Uma semana des-google-ado
Introdução
Como dizia minha professora de piano, Silvia Goes, precisamos ter a ousadia de ser cobaias de nós mesmos. E diante do meu ódio visceral contra a Google, por ter feito a contra-propaganda da PL das Fake News, quis provar pra mim mesmo que é possível viver sem utilizar os aplicativos, ferramentas e softwares da Google. Ressalva importante: eu sei que, em alguns casos, alguns aplicativos que vou citar utilizam dados da Google ou são clientes ou front-ends para acessar conteúdo deles. Mas diante da presença que a big tech ocupou no nosso cotidiano, em alguns casos eu acho a política de redução de danos bem válida. E se o YouTube é um negócio que lucra com a publicidade, assisti-lo sem as propagandas não deixa de ter seu nível de subversão. Discussões mais abstratas a parte, vamos para as dicas concretas. Na primeira parte vou trazer os aplicativos, sites, softwares e ferramentas alternativos a serviços da Google. E na segunda parte vou detalhar como configurei cada dispositivo para rodar Google o mínimo possível. No final eu detalho como pretendo fortalecer o Fediverse, migrando meu conteúdo da big tech para plataformas livres. Importante ressaltar que não sou profissional da área de tecnologia e informática, sou apenas um entusiasta do Linux e dos softwares livres. Outro detalhe importante é que estou fazendo um relato pessoal, do que funcionou para mim. As eventuais adaptações podem variar de pessoa pra pessoa, do uso, dos hábitos e principalmente do trabalho e estudo, onde muitas vezes não temos tanta margem pra decidir algumas coisas.
Espero que seja útil!
Alternativas aos aplicativos e serviços
Para escolher as ferramentas, eu utilizei os seguintes critérios, em ordem de prioridade:
- Código aberto e software livre
- Código aberto e freemium
- Proprietário e freemium
O site que utilizei para essa pesquisa foi o alternativeto.net, onde inclusive é possível utilizar esses filtros para facilitar a pesquisa. Cheguei no seguinte resultado:
Gmail (serviço): Disroot, Tutanota, Protonmail Gmail (aplicativo): Thunderbird, K9 Mail Google Drive (armazenamento): Nextcloud/Disroot, Proton Drive Google Drive (suíte office): Cryptopad/Disroot, Pad/Riseup.net, Only Office Google Maps: Open Street Maps (cliente Android: Osmand) YouTube (clientes e front-ends): Individious (instância tube.bolha.one) e New Pipe (Android) YouTube (alternativas): Peertube, Odysee Bem estar digital: Stay Free Google Chrome: Firefox, Vivaldi Google Keep: Joplin, Obsidian, Notion Google Photos (sincronizar): Stingle Photos Play Store: F-Droid, Aurora Store Google Meet: Jitsi Meet, Disroot/Nextcloud Talks Calendário: Nextcloud/Disroot + DAVx5, Tutanota, Protonmail Contatos: Nextcloud/Disroot + DAVx5 Google Authenticator: Authy Files: Gestor de arquivos simples pro Buscador Google: DuckDuckGo Classroom: Moodle
Dispositivos
O computador foi o mais fácil, já utilizava o Firefox como navegador principal (já configurado com pesquisa pelo DuckDuckGo), instalei a extensão Lib Redirect, que redireciona automaticamente links que vão para o ambiente da big tech para clientes e front ends, permitindo você acessar o conteúdo. Substituí o Chromium pelo Vivaldi, como meu navegador secundário. E configurei para receber meu e-mail USP (que infelizmente é da Google) no Thunderbird. Passei todos os compromissos da agenda USP/Google para a conta do Disroot/Nextcloud.
O iPad foi relativamente simples também. Desinstalei todos os aplicativos da Google, coisa que é bem tranquila no ambiente da Apple. Os únicos apps que mantive foram o Google Drive e o Classroom, por conta da USP, já que vários professores usam esses dois sistemas. Mas uma coisa que eu gosto no IOS é o aplicativo “Arquivos”, que navega bem pelas diferentes nuvens, não havendo necessidade de eu acessar o aplicativo do Google Drive, já que esse app nativo acaba sendo um cliente. E achei que o OnlyOffice no iPad funcionou surpreendentemente bem como substituto para a suíte office da Google, com a vantagem de que salva em todas as nuvens: iCloud, Nextcloud e, se quiser, até no próprio Google Drive. Importante ressaltar que o iPad é um dispositivo que utilizo para fins quase que exclusivamente acadêmicos.
Desinstalei o YouTube da minha Roku TV e estou com a fonte do Xbox One no conserto, mas minha ideia é desinstalar nele também. Mudei a Roku TV para a sala, conectei na mesma tv do videogame, já que minha ideia é utilizar o Xbox mais como videogame mesmo e deixar a função de assistir streaming completamente secundária. Na Roku TV não consigo instalar o New Pipe, já que o sistema operacional dela é bem fechado e não permite instalar aplicativos externos. Aqui chegou a única parte onde eu realmente coloquei a mão no bolso, investi numa Mi Stick TV da Xiaomi. Estou esperando chegar, mas minha expectativa é ela rodar o NewPipe e ficar no meu quarto, onde antes estava a RokuTV.
Chegamos à parte mais complexa, o celular. Meu celular é um guerreiro Redmi 6 da Xiaomi, comprado em 2019 e segue firme e forte. Por incrível que pareça, não tive grandes dificuldades em desinstalar, já que o Android nos celulares Xiaomi já é customizado pela empresa, o MIUI, tendo inclusive a própria loja de aplicativos, a GetApps. Então o que eu vou dizer aqui eu não sei se vai se aplicar em todo celular Android. Desinstalei absolutamente TODOS os aplicativos da Google pressionando sobre o ícone e depois selecionando a opção do lado esquerdo. Consegui desinstalar até a PlayStore com facilidade, o que me deixou bem surpreso. Desloguei minha conta Google do celular, aí ele automaticamente desligou o Google Services. E no lugar dos apps, instalei os sugeridos na sessão anterior. Fiquei com 3 lojas de apps: GetApps, F-Droid e Aurora Store. Ainda está no meu horizonte usar uma custom ROM, provavelmente o LineageOS. Não estou satisfeito com o MIUI, principalmente pelo fato dele ter muita propaganda. Mas não posso deixar de ressaltar positivamente o fato de conseguir desinstalar os apps da Google, desligar os services, deslogar a conta e ainda percebo que o desempenho do aparelho melhorou absurdamente sem os serviços da big tech operando por baixo dos panos. Confesso que não sei como seria a experiência em outras marcas, depois vocês me dizem.
Fortalecimento do Fediverse e softwares livres
Além das substituições, quero contribuir, com o que tenho de ferramentas, para a melhoria desses softwares e plataformas livres. Algumas medidas concretas que já venho adotando ou pretendo adotar:
- Criar pastas de compartilhamento com conteúdo de utilidade pública usando a nuvem da minha própria instância no Mastodon, a Ayom/Nextcloud;
- Estou aos poucos migrando todos os vídeos que estavam no meu canal do YouTube para as plataformas Odysee e Peertube (instância Fediverse.tv) e a partir de agora vou apenas subir vídeos e criar conteúdos em plataformas livres;
- Produzo um podcast, o Estação Música, que é livremente distribuído por RSS;
- Quero colaborar no Open Street Maps, marcando diversos locais da minha cidade, Cosmópolis-SP;
- Quero divulgar mais esse conteúdo, produzido no ambiente das plataformas livres, para pessoas leigas e não iniciadas nesse mundo. As pessoas podem se interessar pelo conteúdo em si, e passam a conhecer essas ferramentas.
Conclusão
Não me vejo em posição de superioridade moral a ninguém pelas minhas escolhas. Se alguém precisa utilizar serviços Google, pelo motivo que for, tem minha compreensão. Tenho raiva da Google, não dos usuários. Somos nós contra eles. Na posição de militante e de fuçador de tecnologia me encontro em condições de abrir mão de alguns pequenos confortos em nome da militância pelo software livre e principalmente pelo aprendizado.
Espero ter contribuído, de alguma maneira!
Obrigado pela leitura!!!
Espero que este texto tenha sido útil, até a próxima!
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