Notas costuradas

Imagem do centro comercial de Utrecht. Fotografia de @jeroenheijmans@mastodon.social
Publicações avulsas de outros lugares, pontes (“links”) e algumas citações que coletei nos últimos dias. A partir de agora, preferirei o termo “lampejo” em lugar de “insight”.
O analógico enquanto vanguarda
Engraçado que instrumentos mecânicos como máquina de escrever e bicicleta eram tidos como meios de atraso ou indícios de pobreza. Agora que se vê os males do carro e da digitalização compulsória da vida, aqueles mesmos instrumentos são vistos como emancipatórios e até revolucionários.
Uma noite no centro de Nova York
Meu pesadelo é eu protagonizar um remake não oficial de “After Hours” (1985), ou seja, entrar em uma espiral secular de azar e más decisões madrugada adentro no centro da cidade em uma quarta-feira qualquer.
No filme de Scorsese, acompanhamos a jornada de desconstrução de Paul Hackett, um “iupe” clássico do natimorto sonho americano, com sua vidinha de profissional liberal solteiro com T.T.T. (teto-televisão-travesseiro).
Sua viagem inicia quando, ansioso por ter uma aventurinha, aceita ir ao centro de Nova York por convite de uma desconhecida que conheceu em um café na mesma noite e que lhe fornecera pesos de papel, feitos por sua rumeite artista. Eram 23h quando Paul tomava o táxi para o “loft” da dita-cuja.
Essa semana lhe assisti pela terceira ou quarta vez, a primeira quando ainda era ~bebê, em uma sessão pós-noturna dessas do Corujão da Globo, logo após ter acordado na cama dos meus pais. Sempre que assisto ao “Após Horas” gargalho aprendendo a rir com o azar e a ver uma certa graça nas coincidências.

Cartum de McPherson.
A casa como espaço do antidigital
Li uma matéria sobre as preferências de compradores por “casas burras”, onde haja espaços desconectados. Um cantinho da leitura, uma varanda de detox digital, espaço de meditação etc.
Bateu-me aqui um lampejo e eu queria mesmo era uma casa 100% analógica, onde o digital de fato não entrasse. Não sei como faria isso, mas é um exercício a se fazer. Só posso associar o digital ao trabalho. E a casa para mim não deveria ser associada a outro trabalho que não fosse o doméstico... De certa forma, estar em linha dentro de casa é cultivar uma jornada, não só dupla, mas síncrona.
Sobre Lô
Na última segunda-feira, voltando do trabalho ao fim do dia, eu ia pôr música para tocar nos fones. Mas, como não estava moodado, acabei decidindo ouvir rádio.
Na rádio Band comentaram por cima que o Lô Borges, do Clube da Esquina, morrera mais cedo. Sempre carrego o seu “álbum do tênis” no telefone, para ouvir quando tenho um tempo livre.
Muito doido que logo o Lô Borges, que tinha um aspecto mais jovem, foi o primeiro do Clube da Esquina a falecer... É cada vez mais triste ver essa gente grande morrer aos poucos e não ter quem ficar no lugar.
Passamos por um estado insolúvel daquilo que o @mathek@tilde.zone chama de “orfandade cultural”.
Aportuguesamento
No meu íntimo chamo Air Frier de “frita-a-ar”.

Tuíte do @CSMFHT. “Um novo navio de Teseu acabou de chegar, mas agora ele tem pensamento consciente”. Na imagem: “Thomas não gostou do seu tempo na Oficina. 'É bom sentir-se consertado novamente,' disse ele depois, 'mas eles tiraram tantas das minhas peças velhas e colocaram peças novas, que eu não tenho certeza se sou realmente eu ou outro motor.”
De volta ao Mastodon
Por motivos de instabilidade nos servidores, no fim do mês passado migrei da minha antiga comunidade fediversal, harpia.red, para a mastodon.social.
O desenvolvimento do Mastodon tem que urgentemente colocar respostas em contexto, como era habitual no antigo Twitter (não sei como está hoje), onde, se se via um tuíte-resposta, acima vinha o tuíte respondido.
Isso não acontece no Masto. É tudo ocultado. Certa vez respondi a um tute que parecia responder a uma publi minha de um assunto X. Escrevi 500 caracteres bem opinioso sobre assunto X. Quando publico, vejo na verdade que a publi falava de assunto B. Por quê? Porque eu não tinha visto o tute respondido.
Não é falta de atenção, caro leitor. Quer dizer, também. Mas é sobretudo falta de um bom desenho de interface. Esse é o maior motivo pelo qual gente como eu não dura muito tempo nessa plataforma. Além de confusa, a interface não fornece mais de uma experiência que não a linear, de fluxo contínuo “timeline”. Os desenvolvedores do Mastodon têm a faca e o queijo na mão para se tornarem a plataforma mais respeitada do Fediverso.
Cadê os lunáticos quando a gente precisa deles?
Bem que um panicozinho moral em torno da “inteligência artificial” cairia bem agora, hein?
Linkroll
A Wall Street Journal fez um vídeo explicativo sobre como os fones com cancelamento de ruído funcionam. Dada a complexidade do processo, imagino o quanto isso gaste a bateria do equipamento...
How Noise-Canceling Headphones Create Silence in Microseconds (The Wall Street Journal ― Youtube) [EN].
O IBGE fez um sítio web bem legal para divulgar os resultados do Censo de 2022 sobre os nomes utilizados no Brasil. É possível pesquisar por nomes e sobrenomes. A partir de busca por palavras, aparecem resultados como número de pessoas com o nome, idade média de pessoas que têm esse registro, gráfico longitudinal de adoção do nome e signo do horóscopo (?) e o signo chinês (?) mais comuns de pessoas que possuem o nome buscado. Raros são esses sítios que o governo faz que são divertidos ao mesmo tempo que fazem um bom serviço público...
Nomes do Brasil (Censo 2022, IBGE) [PTBR].
A revista Nature perguntou a pesquisadores que usam inteligência artificial sobre como a propensão da ferramenta a agradar as pessoas afeta o seu trabalho ― e o que eles estão fazendo para mitigá-la.
AI chatbots are sycophants — researchers say it’s harming science (Nature) [EN]

Fotografia de @sarablap@neopaquita.es
Citações
E tem coisa mais low profile que só ter conta no fediverso? É mais low profile que não ter rede social nenhuma
Não usem drogas. Já repararam que todo o ex-usuário de drogas se converte em um crente? É isso que vocês querem para a vida de vocês? Serem crentes!? As drogas são a porta de entrada para a Igreja Universal do Reino de Deus
A amizade é o sal da vida.
― Jorge Amado.
Batendo duas mãos uma na outra temos um som. Qual é o som de uma única mão?
― Koan, um exercício mental budista.
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