Controlando o duto por onde passa a informação

Como me mantenho razoavelmente informado numa perspectiva (pelo menos tentando ser) slow web

Desde que saí do falecido Twitter e priorizei o Mastodon como minha rede social principal, me dei conta de que tinha pego nos últimos anos o péssimo hábito de me informar na rede (que era) do passarinho azul. Como já possuía familiaridade com o RSS principalmente por conta do agregador que uso de podcasts, o AntennaPod, acabei por concluir que seria mais interessante seguir notícias por esse método.

Acabei testando diversos programas, clientes, e principalmente: no começo (na empolgação) enchi a minha linha do tempo de assinaturas RSS. Assinei também várias newletter, e não consegui ler praticamente nenhuma. E a avalanche de postagens chegando por RSS me fazia mais ansioso, não estava ajudando muito. Fui fazendo ajustes, diminuindo, vendo o que era realmente fundamental eu estar informado.

Foi legal acontecer essa avalanche de postagens, porque acabei percebendo que a minha fila praticamente infinita de podcasts também estava me deixando cansado e ansioso. Todas essas coisas acabavam por parecer tarefas incompletas para mim, coisas a fazer que não eu não dava conta. E se você somar a isso as mensagens do whatsapp, emails, um inferno de ansiedade e que acaba gerando também cansaço mental.

Percebi que precisava controlar o tamanho da largura do duto onde passava a informação. Esse é um processo contínuo, sempre estou fazendo ajustes, portanto aí vai uma fotografia de como ele está neste momento.

Notícias, blogs, textos

No computador eu acabo utilizando uma extensão do Firefox chamada Feedbro. Acho mais prático consumir as notícias assim porque o navegador já está todo configurado com extensões que uso para ler essas notícias (leitura sem distração, adblock, removedor de paywall, tradutor, entre outras ferramentas). Ele também tem uma função bem interessante que é procurar feeds RSS em qualquer site que você abrir, bem prático!

Eu sigo no Feedbro feeds de quatro associações de pesquisadores que eu sou associado, para saber de eventos, congressos, chamadas para artigos, etc. O fluxo de postagens desse grupo é bem esporádico. Também assino duas feeds para ter informações sobre a minha cidade: a prefeitura e um portal de notícias. O fluxo aqui é um pouco mais intenso, mas não muito difícil de acompanhar, o site da prefeitura tem postagens meio esporádicas, o de notícias, de duas a quatro postagens por dia. Sigo também as feeds de dois portais que eu gosto e admiro bastante: Agência Pública e Manual do Usuário. Eu gosto e admiro o trabalho de muita gente, contudo o que foi decisivo para inclui-los na minha rotina no Feedbro foi o fluxo de notícias, costumam postar mais ou menos umas 3 por dia, coisa que dá pra acompanhar sem ficar maluco. E, por fim, acompanho o Cultura e Mercado para ficar antenado em aberturas de editais e leis de incentivo.

No iPad eu utilizo o NetNewsWire, o logo dele infelizmente é meio tosco, fica um verdadeiro patinho feio perto dos logos bonitos do IOS, mas o aplicativo é bem funcional, além de ser livre e código aberto. Gosto de colocar no iPad os feeds RSS de blogs, principalmente blog de amigos. Eu considero a leitura de textos longos mais agradável no iPad do que no computador, por isso faço dessa maneira.

E no meu celular, Android, utilizo o Feeder, instalado via F-Droid. Assinei 4 feeds de portais de notícias bem conhecidos (Carta Capital, Jornal da USP, Jornal GGN e Nexo Jornal). Como aqui o fluxo de notícias é bem alto, configurei o app para me mostrar no máximo 50 postagens e coloquei a visualização em formato supercompacto. Eu não costumo ler a maioria dessas notícias do celular, apenas fico ali rolando pela linha do tempo vendo os títulos para ficar mais ou menos por dentro do que está acontecendo. A ideia é ter essa feed mais ágil para consultar quando estou na rua, que já se mostrou muito útil para me informar sobre greves, paralisações e outros eventos que afetam o transporte público. Diferente dos outros dispositivos, aqui eu não tenho a preocupação de ler tudo.

Outra coisa importante é que se tem alguma postagem em qualquer um dos três dispositivos que eu tenho interesse mas quero ler com calma depois, salvo no Omnivore. O aplicativo funciona bem e roda nos três dispositivos.

As newsletter para mim simplesmente não funcionaram, pode ser que funcione para muita gente, mas para mim não deu certo. Eu acabava lendo no começo, mas com o passar do tempo comecei a ter relação com esses e-mails praticamente de spam.

Podcasts, rádios, música

Sou entusiasta de podcasts, consumo a mídia desde 2018, tenho meu podcast próprio, e também colaboro em outros projetos de amigos. Sou apaixonado por essa mídia, pela distribuição livre e também pela praticidade de ouvir no ônibus, no almoço, enquanto lava louça, sem a obrigação de ficar com os olhos ali grudados numa tela. Já tive o meu momento de seguir muitos podcasts e querer maratonar todos eles, o que com o tempo foi me deixando muito ansioso e cansado mentalmente.

Um belo dia perdi todo meu histórico no aplicativo que eu uso, o AntennaPod, e acabei aproveitando a tragédia para fazer uma mudança radical na forma como eu consumia a mídia. Elegi apenas alguns podcasts, que estão ainda em atividade, e, ao invés de ficar preocupado em maratonar, configurei o download automático de episódios novos. Dessa forma eu não fico preocupado em maratonar nada, apenas em dar conta da linha do tempo. Outra coisa que me ajudou foi esconder o contador de episódios não ouvidos, uma coisa que me deixava ansioso e soava como pendência.

Atualmente sigo doze podcasts, dentre eles: – dois são diários (segunda a sexta), mas são curtos, costumam durar entre 15 e 30 minutos; – dois possuem duas edições semanais, esses são mais longos, duram cerca de 60 minutos; – um deles é semanal e dura cerca de 30 minutos; – um deles (teoricamente) é quinzenal e dura cerca de 60 minutos; – um deles possui uma periodicidade meio caótica, mas costuma publicar uns dois ou três episódios por semana, com durações variadas; – os cinco demais são aperiódicos e vários deles são publicados por temporada, só têm episódios novos quando tem temporada nova. Costumam ser episódios mais longos de cerca de 60 minutos.

Dessa forma eu consigo facilmente terminar a fila de podcasts do dia nas refeições ou andando de ônibus. Quando acaba a fila, nada de maratonar podcast, eu costumo colocar em alguma rádio ou até mesmo vou fazer outra coisa, fico em silêncio, ouço uma música. Inclusive recomendo a ótima Rádio Aconchego, que eu ouço pelo bom e velho VLC no celular. Também gosto da Rádio USP, Rádio Unicamp e Rádio Yande.

E, por último, para ouvir música tenho gostado bastante do RiMusic para o Android, que pode ser instalado pela F-Droid. Ele é um cliente/front-end do Youtube Music, mas com aquela cara de aplicativos de streaming como Spotify, inclusive dando a opção de salvar as músicas para ouvir offline.

Também possuo ainda esse hábito jurássico de baixar alguns mp3, no celular e principalmente no computador, e costumo ouvi-los no VLC mesmo. Já fui entusiasta no computador do aplicativo Nuclear, mas ultimamente tenho achado que ele deixa a desejar, tem muito álbum que acaba vindo com música trocada, então tenho preferido baixar mesmo. Ou então ouvir um disco de vinil, já que possuo toca discos.

Videos, filmes, séries

Consumo o conteúdo do Youtube apenas em front-ends e clientes. No computador e iPad utilizo o Individious (pelo navegador) e no celular e tv stick o NewPipe. Gosto de consumir dessa forma porque esses clientes tiram as propagandas e também possuem mais opções de customização. Eu gosto de customizar esses aplicativos para valorizar a linha do tempo, já que a ideia é apenas seguir conteúdo de uns poucos canais e playlists. Nada de ficar vendo conteúdo sugerido, clicando em vídeos relacionados, ou olhar o que está “bombando”, de jeito nenhum. Consumo igual ao podcast, quando acaba a fila vou ver outra coisa... um anime ou até ler um livro. Atualmente sigo o conteúdo de apenas sete canais e quatro playlists.

Eu parei de consumir séries, porque elas acabavam tomando muito tempo e essa ideia de maratoná-las me deixava tão ansioso quanto ficava por maratonar os podcasts e sempre com a sensação de pendência e cansaço mental. Resolvi consumir então mais filmes e animes. Filmes duram ali duas, três horas... e pronto, acabou... começo, meio e fim... nada de um novo capítulo, no máximo uma continuação da franquia, excelente!!! E animes podem ser gigantescos (como o meu preferido, One Piece) mas os episódios costumam durar só uns 20 minutos, o que deixa leve e gostoso para acompanhar lentamente ali no dia-a-dia, vendo de um a quatro episódios seguidos, dependendo do tempo disponível.

Outra coisa importante é que eu evito ficar assistindo muito vídeo no celular, computador e iPad. Prefiro assistir na televisão mesmo, possuo uma tv stick e consegui instalar o aplicativo do NewPipe. Gosto de fazer isso principalmente quando já terminei as minhas tarefas do dia, eu gosto de fazer essa separação do computador como ambiente de trabalho e a televisão como fonte de lazer e entretenimento. Filmes eu prefiro assistir no final de semana, nos dias úteis eu vejo mais o conteúdo do Youtube e alguns animes.

Mensagens, emails, redes sociais

Gosto de usar aplicativos agregadores de mensagens, como o Ferdium para os mensageiros e o Thunderbird para emails. É uma forma de otimizar a tarefa de ver as mensagens e respondê-las, gosto de pegar uma hora todo dia apenas para isso. Na maioria das vezes essa uma hora é suficiente para ler e responder tudo. Faço esse trabalho no computador e depois evito ficar trocando muita mensagem no celular, dou umas olhadas de vez em quando, só para checar possíveis urgências e ir administrando para não deixar muita mensagem acumulada para a prática do dia seguinte no computador.

Gosto de manter a prática de arquivar mensagens e e-mails lidos, isso deixa a caixa de entrada vazia e me dá uma sensação excelente. Inclusive eu fico desesperado só de ver a caixa de email de outras pessoas, tenho vontade de morrer com a quantidade de emails não lidos, ignorados. Spams, propagandas, emails de notificação, costumo me descadastrar de todas as listas. É uma coisa bem rápida de se fazer e que evita que sua caixa se encha com esses emails. Emails e mensagens que vão demandar um trabalho um pouco maior eu só arquivo quando termino a tarefa. Ver o email ou mensagem pendente ali na caixa de entrada também é uma forma de não esquecer de cumprir a tarefa em questão.

Tenho várias contas de email, cada uma com uma função. Um mais público ou profissional, um universitário, um para logins e um só para situações que envolvam pagamentos. Parece exagero, mas essa segmentação me ajuda muito a não acumular muitas mensagens num e-mail só. E acaba que, a depender da função, não preciso olhar todos esses e-mails todo dia. O e-mail de logins, por exemplo, olho uma vez por semana, o de pagamentos só quando faço ou recebo alguma transação.

Os mensageiros uso três basicamente: Whatsapp (não tem o que fazer), Telegram e Element/Matrix. E o mais importante: desabilito as notificações de todos esses aplicativos e emails, a saúde mental agradece. Tendo uma hora todo dia dedicada para isso, não há a menor necessidade de notificação. Basta abrir o Ferdium e o Thunderbird e começar o trabalho.

Redes sociais eu tenho utilizado apenas o Mastodon e o Lemmy. No computador e iPad uso no navegador mesmo (não gostei de nenhum dos clientes para iOS). Já no celular uso o Tusky como cliente do Mastodon, gosto da pegada dele bem minimalista, customizável e com botões para clicar. Para o Lemmy utilizo o Jerboa, praticamente pelo mesmo motivo: simples, funcional e customizável. E nada de ficar vendo muita notícia nessas redes, inclusive evito perfis e comunidades que postam muita notícia. A ideia aqui é a interação social e a troca de ideias.

Conclusão

Essa é a maneira como eu controlo a metafórica largura o duto de informação, para ter um fluxo saudável e evitar ansiedade, sensação de pendência e cansaço mental. Olhando o texto parece até um paradoxo, um verdadeiro textão propondo uma relação mais minimalista com a informação. Mas tenho certeza de que se você colocar no papel toda informação que consome e por onde ela chega é provável que vá se assustar, inclusive se eu descrevesse minhas fontes de informação antes de sistematizar esse filtro mais rigoroso, acho que este texto seria um livro e não um post de um blog (rs).

Lógico que esse é meu uso pessoal, e cada pessoa possui demandas bem diferentes. Este texto não tem pretensão de ser um guia, um manual, apenas o registro, um relato de como eu faço. Levei muito tempo para organizar essa rotina em lidar com a informação e continuo fazendo ajustes, então achei que uma ou outra coisa pode servir de ideias para outras pessoas. Fiquem à vontade para testar, adaptar ou até ignorar a maneira como faço.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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