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neurodivergência

O compartilhamento deste texto é permitido segundo a licença CC BY-ND 4.0.

Tags: #Militância #Pessoal #Neurodivergência

Introdução

Faz 4 meses que abandonei a Força Esperança. Nesse período passei por um mergulho em profunda depressão, mas hoje, estando em clara tendência de deixar os dias assustadores para trás, posso reavaliar a minha relação com a FE.

Não sabe o que é a Força Esperança? Leia meu texto Desfiliação.

Esse texto é um resgate de coisas que já falei antes, mas com um olhar mais analítico permitido pela maior tranquilidade emocional, afim de processar o que ocorreu comigo. Na última seção vou além do retorno ao passado e traço caminhos para o futuro. Tenha em mente que esse ainda assim é um relato subjetivo, que não leva em consideração as versões das diferentes pessoas envolvidas.

Começo

Começando do começo, eu vinha tratando um quadro depressivo-ansioso desde o começo de 2021, fruto da pressão no trabalho, mas com remédio e terapia estava estável. Mesmo com esse suporte, eu adoeci pra valer em 2023. O diagnóstico oficial foi de transtorno misto ansioso e depressivo (F41.2) combinado com esgotamento (Z73.0). Na época, o esgotamento parecia se sobressair. Eu estava exausta para tudo. Pensei que nunca mais fosse conseguir voltar a trabalhar com o rendimento que eu antes tinha. E, passado mais de 1 ano deste colapso, apesar de grande melhora, posso dizer que ainda não recuperei a energia e estabilidade que eu tinha antes.

Necessário pontuar que a piora do meu quadro coincidiu com o momento em que passei a ser contabilizada para a cota PcD no trabalho, e discriminada como tal, porém sem obter adaptações razoáveis nos termos da lei. Esse tratamento diferenciado, combinado com o pessimismo sobre a estagnação de carreira de uma PcD, minou a minha autoestima.

Foi também por volta desse momento que conhecidos me falaram de um tal de comunismo na Internet. Achei que seria algo tosco, mas fui aos poucos sendo convencida pela dialética materialista e a revolta foi me radicalizando. Me convenci que eu não teria chance de lutar sozinha e que precisaria me organizar. Me aproximei da FE, comecei a estudar e a participar das atividades.

Desde o começo esclareci a minha situação: eu estava adoecida pelo esgotamento e em recuperação. Minha coordenação compreendia que por causa disso eu não poderia participar de todas as atividades, mas isso não impediu que eu fosse estimulada a me envolver cada vez mais: mais participação em brigadas de venda de jornal, mais cotas individuais de jornal para vender, mais participação em atos e atividades de finanças, mais estudo e apresentação. Minha coordenação me disse que era o papel dela me estimular a fazer cada vez mais. Afinal, os comunistas praticam a profissionalização do trabalho de militância e nisso a FE era exemplar, mas havia um óbvio problema: Eu não estava em plenas condições de trabalhar.

Eu errei em ceder a esse estimulo. É parte do quadro clínico de esgotamento o histórico de alto envolvimento com o trabalho. E eu estava novamente cometendo o mesmo erro que me fez adoecer por causa de meu ofício. E minha coordenação não me ajudou a encontrar formas de aliviar o autojulgamento de “estar fazendo menos do que eu deveria”, muito pelo contrário, já que nos fazia ler materiais que explicitavam a importância moral do comprometimento e da disciplina. Ao invés de me parabenizar pelo que eu havia conseguido, eu recebia o estímulo a fazer ainda mais. Isto era contraprodutivo para meu momento de recuperação.

Afastamento

Em determinado momento eu desenvolvi hiperfoco em certa pauta compatível com o programa da FE. Observei que haviam organizações brigando por mudanças políticas com relação ao uso de dados e da tecnologia da informação. Como boa militante, passei a tentar convencer os companheiros de que precisaríamos debater essa pauta como organização também, assim como já era feito com a questão sindical, estudantil e feminina. Era, e ainda é, minha crença que a questão da tecnologia da informação necessita ser trabalhada de maneira organizada, sem aventureirismos.

Claramente eu estava propondo uma pauta que era maior do que a FE. As tentativas de trabalhar esse tema eram negligenciadas com argumentos fracos como “A FE é uma organização dentro da lei e não há motivos de tratar esse tema”. E por não verem o tema como relevante, o assunto foi silenciado: Comportamento típico de quadros antigos que insistem em interpretar novos fenômenos da forma que lhes é familiar. A pauta que estava em pleno debate público internacional foi menosprezada internamente. Não tive o espaço para desenvolvê-la e apresentá-la a mais pessoas além do meu núcleo imediato.

Aqui entra em ação a obstinação natural de uma pessoa autista. Quanto mais me ignoravam e me davam justificativas fracas, mais forte ficava meu interesse, mais eu me aprofundava no assunto, mais eu pesquisava, para poder convencer as pessoas de que esse assunto era (é!) importante. Eu fui fisgada pelo hiperfoco, e isso tem seu lado bom e seu lado ruim.

Eu pedi ajuda de minha coordenação para me ajudar a manter a calma, mas a ajuda que ela podia oferecer era insuficiente. Acabei agindo desesperadamente e quebrando a disciplina numa tentativa de chamar a atenção. A autocrítica é óbvia, pois eu já sabia que estava agindo de forma incorreta mesmo antes de me advertirem.

Contudo, continuo sem saber como poderia ter agido melhor. Sendo a pauta suprimida silenciosamente e estando desconfiada de omissão da minha coordenação, o que eu poderia fazer? A hierarquia não permitia que eu levasse a pauta para amplo debate, sob argumentos que não convenciam logicamente e sequer indicavam ter havido decisão coletiva anterior. Sem democracia não se pode exigir disciplina. Eu rejeito a acusação de individualismo e de desvio pequeno-burguês de minha parte. Se eu agi da forma como o fiz, foi por não ser capaz de tratar o assunto de outra forma. Há uma grave incoerência entre o que é dito (operamos na legalidade) e o que é praticado (decisões tomadas por organismos ocultos, sem envolvimento das bases). Que queriam que eu fizesse? Que me resignasse com o silêncio e aceitasse a minha insignificância em propor reivindicações?

Na ocasião da crítica realizada sobre minha conduta houve ainda um erro de agregar na mesma oportunidade a devolutiva sobre o teor da matéria que eu havia escrito. Julgaram meu texto idealista e anticientífico. Quem julgou, isso eu não tive o direito de saber. A devolutiva me foi passada anonimamente por minha coordenação. Seria eu idealista ou seria o avaliador secreto um passivo oportunista?

Me permitam demonstrar fraqueza por um instante. Essa devolutiva me destruiu um pouco mais. Eu estava há meses trabalhando nesse tema, de modo que ele tomou a importância de missão para mim, incentivada por minha coordenação que me exigia uma proposta mais estruturada para levar o tema para a apreciação do organismo superior. E depois de todo o tempo de pesquisa e estudo tudo que eu tive o direito de receber foram 2 rótulos negativos provindos de um avaliador anônimo. Isso me fez ter, em 2024, meu segundo colapso, sem haver ainda me recuperado do primeiro.

Os sentimentos de inutilidade e incapacidade retornaram, e eu chorei a maior parte dos dias naquela semana. Permito-lhes que me chamem de fraca ou de doente, ou até mesmo de imatura. O que rejeito, porém, é que me digam que eu estava errada. A mágoa era o sentimento possível naquele momento adoecido, mas hoje, entendendo que eu tinha a razão, posso transformar esse sentimento em raiva útil.

A conduta autodestrutiva que eu desenvolvi nesses 4 meses de depressão profunda, felizmente está ficando para trás.

Reorganize-se da forma que der

Mesmo acreditando que eu estava correta eu não tenho força ainda para voltar naquele ambiente e lutar para que o certo seja aplicado. Por meu movimento de autopreservação fui chamada de sectarista. Isso consolida a crença de que eu não sou bem-vinda naquele espaço. Não há acolhimento de minha condição de saúde, nem tampouco de minha neurodivergência. Podem me chamar de idealista, mas eu continuarei defendendo que ninguém é obrigado a estar em um espaço em que se é excluído. Se o preço para isso é não poder atuar na construção da revolução brasileira, então esse é um custo que eu terei que arcar. A gente faz o que dá, e pra mim não dá pra seguir recuperando minha saúde e minha capacidade de trabalhar naquele coletivo.

Acredito hoje no que disseram algumes amigues: que a organização necessita merecer a nossa participação tanto quanto nós necessitamos merecer estar na organização. Eu sou uma pessoa neurodivergente, com necessidade de suporte aumentada por conta do adoecimento que o trabalho me proporcionou e do qual tenho ainda sequelas. Se uma organização de massas tal qual a FE não é capaz de me acolher, ela então não me representa. Arrisco que não representa nenhuma pessoa com deficiência ou que se encontre incapacitada para o trabalho de forma temporária ou definitiva.

Felizmente eu fui acolhida em outra organização, de ideologia anarquista. Não que eu tenha passado a rejeitar o marxismo e os aportes de validez universal de Lênin sobre como realizar a revolução. Acontece que neste momento eu necessito mais do que contribuir para a construção do socialismo científico. Preciso voltar a me julgar útil e competente. O coletivo anarquista me oferece uma forma de me integrar no trabalho coletivo dentro das minhas possibilidades, e isso favorece a minha cura.

O anarquismo é o meio-termo que permite que eu siga trabalhando coletivamente, de forma não alienada, no presente. E vendo a enorme quantidade de pessoas neurodivergentes que estão em coletivos anarquistas, vejo que não sou só eu que, apesar de rejeitar a ideologia individualista, não se adequa para estar em um coletivo marxista-leninista. Os comunistas estão falhando conosco, e não poderemos trabalhar juntos enquanto o capacitismo não for adequadamente tratado.

Lembro que autistas verbais (comumente chamado de nível “leve”) tem 9 vezes mais chance de cometer suicídio do que pessoas neurotípicas. Prosseguir moralizando inadequações de neurodivergentes é fazer pouco caso dos problemas comportamentais e de convivência que caracterizam o quadro de TEA, bem como outras condições. Demandar a inclusão hoje é garantir que o movimento trabalhador cresça com o apoio das potencialidades de neurodivergentes, para que não tenha que, vitoriosa a revolução, condenar-nos dissidentes que devem ser exterminados.

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Tags: #Neurodivergência #Pessoal #Militância

Introdução

Este artigo tem por objetivo relatar minha experiência em tentar, e fracassar, em me organizar politicamente.

Não pretendo construir uma crítica pública a nenhuma organização específica, nem desmobilizar ninguém que lute em nenhuma organização. Também evitarei uma crítica pública porque quero desestimular que o contrário, uma crítica pública contra mim, seja proferida. Embora não haja equivalência pessoa vs organização, observo que na luta política a justeza não é óbvia e é incerto a quem caberá decidir. Por fim desconfio que esse problema não seja um caso particular meu com esta organização, mas talvez seja o problema de mais pessoas, e também de inúmeras organizações.

Neste texto irei, portanto, me referir à organização que participei pelo nome fictício de “Força Esperança” ou “FE”, tendo como inspiração unicamente o sentimento que me organizar politicamente me trouxe inicialmente, inexistindo qualquer relação com organizações de nome similar atuais, extintas ou futuras.

Bagagem

Reconheço a minha inexperiência em militância: Não fui parte de grêmio estudantil, não assumi anteriormente alinhamento com este ou aquele partido, ou sequer com linhas apartidárias. Não participei de manifestações, ou de greves, e tampouco as condenei. Fui, em outras palavras, apenas lutando pelo meu, sendo guiada pela ideologia dominante, e acreditando ter minhas próprias ideias originais.

Sou uma pessoa enquadrada em uma condição chamada de dupla excepcionalidade: possuo uma capacidade intelectual muito acima da média, mas também possuo algo reconhecido como um déficit, que é, especificamente no meu caso, estar dentro do espectro autista. Fui diagnosticada, como muitos recentemente, na idade adulta, mas isso não invalida a nossa necessidade de suporte, dado que as dificuldades estão presentes desde a infância e perduram pela vida toda.

Sei quão inacessível é obter um diagnóstico assertivo para a maioria das pessoas. Eu demorei tanto para começar a falar que pediatras sugeriram para minha mãe que eu tivesse deficiência auditiva. A audiometria normal, porém, não explicava a minha dificuldade em prestar atenção no que as pessoas falavam comigo e responder coerentemente. Fazer fonoterapia e psicoterapia desde criança por dificuldades de falar e de fazer amigos não foi evidência o suficiente. Demorar para comer e ir ao banheiro sozinha também não. Isso tudo, ao mesmo tempo que eu por conta própria entendi como funcionava a corrente elétrica e passei a fazer reparos em circuitos elétricos com menos de 10 anos. Aos 12 anos, comecei a escrever programas de computador por diversão. Ninguém estranhou também quando eu fiquei de recuperação em matemática no mesmo semestre que fui medalhista na olimpíada brasileira de matemática das escolas públicas. Eu sei em quanto tempo o meu diagnóstico foi atrasado por profissionais que simplesmente riram de mim quando eu falei que suspeitava de ter a, então conhecida como, Síndrome de Asperger.

Como se isso não fosse suficiente, estou há alguns anos tratando um quadro de natureza mista ansiosa e depressiva que recentemente se agravou, me levando a obter afastamento pela previdência social e ter o reconhecimento do nexo causal com o trabalho. Tendo já se passado 1 ano do início do afastamento, ainda estou incapaz de desempenhar a função que eu costumava fazer e aceitei que no futuro resta-me mudar de profissão estando em um momento de precarização intensa do mercado de trabalho e ainda adoecida. Um triste desfecho para uma pessoa que tinha “tudo para dar certo”: bolsista do CNPQ já no ensino médio, engenheira formada em uma renomada universidade pública, crescida em um lar que não conheceu o que é passar fome, ou não ter onde morar, ou morte e doença familiar.

Felizmente a revolta me radicalizou. Foi também neste período de adoecimento que tomei consciência que a causa de todos esses males que me afligem, e que afligem ainda mais outras pessoas, é a ordem social vigente, e que esta é irreformável, devendo ser superada. Acreditando nisto, e rejeitando contribuir com a perpetuação da miséria no mundo, surge a dúvida: o que fazer?

“A organização é a arma dos oprimidos” me disseram. Logo, o que devo fazer é organizar-me, mas como fazer isso sendo, bem, você sabe, autista?

Deficiência

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão, as pessoas com deficiência são aquelas com impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Ainda, com a vigência da Lei 12.764 de 2012, conhecida como Lei Berenice Piana, pessoas com transtorno do espectro autista passaram a ser consideradas pessoa com deficiência para todos os efeitos legais.

Qualquer pessoa enxerga rapidamente a inteligência muito acima da média, mas dificilmente vão enxergar a deficiência do autismo, afinal é uma deficiência invisível. A inteligência permite eventualmente mascarar as dificuldades, contudo os prejuízos permanecem. Não interagimos de forma adequada, não nos adaptamos às normas sociais, não sustentamos um emprego formal, não conseguimos manter nossas amizades ao longo do tempo. A inteligência não justifica essas barreiras persistentes ao longo do tempo. Os transtornos mentais também não justificam, ao passo que, mesmo quando medicados e controlados, não conseguimos nos encaixar. Quando somos duplamente excepcionais, o sofrimento se intensifica diante da incompreensão das pessoas e das expectativas frustradas. As pessoas reconhecem o nosso potencial, mas encontram inúmeras justificativas para o nosso fracasso. Apontam o dedo pra gente e nos julgam preguiçosos, mal educados, arrogantes, individualistas, impacientes, impulsivos, grosseiros, entre outras coisas. A falha em realizar nosso potencial é justificada pela moral.

De todos os déficits que o transtorno traz, o que mais me machuca, e que eu tanto lutei para solucionar, é o prejuízo nos relacionamentos. Tanto eu estudei sobre relacionamentos, comportamento, psicologia... Tantas horas de psicoterapia eu fiz desde criança... E ainda assim, meus relacionamentos são frágeis, efêmeros, artificiais. Não consigo permanecer em uma mesma comunidade, qualquer que ela seja, por muito tempo: Na vida escolar, fiz algumas trocas de colégio na infância e, na adolescência e juventude, desenvolvi um comportamento absente, me aproveitando da autonomia crescente; na vida profissional, permaneci por pouco tempo em cada emprego, sempre necessitando pedir demissão por questões que tornavam o ambiente pra mim insuportável; na vida local, estou morando em minha 4ª cidade, e indo para a 14ª residência. Desde criança a dificuldade em manter relações me incomodou, e nem todos os anos de psicoterapia resolveram essa dor e a minha limitação. As mudanças constantes parecem ser um comportamento aprendido para me fazer fugir de situações ruins e jamais desistir de encontrar situações melhores.

Veremos que esta história não é diferente. Minha tentativa corajosa de me organizar politicamente, e com isso contribuir com a superação da ordem social que mantêm o mundo em miséria, foi mais um brusco rompimento, que apesar de esperado dado o meu histórico, ainda é desagradável e deprimente.

Responsabilidade

Sou atravessada simultaneamente por inúmeras questões. Isso é tudo incompetência minha? Teriam todo o estudo e anos de terapia falhado em me moldar em uma pessoa competente para estar integrada na comunidade? Não pode ser só minha culpa. Há tantas outras pessoas passando por situações tão ou mais graves. Há que haver também a culpa da sociedade em fazer do fracasso a regra para tantos milhões de indivíduos.

Não estou em um bom momento para avaliar nada. Me sinto inútil e incompetente, isso para não falar nos pensamentos intrusivos e autodestrutivos. A empresa oficializou a primeira advertência disciplinar para eu ajustar minha conduta e voltar a produzir. Eu não aguento sequer ouvir falar sobre coisas relacionadas ao trabalho. Como esperam que eu volte a me dedicar e entregar alguma coisa? O INSS diz que eu estou apta para trabalhar; o médico do trabalho diz que estou apta para trabalhar. Enquanto isso, a sujeira se acumula nas paredes do box, da louça sanitária e da pia do banheiro, tomando formas e cores. Quando foi a última vez que limpei a casa? Essa é uma questão de classe, não é mesmo? Isso é por que sou parte da classe trabalhadora oprimida? Se isto é verdade, por que não posso me organizar politicamente?

Em todas as apresentações na Força Esperança eu fiz questão de dizer “eu sou autista”. Disseram-me que eu não pareço. Como eu deveria ser para parecer autista? Querem que eu morda as pessoas? Isso sem dúvida ajudaria a aliviar certas frustrações. Três pessoas na FE me disseram que acham que elas próprias são autistas também. Não gosto de julgar o autodiagnóstico de ninguém, nem para validar nem para desacreditar. Mas eu acho problemático responder para autistas coisas como “você não parece” e “acho que eu também sou”. Ora, se você acha que é autista, vá atrás de um diagnóstico, diga quais são os seus prejuízos e necessidades de suporte. Mas, por favor, não use isso como justificativa para ignorar as necessidades alheias.

Há, para pessoas autistas um prejuízo significativo e permanente na qualidade de suas relações sociais. Sem o suporte adequado, sem adaptações individualizadas para cada necessidade, sua plena participação na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas ficará obstruída. Como falar “organize-se” para pessoas que por toda a vida enfrentaram dificuldades para se inserir e se manter em grupos sociais? Que às vezes não tem autonomia para executar tarefas básicas do dia a dia?

Não estou mais organizada. A causa, entendo eu, é o meu estado de saúde somado ao funcionamento inadequado da célula organizativa da FE. Funcionando a célula como deveria funcionar, talvez eu ainda estivesse organizada. Quem sabe?

Centralismo

Segundo os princípios do centralismo democrático, é plena a liberdade de crítica, desde que respeitados os espaços adequados para que a unidade de ação não seja prejudicada. Cabe a cada indivíduo, parte da base da organização, fazer a problematização e levantar as demandas conforme são observadas, a partir de seu lugar de trabalho, com suas experiências e conhecimentos. Essa problematização, necessita de um lugar apropriado, preferencialmente dentro da própria organização.

Para muitas organizações, a FE inclusive, o mais próximo destes espaços é o núcleo de base: Um espaço reservado para os membros da organização debaterem e construirem consenso sobre inúmeras pautas. Era de ser esperar que a democracia dentro da organização começasse no núcleo, onde os assuntos poderiam ser amplamente debatidos, até que se houvesse um consenso para a formulação de uma demanda para ser compartilhada com instâncias superiores. A direção central da organização então, após apreciar a demanda, haveria de fazer chegar ao conhecimento de todos a nova posição unificada da organização. Certo?

É meu julgamento vigente de que o centralismo democrático não foi praticado verdadeiramente pela organização, apesar dela assumir este como um princípio norteador. A hipocrisia para mim é uma questão muito dolorida, da qual eu não consigo compactuar. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não fosse tão boa em observar padrões e identificar inconsistências. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não me importasse com fissuras na prática que a afastam do ideal pregado. Talvez eu ainda estivesse organizada se eu não me importasse tanto. Mas eu me importo demais. E isso não é algo que pode ser mudado pois faz parte de quem eu sou. A superexcitabilidade é uma questão real e física, do cérebro, e não algo mental que pode ser solucionado com psicoterapia e melhor gestão dos pensamentos.

Dentro de um organização democrática a quem cabe a responsabilidade de indicar o espaço adequado para o amplo debate e garantir que este espaço exista? A quem cabe o papel de gestão de pessoas, acolhendo as necessidades individuais de cada membro, tanto materiais quanto emocionais? Mesmo que esta pessoa por ventura não tenha os meios de auxiliar, a quem cabe a responsabilidade de encaminhar o membro para outro lugar onde este auxilio possa ser concedido? Não se pode cobrar estas coisas de uma recém associada militante. Creio que a organização falhou comigo, pois negligenciou estes deveres.

Creio que seja meu direito, em uma organização democrática, poder desenvolver a questão até que a comunidade compreenda a pauta e o assunto seja esgotado, mas eu não tive um lugar para ser ouvida. Não fez sentido o motivo que deram para a falta de espaço que observei. Isso, em uma organização que prega o centralismo democrático é muito sério. Eu não sabia, e ainda não sei, quais são as ferramentas apropriadas para a construção desta proposta. O que é uma plenária e quando se deve convocar uma? Como é feita essa construção coletiva?

Associação

Perdoem a minha fraca memória episódica. Trarei os eventos passados nos últimos 2 meses de maneira um tanto distorcida. Além da memória já começar a falhar, e eu estar intencionalmente ocultando a real organização onde tais eventos ocorreram, há também a distorção subjetiva inerente a todo ser humano, que sempre observa os eventos do mundo a partir de seu próprio ponto de vista limitado.

No momento de meu ingresso na Força Esperança, me foi exigido que eu lesse e concordasse com o programa de atuação da FE. Este era um critério eliminatório para a minha associação. Estudei com calma o programa, e sendo uma pessoa com bagagem em tecnologia da informação, com 2 diplomas e atuação profissional em múltiplas organizações, tanto públicas quanto privadas, naturalmente a causa do controle das comunicações e da informação me chamou atenção.

Havia uma previsão expressa no programa relativo à importância da gestão popular das comunicações, mas este item não falava nada sobre a Internet. Com efeito, as únicas tecnologias de comunicação mencionadas no programa eram aquelas já existentes na década de 1930. Nada era dito sobre o controle algorítmico do comportamento humano, nem sobre o estado de vigilância constante ao qual são submetidos todos os cidadãos do mundo. Nada se dizia quanto à dependência tecnológica de produtos e serviços de monopólios estrangeiros, controlados por agentes hostis à atuação da Força Esperança.

Não pude deixar de pontuar essas omissões na ocasião de minha associação. Ao que recebi uma resposta de que aquele conteúdo programático consistia de uma pauta mínima de reivindicações, não excluindo outras demandas. Diante do argumento logicamente coerente, aceitei os termos do programa e formalizei a minha filiação.

Jornal

Por todo o meu tempo de militância, muito esforço foi investido na divulgação do jornal próprio da organização. O trabalho jornalístico é visto como essencial para a mobilização popular, e o esforço de construção de um jornal não apenas consolida as estruturas organizativas operacionais, como também disponibiliza uma tribuna, de alcance nacional, para que todos os cidadãos possam denunciar as pautas mais relevantes para sua realidade. Desde a minha efetiva inserção nas fileiras da FE eu defendi a importância do jornal e acreditei em suas palavras, tomando como tarefa o dever de realizar a leitura e me inteirar de todos os aspectos da vida cotidiana. Sempre acreditei quando me diziam: “Este é um jornal popular! É a população quem o constrói coletivamente e qualquer pessoa pode escrever para o jornal.” Tanto acreditei nestas palavras que as repeti confiantemente nas ruas quando eu própria me voluntariava para promover a divulgação do jornal.

O baque começou, creio eu, quando eu participei de um congresso anual sobre tecnologia e política. Após ouvir relatos de inúmeros palestrantes sobre o uso da tecnologia da informação para intensificar o genocídio em Gaza, o controle repressivo feito por governos latino-americanos por meio das mídias sociais e inúmeras outras questões práticas, eu resolvi que faria uma matéria sobre o evento e o que eu aprendi nele. Escrevi minha matéria e entrei em contato com o jornal para saber o que eu precisava fazer para ter o texto publicado. Me passaram orientações simples como quantidade de palavras e formatação. Após fazer os ajustes devidos eu enviei a minha matéria e recebi o retorno dizendo que meu texto havia sido enviado para a revisão.

Esperei o quanto pude. Mas, após ver 2 edições seguidas do jornal serem publicadas sem a minha matéria, comecei a me preocupar. O que houve com o meu texto? Eu havia dito algo errado? Havia algum problema no que eu escrevi? Eu precisava de um feedback. O assunto que eu trazia era de extrema relevância pra mim, e, acredito eu, essencial de ser conhecido por todos para avançar o trabalho da Força Esperança.

Comecei a pressionar a coordenação de meu núcleo, que ficou de “ver o que tinha acontecido” com a minha matéria. Até o presente momento, não recebi uma única justificativa do porque a minha matéria foi censurada. Não tenho outra palavra para descrever isso, dado que a justificativa dada de “eles estão atolados com a demanda” é coincidência demasiada e não reflete as evidências de publicação do jornal, que permaneceu realizando suas publicações regularmente no período. Pode ter sido, ao invés de censura, mera negligência, mas o efeito prático é o mesmo: Minha voz foi silenciada sem justificativa. Não creio que a linha política fosse tão divergente assim, afinal o texto passou por revisão do meu núcleo, que me elogiou.

Hiperfoco

Nesse período, eu fui fisgada pelo hiperfoco. A preocupação excessiva com a assertividade da matéria e a ausência de interesse do núcleo em debater a questão me sinalizou que necessitávamos de textos que fizessem a sensibilização da questão, mesmo para um público leigo no tema. Me lancei a pesquisar mais sobre o assunto, e conforme eu pesquisava, mais coisas eu escrevia. Quanto mais eu me aprofundava, mais certeza eu construia da importância do que precisava ser debatido. Ao mesmo tempo, o processo de hiperfoco começava a me desgastar e me fazer deixar de lado outras demandas pessoais para que eu pudesse avançar neste tema que ganhava a cada vez mais relevância para mim.

Em certo momento, chamei a coordenação do meu núcleo para uma conversa. Pedi ajuda para manter a calma e desenvolver o tema. Falei que a minha cabeça parecia que iria explodir. Ela me orientou a não investir esforços em fazer uma sensibilização, mas sim construir uma proposta completa, para que o assunto fosse debatido em instâncias superiores, sem a minha participação. Eu, naquele momento ainda ignorante do processo que se desenrolava, não vi a armadilha que me foi lançada. Eu já estava em hiperfoco, extremamente preocupada com medo de ter dito algo de errado, sem ter feedback de nada, e recebi então uma tarefa muito maior e importante, muito mais séria, que era construir uma proposta para ser levada para os de cima debaterem em segredo.

Creio que a minha coordenação deveria ter proposto de escrever isso coletivamente dentro do núcleo, e não me dado essa responsabilidade sozinha. Caso o núcleo não tivesse a capacidade de construir essa proposta, o que de fato acredito que não tivesse, ela deveria ter me encaminhado para outro espaço onde eu pudesse, junto de outros membros fazer essa construção. Não sendo o núcleo este espaço apropriado para a construção coletiva desta proposta, haveria a organização de apontar outro lugar, mais apropriado, para esta construção. Jamais um coletivo deveria imbuir a um único indivíduo, ainda mais uma pessoa PcD e com saúde debilitada por um acidente de trabalho, toda a responsabilidade e o peso de construção dessa proposta.

Mas, como eu disse, eu cai na armadilha. Sobre as problematizações que eu fiz dentro do núcleo, recebi respostas que não convenciam logicamente e me indicavam uma clara relutância em tratar da questão. Não poderíamos fazer nada diferente do que foi determinado como linha central da organização, mas eu também não tinha com quem debater sem ouvir argumentos repetitivos e fracos.

Isolamento

O núcleo, onde deveriam estar meus companheiros de luta mais próximos, deixou nas minhas costas todo o trabalho de pesquisa e formulação da proposta. Eu me senti cada vez mais sozinha e isolada, sem ninguém que valorizasse algo que pra mim era tão relevante e urgente, sem ninguém para debater e construir algo junto comigo.

Nesse período eu havia sido eleita a representante da tarefa de finanças dentro do nosso núcleo, então havia recebido determinados níveis de acesso dentro da organização. Ao obter esse acesso, veio o choque: a organização estava usufruindo de serviços gratuitos, fornecidos por nossos inimigos para coleta massiva de informações, para armazenar e processar dados pessoais e sensíveis dos membros da organização. Aquilo me desesperou. É nesta organização que eu estou confiando? Essa gente vai nos levar pro abismo desse jeito. Estamos correndo um grave risco! Algo precisa ser feito!

Comuniquei para a minha coordenação que eu não seria cúmplice deste movimento absolutamente errado, e que criaria problemas para os membros. A resolução foi eleger uma nova representante da atividade de finanças e me consolar com mais das respostas fracas e ilógicas.

Então eu, desgastada após semanas de luta e no meio de uma fase ansiosa, fiz algo sabidamente errado. Tendo ainda os acessos especiais concedidos à representante de finanças, ingressei sorrateiramente na reunião estadual de finanças. Lá eu permaneci inicialmente em silêncio, mas acabei revelando a minha presença quando um membro falou sobre como o núcleo dele estava também adotando essas ferramentas gratuitas para melhorar o trabalho dentro do núcleo e de como isso era seguro. Eu não poderia ficar calada. Aquilo não era nada seguro. Era justamente o oposto disso! Aquilo era algo terrível para a organização e jamais deveria ser fomentado como “boa prática”.

Posso estar errada, e espero que eu esteja, mas nada posso fazer contra meu instinto de sobrevivência que me grita “Esta galera não sabe o que tá fazendo. Guerra se faz com informação e logística. Deixar as ferramentas de organização interna na mão do oponente é perder a luta antes mesmo de começar”. Não esqueçamos que revoluções são contra a lei. Há como uma organização verdadeiramente revolucionária avançar cedendo para as forças de repressão estatal informações sensíveis sobre sua organização interna, ao mesmo tempo que cria dependência operacional em ferramentas sob controle do adversário? Não pude conversar com ninguém que me convencesse logicamente que todos esses absurdos, e inúmeros outros que omiti, não nos causariam problemas.

Se o tom catastrófico parece exagerado, é porque você não sabe o que é ter uma rigidez cognitiva. Ser autista é viver com esse tipo de resposta emocional a todo o momento, mesmo para coisas que as outras pessoas considerem sem importância. Certas coisas, em especial aquelas sobre as quais eu acumulei bastante conhecimento, me são tão preciosas que eu sou incapaz de tolerar detalhes fora do lugar.

Repúdio

Nessa reunião eu recebi a mesma resposta que eu já havia ouvido da minha coordenação. Naquele momento eu entendi: esta não é uma posição ignorante do meu núcleo. É uma posição ignorante da direção central da organização! Somente uma pessoa ignorante no tema poderia se deixar convencer sobre o tema com um argumento tão fraco e ilógico. Então, a posição ignorante é a linha central da organização FE, justamente daqueles que deveriam ser os mais hábeis, entendidos e comprometidos membros da classe. Isso me deixou profundamente decepcionada e desconfiada da direção central da organização.

Fui previsivelmente advertida por não seguir os preceitos organizativos, entre outras coisas. Eu falei que eu não me arrependia de ter feito aquilo porque, se não tivesse agido errado, eu não teria tido a chance de ser ouvida sobre os problemas que eu estava enfrentando com o isolamento e a falta de suporte. Falei que era meu desejo me afastar da organização, porque eu precisava me desligar de todo esse assunto. A minha coordenação insistiu pra que eu não me afastasse demais, sugerindo uma adaptação para que eu continuasse participando regularmente. Eu inicialmente aceitei, mas logo vi que eu tinha ficado demasiadamente ferida por toda essa situação, além de descrente na capacidade de construir uma organização sólida e competente.

Eu já estava doente quando ingressei na FE. Sempre comuniquei em reuniões que eu estava em recuperação e que por isso eu não poderia participar de tantas atividades. Acreditei que o melhor lugar para me curar seria entre companheiros de luta, mas eu estava errada. A luta entre a linha de direita e a linha de esquerda estará presente em todas as organizações e é preciso estar minimamente saudável para realizar esta disputa. A organização que luta pelo fim das opressões, reproduz as mesmas violências e exclusões que o sistema contra o qual ela luta.

Por muito tempo pedi para a minha coordenação me colocar em contato com outras pessoas com deficiência para trocarmos experiências, mas tive acesso a tão somente duas pessoas, e somente com uma pude conversar. É fato que uma agremiação de pessoas qualquer não tem a priori obrigação de acolher nossas dificuldades comportamentais e de relacionamento. Porém, quando falamos de uma organização orientada pelo materialismo prático, que preza pela libertação real e não em pensamentos, é necessário se comprometer a ir além dos ideais de inclusão e acessibilidade, atacando e transformando de forma concreta no mundo as barreiras que previnem a participação plena das pessoas na sociedade. A negligência em acolher estas demandas de forma efetiva é um erro gravíssimo para uma organização que se propõe a ser anti status quo.

O sentimento geral é de estar sendo levada para o abismo por uma liderança que permanece inacessível. Por autopreservação não tenho outra escolha a não ser me desligar. Não por uma divergência de tática, que poderia ser posteriormente corrigida, mas por rejeitar a obediência acrítica exigida por uma liderança encastelada que pune a divergência ao invés de compreendê-la.

Conclusão

Comuniquei à minha coordenação que não acreditava mais na organização e que pretendia me desassociar. Sem questionamentos, minha decisão foi aceita.

Desconfio que um movimento de massas, verdadeira escola de novos revolucionários, para cumprir seu papel formativo, necessitará abandonar o modelo de educação bancária e respeitar o conhecimento prévio de cada um, bem como suas dificuldades e potencialidades. Uma organização que não se proponha a reconhecer a diversidade e acolhê-la, ao invés de uniformizá-la, continuará ensejando acusações de autoritarismo e burocratismo, ainda que os críticos não sejam eles próprios modelos melhores.

Tenho a esperança de eventualmente voltar a me organizar, ainda que eu não saiba como e nem quando. Não somente para ter alguma chance de luta contra o sistema que nos oprime, como também para prosseguir com a minha formação, de forma tanto teórico quanto prática. No momento, contudo, investirei minha energia de forma egoísta: tratando da minha saúde e da minha subsistência. Assim eu terei mais o que oferecer quando eu me deparar com um movimento de vanguarda à altura do desafio. Até lá, só espero não servir de obstáculo àqueles que possuem a linha correta.

Tags: #Neurodivergência

As crianças no espectro autista têm uma tendência a terem diversos comportamentos que são, por serem considerados “inadequados”, punidos pela sociedade.

O que a criança aprende com isso é a fingir e a ser outra coisa, artificial, mas que ao menos seja aceita.

Aí essa criança vai crescendo sem poder ser ela, sem poder se manifestar, com uma incerteza brutal do que é certo e o que é errado. Morrendo de medo de rejeição social.

Esse medo logo se transforma em ansiedade em seus variados tipos (TAG, TOC, fobias, etc).

Às vezes, para se proteger, torna-se cada vez menos inserida no contexto social por medo dessa rejeição. Medo de seus comportamentos não serem aceitos e tolerados. Medo de passar mal.

Nisso, a pessoa por conta própria se isola, se exclui, se afasta... E perde a conexão humana que existia ali.

Perdendo a conexão humana, essa criança começa a desenvolver uma tristeza persistente. Aos poucos surge a distimia e a depressão.

A jornada de tornar-se um adulto funcional exige vestir uma máscara que, independente do nível de suporte laudado, não é nada leve, e que cobra seu preço em desgaste físico e mental.

É lucrativo vender remédios e terapias por toda uma vida para que cada indivíduo trate as consequências (ansiedade e depressão). Adaptar ambientes sociais para a inclusão de todos, resolvendo as causas, traz custos imediatos, que poucas comunidades estão dispostas a encarar.

Até quando?