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from Ideias de Chirico

Caricatura de um homem calvo, de olhar severo com o nariz pretuberante e uma parte do rosto apagado

Imagem: caricatura de Paulo Mendes Campos.

Uma lista de coisas deleitáveis, escrita durante uma leitura de lista de coisas deleitáveis, uma crônica de 1962 de Paulo Mendes Campos:

Sombra de árvore em parede ao fim do dia; escrever em máquina de escrever; escrever em teclado mecânico; tirar os sapatos ao fim do dia e tocar os pés no assoalho frio; acertar nota difícil em violino; ouvir sotaque de estrangeiro aprendendo português; acordar cedo sem alarme; comprar queijo coalho barato; ouvir jazz em um bom fone de ouvido; ver álbum de fotos de família de gente desconhecida; a palavra eavesdrop; a voz de Ezra Pound quando estava velho; sol nascente; sol poente; criança pequena ouvindo atentamente alguém falar; cúmbia; ver alguém dançar cúmbia; espanhol argentino; inglês britânico, sobretudo o Cockney; português timorense; francês africano, sobretudo o beninense; perceber a simplicidade de uma coisa aparentemente complexa, como por exemplo, conseguir meditar pensando em nuvens e ondas do mar; beijar mulher engraçada depois de ela fazer rir; ouvir alguma história sobre Oswald de Andrade; ouvir alguma história sobre Erik Satie; visitar um completo desconhecido por convite de um amigo e comer e beber de graça; fita cassete; começar a aprender uma língua nova; vaia cearense; acertar uma expressão em francês depois de muitas tentativas; fazer becape de arquivos; olhar horas “redondas” em relógio mecânico de pulso; falar em espanhol com nativos; a primeira hora de uma paixão; usar chapéu grande debaixo de sol forte; conhecer uma nova palavra que passa a nomear algo que já conhecíamos ― como por exemplo, “serendipidade”; mulheres de cabelo joãozinho; receber elogio de crianças; a série de colagens “Jazz” de Henri Matisse; beijar depois de beber cerveja gelada; ouvir Décio Pignatari falando; ver como gente detestável ficou feia depois dos 20 anos; Johann Sebastian Bach; texto com parágrafos curtos; a feiura de recém-nascidos; qualquer coisa sobre o Japão; reconhecer figuras em caracteres chineses; dicionários que tem transcrição fonética das palavras; ouvir da rua o toque de pedido de viagem Uber; ler João Cabral de Melo Neto e imaginar cenas de construção; ouvir João Cabral de Melo Neto cacoetar com “Compreende?”; filmes tão bons que continuam na nossa cabeça, por meses; experimentar bicicleta alheia; ler jornal de papel em um domingo tranquilo; céuzinho azulzinho ― sobretudo no mês de agosto, às 14h ―; calças de alfaiataria; calças que têm bolsos bem largos e fundos; ser surpreendido com massagem nas costas, enquanto se está no computador; tocar alfaia em grupo; mijar de madrugada no escuro, sentado; lambretas; quando uma criança cai e, em vez de chorar, ela começa a rir; som de aviso do vigia noturno de motocicleta; a atuação de Kôji Yakusho em “Dias Perfeitos”; dia demorado em casa; abajur; luz de abajur; telefones pequenos; o primeiro disco de Arthur Verocai; gatos gordinhos; televisão de tubo; quando acham que você é mais jovem do que de fato é; usar acento grave indicador de crase da forma correta; o modo como os cubanos levantam os ombros enquanto argumentam sobre um assunto delicado; andar de skate depois de anos sem ter subido em um; perceber a comunicação não verbal dos músicos em serviço; dispositivos com tela “de papel”; lembrar que é sexta-feira, e não quinta-feira; lembrar que é sábado, e não domingo; automóveis coloridos e miudinhos; notar que os músculos estão crescendo; dormir fácil; jogar xadrez com um colega de trabalho no intervalo; banho de cachoeira da Serra da Ibiapaba; banho de rio do sítio Ingazeiras; o primeiro banho do dia; a cidade de Fortaleza durante a hora dourada; Serra da Ibiapaba debaixo de neblina; ler debaixo de sombra de árvore; acordar cedo descansado e lépido; conseguir sentar em modo seiza; dicionários de bolso da Collins Gem; fazer listas.

#cotidiano


 
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from daltux

Desenho cartunístico de um pinguim azul que segura um escovão e uma toalha, como se acabasse de tomar banho.GNU Linux-libre é, atualmente, o núcleo oficial do sistema operacional GNU. É quase o mesmo que Linux, o grande kernel que costuma ser usado não apenas com o GNU como com diversos outros. Contudo, Linux-libre é o resultado de um processo de detecção e limpeza de partes privativas a cada lançamento do Linux, visando garantir, diferentemente deste, que seja 100% software livre.

Leia mais sobre esse projeto tão fundamental para a liberdade de software em sua página oficial (em inglês) ou em artigo da Wikipédia.

Freesh

O projeto GNU Linux-libre, mantido por FSFLA com apoio da FSF, possui um repositório chamado Freesh, compatível com apt. Ele contém pacotes em formato deb do kernel prontos para instalação em PureOS, Trisquel ou tantas outras distribuições de GNU derivadas de Debian, mesmo aquelas que normalmente são acompanhadas do Linux comum — o famoso kernel que não é considerado software livre por conter módulos com conteúdo binário desacompanhado de código-fonte ou ofuscado e que, portanto, priva a comunidade de uma ou mais das suas liberdades essenciais.

Similarmente, há também um repositório compatível com dnf chamado RPM Freedom.

O repositório Freesh, ao mesmo tempo em que possibilita libertar uma máquina do software privativo trazido pelo Linux comum, ainda pode causar o efeito colateral de deixá-la mais renovada, pois apresenta os lançamentos mais recentes do kernel, que poderiam demorar muito a chegar a ela. Após defini-lo em arquivo no diretório /etc/apt/sources.list.d, basta atualizar os dados dos repositórios e instalar o metapacote linux-libre para ter a últimíssima versão do kernel ou, se desejar algo testado por mais tempo, linux-libre-lts.

Espelhos

Os repositórios raiz do projeto GNU Linux-libre são mantidos pela FSFLA em estrutura cedida pela FSF, em Boston, com alguns espelhos voluntariamente mantidos pelo mundo. Considerando a data de escrita deste texto, há poucos dias, eram três, em Austrália, Equador e Turquia. Assim, surgiu a ideia de criar um espelho do Freesh no servidor de daltux.net como forma de contribuir com o projeto. Ele já foi adicionado à lista de espelhos lida pelo gerenciador de pacotes a cada atualização, se tiverem sido seguidas as instruções de instalação padrão da página do Freesh. Nesse caso, não é preciso fazer mais nada para aproveitá-lo. Também é possível definir diretamente https://daltux.net/freesh/ como origem, se desejar recorrer apenas a esse espelho — algo menos recomendável.

O novo espelho está situado na Alemanha. Permanece importante a criação de mais espelhos, em especial no Brasil, como em outros locais. Quem tiver alguma infraestrutura e interesse de realizar isso, que não é nada complicado, pode entrar em contato se precisar de mais detalhes. Basicamente, será a execução periódica de Shell script para atualizar com rsync um diretório a ser servido por HTTP(s).

Exemplo

Eis um exemplo de execução de atualização+limpeza de pacotes que demonstra a utilização de mais de um espelho automaticamente pelo apt ao baixar o linux-libre versão 6.17.2:

$ sudo sh -c 'apt update && apt upgrade --verbose-versions && apt autopurge && apt clean && echo && df -h / && echo && uptime'

[...]
Get:6 http://linux-libre.fsfla.org/pub/linux-libre/freesh/mirrors.txt Mirrorlist [171 B]
[...]
1 package can be upgraded. Run 'apt list --upgradable' to see it.
[...]
Upgrading:
   linux-libre (6.17.1 => 6.17.2)

Installing dependencies:
   linux-image-6.17.2-gnu (6.17.2-gnu-1.0)

Summary:
  Upgrading: 1, Installing: 1, Removing: 0, Not Upgrading: 0
  Download size: 103 MB
  Space needed: 576 MB / [...] available
  └─ in /boot:  84.5 MB / [...] available

Continue? [Y/n]
Get:1 http://linux-libre.fsfla.org/pub/linux-libre/freesh/mirrors.txt Mirrorlist [171 B]
Get:3 https://daltux.net/freesh freesh/main amd64 linux-libre amd64 6.17.2 [780 B]
Get:2 https://mirror.cedia.org.ec/linux-libre/freesh freesh/main amd64 linux-image-6.17.2-gnu amd64 6.17.2-gnu-1.0 [103 MB]
Fetched 103 MB in 20s (5154 kB/s)
[...]
Setting up linux-libre (6.17.2) ...
[...]

Dica adicional: nala

Algo sobre o gerenciador de pacotes apt em geral: quando o mesmo pacote/versão está disponível em mais de uma origem configurada, ele já usa origens aleatórias para baixar cada pacote e pode passar a outra origem caso alguma apresente erro. Se desejar, mais do que isso, tentar usar paralelamente mais de um espelho definido para baixar o mesmo pacote, o programa nala consegue realizar isso. Vale a pena? Depende: cumulando essas condições com gargalos no lado do servidor, pode haver benefício. Senão, continue usando apt normalmente.

A dica mais importante é evitar repositórios que contenham software não livre.

#GNU #LinuxLibre #Linux #Debian #apt #SoftwareLivre

 
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from Ideias de Chirico

Um edifício ao estilo renascentista próximo de um lago. Seu reflexo se espalha pela a água. Imagem em preto e branco.

Imagem: @jonlord@mastodon.world

Longas notas desta vez. No entanto, não consigo vê-las separadas. Somente uma breve ressalva: a partir desta e das futuras publicações, estarei preferindo o complemento nominal “em linha” em lugar do anglicismo “online”.

Estudando “Estudando Poesia”

Se você acompanha a aba “Agora” destas Ideias de Chirico, viu que há alguns meses tenho trabalhado na autopublicação de um livro, o “Estudando Poesia”.

Que é o “Estudando Poesia”? Bom... é autoexplicativo, mas nem tanto. Entre 2014 e 2019, reuni quatro cadernos de escritos de poesia. Eram literalmente meu processo de aprendizagem da linguagem poética tradicional. Isto é, meu processo do domínio do verso enquanto veículo de poesia.

Durante o ano de 2014, estudei a forma soneto; no ano seguinte, a prosa poética; em 2016, pratiquei o verso livro, e daí em diante só aprimorei o que aprendi, até culminar em 2019 quando desisto de fazer poesia em versos. Fora o verso sem caixa alta, só de minúsculas, escrevi toda sorte de estilo e forma, inclusive descaradamente imitando autores de que gostava. Em 2020 então passei a me dedicar ao estudo de poesia concreta, encerrando o ciclo iniciado em 2014.

Eis que em 2021 participo de um curso de “Poesia Expandida” realizado em linha pela Casa das Rosas em São Paulo. Tratava-se de uma oficina de experiências coletivas com poesia transmidiática. Isso me proporcionou duas coisas: uma comunidade dedicada à poesia e ânimo para publicar um livro. Além de tudo, com as discussões dentro do curso e outras leituras que fiz durante o tempo, tive repertório suficiente para entender o meu processo de aprendizado poético.

Como somente os versos por si não seriam suficientes para o leitor compreender os meus objetivos e as minhas decisões, a cada caderno escrevo um “depoimento” falando a respeito das lições formais que tomei com cada padrão poético ― com quais temas cada um combina, que tipos de sensibilidade cada um proporciona. Além disso, também decidi escrever superficialmente sobre o momento pelo qual passava no momento da escrita, apenas a título de curiosidade. Assim surgia a ideia de “Estudando Poesia”, cujo nome ― entendedores já entenderam ― se inspira no título do antológico disco “Estudando o Samba”, de Tom Zé.

Em 2022 comecei uma épica campanha de arrecadação para a impressão do livro. Não utilizei nenhum intermediador além do banco e das redes sociais onde publicava a campanha; eu divulgava a notícia, conversava com pessoas que eu cria serem interessadas no livro e então todas as contribuições eram guardadas em uma conta bancária com pouco movimentação e anotadas em uma planilha.

Em 2024 já tinha o dinheiro suficiente para a impressão de 140 exemplares ― daí vocês tiram a ideia do quão caro é publicar livros. Nesse ínterim, tive de contatar designers, revisores de texto, outros poetas que poderiam me ajudar a desenvolver melhor o texto.

Até que nesta semana publiquei em meu outro perfil do Fediverso um vídeo da caixa de livros impressos, gravado pelo meu produtor gráfico, o Diego Dias, poeta e tradutor baseado em São Paulo. Exceto um detalhe na capa, resultado de uma má comunicação, o objeto saiu como esperado; toda a arte do livro, desde a capa até a diagramação foram designados ou desenhados por mim, com a execução da designer Barbarah Freire, também de Fortaleza.

Qual o próximo passo? Lançá-lo, claro. A minha ideia é de que o título seja lançado em dois momentos: o primeiro em um encontro em linha, outro em um encontro em algum lugar de Fortaleza. Quando? Durante o mês de dezembro. Ainda não tenho data precisa, mas imagino que acontecerá antes do Natal.

Como vocês podem ver na publicação linkada acima, estou dedicando dez exemplares para membros fediversais ou outros leitores destas Ideias de Chirico. Caso tenha interesse em adquiri-lo, me contate pelo e-mail no rodapé desta publicação.

As coisas como horas

Eu sei que a hora está entre 7h50 e 8h10 quando os homens da auto-oficina ao lado da minha casa começam a abrir os portões de dois metros; isso dá para ser ouvido do outro quarteirão. Também sei que são 9h quando a minha vizinha de baixo começa a bocejar gritando. Sei que são entre 5h20 e 5h40 porque é quando o sol fica da cor de laranja podre. Houve um tempo também que sempre às 17h um beija-flor rondava a minha varanda.

E se de repente tentássemos prescindir dos relógios?

Roteiro (provisório) para um estudo de línguas

Estudar línguas, depois da quinta aprendida, torna-se uma questão de compromisso e de planejamento. Gosto de todas as línguas, porque, de certa forma, gosto de todos os povos do mundo. No entanto, não posso aprender todas as línguas do mundo ao mesmo tempo ― quem me dera!

Como eu já aprendera o inglês e o espanhol, línguas básicas para um estudante interessado em progredir na carreira acadêmica; e como também aprendi o francês e o italiano, línguas básicas para alguém interessado em artes, decido partir para drogas mais pesadas ― línguas indígenas, línguas artificiais, línguas do mundo oriental.

Até meados deste ano eu estava dedicido a estudar esperanto no começo do ano que vem. Nada sério, apenas por curiosidade. Daí eu cairia de cara no chinês mandarim. Meu plano era aprender essa língua leste-asiática tanto por sua relevância no tabuleiro da geopolítica mundial, quanto por sua influência sobre a língua e a cultura do Japão; logo, aprender a primeira língua, facilitaria o aprendizado da segunda.

Foi o que aconteceu com a relação entre o inglês e outras línguas; o fato de eu conhecer a anglofonia, fez com que eu pudesse identificar várias palavras cognatas no francês e no italiano, língua que, como o inglês, recebeu muita influência da francofonia.

Porém há alguns dias percebi o quanto me encanta a Suíça. É da Suíça que vêm gente como o educador Jean Piaget, o arquiteto Le Corbusier, o cineasta Jean-Luc Godard e o linguista Ferdinand de Saussure, figuras que atravessaram minha formação.

Além disso, o francês suíço é, na minha opinião, o mais agradável da Europa (lembrem que o francês é falado também na América Latina e, sobretudo na África). Essa variante francófona também é comprovadamente mais lenta do que a parisiense, o que facilita no aprendizado. A minha principal referência de francês falado (além dos meus alunos africanos francófonos, é claro), é o professor Lucas, de Genebra, mantenedor do canal French Comprehensible Input.

Bem, e então pesquisando mais a respeito do país europeu, soube que é um território multilíngue, visto que tem fronteiras abertas com Alemanha, Itália e França, o que divide seu território em três partes: teutófona ao Norte, italófona ao Sul e francófona ao Oeste ― enquanto ainda conserva algumas regiões com falantes do patuá local.

Visto então que já sei italiano e um pouco de francês, por que não aprender também alemão, para, caso me encontre com um suíço nativo teutófono, não ficar esbabacado em um inglês improdutivo? E, para variar, a língua alemã também foi bastante influenciada pelo francês e tem alguns galicismos.

Além disso, gosto muito da música de concerto da Alemanha ― Bach, Beethoven, Webern, Schönberg; tenho alguma admiração por Stockhausen. No começo da juventude fui impactado pela obra expressionista da alemã Käthe Kollwitz e do austríaco Egon Schiele. Gosto da poesia de Rainer Maria Rilke.

Como se não bastasse todos esses motivos, ainda quero aprender o neerlandês, que dizem se parecer muito com alemão.

Por que então não aprender logo alemão de uma vez, já que essa é a trajetória comum de quem aprende línguas?

Decido que, quando dominar o francês, logo em seguida irei ao alemão. Espero que eu sobreviva às declinações e pronúncias rasgadas...

Um homem de pé próximo de uma pequena escada lê um maço de folhas. Um grande feixe de luz o ilumina à esquerda. Ele está vestido com roupas sociais típicas dos anos 60. A imagem está em preto e branco e com distorção de pixels.

O cineasta suíço Jean-Luc Godard.

Por um minimalismo de baixo custo

Estou por criar o conceito de “minimalista pobre”. Sou contra o consumo e o ritmo de vida desenfreados. Mas também não sou otário de pagar 350 dólares por um telefone burro.

Há inclusive um adjetivo em português para designar algo ― um indivíduo, um estilo de vida etc. ― contido e disciplinado (basicamente o que resume todo o minimalismo): espartano. Segundo o dicionário em linha Infopédia, “espartano” é algo:

  1. de Esparta, cidade da Grécia Antiga; 2. (figurado) austero; sóbrio; 3. (figurado) em que há rigor, disciplina, firmeza e severidade.

Um ode à simplicidade tecnológica

Rodrigo Ghedin, do Manual do Usuário, em contraposição aos pomposos mousesgamers”, faz loas ao seu mouse simples e barato.

• Meu mouse preferido custa menos de R$ 40 (Manual do Usuário).

Eu seria ainda mais radical: adoro usar o touchpad do meu laptop!

Quando mantenho os dedos indicadores nas teclas F e J, consigo confortavelmente manter os polegares no touchpad, perfeitamente alinhado a essas teclas. Isso me permite de fazer enésimas tarefas com a interface gráfica ao tempo que escrevo alguma coisa. Claro, digito com memória muscular, através do leiaute Dvorak.

• Como e porque passei a escrever com teclado Dvorak (Ideias de Chirico).

Além disso, configurei meu Xubuntu com atalhos que otimizem o uso do teclado e exijam menos distensão dos dedos. Isso faz com que, de qualquer forma, eu evite o uso de touchpad.

No entanto, há um recurso magnífico no touchpad que os mouses não possuem: rolagem horizontal. Esse recurso é particularmente muito útil porque costumo utilizar janelas um ao lado da outra, o que diminui sua margem. Logo, muita vez preciso ter acesso a uma informação que está omitida pelo limite da janela. Isso é uma mão na roda também para a navegação de planilhas largas, com muitas colunas.

  • Prescindir o suficiente de mouse faz também com que eu possa utilizar o laptop em qualquer banda do mundo sem o menor problema ― a não ser o ergonômico, quando a máquina estiver sobre o meu colo...

A única limitação que vejo no touchpad é o uso de seu “botão do meio”. Em um touchpad a pressão simultânea de seus dois botões encarrega-se dessa função, ou ainda o toque com três dedos dentro de sua área tátil ― nesse caso, é necessário retirar os indicadores das teclas F e J, o que é bem inconveniente. A função de “botão do meio” é muito útil sobremaneira em sistemas Linux, porque através desse botão é possível copiar e colar um texto com apenas dois cliques.

Linkroll

Laura, professora madrilenha de espanhol para estrangeiros no Youtube, executou um incrível projeto de casa-van em estilo chalé. De dentro, o espaço parece imenso!

• Cottage Van Tour // Full Time Traveller (Spanish After Hours ― Youtube).

@elmoneto@mastodon.com.br tem mapeado os municípios brasileiros com mobilidade de tarifa zero, ou seja, onde se pode tomar ônibus de graça. Dentro desse sítio é possível filtrar o gráfico por gradação de população e por ano de implementação.

• Tarifa Zero no Brasil (elmoneto.net).

O podcast Escafandro, de jornalismo investigativo, fez uma cobertura sobre o que se sabe até agora de um projeto do Governo Federal para implementar um data center em uma região de pouca água da cidade de Caucaia, CE. O projeto é colossal e sem precedentes em território brasileiro, e o primeiro interessado a utilizá-lo não é nada mais do que a também colossal ByteDance, mantenedora do TikTok. Moro próximo de Caucaia, e nem de longe eu tinha ouvido falar desse projeto, que pode inclusive afetar povos indígenas e até elevar o custo da água nas redondezas.

• Um data center incomoda muita gente (Escafandro).

@ploum@mamot.fr fez uma bela resenha sobre o (mini)malista smartphone da Mudita, o Kompakt. O telefone tem não mais do que cinco polegadas e têm tela “papel”, como o Kindle. Além disso, não tem notificações por padrão e vem com uma chave de desativação total da rede. Como falei lá em cima, não tenho a coragem de, neste momento da vida, dar 350 dólares em um aparelho celular. No entanto, Ploum faz muitas boas reflexões de como se deve ser a nossa relação com nossas tecnologias.

• Une vie sans notifications (Ploum.net ― le blog de Lionel Dricot).

Imagem: Paul Noth

Citações

“A internet morreu”. Não, ainda não morreu. Se pensarmos na internet como um país tomado por latifúndios, há uma miríade de hortas comunitárias e jardins cuidados por prazer e lazer por aí. Por favor, não grite que só temos latifúndios.

― @marte@bolha.one

aparentemente em francês “gasolina” é 𝓮𝓼𝓼𝓮𝓷𝓬𝓮 e fazer “fazer faxina” é fazer ménage

o q ja basta para comprovar minha tese q qualquer coisa na língua francesa parece ou q saiu de comercial de perfume ou q é safadage

― @coracinho@sunbeam.city

A gente trabalha a semana inteira chega terça ta só o pó

― @apropriagui@masto.donte.com.br

toda vez que lança um novo iPhone eu lembro do cara que vendeu o rim pra comprar o iPhone da época. um iPhone 4. imagino esse cara hoje

― @Ze_Andarilho@capivarinha.club

Aparentemente o James Gunn disse que o filme do Superman não faz referência ao genocídio palestino e algumas pessoas estão chateadas. Como que uma pessoa vai assistir a um filme de uma megacorporação e espera deles nada além de realismo capitalista? A gnt pode interpretar o filme como quiser, mas sabemos que intenção jamais é ser realmente revolucionário. Toda crítica que nasce do capitalismo contra ele mesmo nunca é realmente revolucionária

― @gattaraS2@ursal.zone

Un idiome se définit moins par ce qu'il permet de dire, que par ce qu'il oblige à dire. (...) Mais la langue, comme performance de tout langage, n'est ni réactionnaire, ni progressiste; elle est tout simplement : fasciste; car le fascisme, ce n'est pas d'empêcher de dire, c'est d'obliger à dire.

― O crítico literário Roland Barthes em sua antológica aula inaugural de 1977 ― que ainda quero traduzir para estas Ideias de Chirico...

Pedidos

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#notas


 
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from john

Um sintoma da dificuldade da esquerda em determinar a pauta do debate público é nossa incapacidade de engajar no debate sobre conceitos políticos fundamentais de forma não-reativa. Não conseguimos afirmar nossa compreensão e nossas propostas sobre temas políticos relevantes porque o impulso reativo de antagonizar a direita acaba se tornando o conteúdo da nossa posição política. Se eles são contra, eu sou a favor. Se eles são a favor, eu sou contra. Sem nuances possíveis.

Um exemplo é o combate à corrupção e ao patrimonialismo na política brasileira. Essa foi uma bandeira histórica dos grupos que formaram as instituições político-partidárias da esquerda nacional. Era uma plataforma quase exclusiva de petistas e trabalhistas nos anos 90. Porém, quando o PT se tornou o gestor da máquina estatal, estruturada historicamente em torno da corrupção e do patrimonialismo, a direita instrumentalizou o discurso de moralidade na administração pública. E a resposta da esquerda, ao invés de qualificar a discussão sobre problemas estruturais da governança estatal brasileira, foi de desqualificar e reduzir a importância do combate à corrupção. O que é ainda mais surpreendente considerando os enormes avanços na institucionalização do controle interno e externo sobre as contas públicas durante os governos do PT. A narrativa e a ação pra mostrar existiam, mas na prática a bandeira da luta contra a corrupção foi cedida para a direita.

Não entenda aqui uma defesa do centrismo ou de uma suposta moderação nas posições políticas. Pelo contrário, quebrar esse ciclo de reatividade, que rebaixa a esquerda ao pensamento binário da direita, demanda uma afirmação radical dos valores que definem e diferenciam a esquerda política.

A recente vitória discursiva da esquerda com a bandeira da defesa da soberania nacional é um ótimo exemplo disso. Foi possível auferir ganhos políticos e possivelmente eleitorais avançando uma leitura propriamente de esquerda do que significa nacionalismo, ou patriotismo. Para isso, foi preciso deslocar o centro dos conceitos do vazio performático que é a estética bolsonarista para a concretude de posicionamentos acerca da soberania geoeconômica nacional e a resistência a tentativas estrangeiras de interferência nos assuntos internos.

O problema é que fomos praticamente empurrados à força para essa posição pelos erros táticos da direita. A questão da reatividade persiste, apesar da importantíssima vitória nessa batalha pelo significado dos conceitos. Mas os aprendizados dessa campanha podem ser aplicados em outras áreas, para avançar sobre consensos sociais até agora dominados pela direita. Um exemplo que me vem à mente é a pressão por uma reforma tributária que tenha por princípio a justiça tributária, não apenas defendendo o aumento de impostos para os ricos, mas o alívio da carga tributária sobre os pobres.

Isso seria adequar o discurso às demandas e necessidades concretas da classe trabalhadora sem abandonar valores fundamentais. Um nó que a esquerda ainda precisa desfazer em outros temas também, como empreendedorismo, segurança pública, conservadorismo religioso, etc. E é importante fazer isso tomando a condução do debate, sem ir à reboque da direita, porque não dá pra confiar que eles vão sempre entregar a disputa conceitual de bandeja, como dessa vez.

 
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from Ideias de Chirico

Longa ressalva: Sou contra qualquer inovação tecnológica que coloque os trabalhadores pobres ao subjugo de grandes empresas. Assim como também sou contra qualquer tecnologia e qualquer inovação tecnológica que subjugue a natureza, ou tenda a esgotar seus recursos. Este é o caso da inteligência artificial comercial, que nos últimos anos, explorou mão de obra barata para o treinamento e seleção de dados e usou e abusou dos mananciais para a refrigeração dos seus data centers. No entanto, acredito que, malgrado este estado de arte, ela seja uma ferramenta que pode ajudar a classe trabalhadora e cujos uso, produção e desenvolvimento podem ser éticos, possíveis e distantes de grandes empresas. A China o mostrou e é disso que será tratado neste texto de Grise Bouille.

Grise Bouille (@gee@framapiaf.org) é um escritor, cartunista e rádio-colunista francês, com formação em ciências da computação. Conheci-o através do Mastodon do magnífico @ploum@mamot.fr, que endossou Bouille. Ploum, inclusive, já teve tradução minha aqui nas Ideias de Chirico, em que ele defende o conceito de um computador que combata a obsolescência programada, a partir de uma forte ideologia de código aberto e de faça-você-mesmo, inspirado pelo legado da máquina de escrever.

Grise Bouille, por estar transmitindo sua mensagem por rádio, não perde a oportunidade de usar expressões idiomáticas, gírias e até mesmo palavrões ― mas tudo sustentado em um francês padrão. O francês possui três registros linguísticos bem estabelecidos: o corrente (courant), do dia a dia; o familiar (familier), usado dentro de casa e entre amigos; e o monitorado (soutenu), usado nos contextos jurídico, acadêmico ou literário. O português brasileiro, por outro lado, possui somente os registros formal e informal que vão variando em um degradê de dois polos, e que, a depender da situação, deslizam um ao outro, conforme o efeito que se quer causar.

Emular em português esse mesmo estilo de Bouille de descontração calcada em uma língua padrão me foi impossível, então preferi tender ao estilo informal, imaginando como um escritor brasileiro se expressaria pelo rádio. Devo me desculpar, no entanto, por esta tradução ter ficado mais séria em comparação com o texto original, já que não consegui encontrar relativas em português de uma parte das expressões idiomáticas que o autor usa.

Agradeço fortemente à minha aluna beninense de PLE, Eunice Houeze, que matou muitas charadas de tradução e de informações culturais sem o qual este texto sairia. Toda a sorte para ela na prova de proficiência de língua portuguesa (Celpe-Bras) e no seu vindouro curso de medicina!

Aqui o texto:

A IA não sumirá

Publicado em 26 de junho de 2025 por GEE no JUKEBOX ― a publicação original.

Olá a vocês, público do Libre à vous.

Bom. Sinto muito, mas é preciso que se fale disso. Sim, é necessário ainda que se fale de inteligência artificial. Gostaria de um assunto mais leve e divertido para a minha última coluna da temporada, mas, que você quer? De qualquer forma, é o assunto do momento.

Contei: já é minha quarta coluna sobre IA, a primeiríssima datando de março de 2023, em plena explosão da popularidade do ChatGPT. E não sou o único a falar disso regularmente, tanto no rádio quanto em outro lugar.

Então, quando um livrista [1] como eu fala de IA, em geral, oscila entre três eixos:

  1. É perigoso, é ecocida, é pipi, é totô, é capitalista. O que é verdade. Daí você boicota a coisa e convoca boicote massivo;

  2. Não é nada, veja, tudo vai bem, ChatGPT não sabe contar e erra adivinhas para crianças. O que é verdade também. Aí você fica de melhor humor, brinca mostrando que, apesar dos resultados serem às vezes impressionantes, ainda assim isso rapidamente nos põe em dúvidas. Bem, eu comecei cedo nesse modo, né? Escute de novo minha primeira coluna sobre o tema para estarem certos disso;

  3. É uma moda, uma bolha, é como o Metaverso e os NFT, da qual se vê em todo canto, é insuportável, mas vai acabar por passar.

O que é parcialmente verdadeiro: é insuportável. Em compensação... bom, quanto mais o tempo passa, mais me parece bastante otimista pensar que a IA vai acabar por simplesmente desaparecer, pois insustentável, pois tudo quanto.

Então, fui o primeiro a dizer diversas vezes que a IA era uma bolha, que ela acabaria por explodir. E sigo a defender isso hoje, penso que a IA é uma bolha financeira, mas não se deve interpretar mal o que isso significa: ao fim dos anos 90, havia uma coisa que se chamava “bolha.com” e que estourou no início dos anos 2000. No entanto, correndo o risco de lhe surpreender, a internet ainda está aí. Pior: o valor e o peso da internet atual superariam os de antes da bolha por uma encantadora experiência sociológica.

Então, não é porque a bolha financeira da IA acabará por estourar que é preciso imaginar que a IA desaparecerá logo em seguida sem deixar traços. Quando a bolha estourar, ela causará sem dúvidas uma bela confusão econômica e social ― enfim, uma reconfiguração no mercado, como se diz entre os imbe... entre os neoliberais. Mas a IA não sumirá. Há mesmo um risco, como com a internet, de que ela acabe por retornar mais forte do que nunca.

O fato de ela ser ecologicamente insustentável é fora de propósito: o sistema capitalista é intrinsecamente ecologicamente insustentável e isso jamais o impediu de dirigir o curso do mundo. Para a sua perda, sim, sem dúvidas, mas você vê bem que isso não é suficiente para pará-lo.

Quanto a um modelo economicamente viável, tenho cada vez menos dificuldade em crer que a OpenAI e companhia o encontrarão: estamos ainda na fase “A primeira dose é gratuita”. Mas não nos enganemos, essa é uma droga devastadora, da qual milhões de pessoas já se tornaram dependentes em alta velocidade.

Não se deve deixar que nossa própria bolha ― uma bolha de filtro dessa vez ― faça-nos esquecer que o ChatGPT tornou-se, em alguns meses, o serviço com a taxa de adoção mais rápida da história da informática, ganhando mais de 100 milhões de usuários(as) por mês. A pertinência de comparações com o Metaverso e os NFT deveria ficar aí.

Se o ChatGPT parar de fornecer uma versão gratuita, aposto que a taxa de adoção da versão paga será também vertiginosa. E a gente vai ver florescer ofertas “pacote internet + assinatura de ChatGPT”, como hoje a Orange oferece “pacote internet + assinatura de Dezzer”. E vai dar certo.

Pois a IA generativa tornou-se já uma necessidade incontornável para milhões de pessoas, a começar pelos mais jovens. Um estudo publicado na última quinta-feira [19 jun. 25] indica que 42% daqueles entre 18 e 25 anos declararam utilizar IA todos os dias, 80% utilizam ao menos uma vez por semana [2]. Um uso que, na minha humilde opinião, tenderá simplesmente a se alinhar à taxa de uso de esmartefones, com ChatGPT se tornando um aplicativo tão comum quanto Whatsapp ou Youtube, se esse já não for o caso.

No instituto técnico onde dou algumas aulas, quase todos os alunos estão sempre com uma aba do ChatGPT no navegador. Isso se tornou uma ferramenta tão usual quanto um navegador. Embora nem todos os alunos usem do mesmo jeito; há aqueles que o utilizam com parcimônia, com resistência; e ainda aqueles que copicolam os enunciados, depois copicolam as respostas sem entender nada com nada... mas que mesmo assim se viram. Esses alunos não têm os mesmos perfis, inclusive. Mas voltarei a isso depois.

Em todo caso, não consigo me ressentir com eles: em seu lugar, do alto dos meus 18 anos, teria, sem dúvida, feito algo parecido. Apesar disso, a primeira fornada de estudantes que obtiveram seus diplomas delegando a maior parte de seus estudos a uma IA chega já, e chega ligeiro, não em cinco anos, mas agora. Esses serão os mesmos jovens adultos para as quais a questão de prescindir da IA não será mais uma opção: se for preciso pagar, assim será.

Claro, alguém vai replicar dizendo que falo sobre um instituto técnico, que é ainda uma bolha um pouco particular, e, sim, claro. Mas você tem mais ou menos os mesmos ecos em facul de direito, de línguas, de economia... e até de medicina, né?, que a mim me inquieta um pouco as competências de nossos futuros médicos.

Além disso, falo de jovens adultos que estão estudando, mas, entre aqueles com 12-17 anos, tem-se 45% de jovens que declaram ter já utilizado IA em sua vida escolar ou privada. Sim, porque um caso de uso aparentemente bastante difundido é a IA como confidente, à qual se conta da vida, com a qual se dialoga como se com um bom parceiro. Mas além disso, um bom parceiro que está sempre disponível, sempre educado, que lhe fala sempre com benevolência e paciência.

Uma grande parte da geração atual de estudantes não pode mais imaginar sua vida profissional sem IA; uma grande parte da geração atual de colegiais em breve não poderá imaginar sua vida sem IA.

Logo, a IA não sumirá. Nesse sentido, os apelos ao boicote contra IA me parecem, quando muito, anacrônicos: sinto muito, mas é tarde demais para o boicote. Não é mais questão de impedir a ascensão da IA, é questão de saber como se continua a lutar pela emancipação, pela justiça, pela ecologia e pela igualdade social em um mundo onde a IA é onipresente.

Meu camarada Pierre-Yves Gosset, da Framasoft, chegou até mesmo a dizer, em sua última conferência sobre IA, que poder boicotar a IA era coisa de privilegiado. Sim, para você e eu, boicotar a IA é fácil, crescemos sem ela, não precisávamos dela. Da mesma maneira, particularmente defendo um boicote ao carro por razões ecológicas. Claro, isso é fácil para mim, vivo em um canto bem servido de transportes públicos, não tenho filhos e trabalho de casa.

Um grande erro que vejo frequentemente nos meios livristas consiste em ver a IA como um gadget de “techbros”, como se diz, um brinquedinho tecnológico para jovens executivos ricos, como os óculos conectados ou a cadeia de blocos. E se a IA é de fato em sua origem uma ideia de techbros e dos gigantes da tecnologia, por outro lado, ao meu ver, é nas classes populares que ela tem mais impacto.

Voltando ao instituto técnico. Um instituto de tecnologia não é exatamente a mesma coisa que uma faculdade de cientistas da computação: há uma mistura social muito mais significativa, com rapazes/moças que vêm da escola comum, de outras escolas tecnológicas ou profissionalizantes, filhos de operários misturados com filhos de pequenos servidores públicos ou outros... Com níveis extremamente heterogêneos, onde todo o desafio para os professores é conseguir fazer com que os mais debilitados não sejam ultrapassados pelos que estão mais tranquilos.

E, bom, isto pode lhe surpreender, mas muitas vezes são os meninos que têm mais dificuldade, frequentemente vindos de meios pobres, aqueles que usam e abusam da IA. Os alunos que vêm de meios mais favorecidos, em geral, são os mais críticos a essa tecnologia. Em um curso sobre Android, percebemos recentemente com meus alunos, que o Android Studio, o programa de desenvolvimento, adicionava às suas mensagens de erro “ask Gemini”, “pergunte ao Gemini”, a IA da Google. E, bom, meu aluno Thomas, vindo de colégio comum, de jeans e camiseta, 16 anos em média, reagiu com um “Pfff, que bobagem”. De qualquer forma ele tentou a princípio, mas logo viu que o Gemini enchia linguiça, e, ao ler a mensagem de erro, entendeu rapidamente e se corrigiu por conta própria.

Mais tarde, durante o exame no qual todas as anotações eram autorizadas ― porque não se vê interesse de fazer decorar pela programação ―, Brandon, de colégio tecnológico, de jaqueta esportiva e tênis, com média 8 [3], respondeu às questões da seguinte maneira: ele tinha uma pequena anotação onde havia metido todo o curso em ChatGPT, depois ele tinha lhe pedido para gerar dezenas e mais dezenas de questões possíveis. E durante o exame, ai!, pesquisava os termos das questões em sua pequena anotação, encontrava uma questão suficientemente parecida e copicolava a resposta. Dada a rapidez com que ele fez, não penso que tenha lido sequer uma de minhas questões. Não estou nem mesmo certo de que ele tenha entendido do que o curso tratava.

Mas ele tirou 11 no seu exame. Eu tinha proibido internet, mas autorizei todas as anotações, ele seguiu as instruções, não entendo porque deveria penalizá-lo. Thomas, que tinha 17 anos utilizando somente seus conhecimentos, terá também o mesmo diploma. (Aproveito para esclarecer que eu mudei os nomes, né?, para não expôr meus alunos em público).

Porém, é no mercado de trabalho que Thomas e Brandon se distinguirão, e, espóiler: bem, mais uma vez é o Brandon que vai se dar mal.

Porque, de um(a) profissional de computação que só sabe digitar comandos, se vê que não há pretensões salariais de bac+3 [4].Porque a IA será, ao fim, apesar das ilusões, um agravador de desigualdades sociais, um acelerador do empobrecimento das classes mais baixas. E, ao mesmo tempo, que tenho de melhor a propôr a Brandon? Quais são as minhas chances de conseguir fazer ele “boicotar” a IA que lhe permitiu desenrolar um diploma sem a qual sem dúvidas ele não conseguiria? Enquanto que todos os seus colegas fazem a mesma coisa?

O ChatGPT permitiu a um monte de gente péssima em expressão, em ortografia e em gramática escrever cartas de motivação perfeitas e parar de ser reprovada antes mesmo da entrevista de emprego: quem sou, eu, do alto do meu doutorado e do meu capital cultural de filho de professor, para pedir-lhes para boicotar?

Então, sim, eu sei, o mundo será melhor quando pararmos de considerar que gente sem diploma merece ficar pobre, ou mesmo quando suprirmos essas idiotices de cartas de motivação, tem razão! Mas isso é como derrubar o capitalismo: sei bem que vamos chegar lá na semana que vem, é uma questão de dias, né? Mas enquanto se espera, o que fazer? O que se faz com os alienados(as) esperando que seja abolida a alienação? O que se faz para esta geração que integrou a IA como nós mesmos tínhamos integrado a internet, como as gerações mais antigas tinham integrado a eletricidade ou a água corrente? O que se faz com toda essa gente que utiliza a IA para seguir melhor, para melhorar suas vidas, para se sair de suas condições sociais?

Ah, é um saco de questão, né? Não, mas tampouco eu gostaria de ter de pensar nisso. Também eu gostaria de que se tivesse impedido a OpenAI e companhia de desenvolver suas porcarias. Também eu gostaria de que esse furacão não tivesse chegado. Mas aí está, está por toda parte e isso não sumirá tão cedo. Boicotar, isto é, fazer nada de fato, é uma boa resposta a título individual, mas é como dar o gás na ecologia: já é preciso ter a possibilidade de fazer isso, mas, principalmente, isso não será suficiente em escala coletiva.

Para agir contra a hegemonia, é necessário então parar com a negação, observar esta realidade difícil de frente, mas sem cair, no entanto, na resignação ou derrotismo, enfim, manter a esperança de que nós temos, ainda assim, o poder de melhorar nosso mundo. E, por isso, gosto bastante de citar este diálogo do Senhor dos Anéis. É Frodo que se lamenta da guerra para a qual ele foi arrastado e diz: “Gostaria de que isso não tivesse acontecido no meu tempo”. Ao que Gandalf, o mágico, lhe responde: “Eu também, e o mesmo vale para todos aqueles que vivem em tempos parecidos. Mas não lhes cabe decidir. Tudo o que nos cabe decidir é o que pretendemos fazer do tempo que nos é concedido”.

Agora, amigo(a) livrista, em face à IA, como ao resto, eu lhe deixo para o verão essa pergunta: “O que vamos fazer do tempo que nos é concedido?”

[1]: Do original “libriste”, partidário do chamado culture libre, movimento pela cultura livre, de código e acesso livres e abertos. Como não há relativo desse nome em português, utilizei “livrista” como forma de o discernir dos “liberais”, partidários do liberalismo. Para saber mais, leia o artigo da Wiki em francês, ou sua versão lusófona linkada.

[2]: Essa é uma pesquisa que pode refletir o uso no Norte global. A situação no Brasil é diferente, como mostra a mais recente pesquisa da Datafolha com a Fundação Itaú. No entanto, o argumento de que a IA tornou-se uma necessidade incontornável para aqueles que a utilizam desde 2023, mesmo no Brasil, é considerável.

• Maioria dos brasileiros não usa IA generativa, como ChatGPT, mostra Datafolha (Folha de São Paulo).

[3]: Na transcrição e na locução do texto é pronunciado claramente “huit de moyenne”, ou seja, “oito anos em média”. Não sei se não conheço o sistema escolar francófono europeu, mas é pouco factível que uma criança estaria fazendo cursos de programação. De qualquer forma, decidi manter.

Post-scriptum: obrigado @hydrochoerus@cwb.social pela ajuda com esse deslize na tradução! Aqui o comentário que el_ me enviou via Fediverso:

quando o autor original disse “huit de moyenne”, rovavelmente se referia a “um aluno de média 8”, e não um aluno de 8 anos. Geralmente na França as notas escolares vão de 0 a 20 e a pontuação necessária para passar é 10.

[4]: “Bac+3” é literalmente “baccalaurêat mais três”. “Baccalaurêat” é a prova vestibular para ingressar em uma graduação no sistema de ensino francês. Com “mais três” o autor se refere aos três primeiros anos na faculdade pelos quais alguém consegue o grau de “licenciatura”, a partir do qual pode ensinar.

#tecnologia #tradução


 
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from felipe siles

Nem todo mundo sabe, falo sobre tantos assuntos diversos aqui neste blogue, mas sou músico profissional, é minha atividade profissional principal. Toco acordeon, piano, leciono diversas disciplinas em um conservatório de música. Como criei este blogue para falar livremente de diversos assuntos, acabo fugindo um pouco da minha especialidade, sobre a qual costumo produzir academicamente. Mas me deu vontade de falar sobre esse tema de uma maneira mais leve e emocionada, orientado mais pelos afetos do que pelas regras da ABNT.

Ao longo da vida eu sempre tive, na perspectiva do profissional da música, um certo incômodo que de uns anos para cá eu consegui organizar e colocar nome. Gosto muito da ideia que aparece nos Contos de Terramar da Úrsula K. Le Guin: saber o nome das coisas ou das pessoas te dá poder sobre elas. Entrei em contato, durante o meu mestrado em Etnomusicologia, em uma disciplina da Antropologia, com o etnomusicólogo Thomás Turino, que divide as funções da música, principalmente entre música apresentacional e participativa. Embora a fronteira entre as duas possa ser uma nuvem cinzenta em vários casos e existam muitas críticas sérias e bem embasadas contra essa classificação, gosto de pensar, baixando a guarda da problematização, que existe música para ser ouvida, apreciada, e música para participar com o corpo, com palmas, cantando, dançando ou até tocando instrumentos musicais e interferindo na performance.

Sempre me achei diferentão de praticamente todos os meus amigos músicos e me sinto um peixe fora d'água em quase todas as disciplinas, congressos e espaços acadêmicos, a não ser por aqueles perfeitamente alinhados à minha temática de pesquisa, que é a música negra. E sempre foi nas disciplinas de Antropologia que pra mim as coisas faziam sentido, me sentia abraçado, confortável, entre pessoas que pareciam comigo, mesmo quando eram muito diferentes.

Acho que nem todo mundo sabe como pensa e se comporta um músico profissional médio (principalmente os letrados na partitura), e acredito que as pessoas ficariam chocadas se soubessem. Lógico que existem diversos perfis, essa é uma profissão muito diversa, mas eu percebo que muitos músicos são extremamente vaidosos, e gostam de exibir a sua técnica, e também gostam de ouvir outros músicos que são vaidosos. Dentro da lógica neoliberal, são consumidores, dos streamings e redes antissociais de seus músicos referência e principalmente de adquirir inúmeros equipamentos e instrumentos caros, sempre com a desculpa que é ferramenta de trabalho, que é pela fruição estética, mas sabemos que no fundo é pela vaidade mesmo (e/ou também pela reserva de mercado, já que o equipamento melhor hipoteticamente aumenta a chance de ter gigs).

Me esforço bastante para não ser uma pessoa moralista, porque acho que o moralismo é uma armadilha que as pessoas de esquerda e progressistas caíram nos últimos tempos, e é um buraco bem difícil de sair. Não tenho nada contra a vaidade, para ser sincero, acho que a vaidade faz parte da vida e da arte. Nem todo artista é vaidoso, mas acredito que a vaidade sempre está ali em algum nível, de alguma forma. Se você faz algo para alguém te ouvir ou te ler, acho que algum nível de vaidade há ali, e sendo esse nível saudável e não fazendo mal para ninguém, não vejo problema nenhum nisso. O problema é que existem vaidades que são danosas para a própria pessoa e seu entorno, longe de mim cagar regra, mas já cagando um pouco, tá cheio de músico rebolando pra pagar sua fatura do banco roxo porque parcelou aquela caixa de som de 30 mil reais. Eu sempre me contentei com instrumentos e equipamentos que suprem as minhas demandas profissionais, nesse ponto também sou bem diferentão.

Mas o que eu queria falar mesmo é sobre a música participativa do Thomas Turino, embora essa digressão foi importante para dar mais contexto a vocês. Sempre me incomodou o palco que hierarquiza, a ideia de ídolo e fãs, e a relação do ouvinte pela música que passa quase que só pelo consumo, embora isso seja meio complexo de afirmar desse jeito. Pra mim foi bem libertador descobrir que existem DJs e bandas punk que se recusam a tocar em palcos, que tocam no mesmo nível do público, isso é fantástico e mudou muito os meus parâmetros do que é qualidade musical, se é que existe alguma.

No senso comum do músico médio (pelo menos do músico letrado na teoria musical), a qualidade musical é medida (ou pelo menos tentada) pela complexidade e sofisticação da elaboração dos próprios elementos musicais, não só a letra, como pensa o grande público. A melodia tem que ser boa, a harmonia com acordes interessantes e surpreendentes, o ritmo dançante e envolvente, tudo isso faz parte do que é chamado de qualidade musical. Muita gente acha que alta cultura tem a ver apenas com escolhas estéticas da classe dominante, e essas pessoas não estão totalmente erradas. É que esse quadro é mais complexo, e muitas vezes essa chamada alta cultura de fato produz sofisticação estética, difícil de ser medida e mesurada pelo músico, talvez impossível pelo público comum.

Essas ideias com que entrei em contato foram transformando o que eu entendia por qualidade musical. E mais ou menos nessa época, quando eu fazia mestrado, em 2018, tinha acabado de gravar o disco Paulibucano do sambista Toinho Melodia. Só para explicar como que um pianista e sanfoneiro foi parar num grupo de samba, do qual orgulhosamente integro até hoje, 20 de agosto de 2025. Sempre fui bastante envolvido com o choro e, justamente, gostava do gênero por sua qualidade de música participativa, sempre achei fascinante a ideia de uma roda de choro onde um músico pode chegar no meio, sacar o seu bandolim ou flauta ou clarinete ou instrumento que for, e puxar um choro do seu repertório, interferindo na performance, emprestando a ela uma fluidez e imprevisibilidade muito interessantes. Mas eu descobri que no samba isso é elevado a milésima potência. Sou grato ao choro, por ter sido meu caminho para chegar no samba, mas hoje eu digo que o gênero musical que eu mais ouço, toco e sou apaixonado é o samba!

Toinho Melodia, que infelizmente já subiu, pra mim foi um grande mestre intelectual. Descobri que o samba não é só música, é a própria vida. O Toinho compunha sambas o tempo inteiro, no ônibus, no metrô, nas ruas de São Paulo, na hora do nosso café, intervalos dos ensaios. Nossas rodas de samba sempre foram rodeadas de histórias deliciosas e divertidas sobre as quais quero escrever neste blogue em algum momento. Se tem muito músico que gosta de acorde, de melodia, de nota, eu gosto de lembrar, relembrar, contar e recontar essas deliciosas histórias que o samba me proporcionou. E não é que o samba seja simples, o samba possui sim essa complexidade e alta elaboração estética. E mais ainda, o bônus que é esse fator da integração social.

E eu fui, aos poucos, sem correria e só na malemolência (como diz outro samba do nosso mestre) sacando que qualidade musical é isso também. O Toinho Melodia não gostava de falar sobre isso, mas chegou a ter um momento ruim na vida, virou até morador de rua. Quando foi reconhecido por Toniquinho Batuqueiro, um sambista que era uma de suas referências, sua vida começou a virar, venceu o câncer, conheceu uma rapaziada que abraçou sua obra, gravou seu primeiro disco autoral, viajou em turnê para sua terra natal, Recife, continuou fazendo o que sempre amou até o final da vida que é compor e cantar, e participar de rodas de samba, até onde foi possível. Ou seja, foi o samba que manteve digno e humano o Toinho, mesmo nos piores momentos. Me diz, se isso não é qualidade musical, muito mais que um acorde enfeitado com tensões e dissonâncias.

Mas enfim, nem todo músico pensa dessa forma, observo que a maioria pensa diferente. Não julgo, nem condeno, acho que tive um pouco de sorte também, de ter uma vivência maravilhosa como essa. Fico pensando naquela clássica frase de mãe: você não é todo mundo, se todo mundo se jogar de um precipício, você se joga também? Talvez esse texto tenha um pouco de soberba, empáfia, superioridade moral e vaidade, afinal só se diferencia do outros pra dar destaque a si mesmo. Mas, na verdade, ser tão diferente tem um aspecto que é meio triste em alguns momentos, que é a solidão e a incompreensão, sentimentos que me acompanham em diversos momentos: às vezes na minha rotina dando aula no conservatório (embora a maioria dos colegas já começou a entender a minha brisa, precisa paciência da minha parte também), nos congressos, disciplinas, concursos, etc. Não dá pra esperar que todo mundo entenda rápido a brisa de um pianista e sanfoneiro que gosta mesmo é de tocar samba.

Para não terminar para baixo, vou fazer um contraponto, eu sinto que tenho conseguido transmitir cada vez melhor essa minha visão da música, e isso tem a ver com dominar as palavras, voltando na Úrsula K. Le Guin, minha autora preferida de ficção, tem a ver com estudar, e me comunicar melhor, tem a ver com o doutorado, mas tem a ver também com Exu. É um movimento lento, pequeno, mas eu sinto que tem rolado, e diante dessas perspectivas diferentonas eu sinto, modéstia a parte, que acabei virando referência e descobrindo novas referências em alguns outros “solitários” ou peixes fora da água, como eu. E são essas ligações que me mantém motivado, alegre, criativo, otimista, vivo, como o samba manteve Toinho Melodia em seus piores momentos.

Gostaria muito de, antes de terminar esse texto, agradecer aos meus companheiros de Conjunto Picafumo e agregados, por serem meus parceiros nessa jornada: Rodolfo Gomes, André Santos, Matheus Oliveira, Verônica Borges, Laura Santos, Angela Coltri, Paulinho Timor, Merilyn Esposi, Kathleen Hoepers, Alfredo Castro e tantos outros. Gostaria de agradecer também os companheiros de outras rodas de samba, com quem tanto aprendi: Selito, Rafael Galante, Lobo, Ricardo Perito, Maurício Pazz, Lucas Brogiolo, Alysson Bruno, Rodolfo Stocco, Renato Pereira, Deni Domenico, Railídia, Paulo Godoy, Koka Pereira, Hélio Guadalupe, Roberta Oliveira, Leo La Selva, e tantos outros com quem fatalmente cometi a injustiça de esquecer de citar. É rememorar as histórias que vivi com vocês, e reouvir o nosso querido Paulibucano que vai me dando forças nos momentos de solidão. Obrigado, amo vocês!

Vou encerrar o texto citando a letra de “Vida de sambista” (Kiko Toledo, Ney Nunes e Toinho Melodia), que integra nosso álbum Paulibucano:

Não adiantou abdicar do samba o samba morava em seu coração ganhou dos seus o dom de sambar e do soberano a inspiração

Pra compor, pra sambar Na sutileza dos versos sonhar (2x)

A vida do sambista é o ano inteiro Vai além da ilusão de fevereiro No morro no asfalto, favela, planalto Jamais se intimida, não foge da briga

Sambista não manda recado E faz de qualquer desacato uma rima O tempo é um santo remédio que ensina (2x)

 
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from Ideias de Chirico

Quadrinho de Tintin, um detetive de sobretudo, olhando com seu cachorrinho branco Milou a silhueta da cidade de Chicago a partir de um navio em viagem.

Imagem: “Tintin en Amérique”, gibi belga de Hergé.

Vocês já sabem... Notas costuradas são um compêndio de escritos esparsos e recomendações, que não renderiam uma publicação independente. Alerta: nestas Notas, muita gente pelada.

Interlúdios

A melhor hora de todas é entre 16h e 18h aos finais de semana e feriados. Mor silêncio. E, quando há um ruído, é suave. Sem contar com a luz gentil do sol, igualmente suave. Não há trabalho, não há compromisso. O que deveria ser feito no dia, já foi feito. Aqui em Fortaleza em específico a essa hora há um vento agradável e não é tão quente quanto o restante do dia. Mor paz.

Futurismo Cassete

Gosto de como é o envio de feed RSS para o Kindle via calibre: plugo um cabo, se a hora da importação automática de feed estiver correta, começa-se a baixar a lista das publicações recentes. Quando baixada, é enviada automaticamente para o dispositivo. Depois basta ejetar o dispositivo e desplugar o cabo. É como uma experiência de Futurismo Cassete: todo o processo é tangível e confiável, ainda que digital. É o raro design de uma tecnologia como uma ferramenta ― responsiva e utilitária ―, não como brinquedo ― viciante e distrativo.

Seis horas da manhã

Todas as manhãs de quartas-feiras, saio bem cedinho para correr. É o sol brilhar, já estou de pé, quente para dar algumas voltas pela praça José Bonifácio, a duas quadras da minha casa.

Antes de correr propriamente, giro duas vezes em sentido anti-horário em torno do calçadão retangular que cerca a imponente construção do quartel-prisão cinza em estilo neoclássico da Polícia Militar de Fortaleza, em destaque na Praça. Faço-o de fones de ouvidos, a fim de não me distrair e me concentrar somente na corrida. E então é correr e correr...

Lá pelas tantas, logo após a primeira volta, vejo um vulto brotando em minha direção a dois metros da minha esquerda ― é o velhinho meu vizinho de quarteirão, que sempre me cumprimenta quando passo perto de sua casa. Infelizmente nunca temos tempo de conversar, já que, por azar, sempre estou em trânsito quando nos vemos.

― Olha ele, rapá! ― diz algo assim. E dá-lhe a correr atrás de mim.

Como eu não o ouvia bem, também não lhe respondi. Quando então ele tentara fisgar meu braço para me deter e talvez trocar uma palavra comigo, me esquivei. Afinal, eu tinha que seguir com a corrida no pouco tempo que me restava. Tudo isso aconteceu em não mais do que cinco segundos.

Fui rude, eu sei. Na outra volta, pensando em me redimir, ainda pensei em lhe acenar, mas já era tarde: sentado, virou o rosto enquanto eu passava e fez que não me via...

Já se dizia no Pequeno Príncipe: “Tornar-te-ás eternamente responsável por aquilo que cativas”. Mas o problema não é meu se o que cativo decidir ir atrás de mim enquanto corro cedo da manhã usando fones de ouvido.

Imagem: Arlene Gottfried, via Flashbak.

Resenhazinhas

A redenção da cinebiografia estadunidense?

Assisti ao “A Complete Unknown” (2024), cinebiografia de Bob Dylan, com atuação de Timothée Chalamet. Esse foi o primeiro filme a ter a apoio do cantor e o compositor estadunidense, que resiste a assistir a todo documentário ou cinebiografia a seu respeito.

“A Complete Unknown” cobre os primeiros anos da carreira de Bob Dylan, desde a sua chegada a uma Nova York sessentista a pleno vapor criativo, às margens do Maio de 68, passando pelas difíceis relações pessoais do jovem cantautor, tanto da sua vida profissional (artistas e gente grande da indústria fonográfica), como da sua vida romântica (com foco sobretudo na relação de Bob com Joan Baez).

Vale o destaque do esforço de Timothée de não utilizar nenhum recurso de melhoramento vocal como inteligência artificial ou playback, que o levou inclusive a ter aulas com coachs vocais.

Tenho a impressão de que a indústria cinematográfica estadunidense finalmente entendeu que cinebiografia é cinema, mas também biografia, o que se baseia em fatos, e não em sua romantização compulsória.

Após fiascos (em termos biográficos) como “Total Eclipse” (biografia de Arthur Rimbaud, com atuação de um jovem Leonardo Di Caprio), “Modigliani” (biografia do pintor moderno italiano Amadeo Modigliani) e “Searching for Fischer” (biografia do enxadrista mirim Joshua Waitzkin), parece que é o fim de toda uma era de filmes estadunidenses que tentam transformar qualquer atividade humana em aventura (desde escrever um poema e jogar xadrez até pintar um quadro), e de tentar superdramatizar vidas, que na maioria das vezes, eram ordinárias.

Arterotismo

Imagem: “Little Ego”, de Vittorio Giardino.

Sem falsa hipocrisia, quantas peças de pornografia você conhece que se preocupam com a concepção do belo? Quantas tem em si emparelhadas metáforas psicanalíticas?

Em “Little Ego”, quadrinho erótico do italiano Vittorio Giardino, tratam-se de surreais, curtos e pouco conexos sonhos sexuais de uma jovem mulher da qual pouco sabemos. Suas fantasias oníricas envolvem desde objetos do dia a dia, como guarda-chuvas e flores, dismorfia corporal, até animais e povos de outros continentes.

Há nesses breves sonhos o sexo simbolizado. O voo de um avião, pode ser lido como metáfora do orgasmo. Em certo episódio, transcende-se o mito de Narciso, quando a heroína, enquanto se olha no espelho, multiplica-se em 12 e faz sexo com várias de si mesma, em uma imensa auto-orgia.

Ao fim de cada episódio, a heroína onírico-erótica diz, quando acordada, que deve visitar o seu psicoterapeuta, aplicando uma pitada de humor às curtas narrativas. As cores de “Little Ego” são surpreendentes e o seu traço são de um amálgama entre cartazes pin-up e vitrais art nouveau, o que transforma cada quadrinho em uma peça visual suficiente por si só.

Uma onda de Bossa Nova na Europa?

E por falar em art nouveau, quero falar de Liana Flores, artista britânica, filha de mãe brasileira.

Tenho ouvido nos últimos dias “Flower of the Soul”, seu primeiro disco gravado em estúdio. Após o sucesso de “Rises the moon”, música viral no Tiktok, a cantautora pôs a mão na massa em seu disco de estreia, de 2024. Aqui podemos ver um belo mosaico de folk, bossa nova e jazz, bem envolucrados na linguagem musical das novas gerações.

Ao lado de Laufey, cantora finlandesa, Flores é talvez uma das mais representantes receptadoras das influências das primeiras raízes da bossa nova brasileira na música europeia contemporânea. De seu “Flower of the Soul”, recomendo as faixas “Orange-coloured day” (quase um “Take Six”, ao estilo de Dave Brubeck), “Nightvisions”, com um belo arranjo de acordes vocais e surpreendentes modulações tonais, e “Halfway Heart”, o melhor exemplar de bossa nova do disco, que faz lembrar vozes clássicas como a de Joyce Moreno e Gertrude Gilberto.

Uma leitura sobre uma leitura sobre uma leitura

Terminei na semana passada “Se una notte d'inverno un viaggiatore” de Italo Calvino, em texto original, em língua italiana. Nesta obra, o escritor italiano faz o que já seria previsto na história do romance moderno (desde “Ulysses”, de James Joyce), isto é, um romance sobre um romance. Ou melhor: um romance sobre romances. Ainda mais: um romance sobre o próprio ato de ler romances.

Em “Se una notte d'inverno un viaggiatore” lemos sobre o Leitor (isso mesmo, alguém identificado como Leitor). O grande diferencial deste livro ao meu ver é o de estar em uma perspectiva em “POV” (point of view, ou seja, ponto de vista). Ela é narrada não em primeira, não em terceira, mas em segunda pessoa. Ou seja, é um narrador externo, que nos descreve o que estamos “vendo”, quase como se estivéssemos em um role playing game (RPG); o que quer dizer que nós, leitores, é que de certa forma somos a personagem principal de “Se una notte d'inverno un viaggiatore”.

Durante o romance, o Leitor inicia a leitura de “Se una notte d'inverno un viaggiatore”, um livro que ele não chega a concluir, por estar mal impresso. Em busca da devolução do livro, ele acaba por entrar em um vórtice de leituras laterais interrompidas, sempre acompanhado de Ludmilla, a Leitora pela qual o Leitor se apaixona durante sua aventura literária.

Calvino leva a ideia de escrever um livro sobre livros a outro nível, apelando muitas vezes à incepção. Em certa altura, a narrativa passa a descrever um livro que não é lido pelo Leitor, mas que facilmente identificamos como o próprio “Se una notte d'inverno un viaggiatore”.

Há alguns pressupostos que não são atingidos nesse livro, no entanto. Uma delas é de haver pequenas histórias que tenham cada uma um estilo próprio, como Joyce mesmo faz em seu “Ulysses”. A não ser o fato de que as personagens tenham características e traços descritivos distintos, não se tem uma ideia muito forte de que os textos foram escritos por pessoas diferentes; o ritmo de leitura é muito parecido e o uso de palavras idem. A não ser quando surge a voz do narrador, não há uma grande diferença estilística.

Li esta obra em seu texto original, porque estou ainda tentando me familiarizar com a língua literária italiana. No entanto, não há nada que me faça estar convencido de que o texto em italiano oferece algo de diferente de uma tradução. A genialidade de Calvino está na experiência da leitura (pragmática), não na composição do texto (sintática), o que em geral nos leva a ler originais.

De certa forma, fiquei arrependido de ter lido em italiano, porque o bloqueio linguístico fez com que não houvesse tanta fluidez na leitura, exigida pelo texto calviniano.

“Flor do Lácio, sambódromo, Lusamérica, latim em pó”

Nesta semana, terminei a leitura de “Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português”, escrito por Caetano Galindo e publicado no ano de 2023. Eu o começara a ler na semana anterior e devorei em sete dias completos.

Esse pequeno livro do linguista e tradutor natural de Curitiba procura falar, de maneira sucinta e com linguagem acessível, sobre o percurso da língua portuguesa até a atual variante brasileira. Além de conhecimentos de linguística, Galindo se vê obrigado a acionar também (muitas) informações de história e de antropologia.

Seu propósito é, sobretudo, desmistificar algumas crenças acerca da LP, entre as quais a de que ela é uma descendente direta do latim imperial, a de que sempre falamos português como língua primária no Brasil colônia e a de que os brasileiros “falamos português errado”. Ao contrário de seu parceiro sociolinguista Marcos Bagno, Galindo decide não tomar partido na discussão sobre a existência de uma língua “brasileira”.

Não sei se posso afirmar que Galindo cumpriu com o objetivo de escrever um livro introdutório sobre linguística “para leigos”, já que mesmo eu, um veterano de Letras, encontrei muitas informações e curiosidades em torno de minha língua materna as quais não sabia ainda.

Não gosto da ideia de dizer que esse é um livro “para leigos” porque este é um livro muito bem escrito, com uma boa noção de ritmo e de como as palavras podem ser pronunciadas em uma leitura vocal; falar que esse é um livro “para leigos”, pois, seria implicar que livros “para especialistas” são duros, mal escritos e chatos ― o que não se cumpre na prática.

Outro acerto de Galindo ao escrever para o público geral sobre uma língua foi começar seu texto falando sobre um falante em potencial dessa mesma língua. Isso é benéfico para a compreensão de um público amplo por dois motivos: a) porque faz lembrar que as línguas são sobretudo as pessoas que a falam; e b) torna mais carnal e sensível tudo aquilo sobre o qual se falará no livro.

A história da implementação da língua portuguesa em nosso território é um drama,

adverte o autor em sua introdução. Podemos todos o confirmar durante a leitura deste inteligente e sensível livrinho que deve constar desde já nas leituras obrigatórias, não só de calouros de Letras, mas também de todos aqueles que se interessarem pela linguagem e realidade brasileiras.

Citações

O mundo está cada vez mais perigoso, está morrendo gente que nunca morreu antes

― @miguel@bertha.social

Para aqueles de nós que nunca herdarão dinheiro, terra ou imóveis, as pessoas que nos moldam são a nossa riqueza.

― Edna Bonhomme.

Confunda seus inimigos. Se nem você souber o que está fazendo, seus adversários com certeza não vão saber.

― @Ze_Andarilho@capivarinha.club

É aquela lei da natureza, né? No dia que você fala que vai cortar o cabelo ele se comporta. Por isso estou dizendo todo dia que vou cortar o cabelo e não vou, que é pra ele ficar esperto.

― @pancho@bolha.one

Se eleito transformarei os motéis em casas populares e as igrejas em escolas públicas.

― @NoahLoren@ayom.media

“[Se] quer me fuder, me beija, porra!”

― @marte@bolha.one citando a consciência popular.

Linkroll

Em 2022, no aniversário de 15 anos desde o lançamento do primeiro iPhone, The Guardian perguntou a fotógrafos profissionais como (e se) eles usam o smartphone para tirar fotos.

• The iPhone at 15: pro photographers on how it changed their world (The Guardian)

Quadrinho falando sobre a resiliência do protocolo RSS, minha forma favorita de ler na internet.

• RSS is not dead yet (audra mcnamee)

Pedidos

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#notas #cotidiano #cultura


 
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from felipe siles

Cheguei no texto The Analog Life: 50 Ways to Unplug and Feel Human Again pelo fórum Órbita do Manual do Usuário e, reforçada a ressalva feita pelo Rodrigo Ghedin sobre o título meio apelativo, achei os hábitos que ele propõe bem interessantes, sendo que vários deles eu já pratico. Por curiosidade, no âmbito da minha vida pessoal, vão os meus comentários a respeito de cada hábito proposto por Tanner Garrity, autor do texto original:

Rituais diários tradicionais

  1. Ler antes de ir para a cama: já tive esse hábito, acabei perdendo, substituindo a leitura por um projetor com tv stick no meu quarto. Ler o texto me fez repensar isso, e pretendo nos próximos dias resgatar o antigo hábito, que era muito mais saudável;

  2. Faça o jantar em família sagrado: isso para mim no momento está fora de cogitação, o autor não considera que muitas pessoas moram sozinhas ou têm famílias desestruturadas e desfuncionais. Mas, em minha defesa, eu faço todas as refeições na mesa, na sala de jantar, sem televisão;

  3. Beba seu café em paz: já faço, a propósito, alguém falou em café aí?

  4. Leia o jornal: quem me acompanha no Mastodon pode ter trombado com a minha postagem dizendo que minha primeira aquisição assim que passar em um concurso público e adentrar definitivamente (?) a classe média será a assinatura da Revista Piauí. Por ora, vou consumindo notícias digitais mesmo, por podcast e RSS;

  5. Escrever a mão uma lista de tarefas todas as manhãs: eu utilizo o método Bullet Journal, até já escrevi sobre ele aqui neste blogue, então mantenho sim anotações diárias, nem sempre de manhã, mas acho que dá pra marcar um ponto aqui;

  6. Faça caminhadas pós-almoço: eu já sou uma pessoa sem carro, que anda bastante, sinceramente não sei se há necessidade desse hábito pra mim, porque já sou uma pessoa que anda organicamente pelo menos uns 30 minutos todos os dias. Inclusive, caminhar para mim é uma espécie de meditação em movimento, de longe meu exercício físico preferido;

  7. Converse com amigos e familiares ao telefone: melhor do que isso, tenho feito um esforço para encontrá-los pessoalmente;

  8. Assista filmes: outro hábito que eu mantive firme por muito tempo e que deu uma degringolada nos últimos tempos, vou procurar retomar. Também já escrevi neste blogue sobre o quanto eu dou preferências por assistir filmes a séries e os motivos;

  9. Use seu livro de receitas: tenho apenas um único livro, de receitas vegetarianas fáceis. Preciso fazer isso mesmo, e de repente adquirir pelo menos mais uns dois livros, boa dica;

  10. Assista ao pôr do sol: minha rotina atual não me permite fazer disso um hábito, mas fica no radar;

Os adeus mais difíceis

  1. Excluir suas contas: rapaz, se esse é o primeiro da lista difícil, pra mim tá fácil, vivo sem ter conta nesse lixo chamado Instagram desde dezembro de 2022, até já escrevi sobre isso aqui;

  2. Bloqueeie sites que desperdiçam seu tempo: atualmente não acho que seja necessário, pelo menos para mim;

  3. Faça seu telefone super chato: já tentei deixar meu telefone em preto e branco algumas vezes, mas por alguma razão, sempre volto ao normal, posso de repente tentar novamente;

  4. Tranque seus aplicativos: não possuo no celular aplicativos que me distraem, uma coisa que posso fazer é voltar a limitar o tempo do aplicativo Lichess no tablet, acho que é um dos poucos que me distraem muito tempo atualmente;

  5. Livre-se dos emails nos finais de semana: sábado para mim não é possível, já que trabalho nesse dia, mas já tenho feito isso aos domingos, pelo menos, inclusive não vejo nem whatsapp nesse dia, para desespero dos meus amigos e familiares;

Dispositivos com função única

  1. Vitrola: já tenho, ponto para mim, só falta usar um pouco mais;

  2. Câmera fotográfica: tenho também e uso, ponto;

  3. Rádio de bolso: já pensei várias vezes em comprar, vou voltar a considerar;

  4. Tablet de papel: talvez mais pra frente, meio caro, acho que vou continuar com meu tablet normal mesmo, por razões financeiras;

  5. Temporizador de cozinha: tenho dois, ponto para mim;

  6. Despertador: tenho também, ponto;

  7. E-reader: tenho, ponto;

  8. Relógio de pulso: amo, tenho uma coleção, ponto;

  9. Console de jogos: tenho um Xbox One, e um PC gamer retrô para jogar emuladores, que eu mesmo instalei o sistema operacional e customizei, ponto;

  10. Burrofone: tenho um, mas não consegui incorporar na minha rotina, já que utilizo muitos aplicativos para me locomover de transporte público. Acabei comprando um burrofone, mas virou meu “celular do ladrão” que uso no carnaval e em outros eventos grandes. Infelizmente para nós brasileiros a oferta de burrofones é muito limitada, já que se trata de um produto extremamente nichado;

Trilhas de papel

  1. Calendário: além de ter, o meu é simplesmente lindo demais, do portal jornalístico O joio e o trigo, que comprei para ter esse lindo e funcional item na minha casa, além de apoiar financeiramente o jornalismo independente;

  2. Diário: conforme já citei, mantenho sim um diário, uso o método Bullet Journal;

  3. Envie cartas a mão: BRABO, essa vai ficar no meu radar também;

  4. Enquadre suas fotos preferidas: tenho vontade de fazer uma coisa ainda mais legal, que é presentear amigos e familiares com fotografias impressas e enquadradas, quero botar esse plano pra funcionar em breve;

  5. Coletar lembranças: olha, o autor até faz a ressalva que isso é meio anti-Marie Kondo, e nesse caso eu estou fechado com a autora japonesa, sou dessas pessoas que junta muita coisa, preciso na verdade é dar uma simplificada, ter menos coisas e mais controle sobre elas;

Reconexão social

  1. Organize um jogo de cartas semanal: a minha resposta para quase todos os tópicos aqui vai ser parecida, tenho já um contexto profissional e pessoal onde convivo com muitas pessoas, acho que essas dicas são válidas para pessoas mais solitárias, mas para mim torna-se o oposto, já tenho uma vida social agitada, preciso de mais momentos comigo mesmo;

  2. Junte-se a um clube: clube de leitura é algo que está no meu radar faz tempo, em algum momento vai rolar;

  3. Permaneça nos locais, após os eventos: difícil na conjuntura atual, mas já fiz muito isso quando tinha mais tempo livre, realmente rende bons frutos;

  4. Ir em eventos ao vivo: cai de novo na questão da minha vida muito corrida, mas sinto falta de ir em mais peças de teatro e espetáculos de dança;

  5. Ser anfitrião de jantares: também é um plano antigo que em algum momento vou concretizar, adoro cozinhar e receber pessoas em casa, ainda vou me organizar pra isso;

  6. Aceitar mais convites: na atual rotina corrida é um pouco difícil, mas eu já tinha lido livros sobre como conquistar a pessoa amada (kkkk me julguem), que falavam da importância de estar disponível para socializar. Entra no radar também;

  7. Jogar em equipes esportivas: tenho vontade de disputar torneios de xadrez, fica no radar;

  8. Seja voluntário uma vez ao mês: excelente ideia, entra no radar;

  9. Convide pessoas para suas tarefas: boa ideia, tem umas paredes aqui em casa precisando de uma tinta (rs);

Viaje como se estivesse em 2003

  1. Deixe partes da sua viagem sem planejamento: sempre faço isso, importantíssimo, ponto pra mim;

  2. Fale com moradores locais: eu sou uma pessoa anti-turismo, ainda quero escrever sobre isso no blogue, mas a minha relação em praticamente todas as minha viagens é criar laços e ligações não-comerciais no local, então mais um ponto pra mim;

  3. Compre um guia de viagem: me parece muito turístico e contraria os itens anteriores;

  4. Enviar cartões postais: idem;

  5. Explore seu quintal: já faço bastante, e ando a cidade toda a pé, ponto para mim;

Sem rastreamento

  1. Dormir sem um aplicativo medindo a qualidade do seu sono: usei esses aplicativos quando eram novidade, mas abandonei rapidamente, quando percebi que o padrão do meu sono era quase sempre igual;

  2. Pare de registrar seus treinos: que treinos? kkkkkk

  3. Deixe passar batido: para mim é difícil perder episódio de podcast, até porque eu acompanho poucos, e gosto de não perder nenhum episódio deles. Já senti essa ansiedade que o autor menciona quando seguia muitos podcasts, então a redução pra mim funcionou bem, logo nessa eu vou ficar devendo;

  4. Faça coisas sem registrar: já faço, o tempo todo, meu rolo de câmera do celular vive às moscas, ponto para mim;

  5. Desativar seus relatórios de tempo de tela: já fiz também, foram importantes durante um tempo, mas se tornaram irrelevantes, como o próprio uso do celular.

Conclusão

Gostei da brincadeira, eu acho que esse tipo de lista precisa ser encarada com alguma leveza para também não gerar mais ansiedade ao nos deparar com coisas interessantes que estamos perdendo e, contraditariamente, gerar uma espécie de FOMO, que é o que o mundo digital provoca em nós. Mas acredito que se a lista do Tanner Garrity servir para um pouco de reflexão e auto-cuidado, já ajuda bastante.

 
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from Ideias de Chirico

Você está por começar a ler o novo manifesto do Ismismo.

O Ismismo, como diz seu nome, é um ismo. Uma ideologia. E como ideologia, é uma ideia de ideias. Como são ideia de ideias o cubismo, o marxismo e o taylorismo. No entanto, o Ismismo vai adiante: é uma ideia de uma ideia de ideias. Ou seja, busca sintetizar todas as ideias. É um sintetismo.

O Ismismo é a tentativa de uma conquista. Uma pequena conquista, a conquista de todas as derrotas da fragmentação do homem, somente superada pela ingente luta por sua integração em um grande ismo.

O Ismismo não é pela defesa de um ismo, mas pela aceitação dos ismos. O Ismismo não é uma manifestação do “espírito da época” (zeitgeist). Ele é o espírito. E a época.

Este ismo sobre o qual você lê é somente mais uma etapa de todos os ismos. No entanto, os ismistas estamos por acelerar o processo do fim de todos os ismos. Pois o Ismismo é também um outro nome para aceleracionismo, ao tempo que é outro nome para o budismo.

Pois é natural que o Ismismo reúna os contraditórios.

Afinal o Ismismo é uma ideia, mas também é uma prática. Quer dizer, o Ismismo não é uma ideia, muito menos uma prática. Isto é:

Um ismo é um ismo é um ismo é um ismo é um ismo é um ismo...

― Gertrudismo Steinismo.


Ismismo é um sismo.

(Não confundir “sismo” com “cismo”, o ismo pela expressão de gênero cis, muito ligada ao fascismo ― um ismo há muito preterido, com um revival nos últimos tempos, porém ainda assim contemplado pelo Ismismo).

Como mostra a história, será natural que, com o decorrer do tempo, surja também o pós-Ismismo. E o neoIsmismo. E o anti-Ismismo, é claro. E o ismismismo (não o confundir com “mesmismo”, um outro ismo ~importantismo~, digo, importantíssimo).

Mas eis que voltamos ao lugar que onde não saímos, apesar de tudo. Prova disso é o termos voltado, pois do contrário o ismo ter-se-ia imposto e não poderíamos retornar a outro ismo, porque esmagado. Daí a necessidade de um Ismismo, i.e., uma teoria geral do ismo.

Este ismo decorre dos dois maiores ismos da contemporaneidade (afora o próprio Ismismo): o maximalismo de Flô Menezes e o pequenismo de Luis Dolhnikoff. Os dois ismos, vocês percebem, são conflitantes, praticamente opostos. Entretanto, no Ismismo não há conflitos. Há confiltros.

Ambos os ismos supracitados são contemplados pelo Ismismo, pois todos os ismos estão no Ismismo. Até mesmo o próprio Ismismo.

O que defende então o Ismismo? O ismo. O ismo populismo. O ismo tecnicismo. O ismo sufixo. O ismo em si mismo. Um tautologismo.

Ismologia, eu quero uma para viver!

― Cazuzismo.


O partidário do Ismismo é o ismista.

Ismismo é o último istmo que tangencia o homem de sua própria autoignorância. O homem é ismista por natureza, só ele ainda não o entendeu.

O Ismismo também contempla o ismistismo, isto é, a defesa do ismista, ou seja, a defesa do homem em sua natureza ― que é ismista. Afinal, o Ismismo é também outro nome para humanismo.

Mário de Andrade, temendo que confundissem os ismos brasileiros com os ismos italianos (futurismo de Marinetti), preferiu a alcunha “modernismo”. Rateou. Fosse esperto, chamaria aquele movimento vindouro de Ismismo.

O ismo é o que nos une.

― Oswaldismo de Andradismo.

Só o ismo nos liberta.

Como também sou adepto do pixismo (um ismo nacional ― fora, trumpismo!), me manda um Pix: arlonismo@gmailismo.comismo. Assim você estará incentivando o Ismismo.

Viva o Ismismo! Viva o Ismismismo! Viva o Ismismismismo!

Vocismo acabismo dismo lerismo oismo maisismo recentismo manifestismo dismo Ismismo.

#cultura


 
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from daltux

Para quem se pergunta se é preciso reinstalar Linux a cada nova versão lançada, a resposta, francamente, é sim! E isso é muito mais frequente do que o establishment faz com que você acredite. Ainda que resumida, o que segue é uma explicação técnica, mas vá diretamente ao fim se preferir.

A cada nova versão disponibilizada nos repositórios configurados em sua máquina, você tem alguma alternativa para atualizar o Linux a não ser por sua instalação? Negativo. Seu gerenciador de pacotes instala o novo Linux e normalmente desinstala os anteriores, exceto um que ficará de salvaguarda. Quando reiniciar a máquina, portanto, um Linux novo será executado. Em Debian e derivados, isso é definido pelo metapacote linux-image-amd64, o mais comum, cuja descrição é:

Linux for 64-bit PCs (meta-package)

No momento desta redação, sua dependência concreta é o pacote linux-image-6.12.38+deb13-amd64 (= 6.12.38-1). Quando for lançada uma versão posterior de Linux no repositório, por alteração da dependência do meta-pacote citado, um novo pacote concreto do Linux será sugerido pelo gerenciador de pacotes. A não ser continuar com o Linux antigo (ou remendá-lo durante a execução em alguns casos excepcionais), não há outra operação que pode ser feita sobre isso: você vai instalar o Linux novo.

Sim: como visto, Linux é um entre centenas de componentes necessários para operar sua máquina da forma projetada, em um conjunto reunido por distribuidores do que costuma ser o GNU, com o kernel Linux.

Um fenômeno que ocorre há tempos é denominado sinédoque, um tipo específico de metonímia. Isso causa estranhamento por quem defende que, em vez do nome de parte, as pessoas poderiam lembrar de chamar o todo pelo seu nome próprio: GNU. Para, mesmo assim, mencionar o kernel: GNU/Linux.

Captura de tela de terminal Xfce com saídas de comandos uname-a, lsb_release -a, apt policy e apt show sobre pacotes linux-image-amd64

#Linux #GNU #GNUlinux #Debian #Debian13 #Trixie

 
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from daltux

Pelo Mastodon, Alda Vigdís suplica para que as pessoas parem de traduzir código postal para inglês como “Zip Code”, termo específico dos EUA, enquanto o mais adequado mundialmente seria “postal code”. A sensação que Alda sofre deve ser similar à de ativistas do software livre ao verem tanta menção a “Linux” ignorando o GNU em contextos nos quais este poderia ou deveria ser citado.

Quando alguém, senão por desconhecimento, chama tudo de “Linux” e ainda desdenha ativistas do software livre que solicitam o mesmo espaço para o GNU, acaba desacreditando décadas de luta pelas liberdades tecnológicas de todas as pessoas, algo muito mais holístico do que “open source” (código aberto), assim como GNU é mais abrangente do que Linux.

Sim, ativistas insistem não somente em corrigir termos, mas em promover software livre em cada oportunidade de afastar as pessoas do software privativo, instrumento de poder injusto. Na era da informação, tudo está conectado: desde TRApps de academia até as políticas públicas. Quando aceitamos a história reescrita e dominada pelo mercado para vender “código aberto” como mero modo de produção, afastando-se dos ideais da liberdade de software, normalizamos um mundo onde somos meros consumidores passivos.

Cada escolha é um ato político: garantir que a tecnologia sirva às pessoas, não o contrário. Se apagarmos nossa história, perderemos a capacidade de exigir ferramentas que respeitem nossa autonomia. O abismo não é inevitável — mas construímos pontes com ações concretas, não com silêncio. Solidariedade a Alda.

💙 #SoftwareLivre #TecnologiaÉPolítica #tecnopolítica #GNU #GNUlinux #FreeSoftware

 
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from daltux

GNU Health: liberdade de software na Saúde

Logotipo do GNU (desenho da cabeça de um gnu) - GNU Health - GNU Official PackageA Comunidade do Software Livre — que defende as liberdades digitais para todas as pessoas — é constantemente atacada, até quando tenta divulgar seus princípios e se diferenciar de quem não se importa com eles. Mesmo assim, o movimento permanece no trabalho de quatro décadas pelo ideal de um mundo sem opressão tecnológica: conheça a organização “GNU Solidário” que, além de lutar por dignidade e liberdade dos animais — humanos ou não — mantém o conjunto de sistemas de informação de saúde GNU Health, componente do sistema operacional GNU que visa propiciar a gestão hospitalar e clínica, com foco especial em instituições de saúde pública e medicina social, sem a privação de suas liberdades essenciais de software. GNU Health já está em uso por hospitais, governos e organismos multilaterais na América Latina e pelo globo, incluindo a Universidade das Nações Unidas.

Assim como o Movimento do Software Livre no qual está contido, GNU Health é ativismo social com fundo tecnológico.

Para saber mais sobre os temas citados, confira as hiperligações acima e ainda as seguintes sugestões:

#Saúde #Health #SoftwareLivre #GNU

 
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from felipe siles

Não trabalho profissionalmente com tecnologia, mas sou um entusiasta do software livre e um dos meus hobbies é configurar pequenos aparelhos dedicados a funções específicas. Já tive uma TV Box rodando lisinho um servidor de Nextcloud, e funcionou direitinho uns anos até falecer. E fazia muito tempo que eu queria fazer um experimento de montar um console gamer retrô a partir de alguma TV Box ou Raspberry que tivesse dando sopa por aí. E esse dia chegou! O generoso Biloti, a quem muito agradeço, ofereceu no Mastodon alguns computadores antigos dos quais ele estava se desfazendo, e como moramos na região de Campinas (SP), pedi para reservar um deles para mim e combinamos a entrega, ali pelo centro da cidade. Acabei demorando um pouquinho para colocar o projeto em ação, devido ao fato de que o mini PC precisava trocar a bateria da placa mãe, mas eis que descobri que essa complexa manutenção numa ótima lojinha da minha cidade custou a bagatela de R$30,00. Vamos à ficha técnica do mini PC:

Acer Revo Aspire R3600 CPU: Intel Atom 230 HD: 320GB Memória RAM: 4GB Video: nVidia ION integrada Arquitetura: 32 bits

Depois desse complexo concerto, comecei a botar a mão na massa para montar meu mini PC gamer, o primeiro passo foi a escolha do sistema operacional, optei pelo Lakka, vi alguns reviews na internet elogiosos e me pareceu simples de instalar e configurar. Baixei a imagem da distro no site oficial, escolhendo a modalidade Generic PC e depois 32 bits CPU. Confesso que tive dificuldade em montar o pendrive bootável (inclusive já adianto que todos os pontos onde tive dificuldade se deram pelo fato de que a maioria dos tutoriais na internet eram orientados para o Windows, e eu fiz todo o processo pelo Debian Linux). O site oficial recomenda o Balena Etcher, mas não consegui instalá-lo em nenhum dos meus dois computadores com Debian, e os programas que eu costumo usar não montam o pendrive se o arquivo não for .iso. Depois de muita pesquisa e quebração de cabeça, consegui montar o pendrive bootável pelo Impression, que consegui instalar na minha máquina via Flathub. Feito o pendrive, o restante, pelo menos pra mim, é caminho da roça hehehe espeta o pendrive no bicho, liga, entra na BIOS, muda o dispositivo de boot pro pendrive e instala o bicho. Sucesso!!!

Enquanto o processo de instalação acontecia, comecei a baixar as famosas ROMs para rodar nos emuladores que já vêm nativos no Lakka. Não vou entrar em detalhes sobre essa parte porque tecnicamente se trata de pirataria, mas é fácil descobrir por aí pesquisando sobre emuladores e roms. Optei, pelo menos em um primeiro momento, por baixar ROMs de videogames até no máximo 16 bits, para obter um bom desempenho num computador com hardware mais modesto. Pensando nisso, baixei ROMs de:

  • 8 bits: Atari 2600, Master System, Nintendinho, Game Gear, Game Boy e Game Boy Color;
  • 16 bits: Mega Drive, Sega CD, Super Nintendo e Neo Geo.

(Mais para frente quero testar o desempenho de ROMS de consoles de 32 bits, vou começar por videogames com hardware mais leves como Game Boy Advanced e 32X Mega Drive, mas depois arriscar outros consoles mais potentes, como Sega Saturno e PlayStation. Se fizer o teste, eu edito este texto futuramente contando como foi.)

Instalado o sistema operacional e baixadas as ROMS, veio mais uma parte que precisei levemente quebrar a cabeça. É que o sistema de compartilhamento padrão de arquivos do Lakka é o Samba, e ele não está instalado no meu computador, e não consegui fazer a instalação, por ignorância mesmo. Vi que o Lakka tem a opção de compartilhamento por SSH, que é mais familiar para mim, e ativei essa opção. Consegui acessar o Lakka via SSH primeiro pelo terminal, mas depois acabei achando mais prático instalar o Dolphin na minha máquina e mexer direto pelo gerenciador de arquivos. Ah, demorei um pouco para descobrir: a senha padrão de root do SSH do Lakka é root.

Copiadas as ROMs para o miniPC gamer, começou a jogatina! A parte legal é que a maioria dos emuladores mais conhecidos já vêm instalados, então é só colocar as ROMs mesmo e começar a diversão. Num primeiro momento, pedi para o Lakka analisar o diretório onde estavam as ROMs e depois me arrependi um pouco, além de demorar uma eternidade, ele criou listas de jogos gigantescas, onde é até difícil encontrar o jogo que você quer jogar. E se você pede pra analisar de novo, ele vai criando vários itens repetidos nas listas. Acabei optando, então, por um uso mais minimalista, deletei as listas e agora peço para analisar apenas a ROM do jogo que vou jogar naquele momento, assim ficam listados no menu principal apenas os jogos que eu de fato jogo. E toda a biblioteca está a disposição para testes, mas um pouco mais escondida, perfeito pra mim! Saí jogando vários clássicos, como Sonic, Alladin, Yoshi Island, entre outros!!!

Ah, usei o joystick do meu Xbox One ligado no cabo USB, funcionou bem, inclusive o botão do meio acessa o menu, o que achei ótimo! Porém, não sei se por causa da qualidade do cabo, ou da saída do controle, ele desconecta com uma certa frequência, o que é um pouco irritante, e quando a pilha está acabando começa a desconectar toda hora também. Então encomendei um joystick do tipo Xbox, só que com o cabo já embutido, acredito que vá melhor a experiência, qualquer coisa conto pra vocês na edição do presente texto. Mas achei ótimo que o sistema operacional funciona muito bem só com o joystick, sem necessidade de teclado e mouse.

Uma coisa que comecei a refletir depois de montar esse PC Gamer Retro é o quanto a biblioteca de diversos consoles antigos é rica, muito boa e com ótima qualidade. Fiquei pensando se a gente precisa mesmo de tanta novidade, jogo novo, ficar comprando jogo, console, sei lá, a diversão tá ali disponível, e de qualidade muito boa! Temos muito o que explorar nesses clássicos ainda, sempre tem algo que não ainda não conhecemos dentro do que já foi lançado.

Quando eu era criança e adolescente, jogando meu Master System e depois Super Nintendo, minha dificuldade no inglês dificultou um pouco a minha experiência em alguns RPGs, que é um gênero que eu adoro, e acabava que eu sempre precisava recorrer aos chamados detonados para terminar esses jogos. Estou jogando agora os RPGs clássicos, só que em português ou espanhol, para aproveitar melhor a experiência. Comecei por Legend of Zelda: Oracle of Ages do Game Boy Color, e quero desbravar a franquia no mundo dos 8 bits e 16 bits. Depois pretendo revisitar Final Fantasy, Chrono Trigger e outros clássicos do gênero.

Enfim, a experiência de revisitar esses clássicos tem sido tão positiva que o meu Xbox One tá parado, parado... vamos ver o que acontece com ele nos próximos capítulos...

Custo da operação: – R$17,10 = ida e volta de ônibus de Cosmópolis para Campinas; – R$30,00 = troca da bateria da placa mãe; – energia elétrica e internet, que já pagaria mesmo; – algumas horas de vida que não voltam mais (rs).

Equipamentos que eu já tinha e foram utilizados no processo: – televisão; – computador; – Joystick de Xbox One.

Edição: faltou mencionar o desempenho. Os jogos todos rodaram lisos, mesmo os de NeoGeo, que exigem mais processamento. Já quando rodei os jogos com outra tarefa no fundo, como reconhecer pastas ou baixar capas de jogos, o desempenho caiu consideravelmente e os jogos 16 bits ficaram engasgados, os de 8 bits rodando normal. Minha recomendação, se tiver configurações parecidas de hardware, é não rodar outras tarefas durante a jogatina.

 
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from Ni idea

#Amo animais

Negocio curioso que descobri vendo uma quantidade pouco saudável de perfis do bumble é o seguinte:

Nenhuma das pessoas que diz amar animais é vegana.

Veganos ou mesmo vegetarianos quase não aparecem, mas quando aparecem, nunca dizem amar animais.

Doidera né? Ou não. Pelo menos a parte dos veganos. Não são pessoas movidas por amor, o buraco é bem mais embaixo. Não sou vegana mas muitas pessoas conhecidas sim e fui a feiras eventos cursos e nunca, jamais, ouvi nada sobre amor. Nunquinha. Tem ideologia sim, mas de uma forma muito mais... pragmática? Não sei. De qualquer forma eu gosto. Toda militancia baseada em amor me parece rasa, como o tal “love is love” que e a coisa mais higienizada que vi.

E eu gosto de amar, hein? Para caralho. Eu tenho o cantico de salomao versiculo 8:7 tatuado no peito.

....

Os perfis de bumble que amam animais? Cachorro. Eles amam cachorro. Às vezes gatos. Com uma frequencia alarmante cavalos. Que eles montam. O que é simplesmente tortura.

Ah e metade desses perfis comentam por texto ou emoji ou foto que eles também AMAM churrasco.

Enfim

Não tenho muito mais a elaborar. Alias nada a elaborar, era só uma observação. Se quiser comentar algo e esse texto magicamente chegou mais longe que meus mutuals, me menciona em @sondra@masto.donte.com.br

 
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from Ni idea

#Sin interés en la política

App de namoro é terrível e tal já sabemos. Mas uma coisa que gosto no bumble é que um dos elementos que podemos colocar no perfil é a orientação (?) política não na bio, mas num coiso de marcar opções.

Segundo o DataEu 50% das pessoas não colocam nada nessa parte. E das que colocam algo, 70% colocam “sem interesse na política” e o resto varia entre centro, direita, esquerda e socialista (sim as opções tem duas esquerdas por alguma razão)

Se eu tivesse muita grana sobrando eu pagaria pra usar, só pra poder filtrar e ver só perfis que marquem esquerda e facilitar minha vida. Mas supreendentemente nem é tanto porque eu gostaria de não ver pessoas de direita, que sabem o que querem pro mundo, e sim pra filtrar os que não se interessam por política.

Veja bem, eu não quero passar um date falando sobre como o mundo está se acabando lentamente e vivemos uma distopia etc. Não é como se eu passasse todo o dia militante. Mas boy como vc coloca literalmente “eu não ligo pra nada que afeta os outros e pra nada que me afeta pq sou tão obtuso que não percebo de as coisas me afetam pq possp ir no starbucks e pra mim isso é sinal de que a justiça divina existe”?????

E se é alguém superficial de 20 anos... ok. Não acho bom sinal mas entendo que tuas prioridades estejam em outro lugar.

Mas vejo essa opção marcada em profissional da MEDICINA, ECONOMIA, PSICOLOGIA...

Como assim? Aaaaaaaa

Ou sei lá em pessoas que dizem que gostam da natureza, ou de férias ou que são feministas. Pessoas interessadas em responsabilidade afetiva, livros, FILOSOFIA...

Como vc pode passar pela vida interessado em coisas intrisicamente políticas e ao mesmo tempo ignorando todas as forças que constantemente decidem tudo por vc? Voluntariamente?

Eu passo reto nos que são de direita, sim. Mas segundo minha profunda analise sociológica de app de namoro, nosso problema está mais na porção da sociedade que não liga do que na que liga errado. Eu hein

 
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from felipe siles

“Estou vendo que você, assim como tantos outros, descobriu os prazeres do Espelho de Ojesed. Imagino, que a essa altura, já sabe o que ele faz. Deixe-me lhe dar uma pista. O homem mais feliz do mundo iria olhar para o espelho e veria a si próprio, exatamente como ele é. (...) Ele nos mostra, nada mais, nada menos, do que os desejos mais profundos e desesperados dos nossos corações. (...) Lembre-se de uma coisa, Harry! Esse espelho não nos dá o conhecimento, nem a verdade. Muitos homens definharam diante dele, até enlouqueceram”. (Alvo Dumbledore no filme Harry Potter e a Pedra Filosofal, da famigerada e devidamente cancelada escritora transfóbica J.K.Rowling. Antes que me cancelem também, eu só gostaria de lembrar que até mesmo o relógio parado acerta a hora duas vezes ao dia.)

Já é sabido, por diversas fontes, que o Brasil é um país cujos habitantes passam horas e horas com o nariz metido em frente às telas. Seja pela simples observação cotidiana, no transporte público, espaços públicos ou até num círculo de amigos; ou seja recorrendo a fontes mais robustas de informação, conseguimos chegar facilmente a essa conclusão. Segundo matéria do Jornal da USP de 2023, o brasileiro passa em média 56% do seu tempo acordado em frente a telas. Já essa matéria do Metrópoles, de 2024, coloca o Brasil como segundo colocado do ranking mundial em relação a países que passam mais tempo online. Uma média de 9h13min, atrás apenas da África do Sul, com 9h24. Além disso, segundo reportagens, o Brasil é o segundo país que mais consome streaming no mundo (Metrópoles, 2021), o terceiro maior consumidor de redes sociais (Metrópoles, 2023) e o maior mercado gamer da América Latina (Techtudo, 2023).

Até agora vejo a questão ser interpretada numa chave moralista, do tipo: “o brasileiro não gosta de ler, não quer saber de estudos, só quer saber de celular” ou paternalista, no sentido de que “esse é o entretenimento que o povo gosta, a intelectualidade é que precisa se render aos hábitos populares e falar com a galera criando seu canal de divulgação científica no Instagram (nada contra, nada a favor também)”. O que eu venho propor é mais uma chave interpretativa: será que o fato de tantos rankings apontarem para uma convergência, que é o tempo médio gasto em escapismo digital, seja na verdade o sintoma e não a doença em si?

Estamos em uma sociedade profundamente e historicamente desigual. Durante muito tempo, o estudo e o trabalho foram a promessa de mobilidade social para uma população marginalizada. Gerações cresceram vendo seus avós, pais e tios se matando de estudar e trabalhar, sem alcançarem a promessa. Eles, no fundo sabem, que essa promessa contempla pouquíssimos, e sabem que o Estado brasileiro e as instituições em geral não estão nem aí para eles.

Soma-se a isso todas as camadas de violências contra alguns segmentos marginalizados. A título de exemplo e indício nesse sentido, existe uma matéria de 2023 do TechTudo, que informa que o maior percentual de gamers no Brasil são pessoas negras e pardas. A matéria supracitada no começo do texto sobre streamings, informa que o maior percentual de assinantes é de mulheres. Um episódio anedótico, mas quando estive em uma aldeia indígena em São Paulo, em idos de 2019, me chamou a atenção uma forte adesão dos jovens indígenas ao jogo de celular Free Fire, mas enfim, carece de dados mais detalhados e estudos mais aprofundados. Os idosos, que também são marginalizados e tiveram sua vida precarizada pelos ajustes e reformas na Previdência Social, são o público alvo preferido das milícias digitais, e é sabido que passam muito tempo no Whatsapp e Telegram, consumindo e disseminando conteúdos de extrema direita. Extrema direita essa conhecida por sua estética que flerta com o entretenimento de gosto duvidoso e seu discurso descolado da realidade material, ou seja, escapista.

O cenário brasileiro é tão desolador e o processo de precarização da vida está em estágios tão avançados, que eu acredito que essa tendência tende a se agravar. Esse cenário distópico é o paraíso para a extrema direita, e para os bravateiros e oportunistas de plantão, que vendem sonhos e ilusões, sejam promessas de emagrecimento, corpo perfeito, chip da beleza, enriquecimento através de esquemas de pirâmides, BETs, empreendedorismo e todo tipo de picaretagem e malandragem já conhecida por aí.

Para os governos e oligarquias é muito cômoda essa situação. Você não precisa gastar dinheiro com cultura, com parques, com entretenimento saudável, com segurança pública, se o jovem periférico está enfurnado em casa jogando Fortnite e rolando Reels do Instagram. Para a mãe desse garoto é melhor ele em casa no celular do que na rua correndo o risco de ser morto pelo tráfico, pela milícia ou pela polícia. O escapismo brasileiro não é questão de escolha, para algumas pessoas, é questão de vida ou morte.

 
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