Ayom

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from Ideias de Chirico


Elizabeth Sparkle, protagonista de “A Substância”.

Com atraso, após sua premiação de Oscar de “melhor maquiagem e penteados”, assisti ao horror corporal “A Substância”.

O filme narra o declínio de Elizabeth Sparkle, uma ex-atriz premiada que, após ser demitida de um programa televisual de ginástica por ser “muito velha” (segundo seu produtor), aceita um método de rejuvenescimento do mercado ilegal.

O método consiste em injetar em si mesmo uma substância que faz gerar a partir do corpo do injetante uma versão mais jovem sua. Cada versão tem a consciência da pessoa “matriz” por uma semana, enquanto a outra fica inconsciente. Isso requer uma manutenção que, caso não seja feito regularmente por ambas as partes, faz com que uma delas se deteriore e envelheça prematuramente.

Mais do que uma crítica ao patriarcado, “A Substância” centra-se no problema do etarismo. O patriarcado é um mal estrutural antigo, e há peças mais ilustrativas sobre esse tema do que esse filme. Porém, para a nossa sociedade de desempenho (em termos do filósofo coreano-alemão Byung-Chul Han), envelhecer é um problema, pois os mais velhos não produzem nem dão lucro.

Criticá-lo frontalmente é o ponto mais brilhante e sensível deste longa-metragem. Elizabeth mesma deixou de ser lucrativa para o produtor a partir do momento em que envelheceu e ficou menos “televisível”. Foi então descartada do estafe sem grandes cerimônias, malgrado a sua longa carreira.

A velhice nunca esteve tão distante da beleza e do bem-estar como agora. No ano de 2025, quer-se sempre jovem e potente, seja por aparência, seja por “essência”. E, ironicamente, com menor taxa de nascimento, menor poder de compra e maior desigualdade entre as classes, estamos nos encaminhando para uma sociedade mais velha e sem suporte aos mais idosos.

Os momentos mais marcantes do filme premiado são de Sue “discutindo” com Elizabeth, a chegar até o paroxismo daquela surrar esta. Isso representa tanto a nossa relação com nossos eus futuros, que desprezamos, quanto a relação dos mais jovens com os mais velhos. Mesmo.

Sue, a versão mais jovem de Sparkle.

O “SAC” da “Substância” rejuvenescedora, quando contatada, com frequência diz que “Vocês são uma só”. Mas como uma versão pode fazer mal à outra se ambas fazem parte de uma mesma consciência? Aí reside a genialidade do filme. Conforme as semanas avançam e uma versão adquire mais prestígio do que a outra, cada qual passa a agir displicentemente, sem considerar versão da semana seguinte, a ponto de cada uma adquirir consciência autônoma e até a criar rivalidade entre si. Nas cenas finais do filme, Sue fala em entrevistas de Elizabeth como se essa fosse outra pessoa.

Isso nos faz refletir sobre a relação entre a responsabilidade e a juventude. O senso comum associa a juventude à inconsequência, porque “essa é a sua natureza”, já que “não tem o cérebro totalmente formado” etc. Sue nada mais é do que uma mulher de 50 anos em um corpo de 30. Ainda assim, ela é inconsequente. O que poderia justificar essa postura?

Poder.

E poder no sentido mais concreto de todos: “poder-fazer”. Há gente que com muita frequência desejaria “voltar no tempo com a cabeça que tem hoje”. Mas o poder-fazer cega. Quem garante que se voltássemos no tempo faríamos diferente? Quem garante que não cairíamos na sedutora delícia do erro? Há vezes em que erramos, não porque somos imaturos, mas porque sabemos que aquele é um erro sem a possibilidade de ser repetido...

O longa-metragem apresenta duas falhas notáveis: a falta de aprofundamento nas personagens e de coadunação estética.

Passamos duas horas assistindo a uma mulher que já foi uma Oscar-premiada e não sabemos sequer como foi sua vida de atriz e como sucumbiu à programação barata de televisão, ou por que ela vive sozinha etc. Além de tudo, reduzir uma personagem feminina à sua aparência e sua vida profissional é danoso mesmo em um filme que procura criticar a objetificação feminina.

Outra coisa esquisita é a confusão estética. O cenário e o hábito é todo oitentista, vistos na vestimenta, no uso do jornal e do telefone fixo com fio. Só que a trilha sonora é moderna, e volta e meia damos de cara com telefones celulares e televisões de plasma.

Por outro lado, quando se justapõem cenários, hábitos e tecnologias antigos e modernos, é como se se delineasse uma identificação entre a época atual à sua antecessora. Forma-se daí a ideia de que, nos aspectos apontados pelo filme (patriarcado e etarismo), não evoluímos como sociedade.

No mais, achei o longa-metragem bem próximo do gênero de ficção científica, e me fez refletir sobre o papel da ciência na busca compulsória pela juventude e, por consequência, na pressão social pela conservação da aparência. Por isso, “A Substância” entra para a lista de filmes que poderiam muito bem ser um episódio de Black Mirror.

(Até porque, dado o seu baixo desenvolvimento de personagens e seu trabalho pobre em fotografia ― sobretudo baseado em closes ―, mais parece um episódio de série do que um filme).

#cultura


 
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from drax

Cultivo

É um dia como outro qualquer na minha humilde fazenda, exceto pela tempestade que ao longe se aproxima. É noite e posso sentir minha exaustão após um longo dia de trabalho. O vento lá fora está muito forte e posso perceber que no horizonte relampeja.Vou fechar as portas e janelas e aguardar a tempestade passar. Um ensurdecedor estrondo me surpreende, aparentemente, um raio caiu bem no meu quintal. Agora a escuridão me cerca e eu me encolho na cama rezando para esse caos passar… E sem perceber, eu apago, um novo dia nasceu. Hora de avaliar os danos, parecem bem menores do que o esperado. Um ou outro galho caído e no meio do quintal, uma marca, deve ser o ponto onde o raio atingiu. Por mais que tenha deixado um largo círculo de grama queimada no chão, estranhamente, não gerou um incêndio e a parte mais estranha de tudo isso é que bem no centro desse círculo uma pequena planta nasceu. Sim, eu sei que é de se estranhar esse fenômeno, mas acima de tudo a misteriosa planta me fascinou, decido cultivá-la. Uma semana se passou, a planta parece com muita saúde, todo dia tenho ido regá-la e ela já se estruturou em um caule de uns 20 cm. Mas algo está me incomodando, parece que as minhas atividades rotineiras que tanto me acostumei estão me cansando mais do que o normal. É algo sutil, porém notável. Faz um mês que eu ritualmente cuido da planta, agora ela se ergueu como uma vistosa pequena árvore de não mais que 1 m. Meu cansaço aumentou significativamente a ponto que passei a deixar algumas tarefas de lado, mas não consigo deixar de cuidar dela. A planta está se tornando uma prioridade na minha vida. Três meses… Meus animais definham, minhas plantações morrem, minha casa está um caos… E eu… Estou sem energia. Mas a planta está bem! Isso é o que importa! Minha mente não funciona mais... Cansaço e fome me tomam… Mas, tenho que terminar de cultivar a planta. Eu abro a porta para o quintal enquanto sinto minha vida se esvair... Eu a vejo, ela deve ter… 1,60… Minha altura… He he… Agora que parei para pensar, essa é uma planta estranha… Da raiz saem dois caules que mais se parecem pernas e estes se juntam num… Tronco? Do tronco saem dois galhos… São braços? E então, no topo, o que parece ser uma cabeça. Me aproximo… A lentos passos me arrasto para aquela que tenho dedicado meus últimos meses… Ela não só parece ter um corpo humano… Altura, proporções e até mesmo as feições do estranho rosto de madeira e folhagens se pareciam… Comigo? A planta começa a mexer… Ela move suas pernas... Erguendo-as da terra... E se cortando de suas raízes… Minha visão está embaçando… Sinto minha vida se afastando de mim… Respiração pesada… Minhas pernas não mais me sustentam e caio de joelhos no chão… Eu olho para cima enquanto ela se aproxima… Ela se inclina na minha direção… Agora não parece mais de madeira nem mesmo é verde… Uma perfeita cópia minha… E então ela suspira nos meus ouvidos as últimas palavras que irei ouvir na minha existência… — Agradeço pela minha vida.

 
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from Ideias de Chirico


Como tornar a tecnologia divertida de novo?

Cartum de Hartley Lin na New York Times. Tradução livre: “Oh, cara, eu adorava brincar com essas coisas antes de elas se conectarem a outras pessoas”.

Sonhamos por anos em ter algum instrumento dopaminérgico prático e que coubesse no bolso, para nos livrar do tédio das horas vagas do trabalho, das viagens intermináveis, das conversas desinteressantes, de horazzz zzzentadozzz na zzzala de ezzzpera. Mas agora, agora já o temos! Viva! Tédio nunca mais!

(Agora temos ansiedade coletiva).

Vez ou outra costumo ver propagandas de computadores dos anos 90, 2000 e 2010. Assistir a propagandas nos ajuda a entender o imaginário dos objetos de consumo. Não me recordo de como era a usabilidade (provavelmente horrível!), mas lembro como cada minuto em frente ao computador era precioso e deveria ser apreciado ao máximo.

A qualquer momento algum parente poderia nos tirar dali para abrir alguma sala de bate-papo ou fazer a mais pixelada vídeo-chamada possível. Estaríamos com nossos computadores pela manhã, e talvez não a veríamos mais pela noite.

A tecnologia eletrônica era divertida. Não era a protagonista de nossos dias, como hoje; era um convidado, aquele tio esquisito que vem de longe contar causos e fazer coisas extraordinárias. Com ele, aprenderíamos algo de novo.

Hoje a tecnologia está estampada em todos os lugares. É o polemista que define o debate público, e é sobre quem mais se fala. Antes, se a tecnologia era uma extensão de nossos olhos, agora é a extensão de nossas bocas ― cada vez mais rançosa e verbal. Se antes, com as redes sociais víamos nossos amigos, agora nela vemos nossos piores inimigos. Parafraseando para este contexto uma fala de Jérémie Zimmermann:

Em quinze anos passamos da era da informática “amiga” para a informática “inimiga”.

A minha relação com a tecnologia mudou de vez por volta de 2014, quando recebi o meu primeiro smartphone, um pequeno Samsung com suas cinco polegadas. A partir do momento que eu pude acessar informações pelo smartphone antes só obtidas pelo computador, notei alguns efeitos nocivos.

Em contraste com o computador, que necessita de um espaço estável e de cabos para estar conectado, os telefones inteligentes trouxeram a portabilidade unida à conectividade sem fio. Isso tirou ritual de “penetrar no mundo virtual” ― sentar-se, ligar o computador, esperar pelo seu longo processo de boot e concentrar-se na navegação de bate-papos e discussões em fóruns.

O telefone, por outro lado, está a todo momento ligado, e pode estar em qualquer lugar, conectado de vários modos. Com o telefone, não há ritual, o ritual está em sair dele, pois a maior parte das atividades cotidianas lhe são atravessadas.

Lembro de quando instalei o Twitter no meu telefone, a rede social que eu mais amava até então. Apesar dessa rede social ter sido desenhada para ser leve e móvel, até 2013 o Twitter era um veículo ao qual eu tinha acesso somente pelo computador. “Tuitar” era um ato imóvel, realizado pelo computador. Quando eu pude então passar a publicar de qualquer lugar onde estivesse, passei a me tornar uma pessoa impulsiva e neurótica.

Impulsiva, porque passei a querer publicar tudo o que viesse à mente, assim, de cara, sem filtro ― um mal do tuiteiro até hoje, inclusive ―: e neurótica, porque passei a redigir mentalmente tuítes viralizáveis ou respostas perfeitas para discussões que eu tinha.

De 2023 para cá, depois de muita experimentação, minha relação com a tecnologia melhorou. Foi quando, pelo Manual do Usuário, conheci a slow web. A slow web é menos um movimento do que um modus operandi perante a internet: a partir dele, freia-se a velocidade da navegação para pô-la em ocasiões pontuais do dia a dia. Navegar passou a não ser um ato ininterrupto, mas sim um evento mais ou menos agendado.

A tecnologia voltou a ser uma visita. Parte até dos meus hábitos que envolvem tecnologias não conectadas são impactados pelo raciocínio slow web, como por exemplo a leitura do meu feed RSS, que faço através do meu Kindle. Em vez de atualizar meu feed diariamente, espero até a próxima sexta-feira para receber as próximas atualizações.

Encontro também mais alegria com um computador pessoal. É nele que penso quando se fala de uma relação saudável com tecnologia. Até hoje tenho um prazer genuíno ao estar com meu laptop Positivo que ganhei quando ainda era adolescente, que, apesar de bem velho, é conservado e ainda resolve todos os meus problemas.

Gosto de como em um computador pode desembuchar com mais agilidade a maior parte de meus problemas, inclusive problemas de comunicação; de como ele pode ser expandido com os mais diversos periféricos; de como pode ser configurado ao meu bel-prazer; de como pode ser consertado em praticamente todos os lugares. Penso até mesmo que a experiência com as redes sociais são bem melhores por um computador!

Parte do prazer com a tecnologia também está em tê-la como um objeto a ser manuseado e configurado; está em tirar a tampa de sua “caixa-preta” e torná-la um instrumento que o usuário domina por completo. E isso, claro, é perpassado por software livre e de código aberto. No blogue da Ava, há um bom argumento para termos controle sobre nossos dispositivos e evitarmos a sua conveniência compulsória.

Sei: não é mais possível recuperar aquela alegria dos primeiros anos da informática. O que relato aqui é o que se ajustou ao meu ritmo e aos meus recursos. Há por exemplo quem tenha conseguido recuperar a alegria pela tecnologia investindo em equipamentos dedicados, como câmeras digitais, tocadores de .mp3, vitrolas, e até máquinas de escrever; há quem conseguiu fugir do vício em telas investindo em um “telefone burro”, dedicado a fazer ligações, ou em um telefone somente para as redes sociais e aplicativos financeiros. Cada um deve fazer o seu estudo de caso e adotar hábitos que lhe caibam.

É necessário dizer também que o discurso que prega a redução do tempo de tela está impregnado pelo discurso da sociedade do desempenho (em termos de Byung-Chul Han), no qual devemos ser chefe e empregado ao mesmo tempo, e nos forçamos a produzir sem parar. Logo, ao tempo que devemos evitar os danos causados pelas tecnologias dopaminérgicas, também devemos evitar o cultivo renitente da culpa pelo descanso, seja ele com um telefone, seja com um livro em mãos.

Sei também que para muitas pessoas o telefone celular é a única fonte de lazer; isso, porém, denuncia mais uma situação de desigualdade do que o estado de arte da informática. No entanto, em uma postura cyberpunk, precisamos compreender os efeitos da tecnologia, apropriar-se deles e neutralizar aquilo que não é conveniente.

Disclaimer: Nenhum texto é uma ilha. Tenho de creditar esta publicação a um tópico de discussão que abri no Lemmy, o fórum fediversal, e que recebeu muitas boas respostas que me fizeram refletir bastante sobre o assunto e desenvolver alguns argumentos desta Ideia de Chirico.

#tecnologia


 
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from Ideias de Chirico


Imagem de uma piscina em um condomínio fechado. À direita há um parquinho para crianças

Espaço liminal?

Como ando sem pauta, aqui vai um copicola de algumas publicações do meu perfil pessoal do Fediverso, o @arlon@harpia.red. Isso é bom para quem não é da bolha fediversal, e é bom para quem é da bolha fediversal, mas não pôde me acompanhar nos últimos dias. Intercalam esses “tuítes” algumas fotos que tirei nos últimos dois meses.

Proposta de aportuguesamento

Noob = nube.

“Nube” também sugere nuvem. “Nubar” é ser nube, mas ao mesmo tempo sugere “anuviar”, “nublar” etc.

P.S.: “Nube”, ao contrário de outros aportuguesamentos, não tem excedente de caracteres em relação ao seu relativo estrangeiro, o que o pode tornar mais sugestivo.

Pode cagar.

Instagram em modo saudável

Experimentando navegar pelo Instagram somente pela versão web, através da linha do tempo cronológica, evitando os reels nem os stories.

Fosse só isso, seria uma ótima rede social.

Última leitura

Terminei a leitura de “Walden”, de Henri David Thoreau ― mas parece que sigo o lendo…

Desde “Em louvor das sombras”, do Tanizaki Junichiro, não tinha lido um livro tão influente sobre meu comportamento em relação às coisas e aos espaços em geral.

Foto de uma lambreta de cor azul-bebê. Ao fundo, um bosque universitário.

Bibi.

Mais uma dúvida de língua portuguesa respondida

O professor Pasquale me respondeu mais uma dúvida de língua portuguesa!

Ele mantém um programa na Rádio CBN, que se chama A Nossa Língua de Todo Dia, na qual tira dúvidas sobre LP e toca música boa.

A descrição do episódio é a seguinte:

Um ouvinte tem dúvidas sobre o uso dos verbos na forma infinitiva em avisos falados e escritos ou para expressar ordens. Os auxílios luxuosos são ‘Desesperar, Jamais’, com Roberto Ribeiro, e ‘Renascer’, com Zizi Possi.

Aqui o arquivo dele.

Xubuntu é uma merda, mas é bom

Nada como um sistema 100% responsivo. Não é este o caso do Xubuntu.

Estou com ele instalado em um laptop Positivo pré-adolescente (com ~13 anos). Por alguma razão o sistema volta e outra congela. O menu Whisker às vezes demora a responder.

O sistema mais responsivo que peguei até hoje foi o grande Linux Lite. Uma pena só que eu tenha de ir com muita frequência ao terminal. A vantagem do Xubuntu é que ele é muito prático e a maior parte do programas instalo em uma lojinha do sistema.

Pessoa deitada em duas poltronas. Está de casaco. Suas duas mãos estão postas dentro dos bolsos do casaco, enquanto sua cabeça está escondida na toca do casaco.

Performance artística não intencional na Uece, campus de Fátima.

Locais ideais para estudo

Estou estudando e lendo no bloco de música da Uece.

É perfeito. Música ao vivo e “natural” (i.e., sem algum grande evento por trás) é como um limpador sonoro. Há sons de tudo enquanto ao redor do bloco, desde cachorros até ares-condicionados. Mas enquanto há música orgânica, mesmo que improvisada, ela é o que interessa.

Vez ou outra ouço algum trechinho perdido de alguma peça que conheço e às vezes até me dá vontade de ir à sala de estudo, abrir a porta e perguntar: “Onde irão apresentar essa peça?”

#notas


 
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from Ideias de Chirico


Sala de aula. Várias cadeiras com o assento de cor laranja. Ao fundo , uma lousa para pincel. Ao redor, nas paredes, há bandeiras de vários países.

Sala de aula na qual darei aulas de português para estrangeiros durante este ano de 2025.

Um texto diferente do que tenho publicado. Apenas quero compartilhar algumas coisas que tem me acontecido.

Na última segunda-feira, dia 10 de fevereiro, passei a ministrar aulas de português como língua estrangeira (PLE), ofertadas em um projeto de extensão da Universidade Estadual do Ceará. Esse era um projeto que eu almejava há muito tempo e que só agora o pude realizar.

O que era para ser um mero projeto de extensão para pagar minhas contas e oferecer uma experiência extracurricular (na faculdade não temos cadeira de ensino de PLE), passou a modificar minha perspectiva sobre vários assuntos, a começar pela perspectiva sobre a minha própria língua.

Por muito tempo, principalmente nos primeiros anos do curso de Letras Vernáculas, imaginei algum método de estranhar a língua portuguesa. Como assim? Eu queria olhá-la, lê-la, falá-la como um estrangeiro, como se nunca tivesse a visto antes. Esse desejo vinha sobremaneira dos meus experimentos com poesia concreta ― em alguns deles eu queria tornar a língua portuguesa um “ícone puro”, uma forma sem conteúdo (ou, como dizia sabiamente Décio Pignatari, tornar a língua portuguesa uma linguagem...)

Creio que quando dou aulas de PLE, consigo em alguns momentos chegar a esse ponto de estranhamento, de reset linguístico. Enquanto ensino o português para os estudantes estrangeiros, percebo suas dificuldades e passo a entendê-los; estranho a minha pronunciação; tenho dúvidas de ortografia; percebo as especificidades de minha língua e também as suas lacunas. E então, passo a amá-la mais. Amo minha língua depois de ensiná-la como se ama mais a própria casa depois de viajar.

Outra perspectiva modificada foi a profissional. Pela primeira vez na vida sinto prazer genuíno em ensinar. Mesmo. Ao terminar as aulas, não me sinto cansado; ao chegar em casa, não fico ansioso para fazer planos de aula; ao me deitar para dormir, sinto entusiasmo ao saber que no dia seguinte estarei em sala de aula. Acho que só agora, depois de quase um ano como professor, estou curtindo de verdade dar aulas!

Sei que a situação é assaz excepcional: ensino algo de que gosto a pessoas que precisam aprendê-lo. Os estudantes imigrantes do programa do qual participo estão se preparando para uma prova para comprovar aptidão em língua portuguesa. Caso sejam aprovados, estudarão nos cursos que desejam. Caso não passem na prova, ou repetem as aulas de língua portuguesa (consumindo mais dinheiro estatal de seus países), ou voltam para suas casas familiares ― o que talvez os deixaria envergonhados. Só que essa possibilidade parece não ser cogitada. Aparentemente gostam das minhas aulas, pois permanecem focados e até se divertem!

Há algumas discussões sobre se é realmente necessário saber outras línguas além do português para dar aulas de PLE. Com as línguas estrangeiras que aprendi ou tenho aprendido ― como espanhol, inglês e francês ―,por muito tempo imaginei aproveitá-las para ensinar estrangeiros a falar português.

Creio que, se eu fosse monolíngue, haveria muito mais dificuldade de apresentar um conceito. Além disso, falante somente de uma língua, eu não entenderia como ocorre a aquisição de línguas. Saber outras línguas tanto facilita o ensino quanto o aprendizado da língua materna...

Textinho rápido, apenas para atualizá-los sobre o que tem me ocupado nas últimas semanas ― já que só relatá-lo pela página /now não seria suficiente ― e aquecer um pouco a escrita com algumas reflexões que o meu novo trabalho tem proporcionado. Sigam me lendo, e, caso tenham alguma coisa para comentar, não hesitem em me contatar pelo e-mail que está no rodapé desta publicação.

#cotidiano


 
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from Felipe Siles

O fenômeno que vou narrar não é novo, o historiador José Ramos Tinhorão já aponta há muito tempo a identificação da classe média brasileira com a classe média dos Estados Unidos, e a não identificação com a classe popular do Brasil. Segundo a crítica de Tinhorão, presente em diversos de seus livros, essa identificação cultural da classe média com o americano — que se dava principalmente na música (o jazz), no cinema e no vestuário — culminou na Bossa Nova. Porém, a reflexão que eu tento fazer aqui se dá em cima de processo semelhante, mas que foi por mim presenciado no início dos anos 2000: a popularização das séries americanas aqui no Brasil.

Eram os anos 2000, início do governo Lula 1, os Estados Unidos foram abalados pelo atentado terrorista do 11 de setembro de 2001 e, apesar do arranhão, pelo menos naquele momento ainda permaneciam no topo do mundo. No Brasil, por uma série de fatores, começou o processo de grande mobilidade social, levando ao inchaço da classe média no país. Quem vive no Brasil sabe, acho que nem a Judith Butler é capaz de imaginar que por aqui a classe social não é só questão de patrimônio, mas também de performance. A classe popular faz tudo para parecer a classe média, a classe média emula comportamentos da classe dominante, e a classe dominante jura que é pobre, que não é tão privilegiada assim... como dizem, isso aqui não é para amadores.

Essa performance de classe social ocupa o nosso imaginário de uma forma que a gente nem se dá conta direito. Eu, que sou oriundo das classes populares, me lembro que desde criança minha mãe vivia me enchendo a paciência com a questão da aparência: não pode andar na rua de chinelo e bermuda, precisa cortar o cabelo (o cabelo não pode em hipótese nenhuma ficar armado, estilo black), até pra ir no mercado precisa se arrumar.

No Brasil do Lula 1 as placas tectônicas das classes sociais começaram a se mover, e a classe média, que passou a ter os seus ambientes frequentados agora também pelas classes populares (aeroporto, rolezinhos no shopping, etc), precisava se distinguir dos subalternos, no aspecto cultural, o que também não é nada novo (até mesmo antes da Revolução Francesa, os nobres ameaçados pela burguesia que ascendia se diferenciavam pelo gosto artístico). O cinema e a música já não davam mais conta de diferenciar tanto assim as duas classes, já que ambas consumiam mais ou menos os mesmos produtos: a classe média ia no cinema, a classe popular assistia o mesmo filme quando passava na Tela Quente; a classe média comprava CDs, a classe popular ouvia as mesmas músicas no rádio ou em fitas K7. E é nessa mesma época que começou a se popularizar um tipo de entretenimento: a TV à cabo.

É seguro dizer que, nessa época, o principal entretenimento das classes populares era a televisão aberta: novelas, futebol, Jornal Nacional, Silvio Santos, etc. E a classe média, com TV à cabo, gostava de Friends, Two and Half Man, House, Lost. A classe popular consumia as séries americanas só quando passavam dubladas na tv aberta: Todo mundo odeia o Chris é um bom exemplo. Eu me lembro bem do estranhamento que tive, pois a partir do meu ingresso em universidade pública em 2003, passei a conviver com esses dois mundos. Na minha casa a gente assistia Kubanacan e Domingo Legal (assim como na casa de meus amigos do Ensino Médio), já meus amigos de faculdade assistiam Law and Order.

E a classe média, ameaçada pela classe popular ascendente, fazia questão de reforçar esses limites, adquirindo produtos das suas séries preferidas: livros, canecas, camisetas, etc. Conversavam entre eles sobre as tais séries, deixando quem não acompanha esse mundo boiando na conversa. Desenvolviam piadas e compartilhavam referências entre eles: “ah, isso é tão fulaninho do Friends” (p.s.: não sei o nome de nenhum personagem dessa série), também com o objetivo de se diferenciar do pobre, que assistia Ratinho e Ana Maria Braga.

Assim como aconteceu com a música e o cinema, esse consumo de séries hoje se massificou, e não é mais possível diferenciar as classes sociais no Brasil pelos produtos culturais que elas consomem, já que todas consomem os mesmos produtos. Essa massificação deve-se a inúmeros fatores: a TV à cabo que cada mais se popularizou, a chegada do streaming, e das redes antissociais com seus famigerados algoritmos.

Porém, você lembra que o Brasil é o lugar onde o pobre quer parecer a classe média, a classe média quer parecer o rico, e o rico quer parecer o pobre, né? Pois é... O rico pode viajar para os Estados Unidos praticamente a hora que quiser, a classe média não necessariamente, precisa planejar bem a viagem. E essas séries trouxeram uma familiaridade com a cultura, o jeito de pensar e até com a geografia dos Estados Unidos. Sentiram-se contemplados, porque na performance da classe média em parecer classe alta, esse conhecimento pode até fazer com que pareça que eles conhecem a terra do Tio Sam, como se viajassem para lá o tempo todo.

O pobre, assim que teve acesso a esse produto cultural, passou a consumi-lo para performar uma imagem de classe média. Diferente do filme, a série está ali contigo o tempo todo, uma vez por semana, todo dia, depende, mas é uma presença constante, é diferente do filme onde você fica exposto às ideias americanas por duas horas e depois volta pra Banheira do Gugu e pras Videocassetadas. E o povão, que tinha seu imaginário de desejos povoado pela novela das oito, passou a desejar o sonho americano, aquele american way of life. Tanto classe média como classe popular sonham com a mobilidade e ascenção social, e agora ambos buscam essa ascenção através da mesma bússola, que é esse estilo de vida americano, o que também ajuda a explicar o fenômeno do empreendedorismo e a praga dos coachs.

Pouca gente no Brasil conseguiu capitalizar e organizar esse desejo e esse imaginário como a extrema direita, até os dias de hoje inclusive. A babação de ovo para o Trump, o Bolsonaro batendo continência para a bandeira dos Estados Unidos, liberação do porte de armas, importação de movimento antivax, vocabulário coach, tudo isso mexe com o desejo de mobilidade social do povo, que a partir do consumo das séries se organizou e se alinhou ao american way of life. No senso comum do povão, tudo que venha dos Estados Unidos é melhor, sentimento que é muito bem ilustrado pelo personagem Renan do Choque de Cultura. Esse sentimento já existia por conta de Hollywood, mas foi aprofundado com o consumo das séries.

Lógico que as séries sozinhas não são responsáveis pela ascenção do facismo brasileiro, há também a contribuição dos jogos de videogame, filmes, música, comida ultraprocessada e outros produtos culturais. Mas pude ver de perto, o quanto essas séries foram utilizadas como marcador de classe social, na medida que falar mal ou simplesmente dizer que não liga para How I meet your mother ou Orange is new black é como ofender a mãe de algumas pessoas, porque faz a pessoa lembrar que a fronteira entre classe popular e classe média é mais frágil que a masculinidade, o que faz essa pessoa ir correndo para o Starbucks tomar um café meia boca e continuar no auto-engano.

E até hoje, mesmo dentro do campo progressista, eu consigo sacar a origem social de pessoas da minha geração facilmente pelas suas referências culturais. As minhas referências de anos 2000 estavam a maioria na TV aberta, no máximo na MTV, que pegava na TV aberta em alguns lugares. Eu sou capaz de reconhecer infinitos jogadores de futebol, mas devo saber no máximo o nome de uns trinta atores dos Estados Unidos. Vai ver que é por perceber esse fenômeno que eu até hoje não tenho a menor boa vontade com séries, não acompanho quase nenhuma, com poucas exceções. E também porque são muito grandes, tenho mais o que fazer...

 
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from Ideias de Chirico


A partir da recomendação de uma tradição vinda do blogue do Rodrigo Ghedin, passarei a escrever um relato a cada novo aniversário meu. Hoje completo vinte e nove anos.

Sinto que me tornei um leitor “fluente” apenas neste ano. Só agora sou capaz de estar com um livro durante horas sem que isso me enfade ou entedie, ou sem que o livro se torne uma atividade a ser enfrentada, mas uma atividade de lazer ou de formação como qualquer outra. Levei dez anos para fazê-lo ― em 2014, aos 18 anos, comprei o primeiro livro de minha biblioteca.

O mais engraçado é que sou um estudante de Letras! Só de pensar que levei tanto tempo para estar confortável com os livros, tremo ao imaginar em como deverei formar a leitura de meus futuros alunos escolares ― se é que eu irei para esta área de trabalho...

Também sinto que me tornei um adulto somente neste ano. Agora consigo responder pelos meus atos, planejar melhor minhas coisas, ver as coisas e decidi-las por conta própria, bem como estar consciente de cada comportamento que deve ser tomado a cada situação.

Para tanto, houve um grosso investimento em psicoterapia, vida social saudável, como também em formação intelectual. Minha irmã mesmo, com quem já tive uma série de problemas no passado e que me via como uma criança, na última vez em que nos vimos, disse que eu estava mais maduro ― mudar a impressão que familiares têm de nós é uma raridade, vocês devem concordar...

Inclusive pela primeira vez na vida depois que saí da casa de meus pais, em 2016, estou em paz com meus irmãos. Já não procuro mais me comparar com eles. Não os trato mais como superego ― aquela voz misteriosa que sussurra uma censura, aquele fantasma que se projeta sobre a visão na hora agá de um vacilo.

O evento de aniversário em si infelizmente ainda me afeta. Não consigo ficar alegre ou minimamente otimista quando chega todo dia 22 de janeiro. Me sinto mais velho e mais atrasado. Além de que ainda não superei meus traumas com esta data. Não esqueci das vezes que as pessoas que eu amei fizeram pouco deste dia; nem da vez que, na expectativa de que meu pai fosse me fazer uma festa de aniversário, em vez disso, ele me pôs para trabalhar de graça em um restaurante que nem era seu.

Então pouco a pouco fui me desencantando com este evento. Hoje, durante meus aniversários, prefiro estar assim: sozinho com minhas palavras em uma cafeteria, na esperança de que ninguém lembre que neste dia eu nascera. O máximo que aceito é um e-mail de amigos que quero bem. Tem sido assim desde 2022.

Por outro lado, até que enfim consegui voltar a me arriscar no amor. A última vez foi em 2023, e tive vários problemas com calúnia e manipulação ― e isso em um relacionamento casual, que não durou duas semanas. Fiquei então um ano sem sair com ninguém, só voltando a conhecer mais pessoas no fim de 2024. Sempre fui um fracasso com a vida amorosa, porém creio que agora estou em condições de melhorar minha situação.

#cotidiano


 
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from daltux

Avatar do F-DroidFui instigado por uma publicação no Mastodon que pergunta:

Que apps vcs usam do fdroid?

Como a resposta não coube em 500 caracteres, resolvi redigir, aqui, uma lista com aplicativos que tenho utilizado na tornozeleira eletrônica de bolso Android, instalados com o F-Droid (conheça), sejam eles provenientes do repositório padrão, sejam do repositório IzzyOnDroid ou de outros a serem citados. Todos são software livre, regido por diversas licenças assim consideradas, embora às vezes possam ainda ter dependências não-livres, com eventuais observações na página de cada pacote. Tento ainda colocar para que servem, com o mínimo de palavras.

  • Aegis Authenticator – segundo fator de autenticação (2FA) nos padrões TOTP e HOTP
  • AntennaPod – podcasts
  • Autu Mandu (IzzyOnDroid) – gestão de gastos de automóvel
  • BreezyWeather (IzzyOnDroid | F-Droid) – previsão do tempo
  • Commons – envio de imagens e edição de metadados para Wikimedia Commons
  • DAVx⁵ (IzzyOnDroid) – sincronização de agendas (CalDAV) e contatos (CardDAV). Utilizo com Nextcloud.
  • Download Navi – gerenciador de baixação de arquivos com maior controle
  • Etar – agenda
  • Fedilab – cliente para redes sociais federadas Mastodon, Pleroma, Pixelfed, PeerTube, GNU Social, Friendica e variantes
  • HeliBoard – teclado
  • Imagepipe – remove dados Exif e reduz tamanho de imagem antes de compartilhá-la
  • Jerboa – cliente Lemmy (Ayom Fórum)
  • Jitsi Meet – videoconferência
  • K-9 Mail – cliente de correio eletrônico, utilizado para múltiplas contas
  • KeePassDX – gestor de senhas. Sincronizo com Syncthing.
  • KingInstaller (IzzyOnDroid) – instala aplicativo marcando-o como se tivesse sido instalado por Play Store, a fim de tentar contornar restrições
  • Librera Reader – leitor de e-book
  • Logseq – gestão de conhecimento. Utilizo para anotações. Sincronizo com Syncthing.
  • Monocles chat – mensagens e chamadas individuais e em grupo (XMPP)
  • ~Mull~ – navegador Web compilado a partir do código-fonte do Firefox, porém com mais privacidade e remoção de blobs
    • Projeto descontinuado em 2025. A equipe F-Droid sugere Fennec em seu lugar.
    • Navegadores “amigos da privacidade” podem ser obtidos também pelo FFUpdater
  • NewPipe – cliente leve para YouToba
  • Nextcloud – acesso a arquivos de Nextcloud
  • Nextcloud Talk – mensagens e videoconferência integrada a Nextcloud
  • ntfy – cliente de serviço de notificações push de inúmeras fontes, até por cURL
  • Obtainium – obter/atualizar alguns aplicativos diretamente dos desenvolvedores.
  • OpenKeychain: Easy PGP – criptografia no padrão OpenPGP, podendo ser usado por K-9 Mail, entre outros
  • openScale – gestor do “peso” e de outras métricas corporais
  • Organic Maps – navegação (“GPS”) leve com mapas baixados mensalmente do OpenStreetMap
  • OsmAnd~ – navegação (“GPS”) extremamente minuciosa com mapas baixados mensalmente do OpenStreetMap, opcionalmente podendo ser atualizados a cada hora. Indispensável a quem colabora com o mapa.
  • OSS Document Scanner (IzzyOnDroid) – digitalização de documentos físicos com a câmera da tornozeleira eletrônica de bolso
  • Pano Scrobbler (repositório F-Droid do próprio desenvolvedor) – envia músicas ouvidas nos aplicativos do aparelho para serviços do gênero – utilizo com ListenBrainz
    • Também pode ser instalado pelo Obtainium
  • RiMusic – cliente leve de YouToba Music
    • Ultimamente, baixo o apk do GitHub (com Download Navi) e o instalo com KingInstaller, manobra lamentavelmente necessária se quiser que o aplicativo seja reconhecido por Android Auto e utilizável no aparelho embutido no carro.
  • RustDesk – acesso remoto a ambiente gráfico
  • SalvarEm – permite salvar em qualquer diretório um arquivo compartilhado por qualquer aplicativo
  • SatStat – dados de localização por satélites, bússola, rede celular, WiFi e outros sensores do aparelho
  • SCEE – versão um pouco mais avançada de Street Complete, app para facilmente ajudar a melhorar o OpenStreetMap
  • Syncthing-Fork – cliente do Syncthing, para sincronizar diretórios entre seus dispositivos, sem necessitar de “nuvens”
  • Termux – distribuição GNU dentro do Android com Bash e gerenciamento de pacotes similar ao APT do Debian.
  • Translate You – tradutor
  • VLC – tocador de praticamente qualquer arquivo de mídia. Utilizo com o diretório de músicas locais sincronizadas por Syncthing
  • WiFiAnalyzer – mostra metadados das redes WiFi

Atualizações

  • 2024-01-08
    • Mull/Fennec/FFUpdater e RustDesk, após informe da equipe F-Droid.
    • K-9 Mail, que tinha incrivelmente faltado na lista, bem como OpenKeychain, usados em conjunto, aqui instalados dentro de dita “Pasta Segura” do dispositivo.

Descrição da imagem no início

É o ícone do projeto F-Droid, uma figura em formato que lembra um robô com cabeça verde e corpo azul, retangulares, sem membros. A cabeça, mais achatada, possui dois olhos circulares brancos e de suas extremidades superiores saem duas antenas curtas, também verdes. O corpo ostenta, em azul mais escuro, uma letra C invertida, contida num círculo, o que representa a ideia de Copyleft.

The F-Droid logo – Copyright 2012 William Theaker, 2013 Robert Martinez, 2015 Andrew Nayenko – CC-BY-SA 3.0 Unported || GPLv3+

 
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from Felipe Siles

Esse é um texto bem com cara de final de ano. Afinal, vem o recesso e a maioria dos trabalhadores pode ter um pouco mais de tempo livre, descanso e muitos aproveitam para fazer andar a fila de filmes e séries. Não sou diferente, e apesar de ainda estar trabalhando, por conta da minha vida de profissional autônomo, tenho utilizado essa quebra na minha rotina normal para fazer testes, reflexões, consolidações e ajustes na maneira como eu escolho meu entretenimento audiovisual.

Mas Siles, que chatice! Precisa ser organizado até nisso? Não é só sentar na TV, relaxar e assistir o que quiser? Pode ser, se funciona assim pra você, ótimo! Mas eu acho que se a gente não precisasse de curadoria, não haveriam algoritmos de streamings e redes sociais nos entupindo de sugestões de filmes e séries. Quem conhece bem este blogue, já sacou que eu sou bem avesso a esses algoritmos e sua propaganda, acredito que cada sujeito ou grupo social deveria exercitar investigar o que realmente gosta de consumir, procurando se alienar dessa publicidade (na medida do possível) com o objetivo de auto-conhecimento, auto-descoberta e qualidade de vida, que realmente nos faça descansar do trabalho, e não gere ainda mais ansiedade. Fazendo um paralelo com alimentação, nunca vi propaganda na televisão de alimentos orgânicos, mas apesar disso eles são a parte principal da minha alimentação há muitos anos.

No sentido de evitar a ansiedade, eu sigo alguns princípios, que funcionam para mim. Podem não funcionar para você, mas isso aqui não é um guia ou manual da coisa certa a se fazer, apenas um relato pessoal da experiência que funciona para mim, e aproveite o quanto esse relato for útil para você. Minhas regras, por um entretenimento menos ansioso, são:

  • Prefiro me alienar de lançamentos e de hypes, com exceção de quando tenho a oportunidade de ir ao cinema, porque aí vou inevitavelmente assistir algo que está em cartaz. Mas dentro da minha casa, na frente da minha televisão, tento ao máximo ignorar o que todo mundo tá vendo, afinal sou um radical daquela regra da mamãe: “você não é todo mundo”;
  • Proibido mexer no celular ou em qualquer aparelho digital enquanto assisto um filme, série, etc;
  • O horário de televisão, assim como sua duração é pré estabelecido dentro da minha rotina;
  • Menos é mais, melhor ver poucas coisas e se divertir com elas do que tentar dar conta de várias e ficar perdido, ansioso e entediado, ou ficar criando listas e metas intermináveis e depois lidar com auto-cobrança.

A última regra e uma opinião muito impopular: pessoalmente, evito as séries. Na minha opinião elas são produtos meramente comerciais e sua explosão e popularização só se justifica na necessidade dos serviços de streaming demandarem produtos que vão prender o usuário na assinatura. No meu caso, um trabalhador com tempo livre escasso, as séries além de consumir muito tempo livre, ainda geram um nível de ansiedade, já que elas são produzidas para viciar e provocar a maratona. E sou uma pessoa que valoriza a rotina, as 8 horas de sono, as refeições no horário correto (as minhas costumam ser acompanhadas de um podcast), então dispenso esse formato de entretenimento. E tem uma pitada de old school e saudosismo também, ainda acho que a sétima arte, o cinema, os filmes, ainda é uma forma de entretenimento superior, seja lá o que isso queira dizer.

Substituto as séries por animes, que em geral são ótimos produtos culturais, com duração bem mais curta dos episódios. Enquanto uma série em geral tem episódios de cerca de 1 hora, um anime dificilmente chega a 30 minutos. Ou seja, ao invés de assistir dois episódios de uma série, eu prefiro assistir um filme (ou seja, uma história com começo, meio e fim, pelo menos assim espero rs), ou então 4 episódios de anime (animes diferentes, ou o mesmo anime, se eu estiver maratonando).

Outro detalhe interessante, com essa coisa de diversos streamings irem reduzindo o compartilhamento de assinaturas, fui deixando diversos serviços e atualmente assino apenas dois, que me contemplam bem (Max e Telecine), e compartilho a senha do Crunchyroll, assinado pelo meu irmão. Para as coisas que eu gosto de assistir essas assinaturas são suficientes. E se tiver algum produto cultural que eu queira muito ver, que esteja em outro serviços, sempre existem meios de assistir, se é que você me entende...

Contextualizado o meu gosto pessoal, minhas regras, vamos a como eu monto a minha curadoria:

  • Animes: acabo escolhendo por recomendações de amigos mesmo, esse é um assunto que eu sempre converso em determinadas rodas de amizades. Gosto de acompanhar alguns que ainda estão sendo produzidos, assistindo semanalmente o episódio novo. Gosto muito mais dessa forma de consumir do que as maratonas, acho mais gostoso e menos ansioso assistir desse jeito. Mas não posso negar que às vezes gosto de maratonar um anime, quando ele me pega muito. Vou acompanhando esses que estão sendo produzidos na atualidade uma vez por semana, e também pego um mais “antigo” para ir assistindo aos poucos. Esse “antigo” eu gosto de pegar bem os clássicos mesmo, consagrados pelo gênero e assisto um de cada vez, no máximo dois, não gosto de conciliar vários. Outra coisa, eu evito deixar a “lista de favoritos” muito grande, deixo só os novos que estou acompanhando, e o(s) “antigo(s)”, e quando termino de ver o(s) “antigo(s)”, tiro ele da lista. Atualmente estou considerando como ideal assistir no máximo 4 episódios de anime por dia, e se for futuramente mexer nesse número será para diminuir, e não aumentar;

  • Filmes: eu odeio aquela sensação de indecisão ao escolher um filme. Então já salvo vários que quero assistir na famosa “minha lista” e gosto de definir algum critério para a sequência que vou assistir. Exemplos: todos os filmes do Studio Ghibli (ou de outro estúdio), todos os filmes do Spike Lee (ou de outro diretor), filmes biográficos, filmes com um ator específico, filmes de um gênero específico, todos os filmes de uma trilogia ou coleção, etc. Esse tipo de critério ajuda muito na escolha do filme que vou assistir, já que a escolha é um processo cansativo para o cérebro e a ideia é relaxar e se divertir. E é legal que você fica no clima de um determinado tipo de filme. Por exemplo, assisti na sequência filmes biográficos sobre Pixinguinha e Elis Regina, foi uma experiência interessante e acabei traçando mentalmente diversos paralelos entre essas duas produções. Se nos animes eu evito a “minha lista” muito longa, aqui vou simplesmente adicionando tudo que quero ver, sem muito filtro, mas também não me cobro pra ver tudo num prazo específico, apenas penso nesse monte de filme como se fosse a minha locadora pessoal (essa só o pessoal dos anos 1980 e 1990 vai pegar a referência kkkk).

Outra coisa que acho legal é produzir um registro das coisas que assisto. Tenho utilizado as plataformas Justwatch e Letterboxd para isso. E elas também são muito úteis para descobrir em qual serviço de streaming está algum produto cultural que eu queira ver. Se você quiser me seguir no Letterboxd.

Mais uma coisa: eu não sou dessas pessoas que acha que todo entretenimento tem que ser “cult”, tem que levar à reflexão, etc. tem horas que eu amo assistir um filme de porrada para desligar o cérebro mesmo, viva o escapismo! Mas trocar a realidade dura de trabalhador no capitalismo tardio por um entretenimento raso 100% do tempo, é algo que eu evito também, então tento minimamente equilibrar. Normalmente eu gosto de assistir as coisas mais rasas durante a semana, depois de um dia cansativo de trabalho e deixar a arte mais profunda, “cult”, nobre, etc para os feriados e finais de semana.

Última coisa, prometo: não precisamos ocupar todo o tempo livre também, com filmes, séries, leituras, podcasts, músicas, passeios... o ócio também faz parte da vida, e lidar com ele tem sido um desafio na conteporaneidade, mas penso que valha a pena encará-lo, em nome de uma vida melhor.

Bom descanso, e bom entretenimento!

 
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from daltux

Há anos, tenho usado Mosh para contornar instabilidades e mobilidade de redes, já que ele se baseia em UDP e é bem adequado a isso, sem precisar manter uma “conexão” caso usasse TCP. É projetado para lidar com as perdas e a funcionar conforme haja comunicação.

O problema que enfrentei com Mosh recentemente foi ao precisar passar por máquinas intermediárias (como em ssh -J — vide manual), algo que se tornou necessário recentemente no ambiente de trabalho. Estive desde então pesquisando como resolver isso. Com o próprio Mosh, não consegui adequadamente, embora continue possível utilizá-lo para acessar uma máquina disponível diretamente e abrir N shells com, p. ex. e o que recomendo, Byobu. É um gerenciador de “janelas” de terminal que mantém uma “sessão”, podendo deixá-la aberta, sair e retomar posteriormente, ou que persiste caso haja desconexão. Assim, um multiplexador como Byobu por si só já é uma solução para quem deseja contornar perdas de conexão, mesmo usando o próprio SSH. Aliado ao Mosh, então, formava uma dupla mais eficiente, praticamente infalível. Pena que não consigo fazer o Mosh se comunicar com host que não esteja disponível por SSH, mesmo tentando chamar manualmente os programas servidor e cliente.

Felizmente descobri agora, enfim, o autossh, cujo propósito é simplesmente monitorar o estado da conexão do SSH e reiniciá-la quando ela cai. Para a operação ser viável, configure devidamente uma maneira de se autenticar, preferencialmente com par de chaves, sem que o programa tenha que ficar esperando digitação de senha a cada reconexão. Se não abrir um multiplexador de terminal, também não vai adiantar muito, podendo surgir problemas em uma desconexão súbita. É possível habilitar Byobu para que seja iniciado a cada shell com o comando byobu-enable. A solução com autossh não é tão eficiente quanto mosh, mas já funciona bem, na combinação com Byobu.

Todos eles estão disponíveis nos repositórios principais do Debian GNU/Linux, entre outros. Portanto, recomendo pesquisar os atalhos do Byobu, no caso, para dominá-lo e usá-lo sempre! ( mosh ou autossh ) + byobu já! 💌


Byobu é, na realidade, um conjunto de scripts e configurações que visam tornar tmux ou GNU screen mais amigáveis, utilizando o que estiver disponível entre eles (tmux por padrão). Assim, as afirmações acima valem para eles também, caso prefira usá-los diretamente.


Consta ainda um projeto mais recente, chamado Eternal Terminal, que pretende funcionar semelhantemente a Mosh, porém lidando com TCP e alegando até suportar saltos de SSH. Embora publicado nos termos da licença Apache 2.0, não está disponível nos repositórios Debian oficiais até o momento. Então ainda não o testei, pois já fiquei satisfeito com autossh, fornecido pela distribuição.

#shell #OpenSSH #ssh #byobu #tmux #gnu #GNUlinux #debian #mosh #autossh #unix

 
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from yuribravos

Eu dirijo há mais de uma década. Nunca me envolvi em nenhum acidente sério, embora tenha tido uma ou outra batida de leve, sem danos além dos materiais.

Tirei a carteira de moto depois que casei, pois só tinha uma vaga e não cabiam dois carros. A primeira coisa que me deixou abismado com a motoescola é o fato — completamente aberrante, mas encarado como normal — de não ter aulas práticas no trânsito.

Tudo que te ensinam é se equilibrar sobre a moto e andar na primeira marcha. Nem ensinam a passar as marchas. Isso fica para o motociclista descobrir sozinho no meio da rua. Daí entendi porque há tantos motociclistas que dirigem de forma imprudente e sem noção: eles não foram ensinados a trafegar no meio de outros veículos.

Dito isso, eu já tinha mais de dez anos de prática no volante quando tirei a carteira de moto, então sempre dirigi de forma prudente. De forma correta. Até que, outro dia, tentaram me matar.


Eu também ando de bicicleta. Já andei mais. Por duas vezes fui derrubado por motoristas de carro que ignoraram qualquer regra básica de trânsito como preferênciais. Um deles fugiu, a outra se comprometeu a pagar pelo menos o conserto da minha bicicleta. Em ambos os casos a coisa me pareceu mais desatenção que qualquer outra coisa.

Uma desatenção, é óbvio, pavimentada sobre a percepção que a rua pertence aos carros e que, portanto, tudo mais deve parar e esperar que façam o que bem entenderem.

Nenhuma desculpa para o carrocentrismo das nossas vias urbanas.


Voltava do meu treino, pelo caminho que sempre faço. Tinha passado no mercado pra comprar algo para preparar a janta. No meu caminho, eu dobro à esquerda num entroncamento entre duas avenidas. A pista da direita também é bem comprometida, o que me faz, normalmente, seguir na pista da esquerda por 4 ou 5 quarteirões antes de dobrar no tal entroncamento.

O que não deveria ser um problema, já que vou rodando na velocidade máxima da via, 50km/h. Idealmente ninguém deveria fazer ultrapassagens se seguimos na velocidade máxima. Ainda mais depois das 20h, quando sequer tem trânsito pesado.

Pois bem, nesse dia eu seguia na faixa da esquerda, faltavam 3 quarteirões para virar. Notei, pelo retrovisor, um carro vindo em alta velocidade. Deu sinal de luz, buzinou. Fiz um gesto para que ele seguisse pela direita que estava completamente livre, afinal, logo mais eu iria virar à esquerda.

O motorista assim o fez, mas jogou o carro para cima de mim. Não passou perto o bastante para ser um problema. Não acelerei, apesar de tê-lo xingado mentalmente, e deixei o infeliz seguir seu caminho. Não fiz qualquer gesto agressivo.

Acontece que, como todos sabemos, correr é um auto-engano. Quando chegou no sinal do entroncamento e eu segui para o espaço de espera dos motociclistas, que fica à frente dos carros, acabei passando esse mesmo motorista, que esperava na fila da esquerda. Não fiz nenhum gesto, não alterei a velocidade, apenas segui meu caminho. Parei no mesmo sinal que ele.

O assassino saiu da fila, passou para a direita, parou o carro do meu lado. Baixou o vidro e começou a gritar sobre como eu precisava aprender a dirigir. Não respondi nada, não esbocei reações. O sinal abriu. Saí com minha moto. E pela segunda vez o assassino jogou o carro para cima de mim, dessa vez, encostando.

A sorte é que estava em baixa velocidade. Não cheguei a cair, embora tenha danificado minha moto. Ele fugiu, certo da impunidade.

Fiquei incrédulo. Respirei fundo. A moto ainda funcionava. Segui para casa. Botei uma braçadeira pra segurar a carenagem da moto enquanto não consertava. Registrei um boletim de ocorrência. No dia seguinte, fui à autarquia municipal de trânsito solicitar as filmagens das câmeras. Pois, talvez ele não sabia, mas aquele cruzamento é videomonitorado 24h. Abri o processo de solicitação e aguardei. Quase vinte dias depois, recebi as filmagens.

Infelizmente as instituições não funcionaram: as filmagens pegam exatamente o momento, mas é impossível identificar a placa do carro. A qualidade da imagem é péssima para esse tipo de detalhe.

Ainda assim, se você souber maneiras de melhorar a nitidez de uma filmagem de forma quase mágica, estou aberto a sugestões.


Depois disso, pela primeira vez na vida — as benesses das minhas circunstâncias — fiquei receoso de me locomover na cidade. Pois é evidente que aquele motorista queria me matar. Ele não tinha nenhum motivo para isso, mas queria.

Outro dia, voltando do trabalho 17h, vi uma outra pessoa com um carro grande — evidentemente — dirigindo numa velocidade absurda para as vias coletoras que faziam aquele caminho. O trânsito nem estava caótico, seguia normal. Mas a pessoa dirigia com clara sede de sangue. Quem ela queria matar?

Não sei. Espero que não seja eu, que fiz tudo direitinho, sem fazer mal a ninguém, e ainda assim, virei alvo de matador.

 
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from Felipe Siles

Obs.: em geral, não estou considerando aplicativos muito básicos, como relógio, calendário, chamadas, calculadora, loja de aplicativos, etc, normalmente uso o nativo

1. Smartphone com Android

  • Tocadores: AntennaPod, Transistor, VLC, Tidal, NewPipe
  • Mapas e navegação: Google Maps, Moovit,
  • Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud, DAVx5
  • Mensagens: Beeper
  • Bloco de notas: Joplin
  • Navegador: Firefox Focus
  • Passivos: TC Control, Screen Time
  • Launcher: Smart Launcher
  • Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth P.S.: vários desses aplicativos foram instalados via F-Droid

2. Tablet com IOS, vulgo iPad

  • Nativos Apple: Safari, Email, Calendário
  • Leitura: Omnivore (deus o tenha), Zotero, PDF Gear
  • Notas: Joplin
  • Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud
  • Nas aulas de música que leciono: Musescore, Metronomo, iGrand Piano, iReal Pro
  • Mensagens: Beeper
  • Entretenimento: Lichess, Sofascore, JustWatch, Letterboxd
  • Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth

3. Computadores com Linux

(Notebook com Manjaro; PC de gabinete com Debian) – E-mails e calendário: Thunderbird – Navegador: Firefox – Mensagens: Ferdium – Nuvens e sincronização: IDrive, Nextcloud – Notas: Joplin – Pacotes de escritório: Libre Office, Only Office – Produção musical: Musescore, Audacity, Ardour – Senhas e autenticação: KeePass, Ente Auth – Tocadores: VLC, FreeTube – Gestão de textos e livros: Zotero, Calibre

4. Projeções para 2025

Quero começar a usar mais o Syncthing, até pra aliviar meu uso de nuvens, que é meio pesado. Para substituir o finado Omnivore, migrei para o Pocket. Também quero me tornar mais analógico, em 2024 já substitui aplicativos de tarefas que usava pelo bom e velho caderninho físico, utilizando o método do Bullet Journal, vamos ver o que 2025 me reserva, nesse sentido. E sempre estou aberto a testar e eventualmente incorporar na minha rotina novos aplicativos, preferencialmente livres e de código aberto.

 
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from vereda

O compartilhamento deste texto é permitido segundo a licença CC BY-ND 4.0.

Tags: #Militância #Pessoal #Neurodivergência

Introdução

Faz 4 meses que abandonei a Força Esperança. Nesse período passei por um mergulho em profunda depressão, mas hoje, estando em clara tendência de deixar os dias assustadores para trás, posso reavaliar a minha relação com a FE.

Não sabe o que é a Força Esperança? Leia meu texto Desfiliação.

Esse texto é um resgate de coisas que já falei antes, mas com um olhar mais analítico permitido pela maior tranquilidade emocional, afim de processar o que ocorreu comigo. Na última seção vou além do retorno ao passado e traço caminhos para o futuro. Tenha em mente que esse ainda assim é um relato subjetivo, que não leva em consideração as versões das diferentes pessoas envolvidas.

Começo

Começando do começo, eu vinha tratando um quadro depressivo-ansioso desde o começo de 2021, fruto da pressão no trabalho, mas com remédio e terapia estava estável. Mesmo com esse suporte, eu adoeci pra valer em 2023. O diagnóstico oficial foi de transtorno misto ansioso e depressivo (F41.2) combinado com esgotamento (Z73.0). Na época, o esgotamento parecia se sobressair. Eu estava exausta para tudo. Pensei que nunca mais fosse conseguir voltar a trabalhar com o rendimento que eu antes tinha. E, passado mais de 1 ano deste colapso, apesar de grande melhora, posso dizer que ainda não recuperei a energia e estabilidade que eu tinha antes.

Necessário pontuar que a piora do meu quadro coincidiu com o momento em que passei a ser contabilizada para a cota PcD no trabalho, e discriminada como tal, porém sem obter adaptações razoáveis nos termos da lei. Esse tratamento diferenciado, combinado com o pessimismo sobre a estagnação de carreira de uma PcD, minou a minha autoestima.

Foi também por volta desse momento que conhecidos me falaram de um tal de comunismo na Internet. Achei que seria algo tosco, mas fui aos poucos sendo convencida pela dialética materialista e a revolta foi me radicalizando. Me convenci que eu não teria chance de lutar sozinha e que precisaria me organizar. Me aproximei da FE, comecei a estudar e a participar das atividades.

Desde o começo esclareci a minha situação: eu estava adoecida pelo esgotamento e em recuperação. Minha coordenação compreendia que por causa disso eu não poderia participar de todas as atividades, mas isso não impediu que eu fosse estimulada a me envolver cada vez mais: mais participação em brigadas de venda de jornal, mais cotas individuais de jornal para vender, mais participação em atos e atividades de finanças, mais estudo e apresentação. Minha coordenação me disse que era o papel dela me estimular a fazer cada vez mais. Afinal, os comunistas praticam a profissionalização do trabalho de militância e nisso a FE era exemplar, mas havia um óbvio problema: Eu não estava em plenas condições de trabalhar.

Eu errei em ceder a esse estimulo. É parte do quadro clínico de esgotamento o histórico de alto envolvimento com o trabalho. E eu estava novamente cometendo o mesmo erro que me fez adoecer por causa de meu ofício. E minha coordenação não me ajudou a encontrar formas de aliviar o autojulgamento de “estar fazendo menos do que eu deveria”, muito pelo contrário, já que nos fazia ler materiais que explicitavam a importância moral do comprometimento e da disciplina. Ao invés de me parabenizar pelo que eu havia conseguido, eu recebia o estímulo a fazer ainda mais. Isto era contraprodutivo para meu momento de recuperação.

Afastamento

Em determinado momento eu desenvolvi hiperfoco em certa pauta compatível com o programa da FE. Observei que haviam organizações brigando por mudanças políticas com relação ao uso de dados e da tecnologia da informação. Como boa militante, passei a tentar convencer os companheiros de que precisaríamos debater essa pauta como organização também, assim como já era feito com a questão sindical, estudantil e feminina. Era, e ainda é, minha crença que a questão da tecnologia da informação necessita ser trabalhada de maneira organizada, sem aventureirismos.

Claramente eu estava propondo uma pauta que era maior do que a FE. As tentativas de trabalhar esse tema eram negligenciadas com argumentos fracos como “A FE é uma organização dentro da lei e não há motivos de tratar esse tema”. E por não verem o tema como relevante, o assunto foi silenciado: Comportamento típico de quadros antigos que insistem em interpretar novos fenômenos da forma que lhes é familiar. A pauta que estava em pleno debate público internacional foi menosprezada internamente. Não tive o espaço para desenvolvê-la e apresentá-la a mais pessoas além do meu núcleo imediato.

Aqui entra em ação a obstinação natural de uma pessoa autista. Quanto mais me ignoravam e me davam justificativas fracas, mais forte ficava meu interesse, mais eu me aprofundava no assunto, mais eu pesquisava, para poder convencer as pessoas de que esse assunto era (é!) importante. Eu fui fisgada pelo hiperfoco, e isso tem seu lado bom e seu lado ruim.

Eu pedi ajuda de minha coordenação para me ajudar a manter a calma, mas a ajuda que ela podia oferecer era insuficiente. Acabei agindo desesperadamente e quebrando a disciplina numa tentativa de chamar a atenção. A autocrítica é óbvia, pois eu já sabia que estava agindo de forma incorreta mesmo antes de me advertirem.

Contudo, continuo sem saber como poderia ter agido melhor. Sendo a pauta suprimida silenciosamente e estando desconfiada de omissão da minha coordenação, o que eu poderia fazer? A hierarquia não permitia que eu levasse a pauta para amplo debate, sob argumentos que não convenciam logicamente e sequer indicavam ter havido decisão coletiva anterior. Sem democracia não se pode exigir disciplina. Eu rejeito a acusação de individualismo e de desvio pequeno-burguês de minha parte. Se eu agi da forma como o fiz, foi por não ser capaz de tratar o assunto de outra forma. Há uma grave incoerência entre o que é dito (operamos na legalidade) e o que é praticado (decisões tomadas por organismos ocultos, sem envolvimento das bases). Que queriam que eu fizesse? Que me resignasse com o silêncio e aceitasse a minha insignificância em propor reivindicações?

Na ocasião da crítica realizada sobre minha conduta houve ainda um erro de agregar na mesma oportunidade a devolutiva sobre o teor da matéria que eu havia escrito. Julgaram meu texto idealista e anticientífico. Quem julgou, isso eu não tive o direito de saber. A devolutiva me foi passada anonimamente por minha coordenação. Seria eu idealista ou seria o avaliador secreto um passivo oportunista?

Me permitam demonstrar fraqueza por um instante. Essa devolutiva me destruiu um pouco mais. Eu estava há meses trabalhando nesse tema, de modo que ele tomou a importância de missão para mim, incentivada por minha coordenação que me exigia uma proposta mais estruturada para levar o tema para a apreciação do organismo superior. E depois de todo o tempo de pesquisa e estudo tudo que eu tive o direito de receber foram 2 rótulos negativos provindos de um avaliador anônimo. Isso me fez ter, em 2024, meu segundo colapso, sem haver ainda me recuperado do primeiro.

Os sentimentos de inutilidade e incapacidade retornaram, e eu chorei a maior parte dos dias naquela semana. Permito-lhes que me chamem de fraca ou de doente, ou até mesmo de imatura. O que rejeito, porém, é que me digam que eu estava errada. A mágoa era o sentimento possível naquele momento adoecido, mas hoje, entendendo que eu tinha a razão, posso transformar esse sentimento em raiva útil.

A conduta autodestrutiva que eu desenvolvi nesses 4 meses de depressão profunda, felizmente está ficando para trás.

Reorganize-se da forma que der

Mesmo acreditando que eu estava correta eu não tenho força ainda para voltar naquele ambiente e lutar para que o certo seja aplicado. Por meu movimento de autopreservação fui chamada de sectarista. Isso consolida a crença de que eu não sou bem-vinda naquele espaço. Não há acolhimento de minha condição de saúde, nem tampouco de minha neurodivergência. Podem me chamar de idealista, mas eu continuarei defendendo que ninguém é obrigado a estar em um espaço em que se é excluído. Se o preço para isso é não poder atuar na construção da revolução brasileira, então esse é um custo que eu terei que arcar. A gente faz o que dá, e pra mim não dá pra seguir recuperando minha saúde e minha capacidade de trabalhar naquele coletivo.

Acredito hoje no que disseram algumes amigues: que a organização necessita merecer a nossa participação tanto quanto nós necessitamos merecer estar na organização. Eu sou uma pessoa neurodivergente, com necessidade de suporte aumentada por conta do adoecimento que o trabalho me proporcionou e do qual tenho ainda sequelas. Se uma organização de massas tal qual a FE não é capaz de me acolher, ela então não me representa. Arrisco que não representa nenhuma pessoa com deficiência ou que se encontre incapacitada para o trabalho de forma temporária ou definitiva.

Felizmente eu fui acolhida em outra organização, de ideologia anarquista. Não que eu tenha passado a rejeitar o marxismo e os aportes de validez universal de Lênin sobre como realizar a revolução. Acontece que neste momento eu necessito mais do que contribuir para a construção do socialismo científico. Preciso voltar a me julgar útil e competente. O coletivo anarquista me oferece uma forma de me integrar no trabalho coletivo dentro das minhas possibilidades, e isso favorece a minha cura.

O anarquismo é o meio-termo que permite que eu siga trabalhando coletivamente, de forma não alienada, no presente. E vendo a enorme quantidade de pessoas neurodivergentes que estão em coletivos anarquistas, vejo que não sou só eu que, apesar de rejeitar a ideologia individualista, não se adequa para estar em um coletivo marxista-leninista. Os comunistas estão falhando conosco, e não poderemos trabalhar juntos enquanto o capacitismo não for adequadamente tratado.

Lembro que autistas verbais (comumente chamado de nível “leve”) tem 9 vezes mais chance de cometer suicídio do que pessoas neurotípicas. Prosseguir moralizando inadequações de neurodivergentes é fazer pouco caso dos problemas comportamentais e de convivência que caracterizam o quadro de TEA, bem como outras condições. Demandar a inclusão hoje é garantir que o movimento trabalhador cresça com o apoio das potencialidades de neurodivergentes, para que não tenha que, vitoriosa a revolução, condenar-nos dissidentes que devem ser exterminados.

 
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from yuribravos

Contextos

Essa é uma das melhores receitas que faço. Mal me lembro onde eu a encontrei pela primeira vez. Acho que numa versão antiga do Receitas de Minuto. Fiz umas pequenas adaptações, alterando a proporção de farinha de trigo e leite; e guardei a receita já adaptada em anotações próprias.

Porém, fazia algum tempo que não colocava esse bolo para assar. Por ser um bolo pão de mel, o ingrediente essencial e chave para ficar uma delícia é: mel.

E qualquer um que frequente um supermercado ou lojinhas à granel sabe o preço proibitivo de uma garrafa de mel.

Eu perdi meus atravessadores pessoais desse líquido viscoso e dourado: os pais de um amigo moravam no interior (Tianguá), e iam e vinham com frequência para a capital, agora se mudaram de vez e já não podem fazer o tráfico.

Até o dia que, após comentar com uma colega de trabalho sobre esse bolo, ela ficou de me trazer mel. Demorou, mas ela chegou com um pote daqueles de geléia cheinho de mel bem claro. Como gratidão, fiquei de levar o bolo para os colegas e, num domingo à tarde, tomei coragem de prepará-lo (não que seja difícil o preparo, mas às vezes só queremos ficar de barriga pra cima nos domingos à tarde).

Receita

Ingredientes

Bolo

  • 1 colher (sopa) de bicarbonato de sódio em pó
  • 3 xícaras (chá) de leite
  • 3 colheres (sopa) de manteiga
  • 3 xícaras (chá) de açúcar
  • 1 xícara (chá) de mel
  • 5 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 1 colher (sopa) de canela em pó

Ganache

  • 100gr de chocolate meio amargo derretido
  • Creme de leite

Modo de Preparo

  1. Untar a forma e pré-aquecer o forno a 200~230°C.
  2. Dissolva o bicarbonato em uma xícara de leite.
  3. Coloque na batedeira junto com todos os outros ingredientes. Sem uma ordem específica. Botar os secos primeiros talvez ajude a não voar farinha por aí.
  4. Bater até ficar homogêneo.
  5. Levar ao forno por cerca de 30 a 40 minutos. Fazer o teste do palito para ter certeza.
  6. Deixe o bolo esfriar para desenformar.
  7. Para ganache, derreta o chocolate em banho maria ou pondo de 30 em 30 segundos no microondas. Adicione creme de leite ao chocolate derretido. Isso sempre faço no olho, perdoe. Evite por muito creme de leite para não ficar sem gosto. Depois basta espalhar sobre o bolo.

Fotos dessa belezura

Foto da massa homogênea dentro da batedeira. O gancho da batedeira está levantado e os pingos da massa mostram que fica mais líquida mesmo

Observem a consistência da massa, é mais líquida mesmo.

Foto de dois bolos pão de mel ainda na forma sobre um tampo de madeira. A cor deles é morena clara.

Fui obrigado a fazer dois bolos: um pro trabalho e um para casa, pois minha esposa não admitiu dividir. Essa foto foi batida logo após eles sairem do forno. Observem que o bolo fica moreninho mesmo, mas ainda claro.

Foto de dois bolos pão de mel ainda na forma. Eles estão mais escuros do que no momento que saíram do forno.

Essa foto foi batida no dia seguinte, antes de desenformar. Vejam que eles ficam mais morenos. Lembrem disso pra evitar queimar.

Foto do bolo partido, a massa interior tem cor marrom clara, parece bastante aerada. O bolo está coberto com ganache de chocolate.

Me diga se essa foto não entregou tudo?

Perguntas perguntadas com frequência

Qual o tamanho da forma para essas quantidades? Uma forma grande de bolo furado no meio, normalmente com 24cm de diâmetro. Normalmente eu faço metade dessa receita para uma forma de 20cm de diâmetro.

Pode trocar a manteiga por margarina? Pode, não tem grandes alterações de sabor ou textura…

Ao desenformar, mesmo untando bem, uma parte ficou grudada na forma. O que fazer? Fica mesmo, desconfio que é fruto da alteração de proporções de leite e farinha que fiz. A massa fica menos densa quando crua, em compensação fica bem molhadinha quando pronto. Aceitei que há males que vem para o bem! Também é uma ótima desculpa para cobrir o bolo de ganache.

Pode fazer a ganache com chocolate ao leite? Aposto 10 real contigo que com chocolate meio amargo o equilíbrio do bolo e da cobertura vai ser melhor, mas seja livre.

Precisa mesmo cobrir com ganache? Não, ninguém é obrigado a ser feliz!

Pode trocar mel de abelha por mel karo? Não! Saia imediatamente daqui!

 
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from vereda

Tags: #Militância

Nota da autora, 19 de setembro de 2024: Este texto foi escrito em 12 de maio de 2024 e enviado para a redação paulista de um certo jornal comunista. O texto até então não foi publicado e a justificativa oficial foi que a redação estava sobrecarregada para revisá-lo e publicá-lo. Hoje, após 4 meses de espera, acho que posso afirmar que a falta de retorno sobre o texto reflete uma omissão incorreta da redação do jornal. Confiante de estar defendendo a linha correta, e tendo as possibilidades de debate interno no partido sido negadas, torno público este texto para que seja conhecido e criticado abertamente.

Nota da autora, 24 de setembro de 2024: Faço a autocrítica e considero incorreta minha atitude de expor o nome da organização e do jornal. O objetivo deste compartilhamento é tornar a matéria pública para debate e não em criticar o trabalho desta ou daquela organização.

O compartilhamento deste texto é permitido segundo a licença CC BY-ND 4.0.


Nos dias 10 e 11 de maio de 2024 ocorreu em São Paulo mais uma edição da Cryptorave, o maior evento aberto e gratuito de criptografia e segurança do mundo, que reuniu, em 24 horas, diversas atividades sobre segurança, hacking, privacidade e liberdade na rede. Inspirada em uma ação global para disseminar e democratizar o conhecimento e conceitos básicos de criptografia e software livre, o evento teve início em 2014, como reação à divulgação de informações que confirmaram a ação de governos e corporações para manter a população mundial sob vigilância e monitoramento constantes.

O público presente revelou à quem mais interessa debater segurança digital e tecnopolítica. Mulheres, pessoas negras, neurodivergentes e trans marcaram forte presença tanto na plateia quanto no palco, contrariando o estereótipo de um setor dominado por homens cis héteros e brancos. Um lembrete de quais são os grupos dentro da classe trabalhadora que mais sofrem opressão e violência, inclusive nos espaços digitais.

O keynote de abertura, sob o tema “Tecnologias de IA e seu impacto nas vidas e narrativas Palestinas” reforçou o posicionamento político do evento, denunciando mais uma vez como as tecnologias digitais tem sido usadas para explorar e violentar a população.

Mesmo onde não há uma guerra declarada, governos ainda perseguem sua própria população tratando-a como um inimigo interno. O Movimento Passe Livre (MPL) propôs uma roda de conversa sobre segurança e autodefesa trazendo informações sobre como movimentos sociais estão sendo criminalizados, e que isso é um projeto de São Paulo, do Brasil e de toda a América Latina.

Relatos de vazamentos de informações internas dos movimentos e coação de menores de idade para fazer a identificação de pessoas em fotos publicadas em mídias sociais confirmaram que a preocupação com segurança não se trata de paranoia. Trata-se de uma postura urgente para garantir os direitos constitucionais à livre manifestação de pensamento, a plena liberdade de associação para fins lícitos, a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, a inviolabilidade das comunicações – salvo com permissão judicial – e o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais.

No keynote de encerramento “Tecnoautoritarismo: Spyware, OSINT e outras tecnologias de vigilância na América Latina” foram denunciadas as táticas de censura e espionagem dos governos contra nossos companheiros no Equador, Colômbia e México. Fica evidente, a partir de contratos de governos na América Latina para uso de ferramentas de espionagem israelense, que o avanço da máquina de guerra sobre a Palestina não é apenas uma ameaça imediata para o povo palestino, mas também uma ameaça para nós na América Latina, ao passo que o desenvolvimento de software para a guerra israelense são financiados com dinheiro público de governos latino-americanos e usados, sem a devida previsão legal, contra o próprio povo.

As novas tecnologias informacionais são a tônica de nosso velho e admirável mundo novo. Um mundo onde tudo muda a velocidades crescentes, mas apenas para intensificar e diversificar as velhas formas de produção e extração de mais-valia. É preciso rever o colonialismo não como um fenômeno do passado, mas como um processo que perdura e se atualiza com novas expressões, e que hoje se apresenta em formato digital. A questão da tecnologia não é uma questão isolada, mas parte da materialidade do nosso tempo, se inserindo nas relações sociais como um elemento constitutivo da sociedade.

Não é mais tolerável que militantes ignorem o debate sobre segurança da informação. Dados e metadados estão sendo coletados em enorme escala e armazenados indefinidamente em grandes centros de processamento de dados. Essas informações são agregadas com uso de técnicas de inteligência artificial (IA) para reduzir o trabalho vivo necessário, permitindo aumentar a quantidade de informações processadas por governos e corporações em uma escala sem precedentes. Técnicas estas que avançam ano após ano, e que poderão ser aplicadas retroativamente em dados coletados no presente para o perfilamento de militantes e ações contrarrevolucionárias.

O esforço e o custo necessários para adotar e manter soluções alternativas, independentes de plataformas controladas pelos monopólios de tecnologia, devem ser priorizados para a segurança de nossos militantes e a continuidade de nossa luta, ao passo que atrapalham a coleta de informações e, por consequência, as práticas de espionagem adotadas pelos governos contra a sua própria população.

É preciso lutar pelo fim da exploração, mas também pelo fim da expropriação de dados. O atual estágio de desenvolvimento tecnológico abriu novos caminhos para a exploração do trabalho, mas também as formas de lutar e se organizar. O caminho contudo permanece familiar: tomada de consciência e muita organização popular!

 
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from Felipe Siles

Relembrando 2022

Em primeiro lugar, este não é um texto embasado em estatísticas, números, como diz o título: apenas o relato de impressões pessoais. Vou voltar um pouco no tempo, para 2022. Elon Musk comprou o Twitter, trouxe de volta perfis banidos, demitiu um monte de gente, afrouxou a moderação da plataforma (que já era problemática antes) e bradava aquele discurso fantasioso americano de “liberdade de expressão”, que na verdade é liberdade para oprimir sem lidar com as consequencias.

Naquela altura do campeonato o cenário era o seguinte: Zuckberg colocou às pressas pra rodar o seu Threads; BlueSky era uma novidade também, mas precisava de convite para entrar; e o Mastodon era a única plataforma pronta para receber os insatisfeitos com o Twitter sob nova direção (vou poupá-los da vergonha de lembrar que um considerável montante aderiu a uma rede social indiana de extrema direita só porque tinha um nome meio 5ª série).

Muitos usuários relataram dificuldade para migrar para o Mastodon: o sistema descentralizado, organizado por instâncias, foi um entrave para a maioria, fazendo com que muitos ficassem ali pelo Twitter, mesmo com os problemas da nova realidade. Foi nessa leva que eu excluí minha conta do Twitter e migrei definitivamente para o Mastodon.

O cenário atual é bem diferente: BlueSky e Threads, apesar de estarem ainda implementando alguns recursos, me parecem redes prontas para receberem os usuários do Twitter. E o Mastodon continua sendo o Mastodon, pro mal e pro bem.

Mastodon

Fiquei três anos (2019 a 2022) tentando ter alguma visibilidade no Twitter. Como sou uma pessoa que gosta de textos, tanto de escrever como ler, sempre preferi as redes textuais, criando até um certo asco pelas redes de fotos e vídeos. Fui muito popular no Facebook (na era pré-algoritmo) e com o declínio da plataforma do Zuckberg, tentei transferir essa popularidade para o Twitter, sem sucesso. Tinha vontade de divulgar minha produção acadêmica e também fazer parte do “debate público”, mas foi um fracasso. Tweets às moscas, pouca interação, quando ia no tweet de algum influenciador famoso e discordava de algum ponto não havia diálogo, e sim frases de efeito, lacração, com o amplo apoio dos seguidores daquela pessoa, ou seja, o diálogo completamente interditado, mesmo em contas de esquerda/progressistas/não-fascistas.

Encontrei no Mastodon um ambiente parecido com o Facebook pré-algoritmo que, gostem ou não, era uma rede muito boa para interagir com amigos. Desde então o Mastodon tornou-se minha rede principal, descobri o Fediverso e a possibilidade dele interagir com outras plataformas que compartilham o mesmo protocolo, descobri o ótimo Lemmy, e que posso federar blogues e sites feitos em wordpress e até mesmo ESTE BLOGUE que você está lendo, fantástico!

A impressão que eu tenho é que o Mastodon não tem a menor vocação para virar um novo Twitter, embora ainda exista gente (ao meu ver equivocadamente) com essa expectativa. A dificuldade inicial em criar uma conta foi resolvida, agora o novo usuário se não quiser entrar em uma instância é colocado por padrão na mastodon.social, facilitando o acesso para a geral (igualzinho funciona o BlueSky com a bsky.social). Mesmo assim, aquela fama de 'difícil de entrar' permanece, mesmo não sendo mais a realidade atual.

Mas eu acredito que esse não é o principal entrave para a plataforma crescer. Acho que conheço o Mastodon o suficiente para elaborar duas razões principais do por que ele nunca será massificado:

1) a falta de algoritmo faz com que um influenciador praticamente vire um usuário comum. Mesmo que ele ganhe muitos seguidores só por ser famoso, suas postagens vão concorrer igualmente com postagens de usuários comuns. Além disso, o público do Mastodon tende a ser bastante avesso a propagandas, tornando a prática da 'publi' difícil na plataforma, inclusive existem instâncias que proibem. Isso afasta os influenciadores grandes, que acabam criticando a plataforma publicamente, numa lógica de concorrência e reserva de mercado, afinal não querem perder seu público, sua fonte de renda;

2) a própria comunidade do Mastodon não parece muito empolgada com a ideia da massificação da plataforma. O usuário do Mastodon é como o morador de uma cidade pequena, que gosta de estar ali, e não tem a menor vontade de que ela vire uma metrópole. Mesmo a federação com a Threads é vista com desconfiança pela maioria e já é silenciada ou bloqueada em diversas instâncias brasileiras. O Mastodon é bem uma cidade pequena mesmo, todo mundo meio que se conhece, e as instâncias são os bairros dessa cidade, você pode não conhecer todo mundo, mas sabe que tem a galera da Ursal, da Bantu, da Ayom, da Bolha.us, da Bolha.one, etc.

Isso tem um lado positivo, que faz com que a rede seja mais humana, mais acolhedora. Mas, por outro lado, gera também um efeito condomínio, acaba que essa experiência mais agradável é acessada por poucas pessoas, por nichos, se tornando elitizada. Mas tenho a impressão que no capitalismo isso ocorre com outras coisas também: pouca gente tem acesso a uma alimentação natural, com alimentos orgânicos, por exemplo.

BlueSky

Apesar de gostar muito de estar no Mastodon, sempre me incomodei com o fato de instituições públicas não estarem lá (existem algumas ações pontuais, como a dos museus, mas é muito pouco, infelizmente). Comecei a seguir diversos veículos de imprensa e instituições através do feed RSS, mas a verdade é que não dei conta do volume de informação, e hoje minha feed RSS é bem restrita, para não sobrecarregar minhas leituras (faço doutorado e já preciso ler bastante). Isso sem falar que muitos sequer têm uma feed RSS. Tentei seguir as instituições pelos canais de whatsapp, mas também não dei conta, e o meu whatsapp que já é um inferno de notificações tornou-se ainda pior. Nisso eu sentia falta do Twitter, você encontrava ali no meio da sua timeline uma ou outra informação oficial, que poderia ser útil, mas não precisava necessariamente acompanhar tudo.

Quando percebi que estava rolando uma movimentação de bloqueio do X, antigo Twitter, resolvi dar uma chance ao BlueSky e criei uma conta. Quem me acompanha neste blogue, sabe que sou avesso à big tech, mas a possibilidade de uma rede social que se propõe a ser descentralizada, moderada e de código aberto despertou a minha curiosidade. O fato do antigo criador do Twitter, com aquele famigerado discurso de liberdade de expressão, ter se afastado do projeto também me animava. Além disso, fiquei empolgado com a possibilidade de voltar a seguir alguns conteúdos que seguia no Twitter, agora sem propagandas e sem o maldito algoritmo deles, aquele que premia a escrotidão e a treta.

Criei a conta no BlueSky e fui percebendo a migração aos poucos das contas que eu gostava de acompanhar no Twitter, alguns deles já estavam lá antes do bloqueio. Com o bloqueio, fui notando que diversos veículos de imprensa passaram a criar conta no BlueSky, que aparentemente ganhou a batalha de números contra o Threads.

Minha experiência com o BlueSky, pesando prós e contras, vem sendo positiva. A plataforma tem uma vocação para ser o “antigo Twitter”. Percebo que não há tanta interação quanto o Mastodon, já que lá existem algoritmos. Mas a ideia de personalizar a experiência algoritmica me pareceu interessante e útil, escolhendo as feeds que você quer ter na sua página inicial. Muita coisa que eu posto lá fica ao vento, como era no Twitter, mas já entendi que lá é um lugar de pouca interação mesmo para humanos comuns.

Venho utilizando a plataforma para seguir veículos de imprensa e instituições públicas de uma forma que eu consigo dar conta. Também venho interagindo com algumas pessoas que me seguiram, e voltei a interagir com pessoas que eu já interagia quando tinha conta no Twitter. Pretendo utilizar a plataforma para divulgar meu trabalho acadêmico e a hashtag #AcademicSky me parece bem útil pra isso. As postagens onde usei essa hashtag ganharam um pouco mais de tração e interação, me parece um recurso bem promissor.

Meu maior temor em relação ao BlueSky é a forma como eles vão monetizar a plataforma, que pra mim ainda é um mistério. Será que vão ter assinaturas, liberando recursos extras, mais ou menos como o Telegram? Ou será que vão apostar na monetização do conteúdo exclusivo, num caminho meio OnlyFans? Será que vão enfiar propaganda goela abaixo na timeline da galera, como o Twitter (ou pior, o Facebook)? Prefiro aguardar, mas se a última opção ocorrer, vou deletar minha conta.

Threads

Não criei Threads nem pretendo criar, a nova rede parece ter um ambiente muito parecido com o do Instagram, ambiente este que eu não tenho a menor vontade de estar presente. Mas confesso que dei algumas buscas na Threads, em perfis que não migraram para o BlueSky. A impressão que eu tenho é que gente MUITO FAMOSA está na Threads, principalmente figuras ligadas à música, cinema e esportes.

Acho compreensível, lá é o ambiente de gente famosa mesmo, e práticas como publicidade, as publis, estão naturalizadas por ali. Como uma grande 'Revista Caras' que se tornou o Instagram, faz sentido que essas pessoas muito famosas fiquem ali pela Threads mesmo, monetizando em cima de uma base de usuários que é gigantesca, que é a base de usuários do Instagram, onde mais de 90% dos brasileiros com acesso a smartphones e internet têm conta (felizmente estou nos menos de 10% que não tem, ô sorte!).

X

Não sabemos se o X vai voltar a operar no Brasil ou não. Aparentemente a rede, no contexto brasileiro, se tornou um lamaçal de facistóides usuários de VPN, um verdadeiro esgoto. Sempre fui crítico a essa postura das esquerdas de “ocupar o twitter”, não adiantava nada, e o Alexandre de Morais e o STF esfregaram isso na nossa cara. Sem um algoritmo premiando comportamentos agressivos, BlueSky e até o Threads se mostram como ambientes mais saudáveis que o X. Inclusive, acho que poucos lugares na internet são piores que o esgoto fascista que se tornou o X.

Muitas pessoas no BlueSky estão relatando que o discurso de extrema direita perdeu tração sem o X, embora eu ainda gostaria de ver essa afirmação expressa em números, estatísticas e gráficos para me convencer totalmente. Mas, pelo menos aparentemente, o bloqueio desmobilizou a máquina pública de discurso de ódio e fake news, jogando os fascistas a permanecer na plataforma com o VPN ou se esconder nos esgotos de seus grupos privados de Telegram e Whatsapp.

O ser humano é um animal de hábitos e me parece que mesmo em tão pouco tempo temos o ecossistema do X reorganizado nas duas plataformas: o crackudo de notícias foi para o BlueSky, o crackudo da Ilha de Caras foi para o Threads. O usuário do 'núcleo duro' do Twitter parece ter ido para o BlueSky, o usuário mais casual para o Threads (aí pesa a comodidade de ter o perfil associado ao Instagram). Me parece que os públicos dos influenciadores, veículos e instituições se acomodou nas duas plataformas e parecem estar gostando da experiência.

Os estudiosos do comportamento dizem que um novo hábito leva mais ou menos um mês para se estabelecer. Se o bloqueio durar menos de um mês, eu acredito que as pessoas voltam para o X, e as outras plataformas voltam a ser produtos de nicho. Agora se o bloqueio durar um mês ou mais, eu penso que pode ser interessante observar a movimentação dos influenciadores de esquerda, progressistas ou pelo menos não-fascistas:

1) Pode acontecer de voltarem em masssa para o X: vão voltar a fortalecer em número de base de usuários uma máquina de desinformação, de produção de discurso de ódio. Se isso acontecer, ficará muito nítido que a briga dessas pessoas não é por uma internet livre, saudável e humana, mas sim pela própria fama, visibilidade, monetização e sucesso. P.S.: excluo dessa conta os jornalistas, esses são proletários e vão para onde os jornais (e seus patrocinadores) determinarem que é pra ir;

2) Pode acontecer de haver uma divisão (acho o mais provável): alguns voltam para o X, outros ficam pelo Threads e BlueSky e trabalham com suas bases de seguidores nas novas plataformas. Apesar do monopólio atual do Instagram, pessoas estão em outras redes também, e me parece que a segunda rede de preferência da maioria das pessoas varia muito. Me parece que existe uma tendência, fora do Instagram, das redes serem consumidas de forma mais compartimentada e nichada mesmo, o que inclusive vejo como positivo;

3) Pode acontecer de ignorarem a volta do X (meu sonho) e tornarem a rede do Elon Musk um esgoto da extrema direita, uma cidade abandonada, uma espécie de novo 4chan ou truth.social. Caso isso aconteça, eu acredito que demos um passo em direção à civilidade.

Acho que mesmo com o final do bloqueio, a vida de Elon Musk não será fácil, a companhia perdeu muito dinheiro com essa decisão do STF brasileiro e parece que a ação já está reverberando em outros países. Então acredito que a tendência é que Elon Musk encontre cada vez mais barreiras legais em diversos países para suas loucuras. E a perda de dinheiro e patrocínios fazem com que o fantasma da falência passe a assombrá-lo. Nesse hipotético cenário, Musk terá que escolher entre ceder (o mais provável) ou sucumbir de vez, fazendo com que o X, assim como o Twitter, Koo e o Orkut, sejam parte do passado da tecnologia. Assim espero!

Meus perfis para quem tiver interesse em seguir:

Mastodon: https://ayom.media/@felipesiles BlueSky: https://bsky.app/profile/felipesiles.bsky.social

 
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