O que aprendi em um ano sem redes sociais (comerciais)
A experiência de existir sem Instagram, Facebook, TikTok e Twitter
Faz muito tempo que gostaria de descrever essa vivência, mas achei que o intervalo de um ano seria o mais ideal e simbólico para materializar em palavras uma experiência que parece distante para muitas pessoas, talvez para a maioria. Importante ressaltar que não estou cagando regra, me colocando em superioridade moral ou coisa parecida, meu objetivo aqui é apenas descrever uma experiência, com seus prazeres e dores.
Saturação
O ano de 2022 foi difícil para mim. Por conta do isolamento social imposto pela pandemia de corona vírus, optei por deixar de morar em São Paulo, e voltar a residir, no interior do estado, onde passei a morar com meu irmão, na casa de herança de nossa mãe. As atividades presenciais estavam retornando aos poucos, mas eu não tinha o menor desejo de voltar a morar na capital, com seu custo de vida alto, financeiro e mental. A saída foi investir pesado no trabalho online. Tinha acabado de terminar o mestrado, o qual cursei inteiro sem bolsa, e não tinha pretensão naquele momento de já emendar num doutorado, precisava de um tempo para respirar e amadurecer as ideias. Vivia quebrando a cabeça de noite e de dia como ganharia dinheiro naquele contexto sendo músico e professor de música. Aos poucos, meus alunos iam abandonando as aulas online, e migrando de volta para cursos presenciais e a maioria dos grupos com quem eu trabalhava como músico já não me chamavam mais, por não estar mais na capital. Vivia basicamente do dinheiro de alguns poucos alunos com quem desenvolvi fortes laços afetivos, e que mantiveram as aulas online comigo, mesmo nesse contexto de volta às atividades presenciais. Mas era um dinheiro muito curto, fui me endividando cada vez mais.
Nessa altura do campeonato, eu era muito resistente à ideia de ter um Instagram. Comecei minha jornada nas redes sociais pelo Orkut, e sempre gostei e usei bastante redes sociais de texto, como o Facebook e Twitter. Redes sociais de imanges nunca me atraíram, passei direto pelo Snapchat, cheguei a criar uma conta para mim no Instagram, mas deletei porque simplesmente não a usava. Mas naquela situação profissional delicada, vivendo exclusivamente como profissional autônomo, acabei comprando um curso de produção de conteúdo, de um influenciador do campo político da esquerda. Sempre tive um pouco de preguiça dessa história de produção de conteúdo, mas a necessidade, e a oportunidade de aprender com alguém de viés político mais próximo ao meu fez com que eu acabasse me jogando na produção de conteúdo. Fiz conta no Instagram, no TikTok, dei uma repaginada no Facebook e no Twitter. Passei a produzir conteúdo praticamente diário, para divulgar meu trabalho como professor de música.
Os problemas nesse processo são vários. Um deles, é que notei um aumento na ansiedade. Eu consigo compreender porque influenciadores e youtubers relatam em algum momento problemas de depressão e ansiedade. Lidar diariamente com números e estatísticas de engajamento, pelo menos para mim, era um poço infinito de ansiedade, tenho certeza que se eu continuasse nesse caminho teria uma crise em algum momento. Pessoas lidam com isso de forma diferente, mas sei lá... minhas finanças dependiam desse plano ser bem sucedido, acho difícil não ter ansiedade em tal contexto, embora eu também sei que existem pessoas que lidam de maneira mais leve do que eu com a própria situação financeira. E, acreditem vocês nessa parte ou não, sou filho de santo iniciado em Obatalá, um orixá que representa a paz, a tranquilidade, o trabalho lento, de longo prazo. Toda essa ansiedade me fazia sentir mais distante do meu orixá de cabeça, não me sentia digno de representá-lo na terra, se não conseguisse acalmar meu coração e minha mente.
Outro problema é que nessa de procurar o que o público gostava, o que dava certo, o que gerava engajamento, eu começava a me perder de quem eu era. Olhar as estatísicas de retenção de atenção em um video de Youtube é uma experiência muito frustrante. O começo da produção de conteúdo é bem estimulante, principalmente para alguém com uma forte pulsão criativa, como é o meu caso. Mas com o tempo, a coisa não tem mais a ver com criação, com criatividade, e sim se manter na prateleira chamando a atenção das pessoas, concorrendo por essa atenção com Beyoncé, Bolsonaro e Luva de Pedreiro, loucura! Além disso, eu gostava tanto de usar Linux e aplicativos e softwares livres e de código aberto, estava passando tempo distante desse mundo que eu tanto amo, não pesquisava sobre o assunto como antes, tinha saudades até dos problemas que eu encontrei no Linux quando era um usuário muito novato e de como eu sempre conseguia resolvê-los com ajuda dos fóruns e da comunidade de usuários.
E, por último, mesmo com a minha dedicação na criação de conteúdo, não sentia que tinha um retorno financeiro à altura da minha dedicação e trabalho naquelas plataformas. Criei um plano de ensino de teoria musical por assinatura, e a adesão foi baixíssima. E a esmagadora maioria dos alunos se matriculou no curso depois de eu enviar divulgação em grupos privados (Whatsapp, Telegram e Matrix) e não pela propaganda no Instagram, TikTok e cia.
Quebra
Esse fluxo automático foi interrompido por alguns fatores. Um deles foi o fato de ter passado no doutorado. Inclusive o tempo que eu me dediquei a passar no processo seletivo do doutorado, elaborando projeto, lendo, era o único momento onde eu sentia que estava fazendo algo que eu gostava de verdade, algo para mim, que teria frutos no médio e longo prazo. Dessa vez eu tinha boas perspectivas de conseguir uma bolsa, um governo progressista venceu as eleições de 2022 e já nos primeiros dias anunciou aumento para os bolsistas. Além disso, eu tinha fé na minha comunidade espiritual, de que seria capaz de conseguir tudo que sonhava com o apoio dela.
Outra questão bem importante, ao contrário do estereótipo do militante de esquerda, eu gosto muito de ler livros sobre organização e produtividade. Já li vários: Bullet Journal (Ryder Carrol), O Poder do Hábito (Charles Duhigg), entre outros. Graças à indicação do ótimo podcast Tecnocracia (Guilherme Felitti), eu descobri o livro Deep Work de Cal Newport. Eu não gosto da maneira como traduziram o título desse livro para o português, para Trabalho focado, embora consiga compreender o apelo desse título no público brasileiro que consome esse tipo de literatura. Enfim, esse livro me ajudou muito a repensar várias coisas na minha vida, e me trouxe a ideia de que o trabalho profundo não só é mais produtivo, mas como uma vida vivida em profundidade é melhor. E o autor ensina como se livrar das distrações superficiais, que te tiram o tempo todo desse contato com uma dimensão mais profunda do trabalho e da vida.
Por último, mas não menos importante, eu tive um reencantamento pelo mundo do código aberto e do software livre. Encontrei um amigo em Belo Horizonte, quando fui assistir ao show do Milton Nascimento, e a empolgação dele com o mundo Linux e FOSS incendiaram novamente a minha paixão pela ideia de democracia digital.
Ventos da mudança
Com a aquisição do Twitter pelo Elon Musk acabei aderindo ao movimento coletivo de deletar a conta lá e migrar para outra plataforma. Tinha gente migrando para o Koo, BlueSky, entre outras plataformas. Mas a minha proximidade com a comunidade do software livre me fazia olhar com bons olhos para o Mastodon. Inclusive eu já tinha tentado a plataforma anteriormente, mas a falta de uma comunidade ativa em língua portuguesa na época me fizeram abandonar a plataforma. Porém, agora com essa grande diáspora do Twitter, pude conhecer uma galera brasileira e lusófona bem ativa e engajada no Mastodon. Essa experiência com o Mastodon me levou a conhecer o Fediverse e me encantar com ele. Isso tudo me levava a um dilema, se apaguei o Twitter, que era a rede social que eu mais gostava de usar, me via obrigado a ceifar também as redes que eu odiava, que era obrigado a manter só para divulgar meu trabalho autônomo, e mesmo assim sem sucesso. Sem muito planejamento, sem muita preparação ou aviso, simplesmente deletei Facebook, Instagram e TikTok, em janeiro de 2023, não me recordo precisamente o(s) dia(s).
Janeiro é um mês parado profissionalmente para mim. Alunos estão de férias, normalmente viajando. Tenho poucos trabalhos nessa época, não sou um músico que toca muito em Carnaval (músicos de percussão e sopros tocam mais nessa época, emprego para pianista e sanfoneiro não tem muito), portanto não dedico esse mês para o ensaio do mesmo. Então faz tempo que faço do meu janeiro um laboratório do que eu quero para o meu ano inteiro. Eu sabia que o ideal era esperar conseguir uma bolsa de doutorado primeiro, para depois sair das redes sociais comerciais, já que talvez precisasse ainda divulgar meu trabalho autônomo por lá. Mas, por outro lado, a experiência prática me mostrou que a divulgação em grupos privados era mais eficiente para mim que a criação de conteúdo. Além disso, não podia desperdiçar o meu mês laboratório de janeiro para fazer ajustes, se fizesse esse tipo de mudança drástica no decorrer do ano me sentiria alguém consertando o carro andando.
A perspectiva era boa, doutorado, voltaria a frequentar São Paulo ao menos uma vez por semana para assistir as aulas na faculdade. Dava para organizar algumas aulas presenciais em São Paulo, alguns trabalhos como músico, as coisas iam se ajeitando novamente e ainda havia a perspectiva da bolsa de doutorado, que acabou vindo! Fiquei, orgulhosamente, em primeiro lugar no processo seletivo interno do meu programa de pós graduação. Tenho certeza que o fato de eu ter trabalhado de maneira dedicada sem as distrações das redes sociais ajudaram a alcançar tal feito. Esse primeiro lugar foi muito importante para minha auto-estima, que andava abalada e por premiar como correto o caminho e a estratégia que empreguei, já que tive muitas incertezas e medos ao longo do processo.
Como fiquei em primeiro lugar no processo seletivo, passei a receber a bolsa rapidamente, ainda no primeiro semestre do doutorado. Já tinha planejado que, com a bolsa, daria um tempo na minha vida de trabalhador autônomo. Pararia com as aulas particulares, que me tomava tempo, concentração e energia mental, e faria como músico instrumentistas apenas trabalhos que faziam sentido para mim. Também pude me concentrar melhor na elaboração de projetos visando leis públicas de incentivo, e foi dessa forma que lancei meu primeiro livro. Além disso, o fato de eu não precisar vender nem convencer ninguém a nada trouxe uma leveza para a minha vida que eu não consigo nem descrever. A vida não poderia estar melhor. Mas voltemos às redes sociais...
Twitter x Mastodon
Como eu disse antes, gostava muito do Twitter. Era uma rede onde eu me mantinha razoavelmente informado, principalmente sobre a política. E era onde eu tinha uma esperança de conseguir alguma visibilidade ao longos dos anos. Passei três anos me dedicando a essa rede, postando nela esperando algum engajamento, para a maioria dos tweets ficar abandonada aos sons de grilos. Cheguei a “hitar” algumas vezes, mas isso nunca fez com que eu ganhasse sequer um único seguidor. Me sentia falando com ninguém ali, e só tinha interação quando comentava no tweet dos outros. Nesses três anos acumulei um pouco mais de 500 seguidores, ridículo em relação aos 3000 que eu tinha no Instagram, uma rede social que eu odiava e que tive por menos de um ano.
A primeira grande diferença que senti no Mastodon é a quantidade e qualidade das interações. Raramente fiquei aos sons de grilos lá, mesmo o post (lá eles se chamam toot) com a piada mais tiozão do pavê acabava ganhando pelo menos um mísero like. E a comunidade do Mastodon é muito menor que a do Twitter, então tenho aquela sensação boa de vida em comunidade, de que conheço ou pelo menos vi a cara de todo mundo ali em algum momento. Foi uma experiência parecida com a de mudar da capital para o interior.
Desde então, o Mastodon passou a ser minha rede social principal. Passei a olhar com carinho também para outras plataformas dentro do Fediverse. Subi alguns videos no PeerTube, mas não dá pra dizer que é uma plataforma que eu consumo atualmente. Fiz um Pixelfed, mas acabei abandonando igual ao meu primeiro Instagram, já que esse tipo de rede não tem apelo pra mim. Uso também o Funkwhale, mas parecido com o PeerTube, mais alimento de conteúdo do que consumo. E, no momento, estou bem animado com o Lemmy, tenho gostado e usado bastante. Foi outra rede que cresceu depois da diáspora do Reddit, numa história bem parecida com a do Twitter com Mastodon, e acabou ganhando uma comunidade brasileira bem ativa. E gosto bastante também do Writefreely, onde você está lendo este texto no exato momento.
Como eu disse antes, rede social de imagem nunca teve apelo comigo. Nem mesmo no meu auge da produção de conteúdo eu não consumia a timeline do Instagram e muito menos a do TikTok. Eu tinha até uma brincadeira de que eu era um traficante e não um usuário de drogas. Nem mesmo o TikTok com seu poderoso algoritmo me ganhou. Eu acho que em algum momento eu tive muita clareza de que essas redes não eram mais sociais e sim redes de entretenimento. E um entretenimento de gosto bem duvidoso... Sei lá, ao invés de ver um video tosco feito por um amigo, eu acho que eu prefiro ver um filme do Tarantino ou do Spike Lee (nada contra quem prefere o video tosco). Não julgo o escapismo de ninguém, eu também tenho o meu, mas procuro preenchê-lo com entretenimento pelo menos bem produzido. Enfim... gosto...
Outra coisa interessante que aprendi nesse processo é que o Instagram, dessas redes comerciais que eu citei é a única relevante de verdade para a maioria das pessoas. Quando digo que não tenho Twitter, ninguém liga, porque o brasileiro não tem Twitter. A última vez que vi uma notícia sobre isso dizia que até o Pinterest tem mais usuários ativos no Brasil que o Twitter. Ele ganha esse status de importância por conta do número de jornalistas e políticos que estão lá, dão à plataforma essa sensação de credibilidade, mas um país com grande índice de analfabetismo digital não dá muita bola para uma rede social baseada em textos.
TikTok, apesar de ser uma rede de muito sucesso, eu tenho impressão que ninguém questiona quando digo que não tenho. Apesar de ser uma rede com públicos de todas as idades, inclusive sucesso entre pessoas idosas, é inegável que ficou marcada na plataforma chinesa uma imagem de rede social dos jovens. Então quando alguém nascido em 1985 diz que não tem TikTok isso não causa muita surpresa nas pessoas.
Facebook é uma rede ainda muito relevante no Brasil, principalmente no Brasil profundo, conforme pudemos acompanhar no podcast Rádio Escafandro, na série O pastor. Porém, também é relativamente comum, mesmo entre pessoas ditas normais gente que cansou do chernobyl ali do Facebook, principalmente no pós-eleições e saiu da plataforma, ou abandonou o perfil, ou olha lá muito de vez em quando. Então dizer que não tem Facebook também não causa surpresa em ninguém.
Já o Instagram... Dizer que não tem Instagram é quase dizer que não tem RG. Tanto que atualmente nem digo mais para as pessoas que não tenho redes sociais comerciais, prefiro ir direto ao ponto e dizer que não tenho Instagram. As reações, basicamente, são:
A pessoa demonstra admiração e curiosidade, mas ao longo da conversa vai tentando me convencer a voltar a usar a plataforma. A pessoa gosta do meu ponto, mas me diz que não preciso ser tão radical, que dá pra fazer um uso mais saudável da rede, etc. Eu percebo que esse é o menor grupo;
A pessoa demonstra admiração, e meio que se justifica, diz que não gosta muito das redes, que se pudesse também deletaria, mas que precisa por motivo x ou y, normalmente trabalho, família e/ou amigos. Eu percebo que esse grupo é relativamente grande, rivaliza com o próximo;
A pessoa não faz muito rodeio, diz que é um erro, que todo mundo precisa ter o Instagram hoje em dia, que consegue bons resultados por ali, e aquele papo todo que vocês já conhecem. Quando isso acontece eu fico até apreensivo de que essa pessoa vai se tornar o Agente Smith e começar a me perseguir atirando pela Matrix. Esse grupo é tão grande quanto o anterior.
O que eu costumo responder para as pessoas é que pesando os prós e contras, aquilo que as redes nos proporcionam e aquilo que elas tiram de nós, eu não acho que compense estar ali.
Conclusão
Hoje em dia tenho plena certeza de que as redes sociais comerciais, que eu tenho preferido chamar de redes de entretenimento servem justamente para isso, nos entreter. O quanto deixamos de olhar para nós mesmos, o quanto deixamos de sentir tédio, para ficarmos nos alimentando de dopamina como zumbis viciados. Outro livro bem importante nesse processo foi Nação dopamina (Anna Lembke), recomendo que vocês leiam. Essa exposição constante a esse entretenimento fácil tem prejudicado nossa capacidade de atenção, concentração, disciplina, além da capacidade de enfrentar situações desagradáveis e que nos contrariam. É o Narciso achando feio o que não é espelho... Quando vimos algo que não gostamos, silenciamos, bloqueamos... isso antigamente, já que o algoritmo nem tem deixado mais a gente em contato com o contraditório, a não ser quando a gente precise engajar algum conteúdo pelo ódio, ou seja, somos marionetes nas mãos da Big Tech, políticos de esquerda e direita são marionetes também nas mãos deles.
A minha vida sem redes da Big Tech é mais saudável. Tenho rotina, tenho bons hábitos, me alimento melhor, sou mais disciplinado, menos ansioso, lido relativamente bem com o tédio e com processos mais lentos e demorados. Até comecei agora a fazer academia. Em geral, consigo me propor ao que planejo, afinal todo o tempo livre que essas redes consumiriam eu acabo utilizando para fazer coisas saudáveis, sejam produtivas (como marcar uma reunião, escrever um relatório, revisar um artigo, etc) ou coisas para o meu bem estar, como ler um livro, ver um filme, passear com cachorro. O fato de não ter as redes, meio que me obriga também a fortalecer o contato com pessoas reais. Faço parte de dois grupos da minha cidade, um religioso e um de teatro. Acabei me engajando nesses grupos e as pessoas que fazem parte deles atualmente são meus grandes amigos, são irmãos para mim.
Eu tenho a impressão de que eu só voltaria a ter as redes de entretenimento se fosse uma necessidade muito específica. Por exemplo, reativei uma conta no Instagram do meu podcast Estação Música, que uso quando preciso mandar uma mensagem para alguém que eu não tenho o telefone. Uso só pelo computador e não tenho o Instagram instalado no meu celular. Achei que usaria mais, mas usei apenas uma vez, quando queria comprar um tambor específico com alguém que só vende por lá. Mas voltar a criar ou consumir conteúdo, eu acho muito difícil... Não vou dizer impossível, nunca diga nunca, mas não vejo qualquer possibilidade no horizonte atual.
Ainda quero escrever um texto sobre divulgação artística e musical, muito provavelmente no Zumbido de Bamba, blogue no qual sou colaborador. Se você precisa usar as redes sociais para divulgar seu trabalho eu não te julgo, já que eu não tenho costume de julgar a vítima. Nosso inimigo é a Big Tech, é a Google, a Meta, eles são nossos colonizadores e capturaram coisas preciosas como a nossa atenção, o nosso tempo livre e nos deram o Instagram, ou seja, espelhinhos em troca do nosso ouro e do nosso pau-brasil.
Eu também estou num momento profissional muito específico, já construi minha rede de contatos, e através dela sempre tenho trabalhos. Além disso, a bolsa de doutorado segura minhas finanças, conforme expliquei lá atrás. Eu também acabei percebendo que a divulgação é um trabalho e deve ser feito por profissionais competentes, especializados e remunerados. No meu atual estágio eu tenho preferido aumentar a minha rede de contato com jornalistas que vão repercutir o meu trabalho do que investir esse tempo em redes sociais. Quando se digita “Esmeraldino Salles” em qualquer buscador, pelo menos atualmente, a primeira página estará repleta de trabalhos meus, e não consegui isso através de redes sociais, e sim investindo tempo na minha própria pesquisa de mestrado, postando em blogues, escrevendo verbetes para a wikipedia e, por último mas não menos importante, dando entrevistas para jornalistas. E, para a minha surpresa, a maioria dos jornalistas adora quando levamos pauta para eles.
Sei que meu caso é específico e muito provavelmente a minha experiência não se encaixa na sua vida. Mas encare este texto como um convite. Se você também não tem redes sociais comerciais este texto pode servir como identificação e reforço de suas convicções pessoais, o que é ótimo. Mas se você possui as redes sociais e é ativo nelas, eu te convido a refletir um pouco sobre essa relação. Quanto tempo passa nelas? Consegue ficar quanto tempo sem olhá-las? Consegue ficar entediado ou passar por uma situação desconfortável sem dar uma olhada nelas? Ainda consegue manter uma leitura de mais fôlego? E ver um filme mais longo sem pegar no celular ou dar muitos intervalos? Consegue sequer assistir um jogo de futebol ou do seu esporte favorito sem o celular na mão? Considera que sua concentração continua igual a antes dessas redes? E sua disciplina e capacidade de realizar as coisas, como está? A partir dessa reflexão, faça aquilo que você julgar melhor para você e para as pessoas ao seu redor.
Além do nosso tempo, nossos dados, nossa concentração e nossa saúde mental, as redes sugam nossa pulsão criativa. Imagina o que estaríamos produzindo sem ela, livros, filmes, fotografias, novas invenções, ideias, conceitos. Se a gente não tivesse essa sensação de que estamos participando da política através dela talvez nos engajaríamos mais em movimentos, partidos e projetos sociais.
Não estar nas redes de entretenimento é um pequeno gesto de rebeldia e desobediência civil, dentro desse feudo que se tornou a internet plataformizada. Estar fora e mostrando para as pessoas que dá para viver sem elas, para mim é um compromisso ético e civilizatório.
Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!
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