro' do Twitter parece ter ido para o BlueSky, o usuário mais casual para o Threads (aí pesa a comodidade de ter o perfil associado ao Instagram). Me parece que os públicos dos influenciadores, veículos e instituições se acomodou nas duas plataformas e parecem estar gostando da experiência.

Os estudiosos do comportamento dizem que um novo hábito leva mais ou menos um mês para se estabelecer. Se o bloqueio durar menos de um mês, eu acredito que as pessoas voltam para o X, e as outras plataformas voltam a ser produtos de nicho. Agora se o bloqueio durar um mês ou mais, eu penso que pode ser interessante observar a movimentação dos influenciadores de esquerda, progressistas ou pelo menos não-fascistas:

1) Pode acontecer de voltarem em masssa para o X: vão voltar a fortalecer em número de base de usuários uma máquina de desinformação, de produção de discurso de ódio. Se isso acontecer, ficará muito nítido que a briga dessas pessoas não é por uma internet livre, saudável e humana, mas sim pela própria fama, visibilidade, monetização e sucesso. P.S.: excluo dessa conta os jornalistas, esses são proletários e vão para onde os jornais (e seus patrocinadores) determinarem que é pra ir;

2) Pode acontecer de haver uma divisão (acho o mais provável): alguns voltam para o X, outros ficam pelo Threads e BlueSky e trabalham com suas bases de seguidores nas novas plataformas. Apesar do monopólio atual do Instagram, pessoas estão em outras redes também, e me parece que a segunda rede de preferência da maioria das pessoas varia muito. Me parece que existe uma tendência, fora do Instagram, das redes serem consumidas de forma mais compartimentada e nichada mesmo, o que inclusive vejo como positivo;

3) Pode acontecer de ignorarem a volta do X (meu sonho) e tornarem a rede do Elon Musk um esgoto da extrema direita, uma cidade abandonada, uma espécie de novo 4chan ou truth.social. Caso isso aconteça, eu acredito que demos um passo em direção à civilidade.

Acho que mesmo com o final do bloqueio, a vida de Elon Musk não será fácil, a companhia perdeu muito dinheiro com essa decisão do STF brasileiro e parece que a ação já está reverberando em outros países. Então acredito que a tendência é que Elon Musk encontre cada vez mais barreiras legais em diversos países para suas loucuras. E a perda de dinheiro e patrocínios fazem com que o fantasma da falência passe a assombrá-lo. Nesse hipotético cenário, Musk terá que escolher entre ceder (o mais provável) ou sucumbir de vez, fazendo com que o X, assim como o Twitter, Koo e o Orkut, sejam parte do passado da tecnologia. Assim espero!

Meus perfis para quem tiver interesse em seguir:

Mastodon: https://ayom.media/@felipesiles BlueSky: https://bsky.app/profile/felipesiles.bsky.social

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O Mozilla Thunderbird é uma excelente ferramenta para gerir emails. Ele é gratuito, tem código aberto e está disponível para instalação em diversos sistemas operacionais. Além da função óbvia de gerenciar emails, ele possui outras funções bem interessantes, como calendário, chat e acompanhar feeds RSS. E as extensões, a maioria desenvolvida pela comunidade, acrescentam ainda mais funções e possibilidades interessantes ao software. Seguem minhas extensões preferidas no momento:

Confirm-Address: já aconteceu com você de enviar um email e só depois lembrar que esqueceu de acrescentar uma CC (cópia carbono) ou anexo? Ou já esbarrou sem querer no botão 'enviar' e mandou um email que não estava totalmente pronto ainda? Essa extensão é bem simples, ela pede uma confirmação antes de enviar qualquer email. Eu acho bem útil, para dar aquela revisada se está tudo certo para o envio, antes de fazê-lo de forma definitiva e sem volta;

Provider for CalDAV and CardDAV + TbSync: ajuda a sincronizar calendários CalDAV com servidores como o Nextcloud, por exemplo;

Remover mensagens duplicadas: quem usa o Thunderbird, sabe que ele possui o incoveniente de duplicar algumas notificações de novos emails, essa extensão corrige o problema;

Quick Acess: esse conjunto de extensões pode transformar o Thunderbird num super gestor de mensagens, já que agrega botões que abrem páginas para ler emails a princípio não compatíveis com o Thunderbird (como Tuta e Proton), além de botões para acessar mensageiros como Whatsapp, Telegram e Discord. São 18 extensões do mesmo criador, que criam botões para diversos serviços da web.

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Acredite, muita gente ainda ouve rádio, muita gente mesmo. E, para quem gosta da mídia, é possível que já tenha se deparado com a situação de visitar alguns sites de webrádios, aí se incomodar com a arquitetura do site, os anúncios, a parafernalha, sendo que você só queria ouvir rádio. Ou simplesmente não consegue desenvolver o hábito de visitar um site para ouvir uma rádio. Você vai na Play Store (ou Apple Store) e procura algum aplicativo de web rádios, mas o aplicativo não tem a rádio que você quer ouvir, principalmente se ela é mais alternativa. Não sei quanta gente já passou pelo mesmo problema, mas eu sempre desconfiei que havia uma forma de seguir rádios parecida com seguir RSS de notícias ou podcasts. E tem sim!

Uma webradio é mais ou menos uma playlist que fica rodando em um site na internet (na verdade, é um pouco mais complexo que isso rs, mas só pra ficar mais prático o entendimento). Se você consegue o link dessa “playlist”, pimba! Basta rodá-la em um programa ou aplicativo de sua preferência que tenha essa função. Então vamos primeiro aprender como encontramos o link para ouvir a webradio. Após algumas interações pelo Mastodon, Elmo Neto trouxe um passo-a-passo bem interessante para isso. Nas palavras dele:

  • Abra a página da rádio;
  • Abra as ferramentas de desenvolvedor do navegador (pode usar o atalho ctrl+shift+i) e clique na aba “Rede”;
  • Limpe todas as requisições clicando na lixeira;
  • Clique em Play e espere a requisição pra transmissão;
  • Copie a URL e cole no seu player preferido (como o VLC).

Agora segue a lista dos meus programas e aplicativos preferidos para rodar as URLs das webrádios:

Por último, seguem algumas sugestões de rádios (com seus devidos links) que eu gosto e acompanho:

Rádio Aconchego https://orelha.radiolivre.org/aconchego

Rádio USP https://flow.emm.usp.br:8008/radiousp-rp-128.mp3

Rádio Yandê https://cloud.cdnseguro.com:2611/stream

Rádio Unicamp https://radio.sec.unicamp.br/aovivo

Rádio ABET https://s19.maxcast.com.br:8415/live?id=1192757142750

Rádio Antena Zero https://www.radios.com.br/play/playlist/27099/listen-radio.m3u

Rádio Comunitária Cantareira https://5a2b083e9f360.streamlock.net/sc_canta/sc_canta.stream/playlist.m3u8

Rádio Noroeste (Campinas-SP) http://svrstream3.svreua.com:8322/stream?1718737404193

Universidade FM (UFMA) https://s26.maxcast.com.br:8280/live?id=1718833388070

Educadora FM (Bahia) https://www.radios.com.br/play/playlist/12911/listen-radio.m3u

Rádio Universitária (UFPE) https://www.radios.com.br/play/playlist/14984/listen-radio.m3u

Rádio Cultura Cigana Brasil https://streaming.studioshopping.com.br/listen/radio_cultura_cigana_brasil/radio

Rádio Chiveo https://comodin.uy/listen/chiveo/128.mp3?refresh=1728309944820

Rádio Pipi Cucu https://comodin.uy/listen/pipi_cucu/128.mp3?refresh=1728310043403

Gostaria também de agradecer e dedicar esse texto ao Saci da Rádio Aconchego que foi a pessoa que resgatou em mim o amor pelo rádio, obrigado meu amigo!!!

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Fala pessoal! Na data que escrevo (14 de junho de 2024) estou com 34 horas de tela de celular nos últimos 31 dias, mas se considerar apenas os últimos 11 dias, tenho 11 horas, ou seja, nos últimos 11 dias dá pra dizer que tenho média cravada de 1 hora por dia de tela de celular. Pode parecer bobagem, mas morando em um país onde as pessoas passam EM MÉDIA (significa que tem gente que passa mais) 9 horas por dia no celular ou em outros eletrônicos, acho que o feito é bem considerável, não só pelo aspecto da saúde mental e bem estar, mas acaba gerando um certo deslocamento cultural (que resolvi bancar), já que não estou com o nariz enfiado no celular o tempo inteiro, como a maioria das pessoas ao meu redor.

Vou colocar de maneira prática e objetiva algumas estratégias combinadas que adotei para alcançar essa média, caso interesse alguém:

  • Não tenho perfil nas redes sociais comerciais famosas (Instagram, Facebook, Xwitter e TikTok);
  • Tenho perfis em algumas rede sociais do Fediverso (Mastodon e Lemmy), mas só as acesso via computador, no celular não tenho aplicativos dessas redes;
  • Deletei aplicativos que me faziam ficar perdendo um tempo no celular, como aplicativos de esportes (como o Sofascore) e jogos (como o Lichess);
  • Para evitar ficar navegando por sites na internet, uso o Firefox Focus como único navegador no celular. Ele não salva senhas, nem histórico, funciona sempre como se fosse uma aba anônima, o que ao meu ver limita bastante o uso prolongado;
  • Deletei muitos aplicativos do meu celular, deixei aquilo que considero muito essencial (dentro do meu uso, óbvio), como aplicativos de mapas, transporte, bancos, e afins;
  • Tenho apenas três mensageiros no meu celular: whatsapp, telegram e o SMS. E só os mantenho instalados porque tem muita gente que me liga usando esses aplicativos. A checagem e respostas das mensagens eu faço uma ou duas vezes por dia no computador mesmo, utilizando clientes web (utilizo o Ferdium, que agrega todos esses mensageiros num ambiente só);
  • Utilizo o aplicativo Screen Time (da F-Droid) para monitorar meu tempo de tela, e criei essa meta de 1 hora por dia;
  • Pelo menos uma dia na semana eu tento ficar o maior tempo possível offline, sem nem encostar no celular, costumam ser aos domingos (quando não tenho trabalho/freela nesse dia);
  • Comecei a levar o meu e-reader (popularmente conhecido como Kindle) pra todo lugar que eu vou, e quando bate aquele tédio ao esperar um ônibus ou um atendimento no banco, eu leio um livro ao invés de mexer no celular;
  • Aqui tem uma pequena roubadinha: o maior tempo de uso do meu celular é ouvindo coisas: webrádios, rádio FM, podcasts, música, etc, ou seja, não contam como tempo de tela. Inclusive eu queria muito ter um aparelho só pra isso, que não fosse celular. Vi que já lançaram uma espécie de walkman Android, mas por enquanto é meio caro para o meu bolso;
  • Participações em videochamadas: COMPUTADOR SEMPRE! Além de tempo de tela no celular, ainda come uma bateria da porra;
  • Desligo TODAS as notificações do celular;
  • Prática diária do Bullet Journal tem me deixado um pouco mais analógico, pelo menos pra gerenciamento das tarefas;
  • Mantenho hobbies que não dependem de tela, como passear com cachorro, visitar banca de jornal e montar cubo mágico;
  • Uso relógio de pulso para não precisar recorrer ao celular para ver as horas.

A parte que eu mais amo de priorizar fazer as coisas no computador, é que é muito fácil delimitar um fim para sua relação com a internet e a tecnologia no dia. Basta desligar o aparelho. Diferente do celular, que já nem temos mais coragem de desligar (eu programei um desligamento automático do espertofone diário, na hora de dormir, religando na hora de acordar).

ATUALIZAÇÃO (11 de agosto de 2024) Consegui baixar o tempo de tela atualmente para uma média de 30 minutos por dia

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