Felipe Siles

Espaço onde organizo, registro e compartilho algumas práticas que realizo na direção de um uso racional e civilizado das tecnologias. Espero que seja útil e ajude a despertar boas ideias.

A experiência de existir sem Instagram, Facebook, TikTok e Twitter

Faz muito tempo que gostaria de descrever essa vivência, mas achei que o intervalo de um ano seria o mais ideal e simbólico para materializar em palavras uma experiência que parece distante para muitas pessoas, talvez para a maioria. Importante ressaltar que não estou cagando regra, me colocando em superioridade moral ou coisa parecida, meu objetivo aqui é apenas descrever uma experiência, com seus prazeres e dores.

Saturação

O ano de 2022 foi difícil para mim. Por conta do isolamento social imposto pela pandemia de corona vírus, optei por deixar de morar em São Paulo, e voltar a residir, no interior do estado, onde passei a morar com meu irmão, na casa de herança de nossa mãe. As atividades presenciais estavam retornando aos poucos, mas eu não tinha o menor desejo de voltar a morar na capital, com seu custo de vida alto, financeiro e mental. A saída foi investir pesado no trabalho online. Tinha acabado de terminar o mestrado, o qual cursei inteiro sem bolsa, e não tinha pretensão naquele momento de já emendar num doutorado, precisava de um tempo para respirar e amadurecer as ideias. Vivia quebrando a cabeça de noite e de dia como ganharia dinheiro naquele contexto sendo músico e professor de música. Aos poucos, meus alunos iam abandonando as aulas online, e migrando de volta para cursos presenciais e a maioria dos grupos com quem eu trabalhava como músico já não me chamavam mais, por não estar mais na capital. Vivia basicamente do dinheiro de alguns poucos alunos com quem desenvolvi fortes laços afetivos, e que mantiveram as aulas online comigo, mesmo nesse contexto de volta às atividades presenciais. Mas era um dinheiro muito curto, fui me endividando cada vez mais.

Nessa altura do campeonato, eu era muito resistente à ideia de ter um Instagram. Comecei minha jornada nas redes sociais pelo Orkut, e sempre gostei e usei bastante redes sociais de texto, como o Facebook e Twitter. Redes sociais de imanges nunca me atraíram, passei direto pelo Snapchat, cheguei a criar uma conta para mim no Instagram, mas deletei porque simplesmente não a usava. Mas naquela situação profissional delicada, vivendo exclusivamente como profissional autônomo, acabei comprando um curso de produção de conteúdo, de um influenciador do campo político da esquerda. Sempre tive um pouco de preguiça dessa história de produção de conteúdo, mas a necessidade, e a oportunidade de aprender com alguém de viés político mais próximo ao meu fez com que eu acabasse me jogando na produção de conteúdo. Fiz conta no Instagram, no TikTok, dei uma repaginada no Facebook e no Twitter. Passei a produzir conteúdo praticamente diário, para divulgar meu trabalho como professor de música.

Os problemas nesse processo são vários. Um deles, é que notei um aumento na ansiedade. Eu consigo compreender porque influenciadores e youtubers relatam em algum momento problemas de depressão e ansiedade. Lidar diariamente com números e estatísticas de engajamento, pelo menos para mim, era um poço infinito de ansiedade, tenho certeza que se eu continuasse nesse caminho teria uma crise em algum momento. Pessoas lidam com isso de forma diferente, mas sei lá... minhas finanças dependiam desse plano ser bem sucedido, acho difícil não ter ansiedade em tal contexto, embora eu também sei que existem pessoas que lidam de maneira mais leve do que eu com a própria situação financeira. E, acreditem vocês nessa parte ou não, sou filho de santo iniciado em Obatalá, um orixá que representa a paz, a tranquilidade, o trabalho lento, de longo prazo. Toda essa ansiedade me fazia sentir mais distante do meu orixá de cabeça, não me sentia digno de representá-lo na terra, se não conseguisse acalmar meu coração e minha mente.

Outro problema é que nessa de procurar o que o público gostava, o que dava certo, o que gerava engajamento, eu começava a me perder de quem eu era. Olhar as estatísicas de retenção de atenção em um video de Youtube é uma experiência muito frustrante. O começo da produção de conteúdo é bem estimulante, principalmente para alguém com uma forte pulsão criativa, como é o meu caso. Mas com o tempo, a coisa não tem mais a ver com criação, com criatividade, e sim se manter na prateleira chamando a atenção das pessoas, concorrendo por essa atenção com Beyoncé, Bolsonaro e Luva de Pedreiro, loucura! Além disso, eu gostava tanto de usar Linux e aplicativos e softwares livres e de código aberto, estava passando tempo distante desse mundo que eu tanto amo, não pesquisava sobre o assunto como antes, tinha saudades até dos problemas que eu encontrei no Linux quando era um usuário muito novato e de como eu sempre conseguia resolvê-los com ajuda dos fóruns e da comunidade de usuários.

E, por último, mesmo com a minha dedicação na criação de conteúdo, não sentia que tinha um retorno financeiro à altura da minha dedicação e trabalho naquelas plataformas. Criei um plano de ensino de teoria musical por assinatura, e a adesão foi baixíssima. E a esmagadora maioria dos alunos se matriculou no curso depois de eu enviar divulgação em grupos privados (Whatsapp, Telegram e Matrix) e não pela propaganda no Instagram, TikTok e cia.

Quebra

Esse fluxo automático foi interrompido por alguns fatores. Um deles foi o fato de ter passado no doutorado. Inclusive o tempo que eu me dediquei a passar no processo seletivo do doutorado, elaborando projeto, lendo, era o único momento onde eu sentia que estava fazendo algo que eu gostava de verdade, algo para mim, que teria frutos no médio e longo prazo. Dessa vez eu tinha boas perspectivas de conseguir uma bolsa, um governo progressista venceu as eleições de 2022 e já nos primeiros dias anunciou aumento para os bolsistas. Além disso, eu tinha fé na minha comunidade espiritual, de que seria capaz de conseguir tudo que sonhava com o apoio dela.

Outra questão bem importante, ao contrário do estereótipo do militante de esquerda, eu gosto muito de ler livros sobre organização e produtividade. Já li vários: Bullet Journal (Ryder Carrol), O Poder do Hábito (Charles Duhigg), entre outros. Graças à indicação do ótimo podcast Tecnocracia (Guilherme Felitti), eu descobri o livro Deep Work de Cal Newport. Eu não gosto da maneira como traduziram o título desse livro para o português, para Trabalho focado, embora consiga compreender o apelo desse título no público brasileiro que consome esse tipo de literatura. Enfim, esse livro me ajudou muito a repensar várias coisas na minha vida, e me trouxe a ideia de que o trabalho profundo não só é mais produtivo, mas como uma vida vivida em profundidade é melhor. E o autor ensina como se livrar das distrações superficiais, que te tiram o tempo todo desse contato com uma dimensão mais profunda do trabalho e da vida.

Por último, mas não menos importante, eu tive um reencantamento pelo mundo do código aberto e do software livre. Encontrei um amigo em Belo Horizonte, quando fui assistir ao show do Milton Nascimento, e a empolgação dele com o mundo Linux e FOSS incendiaram novamente a minha paixão pela ideia de democracia digital.

Ventos da mudança

Com a aquisição do Twitter pelo Elon Musk acabei aderindo ao movimento coletivo de deletar a conta lá e migrar para outra plataforma. Tinha gente migrando para o Koo, BlueSky, entre outras plataformas. Mas a minha proximidade com a comunidade do software livre me fazia olhar com bons olhos para o Mastodon. Inclusive eu já tinha tentado a plataforma anteriormente, mas a falta de uma comunidade ativa em língua portuguesa na época me fizeram abandonar a plataforma. Porém, agora com essa grande diáspora do Twitter, pude conhecer uma galera brasileira e lusófona bem ativa e engajada no Mastodon. Essa experiência com o Mastodon me levou a conhecer o Fediverse e me encantar com ele. Isso tudo me levava a um dilema, se apaguei o Twitter, que era a rede social que eu mais gostava de usar, me via obrigado a ceifar também as redes que eu odiava, que era obrigado a manter só para divulgar meu trabalho autônomo, e mesmo assim sem sucesso. Sem muito planejamento, sem muita preparação ou aviso, simplesmente deletei Facebook, Instagram e TikTok, em janeiro de 2023, não me recordo precisamente o(s) dia(s).

Janeiro é um mês parado profissionalmente para mim. Alunos estão de férias, normalmente viajando. Tenho poucos trabalhos nessa época, não sou um músico que toca muito em Carnaval (músicos de percussão e sopros tocam mais nessa época, emprego para pianista e sanfoneiro não tem muito), portanto não dedico esse mês para o ensaio do mesmo. Então faz tempo que faço do meu janeiro um laboratório do que eu quero para o meu ano inteiro. Eu sabia que o ideal era esperar conseguir uma bolsa de doutorado primeiro, para depois sair das redes sociais comerciais, já que talvez precisasse ainda divulgar meu trabalho autônomo por lá. Mas, por outro lado, a experiência prática me mostrou que a divulgação em grupos privados era mais eficiente para mim que a criação de conteúdo. Além disso, não podia desperdiçar o meu mês laboratório de janeiro para fazer ajustes, se fizesse esse tipo de mudança drástica no decorrer do ano me sentiria alguém consertando o carro andando.

A perspectiva era boa, doutorado, voltaria a frequentar São Paulo ao menos uma vez por semana para assistir as aulas na faculdade. Dava para organizar algumas aulas presenciais em São Paulo, alguns trabalhos como músico, as coisas iam se ajeitando novamente e ainda havia a perspectiva da bolsa de doutorado, que acabou vindo! Fiquei, orgulhosamente, em primeiro lugar no processo seletivo interno do meu programa de pós graduação. Tenho certeza que o fato de eu ter trabalhado de maneira dedicada sem as distrações das redes sociais ajudaram a alcançar tal feito. Esse primeiro lugar foi muito importante para minha auto-estima, que andava abalada e por premiar como correto o caminho e a estratégia que empreguei, já que tive muitas incertezas e medos ao longo do processo.

Como fiquei em primeiro lugar no processo seletivo, passei a receber a bolsa rapidamente, ainda no primeiro semestre do doutorado. Já tinha planejado que, com a bolsa, daria um tempo na minha vida de trabalhador autônomo. Pararia com as aulas particulares, que me tomava tempo, concentração e energia mental, e faria como músico instrumentistas apenas trabalhos que faziam sentido para mim. Também pude me concentrar melhor na elaboração de projetos visando leis públicas de incentivo, e foi dessa forma que lancei meu primeiro livro. Além disso, o fato de eu não precisar vender nem convencer ninguém a nada trouxe uma leveza para a minha vida que eu não consigo nem descrever. A vida não poderia estar melhor. Mas voltemos às redes sociais...

Twitter x Mastodon

Como eu disse antes, gostava muito do Twitter. Era uma rede onde eu me mantinha razoavelmente informado, principalmente sobre a política. E era onde eu tinha uma esperança de conseguir alguma visibilidade ao longos dos anos. Passei três anos me dedicando a essa rede, postando nela esperando algum engajamento, para a maioria dos tweets ficar abandonada aos sons de grilos. Cheguei a “hitar” algumas vezes, mas isso nunca fez com que eu ganhasse sequer um único seguidor. Me sentia falando com ninguém ali, e só tinha interação quando comentava no tweet dos outros. Nesses três anos acumulei um pouco mais de 500 seguidores, ridículo em relação aos 3000 que eu tinha no Instagram, uma rede social que eu odiava e que tive por menos de um ano.

A primeira grande diferença que senti no Mastodon é a quantidade e qualidade das interações. Raramente fiquei aos sons de grilos lá, mesmo o post (lá eles se chamam toot) com a piada mais tiozão do pavê acabava ganhando pelo menos um mísero like. E a comunidade do Mastodon é muito menor que a do Twitter, então tenho aquela sensação boa de vida em comunidade, de que conheço ou pelo menos vi a cara de todo mundo ali em algum momento. Foi uma experiência parecida com a de mudar da capital para o interior.

Desde então, o Mastodon passou a ser minha rede social principal. Passei a olhar com carinho também para outras plataformas dentro do Fediverse. Subi alguns videos no PeerTube, mas não dá pra dizer que é uma plataforma que eu consumo atualmente. Fiz um Pixelfed, mas acabei abandonando igual ao meu primeiro Instagram, já que esse tipo de rede não tem apelo pra mim. Uso também o Funkwhale, mas parecido com o PeerTube, mais alimento de conteúdo do que consumo. E, no momento, estou bem animado com o Lemmy, tenho gostado e usado bastante. Foi outra rede que cresceu depois da diáspora do Reddit, numa história bem parecida com a do Twitter com Mastodon, e acabou ganhando uma comunidade brasileira bem ativa. E gosto bastante também do Writefreely, onde você está lendo este texto no exato momento.

Instagram

Como eu disse antes, rede social de imagem nunca teve apelo comigo. Nem mesmo no meu auge da produção de conteúdo eu não consumia a timeline do Instagram e muito menos a do TikTok. Eu tinha até uma brincadeira de que eu era um traficante e não um usuário de drogas. Nem mesmo o TikTok com seu poderoso algoritmo me ganhou. Eu acho que em algum momento eu tive muita clareza de que essas redes não eram mais sociais e sim redes de entretenimento. E um entretenimento de gosto bem duvidoso... Sei lá, ao invés de ver um video tosco feito por um amigo, eu acho que eu prefiro ver um filme do Tarantino ou do Spike Lee (nada contra quem prefere o video tosco). Não julgo o escapismo de ninguém, eu também tenho o meu, mas procuro preenchê-lo com entretenimento pelo menos bem produzido. Enfim... gosto...

Outra coisa interessante que aprendi nesse processo é que o Instagram, dessas redes comerciais que eu citei é a única relevante de verdade para a maioria das pessoas. Quando digo que não tenho Twitter, ninguém liga, porque o brasileiro não tem Twitter. A última vez que vi uma notícia sobre isso dizia que até o Pinterest tem mais usuários ativos no Brasil que o Twitter. Ele ganha esse status de importância por conta do número de jornalistas e políticos que estão lá, dão à plataforma essa sensação de credibilidade, mas um país com grande índice de analfabetismo digital não dá muita bola para uma rede social baseada em textos.

TikTok, apesar de ser uma rede de muito sucesso, eu tenho impressão que ninguém questiona quando digo que não tenho. Apesar de ser uma rede com públicos de todas as idades, inclusive sucesso entre pessoas idosas, é inegável que ficou marcada na plataforma chinesa uma imagem de rede social dos jovens. Então quando alguém nascido em 1985 diz que não tem TikTok isso não causa muita surpresa nas pessoas.

Facebook é uma rede ainda muito relevante no Brasil, principalmente no Brasil profundo, conforme pudemos acompanhar no podcast Rádio Escafandro, na série O pastor. Porém, também é relativamente comum, mesmo entre pessoas ditas normais gente que cansou do chernobyl ali do Facebook, principalmente no pós-eleições e saiu da plataforma, ou abandonou o perfil, ou olha lá muito de vez em quando. Então dizer que não tem Facebook também não causa surpresa em ninguém.

Já o Instagram... Dizer que não tem Instagram é quase dizer que não tem RG. Tanto que atualmente nem digo mais para as pessoas que não tenho redes sociais comerciais, prefiro ir direto ao ponto e dizer que não tenho Instagram. As reações, basicamente, são:

  1. A pessoa demonstra admiração e curiosidade, mas ao longo da conversa vai tentando me convencer a voltar a usar a plataforma. A pessoa gosta do meu ponto, mas me diz que não preciso ser tão radical, que dá pra fazer um uso mais saudável da rede, etc. Eu percebo que esse é o menor grupo;

  2. A pessoa demonstra admiração, e meio que se justifica, diz que não gosta muito das redes, que se pudesse também deletaria, mas que precisa por motivo x ou y, normalmente trabalho, família e/ou amigos. Eu percebo que esse grupo é relativamente grande, rivaliza com o próximo;

  3. A pessoa não faz muito rodeio, diz que é um erro, que todo mundo precisa ter o Instagram hoje em dia, que consegue bons resultados por ali, e aquele papo todo que vocês já conhecem. Quando isso acontece eu fico até apreensivo de que essa pessoa vai se tornar o Agente Smith e começar a me perseguir atirando pela Matrix. Esse grupo é tão grande quanto o anterior.

O que eu costumo responder para as pessoas é que pesando os prós e contras, aquilo que as redes nos proporcionam e aquilo que elas tiram de nós, eu não acho que compense estar ali.

Conclusão

Hoje em dia tenho plena certeza de que as redes sociais comerciais, que eu tenho preferido chamar de redes de entretenimento servem justamente para isso, nos entreter. O quanto deixamos de olhar para nós mesmos, o quanto deixamos de sentir tédio, para ficarmos nos alimentando de dopamina como zumbis viciados. Outro livro bem importante nesse processo foi Nação dopamina (Anna Lembke), recomendo que vocês leiam. Essa exposição constante a esse entretenimento fácil tem prejudicado nossa capacidade de atenção, concentração, disciplina, além da capacidade de enfrentar situações desagradáveis e que nos contrariam. É o Narciso achando feio o que não é espelho... Quando vimos algo que não gostamos, silenciamos, bloqueamos... isso antigamente, já que o algoritmo nem tem deixado mais a gente em contato com o contraditório, a não ser quando a gente precise engajar algum conteúdo pelo ódio, ou seja, somos marionetes nas mãos da Big Tech, políticos de esquerda e direita são marionetes também nas mãos deles.

A minha vida sem redes da Big Tech é mais saudável. Tenho rotina, tenho bons hábitos, me alimento melhor, sou mais disciplinado, menos ansioso, lido relativamente bem com o tédio e com processos mais lentos e demorados. Até comecei agora a fazer academia. Em geral, consigo me propor ao que planejo, afinal todo o tempo livre que essas redes consumiriam eu acabo utilizando para fazer coisas saudáveis, sejam produtivas (como marcar uma reunião, escrever um relatório, revisar um artigo, etc) ou coisas para o meu bem estar, como ler um livro, ver um filme, passear com cachorro. O fato de não ter as redes, meio que me obriga também a fortalecer o contato com pessoas reais. Faço parte de dois grupos da minha cidade, um religioso e um de teatro. Acabei me engajando nesses grupos e as pessoas que fazem parte deles atualmente são meus grandes amigos, são irmãos para mim.

Eu tenho a impressão de que eu só voltaria a ter as redes de entretenimento se fosse uma necessidade muito específica. Por exemplo, reativei uma conta no Instagram do meu podcast Estação Música, que uso quando preciso mandar uma mensagem para alguém que eu não tenho o telefone. Uso só pelo computador e não tenho o Instagram instalado no meu celular. Achei que usaria mais, mas usei apenas uma vez, quando queria comprar um tambor específico com alguém que só vende por lá. Mas voltar a criar ou consumir conteúdo, eu acho muito difícil... Não vou dizer impossível, nunca diga nunca, mas não vejo qualquer possibilidade no horizonte atual.

Ainda quero escrever um texto sobre divulgação artística e musical, muito provavelmente no Zumbido de Bamba, blogue no qual sou colaborador. Se você precisa usar as redes sociais para divulgar seu trabalho eu não te julgo, já que eu não tenho costume de julgar a vítima. Nosso inimigo é a Big Tech, é a Google, a Meta, eles são nossos colonizadores e capturaram coisas preciosas como a nossa atenção, o nosso tempo livre e nos deram o Instagram, ou seja, espelhinhos em troca do nosso ouro e do nosso pau-brasil.

Eu também estou num momento profissional muito específico, já construi minha rede de contatos, e através dela sempre tenho trabalhos. Além disso, a bolsa de doutorado segura minhas finanças, conforme expliquei lá atrás. Eu também acabei percebendo que a divulgação é um trabalho e deve ser feito por profissionais competentes, especializados e remunerados. No meu atual estágio eu tenho preferido aumentar a minha rede de contato com jornalistas que vão repercutir o meu trabalho do que investir esse tempo em redes sociais. Quando se digita “Esmeraldino Salles” em qualquer buscador, pelo menos atualmente, a primeira página estará repleta de trabalhos meus, e não consegui isso através de redes sociais, e sim investindo tempo na minha própria pesquisa de mestrado, postando em blogues, escrevendo verbetes para a wikipedia e, por último mas não menos importante, dando entrevistas para jornalistas. E, para a minha surpresa, a maioria dos jornalistas adora quando levamos pauta para eles.

Sei que meu caso é específico e muito provavelmente a minha experiência não se encaixa na sua vida. Mas encare este texto como um convite. Se você também não tem redes sociais comerciais este texto pode servir como identificação e reforço de suas convicções pessoais, o que é ótimo. Mas se você possui as redes sociais e é ativo nelas, eu te convido a refletir um pouco sobre essa relação. Quanto tempo passa nelas? Consegue ficar quanto tempo sem olhá-las? Consegue ficar entediado ou passar por uma situação desconfortável sem dar uma olhada nelas? Ainda consegue manter uma leitura de mais fôlego? E ver um filme mais longo sem pegar no celular ou dar muitos intervalos? Consegue sequer assistir um jogo de futebol ou do seu esporte favorito sem o celular na mão? Considera que sua concentração continua igual a antes dessas redes? E sua disciplina e capacidade de realizar as coisas, como está? A partir dessa reflexão, faça aquilo que você julgar melhor para você e para as pessoas ao seu redor.

Além do nosso tempo, nossos dados, nossa concentração e nossa saúde mental, as redes sugam nossa pulsão criativa. Imagina o que estaríamos produzindo sem ela, livros, filmes, fotografias, novas invenções, ideias, conceitos. Se a gente não tivesse essa sensação de que estamos participando da política através dela talvez nos engajaríamos mais em movimentos, partidos e projetos sociais.

Não estar nas redes de entretenimento é um pequeno gesto de rebeldia e desobediência civil, dentro desse feudo que se tornou a internet plataformizada. Estar fora e mostrando para as pessoas que dá para viver sem elas, para mim é um compromisso ético e civilizatório.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Escrevi em maio o artigo https://blog.ayom.media/felipe-siles/uma-semana-des-google-ado e o presente texto tem como objetivo compartilhar a experiência depois de meses em curso, olhando para o que funcionou, o que não funcionou tão bem, as concessões que precisei fazer (e porque) e novas descobertas.

Boas descobertas

Uma descoberta importante foi: não adianta apenas deixar de usar aplicativos e serviços da Google, se os rastreadores deles estão o tempo todo te vigiando e colhendo seus dados, até em aplicativos que não são deles. A maneira mais radical de combater esse problema seria instalar uma custom ROM, como a Lineage OS, /e/ e afins. O problema é que alguns aplicativos (Correios, e alguns bancos) param de funcionar se o celular não possui Google Services ou tem ele bloqueado. Fora que eu vi em alguns reviews que alguns recursos podem não funcionar muito bem, como a ligação de Whatsapp, que eu acabo utilizando muito, principalmente no que diz respeito a amigos e familiares que ligam para mim dessa forma. A solução meio termo é o uso do aplicativo Tracker Control, que pode ser instalado via F-Droid, e que bloqueia o acesso à internet desses rastreadores. Excelente!!!

No texto anterior eu comentei que desativei os aplicativos Google, mas encontrei um tutorial muito bom do Diolinux para retirar do Android não somente os apps da big tech, mas também todos os bloatwares, que são aqueles aplicativos instalados de fábrica que a princípio não podem ser desinstalados. Fiz o processo, foi bem simples, e não necessita fazer root no celular, apenas ativar modo desenvolvedor, depuração USB e instalar dois programas no computador, relativamente simples:

https://diolinux.com.br/video/remover-qualquer-aplicativo-do-android.html

Outro detalhe importante é: sempre que preciso acessar um serviço Google no navegador do computador, faço num container separado (utilizando a extensão do Firefox Multi-Account Container), para evitar que a Google rastreie minha atividade no navegador em outros sites.

O que funcionou

Realmente consegui me desapegar de vários aplicativos e serviços da Google. Muita coisa eu já usava antes e continuei usando (como a busca no DuckDuckGo, o aplicativo Firefox ao invés do Chrome e assim por diante). Alguns eu passei a usar por conta desse processo e acabei me habituando a eles. O NewPipe, por exemplo, funcionou muito bem na minha TV Box da Xiaomi, e para o iPad, que não possui essa possibilidade, o Individious acabou sendo uma boa solução para ver Youtube sem propagandas.

O que não funcionou e precisei fazer concessões

Falando de aplicativos, o Google Maps é o aplicativo que mais me fez falta. Por mais que o Organic Maps e outros clientes do Open Street Maps sejam excelentes, a base colaborativa deles não consegue mostrar e manter atualizados os endereços de lojas, comércios e outros locais importantes, principalmente nas cidades pequenas, como é o caso de onde moro.

Outra coisa que não funcionou bem, conforme dito antes, é o fato de alguns aplicativos não funcionarem sem o Google Services. Os que me fizeram mais falta foram o dos Correios, do Banco Itaú e do Mercado Pago. Fora que depois de um tempo com os serviços Google desabilitados meu celular começou a dar uns bugs estranhos de sistema operacional (não sei se as coisas estão necessariamente relacionadas) e acabei precisando formatá-lo.

Conclusão

A solução que acabei encontrando é deixar os serviços da Google instalados, e logados numa conta minha de ex-aluno da USP, a Alumni, que também é uma conta Google e que eu praticamente não uso pra nada. Vários dos aplicativos que usei para substituir os serviços da Google eu continuei usando. Deixei instalados no celular apenas:

  • Gmail: além de poder ver os emails, ele tem o Google Meet embutido, o que pode ser útil pra quando alguém marca reunião por essa ferramenta;
  • Google Drive: acabo usando bastante porque tenho nuvens ilimitadas logando com as minhas contas universitárias;
  • Google Maps: conforme foi dito anteriormente.

Fora isso, mais nenhum outro serviço da Google, inclusive foi prazeroso desinstalar o buscador deles com o Universal Android Debloater. Todos os outros aplicativos da Google foram desinstalados com essa ferramenta. Com o Google Services ativo, eu consigo voltar a usar aplicativos que são importantes para o meu dia-a-dia, como o dos Correios e os bancos. E o Tracker Control ajuda a minimizar um pouco a coleta de dados da Google sobre meu celular.

Enfim... não foi a solução perfeita ou ideal, mas foi o possível para mim, dentro das minhas possibilidades. Quem sabe mais para o futuro eu consiga passar por cima dessas concessões e avançar um pouco mais no sentido de uma vida sem Google. Mas uma coisa que aprendi na vida e principalmente na cultura iorubá é de aprender a fazer concessões. O mundo infelizmente não funciona da forma como gostaríamos, e as soluções verdadeiras para nossos problemas são coletivas e não individuais. Atitudes individuais não são totalmente inúteis, mas nessa perspectiva eu penso que estão mais suscetíveis a pequenas concessões do que as coletivas.

Lembrando que esse não é um texto para cagar regra, apenas o compartilhamento de uma experiência, pegue para você apenas aquilo que considerar útil. E espero de coração que a Google não continue nos sufocando e cercando a ponto de eu precisar fazer mais concessões ainda futuramente, tomara que não.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Seguem as extensões que atualmente uso no navegador da raposinha querida. Posso ir atualizando futuramente, caso passe a utilizar novas extensões.

*Absolute Enable Right Click & Copy: habilita o clique direito no mouse, até mesmo em sites onde esse recurso é bloqueado;

ClearURLs: remove rastreadores das URLs;

Cookie AutoDelete: maior controle de limpeza de cookies;

Decentraleyes: também protege de rastreadores;

Download All Images: salva todas as imagens de uma página, mesmo quando elas estão protegidas contra download;

DuckDuckGo Privacy Essencials: mais ferramentas de privacidade;

Feedbro: agregador de RSS;

Firefox Multi-Account Containers: considero essa extensão uma das mais maravilhosas. Ele isola sites que você determina, como se estivesse navegando neles num navegador separado. Dá pra criar grupos de sites, como por exemplo: compras, trabalho, estudo, etc. Ótimo para evitar rastreamentos da big tech nos outros sites que você mexe;

Ghostery: mais uma extensão focada na privacidade;

HTTPS Everywhere: mais uma extensão focada na segurança e privacidade;

KeePassXC-Browser: uso para sincronizar com meu banco de senhas;

Mind the Time: monitora o tempo que você passa no navegador e em cada site, ótimo para quem quer diminuir ou pelo menos ter mais controle sobre o tempo de tela;

Omnivore: salva links e pode ser sincronizado com aplicativo de mesmo nome nos dispositivos móveis;

Privacy Badger: mais privacidade;

TWP – Translate Web Pages: tradutor de páginas e sites da internet;

uBlock Origin: bloqueador de propaganda;

Weather: previsão do tempo;

Zotero Connector: sincroniza com o Zotero, software que uso para gerenciamento de fontes bibliográficas.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Aplicativos, softwares e extensões

  • Thunderbird (Windows, MacOS, Linux);
  • Feedbro (extensão do Firefox);
  • Read You (Android);
  • Feeder (Android).

Observação: copie e cole os links no seu agregador de RSS preferido.

Notícias

https://apublica.org/feed/ https://www.cartacapital.com.br/feed https://noticiasanarquistas.noblogs.org/feed/ https://www.nexojornal.com.br/rss.xml https://jornalggn.com.br/feed/ https://almapreta.com/feed https://nosmulheresdaperiferia.com.br/feed https://terrasindigenas.org.br/pt-br/noticias/tudo/TI/25/1/xml https://jacobin.com.br/feed https://fiquemsabendo.com.br/feed

Academia e ciência

https://jornal.usp.br/feed/ https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/RSS https://www.revistas.usp.br/wp/feed https://memoria.cnpq.br/web/guest/noticias/-/asset_publisher/6QsO/rss?p_p_cacheability=cacheLevelPage

Esportes

https://www.meutimao.com.br/rss/ https://www.ultimadivisao.com.br/feed/ https://planetafutebolfeminino.com.br/feed https://www.ogol.com.br/rss/noticias.php https://www.chess.com/pt-BR/rss/news

Tecnologia

https://plus.diolinux.com.br/c/noticias-tecnologia/20.rss http://feeds2.feedburner.com/canaltechbr https://feeds.feedburner.com/Diolinux https://www.castnews.com.br/feed/ https://manualdousuario.net/feed/

Cultura, Cinema e Música

http://feeds.feedburner.com/tmdqafeed http://portalcinema.blogspot.com/feeds/posts/default https://studioghibli.com.br/feed https://www.publishnews.com.br/rss.xml https://culturaemercado.com.br/feed

Árvores de feeds

https://www1.folha.uol.com.br/feed/ https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/11/siga-o-g1-por-rss.html

A ideia é ir atualizando essa lista, portanto se você tiver sugestões de feeds me manda no Mastodon ou para o email felipesiles@disroot.org

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

A F-Droid é um catálogo de aplicativos livres e de código aberto para a plataforma Android. Funciona mais ou menos como a Play Store, só que apenas com aplicativos livres. Isso significa que esses aplicativos não vão ficar te mostrando propaganda e muito menos te espionar ou coletar seus dados de forma suspeita. Ainda é possível acrescentar outros repositórios e eu recomendo fortemente que vocês acrescentem também a IzzyDroid. Então, para ajudar quem está começando no mundo do software livre, eu separei alguns aplicativos da F-Droid que eu utilizo no meu cotidiano.

AdAway: bloqueador de anúncios bem prático e não precisa fazer root no celular, funciona por VPN;

AntennaPod: meu agregador de podcast preferido, utilizo há anos já! Muito customizável, ainda quero escrever um texto mostrando como eu o configuro para não perder nenhum episódio dos podcasts que sigo, mas ao mesmo tempo não ficar ansioso com os contadores de episódios;

Aurora Store: cliente da PlayStore, ideal para quem quer desgooglar seu celular, sem abrir mão de alguns aplicativos principais;

Auth: verificação em duas etapas;

Bodhi Timer: temporizador para meditação, com visual minimalista, elegante e sons agradáveis;

BookWyrm: alternativa ao Goodreads e Skoob, integrado ao Fediverso (recomendo a ótima instância brasileira Velha Estante);

Breeze Weather: previsão do tempo;

DAVx5: sincroniza agenda, contatos, tarefas, muito bom para quem quer ficar livre dos serviços Google;

Element: cliente de Matrix, mensageiro que tem como recurso interessante fazer pontes com outros serviços;

Ente Photos: boa alternativa para quem quer desmamar da Google. Sincroniza fotos, mais ou menos como o Google Photos;

Feeder: leitor de RSS muito customizável;

Forkgram: cliente de Telegram com algumas funcionalidades extras interessantes;

Jerboa: cliente de Lemmy, uma alternativa federada ao Reddit;

Joplin: utilizo há muitos anos para anotações, alternativa ao Evernote e Google Keep;

K-9 Mail: cliente de emails, semelhante ao Thunderbird;

LibreSpeed: para verificar a velocidade da internet, alternativa livre ao Fast da Netflix;

Librela Reader: abre documentos em diversos formatos, como doc, pdf, odt;

Loop: aplicativo que ajuda a acompanhar e monitorar hábitos. Dá pra programar notificações para beber água, ler um livro, ou qualquer hábito que você queira implementar no seu cotidiano;

NewPipe: cliente simplesmente perfeito para Youtube, Soundcloud, Bandcamp e PeerTube. Dá para assistir os videos sem propaganda, assinar canais, criar grupos/categorias de canais e até baixar vídeo e/ou áudio. Um cliente de Youtube melhor que o aplicativo original;

Nextcloud, Notes e Talk: serviço de nuvem com várias funcionalidades marotas. Para quem quer conhecer e começar a usar, dá pra instalar o Nextcloud num servidor caseiro, ou então usar algum servidor de terceiros, como o Disroot, por exemplo;

Organic Maps: alternativa ao Google Maps;

Pachli: cliente Mastodon melhor que o aplicativo original. Minimalista e bem customizável, excelente para quem migrou do Twitter, já que possui design parecido;

ProtonMail: serviço de e-mail seguro e criptografado;

Screen Time: contador do tempo de tela;

Semitone: bem útil para musicistas de plantão, é afinador, metrônomo e piano virutal;

Share to Clipboard: copiar e colar privativo;

Simple File Manager: gestor de arqivos;

Tasks: aplicativo de tarefas, sincronizável com o DAVx5;

Tracker Control: aplicativo que bloqueia o acesso à internet dos muitos rastreadores presentes nos aplicativos e sistema operacional;

Trail Sense: aplicativo com diversos recursos de navegação, ideal para quem gosta de trilhas, acampamentos e afins. Tem bússola, lanterna, apito, recursos de astronomia e mais um monte de bugigangas;

Transistor: agregador de radios online;

Tuta: mais um serviço de e-mail seguro e criptografado;

VLC: player multimídia, toca música e videos;

Yet Another Call: bloqueia ligações indesejadas, baseado numa base de dados pública.

Conclusão

Espero que você tenha gostado desse texto, que algum desses aplicativos seja útil para você, ou que pelo menos o texto te instigue a procurar seus preferidos. A F-Droid é organizada em categorias, e é bem legal explorá-las, para descobrir novos apps. Volta e meia faço isso, e assim que eu descobri vários aplicativos dessa lista. Se eu descobrir novos aplicativos, vou atualizando. Outra forma interessante de descobrir aplicativos é usar sites como o “alternative to” e colocar a F-Droid no filtro para descobrir uma alternativa a outros aplicativos.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Introdução

Como dizia minha professora de piano, Silvia Goes, precisamos ter a ousadia de ser cobaias de nós mesmos. E diante do meu ódio visceral contra a Google, por ter feito a contra-propaganda da PL das Fake News, quis provar pra mim mesmo que é possível viver sem utilizar os aplicativos, ferramentas e softwares da Google. Ressalva importante: eu sei que, em alguns casos, alguns aplicativos que vou citar utilizam dados da Google ou são clientes ou front-ends para acessar conteúdo deles. Mas diante da presença que a big tech ocupou no nosso cotidiano, em alguns casos eu acho a política de redução de danos bem válida. E se o YouTube é um negócio que lucra com a publicidade, assisti-lo sem as propagandas não deixa de ter seu nível de subversão. Discussões mais abstratas a parte, vamos para as dicas concretas. Na primeira parte vou trazer os aplicativos, sites, softwares e ferramentas alternativos a serviços da Google. E na segunda parte vou detalhar como configurei cada dispositivo para rodar Google o mínimo possível. No final eu detalho como pretendo fortalecer o Fediverse, migrando meu conteúdo da big tech para plataformas livres. Importante ressaltar que não sou profissional da área de tecnologia e informática, sou apenas um entusiasta do Linux e dos softwares livres. Outro detalhe importante é que estou fazendo um relato pessoal, do que funcionou para mim. As eventuais adaptações podem variar de pessoa pra pessoa, do uso, dos hábitos e principalmente do trabalho e estudo, onde muitas vezes não temos tanta margem pra decidir algumas coisas.

Espero que seja útil!

Alternativas aos aplicativos e serviços

Para escolher as ferramentas, eu utilizei os seguintes critérios, em ordem de prioridade:

  1. Código aberto e software livre
  2. Código aberto e freemium
  3. Proprietário e freemium

O site que utilizei para essa pesquisa foi o alternativeto.net, onde inclusive é possível utilizar esses filtros para facilitar a pesquisa. Cheguei no seguinte resultado:

Gmail (serviço): Disroot, Tutanota, Protonmail Gmail (aplicativo): Thunderbird, K9 Mail Google Drive (armazenamento): Nextcloud/Disroot, Proton Drive Google Drive (suíte office): Cryptopad/Disroot, Pad/Riseup.net, Only Office Google Maps: Open Street Maps (cliente Android: Osmand) YouTube (clientes e front-ends): Individious (instância tube.bolha.one) e New Pipe (Android) YouTube (alternativas): Peertube, Odysee Bem estar digital: Stay Free Google Chrome: Firefox, Vivaldi Google Keep: Joplin, Obsidian, Notion Google Photos (sincronizar): Stingle Photos Play Store: F-Droid, Aurora Store Google Meet: Jitsi Meet, Disroot/Nextcloud Talks Calendário: Nextcloud/Disroot + DAVx5, Tutanota, Protonmail Contatos: Nextcloud/Disroot + DAVx5 Google Authenticator: Authy Files: Gestor de arquivos simples pro Buscador Google: DuckDuckGo Classroom: Moodle

Dispositivos

O computador foi o mais fácil, já utilizava o Firefox como navegador principal (já configurado com pesquisa pelo DuckDuckGo), instalei a extensão Lib Redirect, que redireciona automaticamente links que vão para o ambiente da big tech para clientes e front ends, permitindo você acessar o conteúdo. Substituí o Chromium pelo Vivaldi, como meu navegador secundário. E configurei para receber meu e-mail USP (que infelizmente é da Google) no Thunderbird. Passei todos os compromissos da agenda USP/Google para a conta do Disroot/Nextcloud.

O iPad foi relativamente simples também. Desinstalei todos os aplicativos da Google, coisa que é bem tranquila no ambiente da Apple. Os únicos apps que mantive foram o Google Drive e o Classroom, por conta da USP, já que vários professores usam esses dois sistemas. Mas uma coisa que eu gosto no IOS é o aplicativo “Arquivos”, que navega bem pelas diferentes nuvens, não havendo necessidade de eu acessar o aplicativo do Google Drive, já que esse app nativo acaba sendo um cliente. E achei que o OnlyOffice no iPad funcionou surpreendentemente bem como substituto para a suíte office da Google, com a vantagem de que salva em todas as nuvens: iCloud, Nextcloud e, se quiser, até no próprio Google Drive. Importante ressaltar que o iPad é um dispositivo que utilizo para fins quase que exclusivamente acadêmicos.

Desinstalei o YouTube da minha Roku TV e estou com a fonte do Xbox One no conserto, mas minha ideia é desinstalar nele também. Mudei a Roku TV para a sala, conectei na mesma tv do videogame, já que minha ideia é utilizar o Xbox mais como videogame mesmo e deixar a função de assistir streaming completamente secundária. Na Roku TV não consigo instalar o New Pipe, já que o sistema operacional dela é bem fechado e não permite instalar aplicativos externos. Aqui chegou a única parte onde eu realmente coloquei a mão no bolso, investi numa Mi Stick TV da Xiaomi. Estou esperando chegar, mas minha expectativa é ela rodar o NewPipe e ficar no meu quarto, onde antes estava a RokuTV.

Chegamos à parte mais complexa, o celular. Meu celular é um guerreiro Redmi 6 da Xiaomi, comprado em 2019 e segue firme e forte. Por incrível que pareça, não tive grandes dificuldades em desinstalar, já que o Android nos celulares Xiaomi já é customizado pela empresa, o MIUI, tendo inclusive a própria loja de aplicativos, a GetApps. Então o que eu vou dizer aqui eu não sei se vai se aplicar em todo celular Android. Desinstalei absolutamente TODOS os aplicativos da Google pressionando sobre o ícone e depois selecionando a opção do lado esquerdo. Consegui desinstalar até a PlayStore com facilidade, o que me deixou bem surpreso. Desloguei minha conta Google do celular, aí ele automaticamente desligou o Google Services. E no lugar dos apps, instalei os sugeridos na sessão anterior. Fiquei com 3 lojas de apps: GetApps, F-Droid e Aurora Store. Ainda está no meu horizonte usar uma custom ROM, provavelmente o LineageOS. Não estou satisfeito com o MIUI, principalmente pelo fato dele ter muita propaganda. Mas não posso deixar de ressaltar positivamente o fato de conseguir desinstalar os apps da Google, desligar os services, deslogar a conta e ainda percebo que o desempenho do aparelho melhorou absurdamente sem os serviços da big tech operando por baixo dos panos. Confesso que não sei como seria a experiência em outras marcas, depois vocês me dizem.

Fortalecimento do Fediverse e softwares livres

Além das substituições, quero contribuir, com o que tenho de ferramentas, para a melhoria desses softwares e plataformas livres. Algumas medidas concretas que já venho adotando ou pretendo adotar:

  • Criar pastas de compartilhamento com conteúdo de utilidade pública usando a nuvem da minha própria instância no Mastodon, a Ayom/Nextcloud;
  • Estou aos poucos migrando todos os vídeos que estavam no meu canal do YouTube para as plataformas Odysee e Peertube (instância Fediverse.tv) e a partir de agora vou apenas subir vídeos e criar conteúdos em plataformas livres;
  • Produzo um podcast, o Estação Música, que é livremente distribuído por RSS;
  • Quero colaborar no Open Street Maps, marcando diversos locais da minha cidade, Cosmópolis-SP;
  • Quero divulgar mais esse conteúdo, produzido no ambiente das plataformas livres, para pessoas leigas e não iniciadas nesse mundo. As pessoas podem se interessar pelo conteúdo em si, e passam a conhecer essas ferramentas.

Conclusão

Não me vejo em posição de superioridade moral a ninguém pelas minhas escolhas. Se alguém precisa utilizar serviços Google, pelo motivo que for, tem minha compreensão. Tenho raiva da Google, não dos usuários. Somos nós contra eles. Na posição de militante e de fuçador de tecnologia me encontro em condições de abrir mão de alguns pequenos confortos em nome da militância pelo software livre e principalmente pelo aprendizado.

Espero ter contribuído, de alguma maneira!

Obrigado pela leitura!!!

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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Mastodon

Dia 1° de maio, dia do trabalhador, de lutas, de reflexão. A despeito desse importante fato, as elites globais do atraso não se cansam de praticar cinismo e tentam operar um verdadeiro golpe publicitário bem nessa data histórica. Pra quem perdeu esse tragicômico e discarado episódio da história da internet brasileira, a Google estampou com todas as letras embaixo do seu buscador: “O PL das fake news pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”. O link cai em um artigo curto do blog da própria Google cheio de inconsistências e suposições abstratas, com um link para outro artigo mais longo e detalhado, do mesmo autor. Basicamente a Google sentiu o golpe e, no desespero, apelou por uma prática abusiva, já denunciada pelo Ministro da Justiça Flávio Dino.

Quem é da bolha tech, gosta do mundo opensource, linux, ou simplesmente se interessa pelos impactos da tecnologia na nossa vida já percebia há muito tempo o efeito prático nocivo das plataformas: desde uma aparente correlação entre Instagram e aumento da depressão e suicídio entre adolescentes, até mesmo à influência direta de conglomerados como o Facebook em decisões políticas importantes para o planeta, como o Brexit e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Com o passar do tempo tudo foi ficando mais cristalino... veio o Facebook Papers... até alguém um pouco mais desavisado percebeu o problema em documentários como “Dilema das redes”, que pode ser assistido no poderoso conglomerado Netflix. E foi ficando mais nítido, quando Elon Musk comprou o Twitter e começou a agir como o dono da bola mimado, tomando decisões completamente arbitrárias em sua rede, como por exemplo trazer de volta o ex-presidente Trump, que havia sido punido por violar as regras da plataforma.

Até então esse assunto era concentrado em nichos muito específicos. O próprio Twitter, no Brasil, é um nicho também, possui menos usuários ativos por aqui que o Pinterest, por exemplo. Mas alguns fatos vieram à tona e furaram a bolha: tivemos 4 anos de um governo fascista e negacionista disseminando fake news e sendo investigado por diversas CPIs, como a da COVID. Tivemos a invasão dos três poderes em Brasília pelos “patriotários”, numa tentativa de golpe de estado anti-democrática, reprovada por maior parte da opinião pública. E, mais recentemente, voltaram aos noticiários os casos de ataques em escolas, causando um verdadeiro pânico moral em praticamente toda a população. A extrema direita brasileira costuma ser muito boa em mobilizar esse tipo de pânico em cima das “nossas crianças”, mas parece que nesse assunto em específico eles possuem dois calcanhares de Aquiles: o fetiche pelo armamento e a dependência da máquina de fake news que patrocina facebook, instagram, google, twitter e cia.

Pela primeira vez em muitos anos o assunto de como as plataformas afetam diretamente a nossa vida chegou de verdade na maioria da população. Podemos questionar o sensacionalismo e o pânico moral decorrentes dos ataques na escola, mas é inegável que ele produziu um efeito na maioria das pessoas, que tem filhos, parentes ou filhos de amigos nas escolas. E também é a primeira vez que temos no Brasil um esforço institucional para colocar algumas regras nessa terra sem lei, que é o oligopólio da internet pós-zuckberg. Os pais começam a se preocupar com o que os filhos consomem nos chats do Discord enquanto jogam, com o que consomem na internet, no geral. E quando uma empresa gigante como a Google se coloca contra uma PL das Fake News, passa o recibo até para o cidadão comum.

Pelo que fiquei sabendo, esse assunto da Google e a PL chegou até o Jornal Nacional. A bolha tech foi furada, finalmente. Nunca estivemos tão próximos de uma legislação que vai começar a abrir uma pequena fresta na merda em que estamos afundados. Eu não me lembro, em nenhum outro momento, de ver uma ação desesperada como essa da Big Tech, aqui no Brasil.

É hora de falar com absolutamente TODO MUNDO sobre esse assunto! E não é fazer postizinho do instagram, promovendo o auto-engano de que fez a sua parte. É puxar assunto com cara aleatório na padaria, é falar com parente, com vizinho, com amigo do trabalho sobre o assunto. É fomentar o debate FORA DO AMBIENTE DAS BIG TECHS: na padaria, no boteco, em casa, no trabalho, na escola, na faculdade. É começar a sugerir outros aplicativos para a galera, de chegar com dados consistentes que mostrem para as pessoas todo o mal que a big tech opera sobre nós nas últimas décadas. É pegada estilo “vira-voto 2018” mesmo, precisa da mesma mobilização, ou até superior, já que estamos num momento tão ou até mais importante do que aquele.

Não sabemos se teremos outra oportunidade como essa, não vamos desperdiçar...

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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