5 meses (parcialmente) des-google-ado

Escrevi em maio o artigo https://blog.ayom.media/felipe-siles/uma-semana-des-google-ado e o presente texto tem como objetivo compartilhar a experiência depois de meses em curso, olhando para o que funcionou, o que não funcionou tão bem, as concessões que precisei fazer (e porque) e novas descobertas.

Boas descobertas

Uma descoberta importante foi: não adianta apenas deixar de usar aplicativos e serviços da Google, se os rastreadores deles estão o tempo todo te vigiando e colhendo seus dados, até em aplicativos que não são deles. A maneira mais radical de combater esse problema seria instalar uma custom ROM, como a Lineage OS, /e/ e afins. O problema é que alguns aplicativos (Correios, e alguns bancos) param de funcionar se o celular não possui Google Services ou tem ele bloqueado. Fora que eu vi em alguns reviews que alguns recursos podem não funcionar muito bem, como a ligação de Whatsapp, que eu acabo utilizando muito, principalmente no que diz respeito a amigos e familiares que ligam para mim dessa forma. A solução meio termo é o uso do aplicativo Tracker Control, que pode ser instalado via F-Droid, e que bloqueia o acesso à internet desses rastreadores. Excelente!!!

No texto anterior eu comentei que desativei os aplicativos Google, mas encontrei um tutorial muito bom do Diolinux para retirar do Android não somente os apps da big tech, mas também todos os bloatwares, que são aqueles aplicativos instalados de fábrica que a princípio não podem ser desinstalados. Fiz o processo, foi bem simples, e não necessita fazer root no celular, apenas ativar modo desenvolvedor, depuração USB e instalar dois programas no computador, relativamente simples:

https://diolinux.com.br/video/remover-qualquer-aplicativo-do-android.html

Outro detalhe importante é: sempre que preciso acessar um serviço Google no navegador do computador, faço num container separado (utilizando a extensão do Firefox Multi-Account Container), para evitar que a Google rastreie minha atividade no navegador em outros sites.

O que funcionou

Realmente consegui me desapegar de vários aplicativos e serviços da Google. Muita coisa eu já usava antes e continuei usando (como a busca no DuckDuckGo, o aplicativo Firefox ao invés do Chrome e assim por diante). Alguns eu passei a usar por conta desse processo e acabei me habituando a eles. O NewPipe, por exemplo, funcionou muito bem na minha TV Box da Xiaomi, e para o iPad, que não possui essa possibilidade, o Individious acabou sendo uma boa solução para ver Youtube sem propagandas.

O que não funcionou e precisei fazer concessões

Falando de aplicativos, o Google Maps é o aplicativo que mais me fez falta. Por mais que o Organic Maps e outros clientes do Open Street Maps sejam excelentes, a base colaborativa deles não consegue mostrar e manter atualizados os endereços de lojas, comércios e outros locais importantes, principalmente nas cidades pequenas, como é o caso de onde moro.

Outra coisa que não funcionou bem, conforme dito antes, é o fato de alguns aplicativos não funcionarem sem o Google Services. Os que me fizeram mais falta foram o dos Correios, do Banco Itaú e do Mercado Pago. Fora que depois de um tempo com os serviços Google desabilitados meu celular começou a dar uns bugs estranhos de sistema operacional (não sei se as coisas estão necessariamente relacionadas) e acabei precisando formatá-lo.

Conclusão

A solução que acabei encontrando é deixar os serviços da Google instalados, e logados numa conta minha de ex-aluno da USP, a Alumni, que também é uma conta Google e que eu praticamente não uso pra nada. Vários dos aplicativos que usei para substituir os serviços da Google eu continuei usando. Deixei instalados no celular apenas:

Fora isso, mais nenhum outro serviço da Google, inclusive foi prazeroso desinstalar o buscador deles com o Universal Android Debloater. Todos os outros aplicativos da Google foram desinstalados com essa ferramenta. Com o Google Services ativo, eu consigo voltar a usar aplicativos que são importantes para o meu dia-a-dia, como o dos Correios e os bancos. E o Tracker Control ajuda a minimizar um pouco a coleta de dados da Google sobre meu celular.

Enfim... não foi a solução perfeita ou ideal, mas foi o possível para mim, dentro das minhas possibilidades. Quem sabe mais para o futuro eu consiga passar por cima dessas concessões e avançar um pouco mais no sentido de uma vida sem Google. Mas uma coisa que aprendi na vida e principalmente na cultura iorubá é de aprender a fazer concessões. O mundo infelizmente não funciona da forma como gostaríamos, e as soluções verdadeiras para nossos problemas são coletivas e não individuais. Atitudes individuais não são totalmente inúteis, mas nessa perspectiva eu penso que estão mais suscetíveis a pequenas concessões do que as coletivas.

Lembrando que esse não é um texto para cagar regra, apenas o compartilhamento de uma experiência, pegue para você apenas aquilo que considerar útil. E espero de coração que a Google não continue nos sufocando e cercando a ponto de eu precisar fazer mais concessões ainda futuramente, tomara que não.

Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!

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